sábado, 23 de dezembro de 2023

 Ano B - 2023

Advento passo a passo - 4   

22º dia - Domingo - 24/12/2023

Lc 1,  26-38

«O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.»

«a Deus nada é impossível»

«Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra»

Neste último domingo do Advento somos convidados a acolher o Senhor que vem e a fazermos, de nós próprios, a morada, a habitação do Salvador.

Na 1ªleitura (2 Sam 7, 1-5.8b-12.14a.16) Deus promete a David uma casa, uma linhagem, da qual nascerá Jesus, o Salvador. É essa vinda, o nascimento do Deus Menino, que vamos celebrar já esta noite, e/ou no dia de amanhã. 

“Quando David já morava em sua casa e o Senhor lhe deu tréguas de todos os inimigos que o rodeavam, o rei disse ao profeta Natã: «Como vês, eu moro numa casa de cedro e a arca de Deus está debaixo de uma tenda». Natã respondeu ao rei: «Faz o que te pede o teu coração, porque o Senhor está contigo». Nessa mesma noite, o Senhor falou a Natã, dizendo: «Vai dizer ao meu servo David: Assim fala o Senhor: Pensas edificar um palácio para Eu habitar? Tirei-te das pastagens onde guardavas os rebanhos, para seres o chefe do meu povo de Israel. Estive contigo em toda a parte por onde andaste e exterminei diante de ti todos os teus inimigos. Dar-te-ei um nome tão ilustre como o nome dos grandes da terra. Prepararei um lugar para o meu povo de Israel; e nele o instalarei para que habite nesse lugar, sem que jamais tenha receio e sem que os perversos tornem a oprimi-lo como outrora, quando Eu constituía juízes no meu povo de Israel. Farei que vivas seguro de todos os teus inimigos. O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. Quando chegares ao termo dos teus dias e fores repousar com teus pais estabelecerei em teu lugar um descendente que há de nascer de ti e consolidarei a tua realeza. Serei para ele um pai e ele será para Mim um filho. A tua casa e o teu reino permanecerão diante de Mim eternamente e o teu trono será firme para sempre».”

Perante o Mistério do imenso Amor de Deus, que é o nascimento do Menino Deus que vem dar a Sua vida por cada um de nós, só podemos exultar de alegria e de agradecimento, tal como nos propõe S.Paulo na 2ªleitura (Rom 16, 25-27). Como pode Deus amar-nos assim tanto? Mas a verdade é que ama, por isso, mesmo sem entendermos, somos convidados a contemplar este Mistério.

“Irmãos: Seja dada glória a Deus, que tem o poder de vos confirmar, segundo o Evangelho que eu proclamo, anunciando Jesus Cristo. Esta é a revelação do mistério que estava encoberto desde os tempos eternos mas agora foi manifestado e dado a conhecer a todos os povos pelas escrituras dos Profetas segundo a ordem do Deus eterno, para que eles sejam conduzidos à obediência da fé. A Deus, o único sábio, por Jesus Cristo, seja dada glória pelos séculos dos séculos. Ámen.”

No Evangelho (Lc 1, 26-38) desenrola-se, perante os nossos olhos, uma dinâmica da comunhão de Deus com alguém, por Ele escolhida, desde sempre, para corredenção da humanidade. Maria, ao dizer Sim, torna-se a morada de Deus no meio dos homens. Contemplando a forma como a nossa Mãe respondeu à vontade do Senhor, somos convidados, também nós, a deixarmos que Deus nos habite. Confiemos no Senhor e deixemo-nos habitar, amar por Ele.

Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».”

Glória ao Senhor, louvor ao Senhor, cantai-Lhe terra inteira, bendizei o Seu nome.

À escuta do Evangelho: a solidariedade da Imaculada 

«Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela. (Lc 1,26-38) 

O Senhor está com Maria. Encarnando no seu seio, Deus fez de Maria a Sua Mãe. Desde então, onde está a Virgem Mãe, aí está Jesus, Seu Filho. Tudo por vontade divina. Não podemos separar Maria de Jesus.

