sábado, 9 de dezembro de 2023

Ano B - 2023

Advento passo a passo -2

 

8º dia - Domingo - 10/12/2023

Mc 1, 1-8

«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas ».

Nesta semana, em que a caminhada de preparação para a vinda do Senhor continua, as leituras acentuam a dimensão da conversão de coração, a fim de nos preparamos para receber o Menino Deus. Este é o tempo favorável, deixemos que o Senhor nos inunde com a Sua Graça e abramos-Lhe as portas do nosso coração, de par em par.

Na 1ª leitura (Is 40, 1-5.9-11) o profeta Isaías consola o povo no exílio, anunciando o regresso à terra prometida, mas, para isso, terão que preparar, no deserto, o caminho do Senhor, abrindo na estepe uma estrada para Deus. Ultrapassadas todas as dificuldades, alcançarão a terra dos seus antepassados e poderão festejar, porque, diz o profeta, um Salvador ser-lhes-á enviado. Estas são também palavras de consolo e, ao mesmo tempo, de apelo à conversão para todos nós, homens do séc.XXI. Caminhemos numa espera confiante, na fé, de que Jesus nos estreite nos seus braços e nos dê a Sua Paz.

“Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa, porque recebeu da mão do Senhor duplo castigo por todos os seus pecados. Uma voz clama: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senhor e todo o homem verá a sua magnificência, porque a boca do Senhor falou». Sobe ao alto dum monte, arauto de Sião! Grita com voz forte, arauto de Jerusalém! Levanta sem temor a tua voz e diz às cidades de Judá: «Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará. Com Ele vem o seu prémio, precede-O a sua recompensa. Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».

Na 2ªleitura (2 Pedro 3, 8-14) S.Pedro anuncia a 2ªvinda do Senhor e a forma como a devemos preparar. A realização da promessa já aconteceu em Jesus Cristo, Ele está vivo no meio de nós, habita o nosso coração, a nossa alma, todo o nosso ser. Ao escutar esta leitura, sinto que S. Pedro nos alerta para necessidade da preparação do encontro definitivo, de cada um, com o Senhor do tempo e da história, uma vez que, no nosso hoje, vivemos entre a promessa já realizada em Jesus e a promessa de vida eterna no nosso encontro definitivo com o Senhor. 

“Há uma coisa, caríssimos, que não deveis esquecer: um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia. O Senhor não tardará em cumprir a sua promessa, como pensam alguns. Mas usa de paciência para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos possam arrepender-se. Entretanto, o dia do Senhor virá como um ladrão: nesse dia, os céus desaparecerão com fragor, os elementos dissolver-se-ão nas chamas e a terra será consumida com todas as obras que nela existem. Uma vez que todas as coisas serão assim dissolvidas, como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus, em que os céus se dissolverão em chamas e os elementos se fundirão no ardor do fogo! Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça. Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz.”

No início do evangelho de S. Marcos, que hoje escutamos (Mc 1,1-8), o apóstolo desafia-nos a fazer do evangelho o caminho que leva à fé em Jesus, reconhecendo n’Ele o Messias, o Filho de Deus anunciado por João no deserto do Jordão. Fica claro, ao estar atento ao que diz S.João Batista, que se trata de um caminho espiritual, que será aberto no deserto interior de cada homem, através da escuta da palavra, do reconhecimento do pecado, do arrependimento e do batismo no Espírito Santo.

“Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». Apareceu João Baptista no deserto, a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados. Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. João vestia-se de pelos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo-vos na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».

Senhor, concede-me a graça da conversão de coração.


