SEMANA V DO TEMPO PASCAL- 2022
Hoje as leituras centram-nos no maior desafio que Jesus propôs aos seus
discípulos e consequentemente também a nós, cristãos dos novos tempos: amai-vos
uns aos outros, como eu vos amei. Sabendo até onde Jesus foi, por amor ao Pai e
a cada um de nós, percebemos a medida maior que Jesus coloca a cada cristão e à
Sua Igreja. Será este o sinal distintivo dos que seguem Jesus: o Amor. É
verdade que é Deus quem ama, só Ele ama verdadeira e infinitamente, sem nunca
se cansar, sempre pronto a dar-se a quem O procura de coração sincero, seja
qual for a situação em que nos encontremos, mas ama em nós e através de cada um
de nós. Saibamos ser o elo de transmissão da comunicação de Deus Amor, a todos
aqueles com quem vivemos, nos movemos e existimos.
Na primeira leitura (Atos 14, 21b-27) continuamos a acompanhar a
primeira viagem apostólica, missionária, de S.Paulo. Percebemos como o
apóstolo, para além da evangelização, foi ajudando a constituir as comunidades,
estabelecendo anciãos e também princípios e normas organizativos. Trazia às
comunidades a sua vivência do ser Igreja e, depois de terminada cada viagem,
comunicava à Igreja tudo o que Deus fizera com eles. Assim, desde o princípio,
se podia entender a unidade de todos, numa só Igreja.
“Naqueles dias, Paulo e Barnabé
voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos
discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles –
temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus».
Estabeleceram anciãos em cada Igreja, depois de terem feito orações
acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado.
Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília; depois, anunciaram a
palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá embarcaram para Antioquia, de
onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de
realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com
eles e como abrira aos gentios a porta da fé.”
Na 2ªleitura (Ap 21, 1-5ª) antevemos, nas palavras de S.João, que só, um dia, quando o que Jesus iniciou na manhã de Páscoa atingir a plenitude, a humanidade resplandecerá numa união total com o Seu Criador e Deus será tudo em todos. Até lá temos um caminho a percorrer, sabendo que Jesus já ressuscitou, vive em nós, por isso é no hoje, no agora, onde temos tribulações e angústias, que somos convidados a deixar que Deus se manifeste, resplandeça, intervenha, através da forma como vivemos e agimos com todos os que fazem parte da nossa vida, na certeza de que o Amor vencerá sempre e que n’Ele e por Ele, tudo vale a pena.
“Eu, João, vi
um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra tinham
desaparecido e o mar já não existia. Vi também a cidade santa, a nova
Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada
para o seu esposo. Do trono ouvi uma voz forte que dizia: «Eis a morada de Deus
com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio
Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus
olhos; nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo
antigo desapareceu». Disse então Aquele que estava sentado no trono: «Vou
renovar todas as coisas».”
No evangelho (Jo 13, 31-33a.34-35) Jesus deixa-nos como testamento um mandamento novo, o mandamento do Amor. Que, pelo nosso agir, nos identifiquem como aqueles que põem este mandamento em prática, no desenrolar da vida.
“Quando Judas saiu do Cenáculo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado
n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e
glorificá-l’O-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou
convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos
amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se vos amardes uns aos outros».”
EVANGELHO Jo 15, 9-17
«Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros.»
Estamos no tempo pascal, que é o tempo da glorificação de Jesus. O Evangelho que há pouco ouvimos recorda-nos que esta glorificação se realizou mediante a paixão. No mistério pascal, paixão e glorificação estão estreitamente ligadas entre si, formam uma unidade inseparável. Jesus afirma: "Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado n'Ele", e fá-lo quando Judas sai do Cenáculo para pôr em prática o plano da sua traição, que conduzirá à morte do Mestre: precisamente naquele momento tem início a glorificação de Jesus. O evangelista João fá-lo compreender claramente: com efeito, não diz que Jesus foi glorificado somente depois da Sua paixão, por meio da ressurreição, mas mostra que a Sua glorificação começou precisamente com a paixão. Nela, Jesus manifesta a sua glória, que é glória do amor, que se entrega totalmente a si mesmo. Ele amou o Pai, cumprindo a Sua vontade até ao fim, com uma doação perfeita; amou a humanidade, dando a Sua vida por nós. Assim, já na Sua paixão Ele é glorificado, e Deus é glorificado n'Ele. Mas a paixão como expressão muito real e profunda do Seu amor – é apenas um início. Por isso, Jesus afirma que a Sua glorificação será também futura. Depois o Senhor, no momento em que anuncia a Sua partida deste mundo, quase como testamento aos seus discípulos, para continuar de modo novo a Sua presença no meio deles, dá-lhes um mandamento: "Um novo mandamento vos dou: que vois ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros". Se nos amarmos uns aos outros, Jesus continuará a estar presente no meio de nós, a ser glorificado no mundo.
Jesus fala de um "novo mandamento". Mas qual é a sua
novidade? Já no Antigo Testamento, Deus tinha dado o mandamento do amor; agora,
porém, este mandamento tornou-se novo, enquanto Jesus lhe acrescenta um
suplemento muito importante: "Assim como Eu vos amei, vós
também vos deveis amar uns aos outros". O que é novo é precisamente este
"amar como Jesus amou". Todo o nosso amor é precedido pelo Seu amor e
refere-se a este amor, insere-se neste amor, realiza-se precisamente por este
amor. O Antigo Testamento não apresentava modelo algum de amor, mas formulava
apenas o preceito de amar. Jesus, ao contrário, deu-Se-nos como modelo e fonte
de amor. Trata-se de um amor sem limites, universal, capaz de transformar
também todas as circunstâncias negativas e todos os obstáculos em ocasiões para
progredir no amor. E vemos nos santos (...) a realização deste amor,
sempre da fonte do amor de Jesus.
(...) Dando-nos o novo mandamento, Jesus pede-nos que vivamos o Seu próprio amor, do Seu próprio amor, que é o sinal verdadeiramente credível, eloquente e eficaz para anunciar ao mundo a vinda do Reino de Deus. Obviamente, só com as nossas forças somos fracos e limitados. Existe sempre em nós uma resistência ao amor e na nossa existência há muitas dificuldades que provocam divisões, ressentimentos e rancores. Mas o Senhor prometeu-nos que estará presente na nossa vida, tornando-nos capazes deste amor generoso e total, que sabe superar todos os obstáculos, inclusive aqueles que estão nos nossos corações. Se estivermos unidos a Cristo, poderemos amar verdadeiramente deste modo. Amar os outros como Jesus nos amou só é possível com aquela força que nos é comunicada na relação com Ele, especialmente na Eucaristia, na qual Se torna presente de maneira real o seu Sacrifício de amor que gera amor: é a verdadeira novidade no mundo e a força de uma glorificação permanente de Deus, que se glorifica na continuidade do amor de Jesus no nosso amor.
2 de maio de 2010
Bento XVI
Senhor, ensina-me a amar sempre os que pões no meu caminho, ou melhor, ama-os em mim.
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