sexta-feira, 20 de maio de 2022

 SEMANA V DO TEMPO PASCAL- 2022

Sábado V da Páscoa - 21.05.2022

Evangelho Jo 15, 18-21


«Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu. Mas porque não sois do mundo, pois a minha escolha vos separou do mundo, é por isso que o mundo vos odeia»


O mandamento do amor é o sinal que identifica os discípulos de Jesus. No entanto, os discípulos precisam saber que nem todos estão interessados em orientar a vida pelo amor. Existe o “mundo” e neste “mundo” cabe muita gente, muitos interesses, muito ódio a Cristo e aos seus discípulos. Por isso Jesus alerta para este facto dizendo: “ Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu. Mas porque não sois do mundo…”. O que separa do mundo é a escolha de Jesus. Foram chamados e escolhidos para andarem com Jesus e esta escolha, aceite como adesão ao projeto do amor, separa os discípulos do mundo. Agora já não são do mundo, por isso o mundo os odeia.

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"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro Me odiou a Mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu. Mas porque não sois do mundo, pois a minha escolha vos separou do mundo, é por isso que o mundo vos odeia. Lembrai-vos das palavras que Eu vos disse: ‘O servo não é mais do que o seu senhor’. Se Me perseguiram a Mim, também vos perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem Aquele que Me enviou»."

Jesus fala várias vezes do mundo, e especialmente na sua despedida com os apóstolos. E, no evangelho de hoje, diz: «Se o mundo vos odeia, sabei que odiou a mim antes que a vós». Fala claramente do ódio que o mundo teve e terá por Jesus e por nós. E, na oração que faz à mesa com os discípulos durante a Ceia, pede ao Pai que não os tire do mundo, mas que os defenda do espírito do mundo.

Acho que nos podemos interrogar: qual é o espírito do mundo? O que é esta mundanidade, capaz de odiar, de destruir Jesus e os seus discípulos, de os desnaturar, de corromper a Igreja? O que é o espírito do mundo, no que consiste? Far-nos-á bem pensar nisto. A mundanidade é uma proposta de vida. Mas algumas pessoas pensam que a mundanidade é festejar, viver em festas... Não, não! A mundanidade pode ser também isto, mas não é basicamente isto.

A mundanidade é uma cultura; uma cultura do efémero, uma cultura da aparência, da maquilhagem, uma cultura do “hoje sim, amanhã não; amanhã sim, hoje não”. Tem valores superficiais. Uma cultura que não conhece a fidelidade, porque muda de acordo com as circunstâncias, negocia tudo. Esta é a cultura do mundo, a cultura da mundanidade. E Jesus insiste em defender-nos disto e reza para que o Pai nos defenda desta cultura da mundanidade. É uma cultura do descartável, de acordo com o que for conveniente. É uma cultura sem fidelidade, não tem raízes. Mas é um modo de vida, um estilo de vida também de muitos que se autodenominam cristãos. Eles são cristãos, mas são mundanos.

Na parábola da semente que cai na terra, Jesus diz que as preocupações do mundo - ou seja, da mundanidade - sufocam a Palavra de Deus, não a deixam crescer. E Paulo diz aos Gálatas: «Estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo». Impressiona-me sempre quando leio as últimas páginas do livro do padre de Lubac: “Meditações sobre a Igreja” (cf. Henri de Lubac, Meditazioni sulla Chiesa, Milão 1955), as três últimas páginas, onde fala precisamente da mundanidade espiritual. Ele diz que é o pior dos males que pode acontecer à Igreja; e não exagera, enumerando depois alguns males terríveis, dos quais este é o pior: a mundanidade espiritual, porque é uma hermenêutica de vida, uma forma de viver; também um modo de viver o cristianismo. E para sobreviver face à pregação do Evangelho, odeia, mata.

Quando se fala dos mártires que morreram por ódio à fé, sim, na verdade para alguns o ódio era devido a um problema teológico; mas não na maioria. Na maioria dos casos é a mundanidade que odeia a fé e que os mata, como aconteceu com Jesus.

É curioso: a mundanidade, alguém pode dizer-me: “Mas padre, isto é uma superficialidade de vida...”. Não nos iludamos! A mundanidade não é absolutamente superficial! Tem raízes profundas, raízes profundas… É camaleónica, muda, vai e vem de acordo com as circunstâncias, mas a substância é a mesma: uma proposta de vida que entra em todo o lado, até na Igreja. Mundanidade, hermenêutica mundana, maquilhagem, tudo se pinta para ser assim.

O apóstolo Paulo foi a Atenas e ficou impressionado quando, no areópago, viu muitos monumentos aos deuses. E pensou em falar disto: “Pois bem, passando e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: Ao Deus Desconhecido. Esse, pois, que vós honrais, sem o conhecer, é o que vos anuncio”. E começou a pregar o Evangelho. Mas quando chegou à cruz e à ressurreição, os atenienses foram embora escandalizados. Há algo que a mundanidade não tolera: o escândalo da Cruz. Não o tolera! Mas o único remédio contra o espírito da mundanidade é Cristo, morto e ressuscitado por nós, escândalo e loucura.

É por isso que quando o apóstolo João, na sua primeira Carta, aborda o tema do mundo, diz: «Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé». A única: a fé em Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou. E isto não significa ser fanático. Isto não significa omitir o diálogo com todas as pessoas, não, mas com a convicção da fé, a começar pelo escândalo da Cruz, pela loucura de Cristo e também pela vitória de Cristo. “Esta é a nossa vitória”, diz João, “a nossa fé”.

Peçamos ao Espírito Santo, nestes últimos dias do tempo pascal, a graça de discernir o que é mundanidade e o que é Evangelho, e não nos enganemos, porque o mundo nos odeia, o mundo odeia Jesus e Jesus orou para que o Pai nos defendesse do espírito do mundo.


Casa de Santa Marta, 16 de maio de 2020

Papa Francisco

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