À escuta do Evangelho: a alegria da humildade

O tempo do Advento, que nos prepara para o Natal, não é só um tempo de espera, é também, e sobretudo, um tempo de preparação para a vinda do Deus Menino. Mas, para que serviria esperar a vinda a nossa casa de um amigo se, quando ele chegasse, não tivéssemos nada para lhe oferecer? «Preparai o caminho do Senhor», pede o profeta Isaías, pedido retomado por João Batista no Evangelho, sim: ‘‘preparai o caminho que conduz à vossa própria casa, para que quando Senhor lá chegar Se sinta esperado, confiando no bom acolhimento que da vossa parte receberá’’. É importante que estejamos bem preparados para acolher a vinda do Deus Menino no Natal.

João Batista, pela sua pregação e pelo seu estilo de vida, é o arquétipo do homem que prepara cuidadosamente a vinda do Senhor e que ajuda os outros a prepararem-se também para ela. «Vestido de pelos de camelo e com uma correia de couro à cintura» alimentando-se «de gafanhotos e mel silvestre», João escolhe viver de maneira extremamente pobre, tão pobre que não quer receber nenhuma glória que não venha do próprio Deus. Não se vem vangloriar diante do Senhor. Claro que nem todos são chamados a viver tão pobremente como o Precursor. No entanto, todos são chamados a imitar a sua humildade, não se «fazendo importantes», começando por reconhecer, diante de Deus, a sua condição de pecadores. Por acaso não reconhecem publicamente os seus pecados todas aquelas multidões que vêm ter com João Batista?

A humildade é paciente e alegre. Prepara cada um de nós para receber na casa do seu coração a vinda do Senhor e Salvador Jesus Cristo. Longe da pusilanimidade, a humildade é, pelo contrário, cheia de coragem e de firmeza. João Batista dá dela um magnífico exemplo. Espera com paciência a vinda do Messias. Está feliz como o amigo do Esposo, que se alegra com a felicidade do Esposo; «Esta é a minha alegria! E tornou-se completa!» (Jo 3,29), dirá ele, um pouco mais tarde. Prepara esta vinda, não hesitando em anunciá-la ao povo. Muitos vêm ter com ele, incluindo as pessoas que têm necessidade de mudar de vida (as prostitutas, os publicanos…), enquanto outros se recusam a fazê-lo (especialmente os fariseus). Humilde, João Batista dava ainda maior prova de coragem e de força, não deixando de denunciar a má conduta de Herodes, arriscando a própria vida. Terá tido a audácia de dizer bem alto o que muitos pensavam em voz baixa. No final da sua missão terá beneficiado de toda a amizade e estima do próprio Jesus. Um homem humilde é um amigo de Cristo, porque também Ele é «manso e humilde de coração». (Mt 11,29)

Na escola de Teresa dos Andes: «A humildade é um meio para conhecer a Deus»

Não é, pois, surpreendente que a humildade tenha sido a virtude preferida de Juanita? Todos os santos procuraram ser humildes, tentando assim estar mais unidos ao seu Senhor. Pensemos na Virgem Maria! Falando de si mesma, contenta-se em dizer que o Altíssimo «Se inclinou sobre a sua humilde serva» (Lc 1,48). Santa Teresa de Jesus, por seu lado, não pára de exortar as suas filhas carmelitas a tornarem-se cada vez mais humildes, para se tornarem grandes santas. E que dizer do santo frade canadiano André Bessette (1845-1937), um dos maiores taumaturgos do séc. XX, que afirmou o quanto«é surpreendente que me peçam muitas vezes curas, mas raramente me pedem humildade, espírito de fé. No entanto é tão importante!»

