sábado, 14 de maio de 2022

 SEMANA V DO TEMPO PASCAL- 2022

Hoje as leituras centram-nos no maior desafio que Jesus propôs aos seus discípulos e consequentemente também a nós, cristãos dos novos tempos: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Sabendo até onde Jesus foi, por amor ao Pai e a cada um de nós, percebemos a medida maior que Jesus coloca a cada cristão e à Sua Igreja. Será este o sinal distintivo dos que seguem Jesus: o Amor. É verdade que é Deus quem ama, só Ele ama verdadeira e infinitamente, sem nunca se cansar, sempre pronto a dar-se a quem O procura de coração sincero, seja qual for a situação em que nos encontremos, mas ama em nós e através de cada um de nós. Saibamos ser o elo de transmissão da comunicação de Deus Amor, a todos aqueles com quem vivemos, nos movemos e existimos.

Na primeira leitura (Atos 14, 21b-27) continuamos a acompanhar a primeira viagem apostólica, missionária, de S.Paulo. Percebemos como o apóstolo, para além da evangelização, foi ajudando a constituir as comunidades, estabelecendo anciãos e também princípios e normas organizativos. Trazia às comunidades a sua vivência do ser Igreja e, depois de terminada cada viagem, comunicava à Igreja tudo o que Deus fizera com eles. Assim, desde o princípio, se podia entender a unidade de todos, numa só Igreja.

“Naqueles dias, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília; depois, anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá embarcaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé.”

Na 2ªleitura (Ap 21, 1-5ª) antevemos, nas palavras de S.João, que só, um dia, quando  o que  Jesus iniciou na manhã de Páscoa atingir a plenitude, a humanidade resplandecerá numa união total com o Seu Criador e  Deus será tudo em todos. Até lá temos um caminho a percorrer, sabendo que Jesus já ressuscitou, vive em nós, por isso   é no hoje, no agora, onde temos tribulações e angústias, que somos convidados a deixar que Deus se manifeste, resplandeça, intervenha, através da forma como vivemos e agimos com todos os que fazem parte da nossa vida, na certeza de que o Amor vencerá sempre e que n’Ele e por Ele, tudo vale a pena. 

“Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo. Do trono ouvi uma voz forte que dizia: «Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu». Disse então Aquele que estava sentado no trono: «Vou renovar todas as coisas».”

No evangelho (Jo 13, 31-33a.34-35) Jesus deixa-nos como testamento um mandamento novo, o mandamento do Amor. Que, pelo nosso agir, nos identifiquem como aqueles que põem este mandamento em prática, no desenrolar da vida.

“Quando Judas saiu do Cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-l’O-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».”

EVANGELHO Jo 15, 9-17

«Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros.»

Estamos no tempo pascal, que é o tempo da glorificação de Jesus. O Evangelho que há pouco ouvimos recorda-nos que esta glorificação se realizou mediante a paixão. No mistério pascal, paixão e glorificação estão estreitamente ligadas entre si, formam uma unidade inseparável. Jesus afirma: "Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado n'Ele", e fá-lo quando Judas sai do Cenáculo para pôr em prática o plano da sua traição, que conduzirá à morte do Mestre: precisamente naquele momento tem início a glorificação de Jesus. O evangelista João fá-lo compreender claramente: com efeito, não diz que Jesus foi glorificado somente depois da Sua paixão, por meio da ressurreição, mas mostra que a Sua glorificação começou precisamente com a paixão. Nela, Jesus manifesta a sua glória, que é glória do amor, que se entrega totalmente a si mesmo. Ele amou o Pai, cumprindo a Sua vontade até ao fim, com uma doação perfeita; amou a humanidade, dando a Sua vida por nós. Assim, já na Sua paixão Ele é glorificado, e Deus é glorificado n'Ele. Mas a paixão como expressão muito real e profunda do Seu amor – é apenas um início. Por isso, Jesus afirma que a Sua glorificação será também futura. Depois o Senhor, no momento em que anuncia a Sua partida deste mundo, quase como testamento aos seus discípulos, para continuar de modo novo a Sua presença no meio deles, dá-lhes um mandamento: "Um novo mandamento vos dou: que vois ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros". Se nos amarmos uns aos outros, Jesus continuará a estar presente no meio de nós, a ser glorificado no mundo.

Jesus fala de um "novo mandamento". Mas qual é a sua novidade? Já no Antigo Testamento, Deus tinha dado o mandamento do amor; agora, porém, este mandamento tornou-se novo, enquanto Jesus lhe acrescenta um suplemento muito importante: "Assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros". O que é novo é precisamente este "amar como Jesus amou". Todo o nosso amor é precedido pelo Seu amor e refere-se a este amor, insere-se neste amor, realiza-se precisamente por este amor. O Antigo Testamento não apresentava modelo algum de amor, mas formulava apenas o preceito de amar. Jesus, ao contrário, deu-Se-nos como modelo e fonte de amor. Trata-se de um amor sem limites, universal, capaz de transformar também todas as circunstâncias negativas e todos os obstáculos em ocasiões para progredir no amor. E vemos nos santos (...) a realização deste amor, sempre da fonte do amor de Jesus.

(...) Dando-nos o novo mandamento, Jesus pede-nos que vivamos o Seu próprio amor, do Seu próprio amor, que é o sinal verdadeiramente credível, eloquente e eficaz para anunciar ao mundo a vinda do Reino de Deus. Obviamente, só com as nossas forças somos fracos e limitados. Existe sempre em nós uma resistência ao amor e na nossa existência há muitas dificuldades que provocam divisões, ressentimentos e rancores. Mas o Senhor prometeu-nos que estará presente na nossa vida, tornando-nos capazes deste amor generoso e total, que sabe superar todos os obstáculos, inclusive aqueles que estão nos nossos corações. Se estivermos unidos a Cristo, poderemos amar verdadeiramente deste modo. Amar os outros como Jesus nos amou só é possível com aquela força que nos é comunicada na relação com Ele, especialmente na Eucaristia, na qual Se torna presente de maneira real o seu Sacrifício de amor que gera amor: é a verdadeira novidade no mundo e a força de uma glorificação permanente de Deus, que se glorifica na continuidade do amor de Jesus no nosso amor.

2 de maio de 2010

Bento XVI


Senhor, ensina-me a amar sempre os que pões no meu caminho, ou melhor, ama-os em mim.

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