Gabriel, o Arcanjo enviado do Céu, tem uma postura muito respeitosa face a Maria. Depois de a ter saudado com uma saudação única na história da Humanidade - «Salve, ó cheia de graça» – ele enche-a de confiança, antes de expor o anúncio que lhe vem fazer. Depois, tendo respondido a um pedido de esclarecimento, fica à espera da resposta que a Virgem lhe vai dar. A dignidade de Maria é incomparável. Com efeito, Maria é a «cheia de graça», foi «preservada de toda a mancha de pecado original, desde o primeiro instante da sua conceção, por uma graça e um favor singular de Deus todo-poderoso» (Cf. Definição do Dogma da Imaculada Conceição). E, no entanto, esta dignidade que não foi atribuída a mais ninguém, não eclipsa a dignidade dos homens, antes pelo contrário, a sua Imaculada Conceição é um privilégio que a torna plenamente solidária com a nossa condição humana, por duas razões: A primeira é que o facto de ela ter sido concebida sem pecado desde o primeiro instante da sua existência, é uma graça que emana da Cruz, por antecipação. Dito de outra forma, a Virgem Maria foi redimida, tal como cada um de nós. As orações da Eucaristia da Imaculada Conceição revelam que Maria foi «preservada de todo o pecado por uma graça concedida pela morte do Seu Filho». Sim, Nossa Senhora foi concebida sem pecado, foi redimida por Jesus da forma mais admirável e inesperada. Se Jesus não tivesse dado a Sua vida na Cruz, Maria não poderia ter sido preservada do pecado. Esta verdade de fé vai contra uma representação de Maria de tal forma perfeita, que até a distancia da nossa condição humana pecadora; no entanto, a Virgem Maria está bem enraizada na nossa humanidade. A segunda razão vem do seu amor total e imaculado. Uma vez que nunca conheceu o pecado, poderá Maria ser solidária com os homens pecadores como nós? Poderá mostrar empatia e compaixão por cada um de nós? Sim, e mais que ninguém, porque a solidariedade vem, não do pecado, mas do amor ao próximo. Não é a experiência da transgressão que nos torna solidários com os outros, mas o amor; não se pode confundir a experiência do pecado com a experiência do sofrimento. Uma pessoa que sofreu pode compreender uma pessoa sofredora e ter ainda mais amor por ela. Ora a Virgem Maria sofreu mais do que ninguém, como nos mostra a sua fidelidade aos pés da Cruz de Jesus… O amor imaculado de Nossa Senhora é, pois, um privilégio que a torna totalmente solidária com a humanidade, um privilégio que lhe dá um lugar mais ativo no Céu – a seguir ao próprio Deus – para favorecer a redenção dos homens. Ela é verdadeiramente a Mãe, protetora dos que põem nela a sua confiança! 

Na escola de Teresa dos Andes: «A tua Mãe nunca te deixa só»

Sabemos colocar a nossa confiança em Maria? Temos alguma imagem ou representação de Nossa Senhora em nossas casas? Joanita convida a não sermos tímidos diante de Maria. Ela própria «tinha sobre um móvel uma estatueta da Santíssima Virgem de quarenta centímetros de altura, mais ou menos, se bem me recordo, e ela beijava-a e abraçava-a com ternura, com tanto, tanto amor…», testemunhava uma amiga aquando do processo apostólico. Isto pode parecer pueril. Mas em França, em Alençon, as filhas da família Martin - incluindo Teresinha - não hesitavam em deixar de lado a timidez para beijar as mãos da Virgem do Sorriso com tanto fervor que até os dedos se partiam! Era necessário regularmente desenroscar as mãos da estátua para lhe colocar mãos novas… É importante exprimir o fervor da nossa fé com todo o nosso ser, sem excluir estes gestos muito humanos. Uma relação filial passa por contactos encarnados, como aconteceu no presépio: será que podemos imaginar a relação de ternura da Virgem Maria com o Menino recém nascido sem várias manifestações encarnadas do seu amor de Mãe?

