segunda-feira, 9 de maio de 2022

 SEMANA IV DO TEMPO PASCAL- 2022 

Terça-feira IV da Páscoa - 10.05.2022

Evangelho Jo 10, 22-30

«Já vo-lo disse, mas não acreditais. As obras que Eu faço em nome de Meu Pai dão testemunho de Mim.»

A cena passa-se no Templo, no pórtico de Salomão, lugar onde costumam estar os mestres a ensinar. Jesus aparece claramente como um mestre. É interrogado sobre a Sua intenção e sobre o Seu Ser. “És?” “que vais fazer?” No fundo é isto que inquieta os judeus. Parece que estão atentos a Jesus e a todos os Seus movimentos. A intenção, no entanto, não é a de quem procura o Messias, mas a de quem quer dar a morte a Jesus. O interesse recai sobre Jesus e o desejo é dar-lhe a morte. As palavras de Jesus abrem um fosso entre eles: “não sois das minhas ovelhas”. E não são das ovelhas de Jesus porque não escutam a Sua voz. Estão fora da unidade, da comunhão que existe entre Jesus e o Pai, da qual participam todas as Suas ovelhas.

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"Naquele tempo, celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação do templo. Era inverno e Jesus passeava no templo, sob o Pórtico de Salomão. Então os judeus rodearam-n’O e disseram: «Até quando nos vais trazer em suspenso? Se és o Messias, diz-nos claramente». Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, mas não acreditais. As obras que Eu faço em nome de meu Pai dão testemunho de Mim. Mas vós não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer, ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Pai somos um só»."

O Evangelho da Liturgia de hoje fala-nos do vínculo entre o Senhor e cada um de nós (cf. Jo 10, 27-30). Para o fazer, Jesus utiliza uma imagem terna, uma bela imagem, a do pastor que está com as ovelhas. E explica-a com três verbos: «As minhas ovelhas – diz Jesus – ouvem a Minha voz, eu conheço-as, e elas seguem-Me» (v. 27). Três verbos: ouvir, conhecer, seguir. Vejamos estes três verbos.

Em primeiro lugar, as ovelhas ouvem a voz do pastor. A iniciativa vem sempre do Senhor; tudo tem início na Sua graça: é o Senhor que nos chama à comunhão com Ele. Mas esta comunhão acontece se nos abrirmos à escuta; se continuarmos surdos, Ele não nos pode dar esta comunhão. Abrirmo-nos à escuta pois escutar significa disponibilidade, significa docilidade, significa tempo dedicado ao diálogo. Hoje estamos esmagados pelas palavras e pela pressa de ter sempre de dizer e fazer alguma coisa... De facto, quantas vezes duas pessoas conversam e uma não espera que a outra termine o seu pensamento, corta-o a meio caminho, responde... Mas se não a deixamos falar, não há escuta. Este é um mal do nosso tempo. Hoje somos esmagados por palavras, pela pressa de ter sempre de dizer alguma coisa, temos medo do silêncio. Como é difícil ouvir! Ouvir até ao fim, deixar que o outro se exprima, ouvir-nos em família, na escola, no trabalho, e até na Igreja! Mas para o Senhor, antes de mais, é preciso ouvir. Ele é a Palavra do Pai e o cristão é filho da escuta, chamado a viver com a Palavra de Deus ao nosso alcance. Perguntemo-nos hoje se somos filhos da escuta, se encontramos tempo para a Palavra de Deus, se damos espaço e atenção aos irmãos e irmãs. Saber ouvir a outra pessoa expressar-se até ao fim, sem interromper o seu discurso. Quem ouve os outros também sabe ouvir o Senhor, e vice-versa. E experimenta algo muito bom, isto é, que o próprio Senhor nos ouve: ouve-nos quando rezamos, quando nos confidenciamos com Ele, quando O invocamos.

Ouvir Jesus torna-se assim a forma de descobrir que Ele nos conhece. Eis o segundo verbo, que diz respeito ao bom pastor: Ele conhece as suas ovelhas. Mas isto não significa apenas que sabe muitas coisas sobre nós: conhecer no sentido bíblico significa também amar. Significa que o Senhor, enquanto “nos lê dentro”, nos ama, não nos condena. Se O ouvirmos, descobrimos isto, que o Senhor nos ama. A maneira de descobrir o amor do Senhor é ouvi-l'O. Então a relação com Ele já não será impessoal, fria ou aparente. Jesus procura uma amizade calorosa, uma confidência, uma intimidade. Ele quer doar-nos um novo e maravilhoso conhecimento:  saber que somos sempre amados por Ele e, por conseguinte, nunca deixados sozinhos. Estando com o bom pastor, experimentamos o que diz o Salmo: «Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois Tu estás comigo» (Sl 23, 4). Sobretudo nos sofrimentos, nas dificuldades, nas crises que são trevas: Ele sustenta-nos, vivendo-as connosco. E assim, precisamente em situações difíceis, podemos descobrir que somos conhecidos e amados pelo Senhor. Então perguntemo-nos: deixo-me conhecer pelo Senhor? Dou-lhe espaço na minha vida, confidencio-lhe o que vivo? E, depois das tantas vezes em que experimentei a Sua proximidade, a Sua compaixão, a Sua ternura, que ideia tenho do Senhor? O Senhor está próximo, o Senhor é bom pastor.

Por fim, o terceiro verbo: as ovelhas que ouvem e se descobrem conhecidas seguem: ouvem, sentem-se conhecidas pelo Senhor e seguem o Senhor, que é o seu pastor. E quem segue Cristo, o que faz? Vai para onde Ele vai, na mesma estrada, na mesma direção. Vai em busca de quem se perdeu (cf. Lc 15, 4), interessa-se por aqueles que estão longe, preocupa-se com a situação de quantos sofrem, sabe chorar com aqueles que choram, estende a mão ao próximo, leva-o sobre os ombros. E eu? Deixo-me amar por Jesus só pelo deixar-me amar, ou começo a amá-l'O e a imitá-l'O? 

Que a Santíssima Virgem nos ajude a ouvir Cristo, a conhecê-l'O cada vez mais e a segui-l'O no caminho do serviço. Ouvir, conhecê-l'O e segui-l'O.

Ajoelhado espiritualmente perante a Santíssima Virgem, confio-lhe o ardente desejo de paz de tantos povos que em várias partes do mundo sofrem a calamidade insensata da guerra. À Santíssima Virgem apresento em particular os sofrimentos e as lágrimas do povo ucraniano. Perante a loucura da guerra, continuemos, por favor, a rezar todos os dias o terço pela paz. E rezemos pelos líderes das nações, para que não percam “o instinto do povo”, que quer a paz e sabe que as armas nunca a trarão.

Regina Caeli, 8 de maio de 2022

Papa Francisco

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