Ter a Virgem Maria em nossa casa – quer dizer, bem presente na nossa vida espiritual e bem representada por uma imagem, em forma de estatueta ou outra, como tinha Joanita, por exemplo – é fonte de graça. A Virgem Maria faz-nos chegar as graças do seu Filho sob as mais variadas formas, sobre nós e sobre os outros. Sobre nós, através da ajuda que nos alcança com o exercício das virtudes, especialmente as da pureza e da humildade. São virtudes preciosas e sempre a proteger e a cultivar! Numa meditação de 1919 – Joanita tinha então 18 anos –, a Santíssima Virgem começou a falar com ela: «ela disse-me ao pormenor o que me tinham dito a respeito da pureza: 1) Ser puro de pensamento, quer dizer, afastar todo o pensamento que não seja de Deus para, assim, viver constantemente na Sua presença […] 2) ser pura nos meus desejos a fim de desejar apenas pertencer cada dia mais a Deus; desejar a Sua glória, desejar ser santa e agir em tudo com perfeição. Para isso, não desejar nem honra, nem elogios […] 3) ser pura nas minhas ações. Abster-me de tudo o que me pode manchar, de tudo o que Deus não admite porque quer a minha santificação; agir por Deus o melhor possível e não para que as criaturas me vejam» (Diário, 51). Prestemos atenção à progressão destas recomendações: em primeiro lugar, Nossa Senhora pede que vigiemos sobre os pensamentos que estão dentro de nós e rejeitemos voluntariamente os que não são sadios. Depois, se a nossa vigilância for constante, ainda que tenha imperfeições, recolherá frutos a seu tempo. Mas Nossa Senhora, uma vez presente na nossa casa, também vela sobre os outros. Qual a mãe que, estando presente no seio de um lar, não dedicaria todos os cuidados a um dos seus filhos que a ela recorresse, sem deixar de se preocupar com os outros? E, como por vezes é tão difícil falar de Jesus ao nosso próximo, porque não falar-lhe antes de Maria, que Jesus deu por Mãe a cada um? Esta foi a opção que Joanita com toda a mestria! O seu irmão Lucho acabou por perder a fé ao sair de casa para estudar. Isso foi para ela um motivo de grande sofrimento. Afinal, não fora ele, sendo 2 anos mais velho que Joanita, que lhe oferecera um terço, quando tinha 7 anos? «Foi nesse momento, escreve Juanita no seu diário íntimo, que começou a minha devoção à Virgem. […] O meu irmão Lucho convidara-me a recitar o rosário e fizemos juntos a promessa de o rezar toda a vida; coisa que eu cumpri até hoje. Só uma vez me esqueci, era ainda muito pequenina. Desde então posso dizer que Nosso Senhor me deu a mão com a Santíssima Virgem» (Diário 5). Todos sofremos quando o nosso próximo – cônjuge, filho, irmão, irmã, amigo de infância, etc. – não partilham a nossa fé ou ignoram a salvação de Deus que nos ama tanto. É à Virgem Maria que Joanita entrega e confia Lucho. «Querido Lucho, dou-ta para que ela me substitua junto de ti, escreve ela a uns dias de entrar no Carmelo. Fala-lhe como falas comigo, de coração a coração. Quando te sentires só, como muitas vezes eu me senti, olha para ela e verás que o seu sorriso te dirá: «A tua Mãe nunca te deixa só». Quando estiveres triste e desolado e não encontrares ninguém junto de ti para desabafar, corre até à presença de Maria que, com o seu olhar de Mãe, te diz emocionada: «Não há dor semelhante à minha dor»; reconfortar-te-á pondo na tua alma a gota de consolação que cai do seu coração dorido» (Cta 81). Invocar a Virgem como nossa Mãe pode parecer, aos olhos de muitos, infantilidade ou apenas aumento da afetividade. Mas o fervor mariano não é sentimental, é filial. Lucho, após a morte de Teresa acabará por se converter ao fim de longos anos de incredulidade. Terá acabado por reencontrar o seu elo filial com o Pai que está nos Céus, graças à Virgem Maria e à oração da sua irmã Joanita.

Concretamente: voltarmo-nos para Maria

O homem é convidado a recuperar sempre mais este laço filial, sempre, mas sobretudo no meio das provações. A maternidade de Maria é um poderoso amparo para conseguir fazê-lo. «Quando a sua alma luta contra o desencorajamento, escreve Juanita sem temor, diga-lhe então: «Maria, mostra-me que és minha Mãe». Invoque-a quando luta para cumprir os seus deveres de cristão» (Cta 150).

A Virgem Maria, quando estava para dar à luz o seu Filho, no dia de Natal, recebe em plenitude esta graça da maternidade, uma maternidade estendida a todos nós, seus filhos também. Não hesitemos em voltar-nos para A Mãe, para a NOSSA Mãe. Quem se volta para ela nunca será desiludido; a deceção é uma palavra ausente dos escritos de santa Teresa dos Andes. Que a deceção, graças a Maria, e apesar de todas as nossas fraquezas, seja também uma palavra ausente das nossas vidas!

Frei Cyril ROBERT, ocd (convento de Paris) 

Retiro do Advento 2023 com Santa Teresa dos Andes (1900-1920) - Enraizados da Alegria Divina   ©Ordem dos Carmelitas Descalços 

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