A humildade tem esta caraterística de ser negligenciada, no entanto ela ajuda as pessoas a viverem melhor. Juanita recorda ao seu irmão Lucho – que duvida da fé cristã – que «a humildade é o meio de conhecer a Deus. «Deus – diz a Imitação de Cristo – não Se revela aos orgulhosos». Humilhemo-nos diante d’Ele. Peçamos-Lhe, do fundo do coração, que se manifeste infinitamente às nossas almas. (…) Quem se chega ao lume, aquece-se» (CT 96). Juanita experimentou quanto o fogo da humildade abre perspetivas novas na nossa vida, a começar pelo facto de Deus Se desvelar mais à alma, revelando-Se bem melhor, mais amante, do que até aí tínhamos pensado… Dizia Santa Teresa dos Andes: «Compreendi que o que me separava de Deus era o meu orgulho. De agora em diante quero e proponho-me ser humilde. Sem a humildade, as outras virtudes são hipocrisia. Sem ela, as graças recebidas de Deus são prejuízo e perda. A humildade alcança-nos a semelhança com Cristo, a paz da alma, a santidade e a união íntima com Deus.» (Diário, retiro de 1917). 

Sem humildade é impossível progredir verdadeiramente na nossa relação com o Senhor. Santa Teresa dos Andes insiste numa carta onde copia estas palavras marcantes dirigidas pelo Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque: «Eu sou todo Amor e a maior pena que podem causar ao Meu Coração é duvidar da minha bondade. O Meu Coração é compassivo, mas quanto mais Ele tem de consertar corações, mais se alegra, na condição de não haver malícia. Se tu soubesses do trabalho que eu poderia fazer numa alma cheia de misérias se ela me deixasse atuar… O Amor não tem necessidade de nada. Só precisa de não encontrar resistência; e habitualmente o que eu peço a uma alma, para a tornar santa, é que Me deixe trabalhar nela. As imperfeições da alma não me causam desagrado, mas atraem a Minha compaixão, na condição de que ela não se compraza nelas. Amo tanto as almas… As imperfeições devem servir-lhes de degraus para subir até Mim por meio da humildade, da confiança e do amor. Inclino-me para a alma que se humilha e baixo-me até ao seu nada para a unir a Mim» (CT 109)

Com efeito, quanto mais a pessoa se mostra humilde, mais ela está disposta a ter confiança em Deus e a não opor resistência ao trabalho paciente do Amor nela. Deixemos o Sagrado Coração trabalhar nas nossas almas, lá onde muitas vezes pomos travão à confiança porque, na nossa fé, temos falta de humildade! Muitas vezes é mais proveitoso exercitarmo-nos em nos tornarmos humildes – mesmo que seja timidamente – do que multiplicar à saciedade orações, peregrinações ou outros longos tempos fortes espirituais… E nós desejamos tornar-nos humildes, para deixar que o Coração de Jesus trabalhe nos nossos corações? Exercitamo-nos na humildade? Se sim, como entrar neste belo dinamismo que é o dos santos como João Batista, o Precursor, Teresa de Jesus dos Andes, Margarida Maria Alacoque, Fr. André e tantos outros?

Juanita exercitou-se na humildade de maneira concreta. Ela confessa candidamente ter caído muitas vezes. Agora, podemos inspirarmo-nos nas suas práticas sem nos desencorajarmos. «Quando penso no que sou diante de Deus e em relação às outras criaturas, considero-me como um nada criminoso. Mas depois se alguém me diz alguma coisa que me humilha, respondo imediatamente, movida pelo amor próprio. É verdade que por vezes, procuro abaixar-me mas custa-me muito e por vezes não consigo». (Carta 36)

Deixamos 7 resoluções muito concretas:

Eis aqui alguns dos exercícios de humildade praticados pela pequena santa do Chile. Qual (ou quais) poderíamos nós escolher para nos prepararmos para o Natal?

1) Escolher pequenos sacrifícios

«Nosso Senhor pede-me os sacrifícios mais pequeninos, mas é inconcebível o quanto eles me custam. Pediu-me que fizesse tudo por amor.» (Diário 54).

2) Saber dizer amavelmente que não

No decurso de um baile de salão numa casa rica, um jovem aproximou-se de Juanita e perguntou-lhe se ela queria dançar com ele. Não querendo nem rejeitar este jovem apaixonado por ela, nem ceder ao flirt que se anunciava, respondeu amavelmente: «Pode vir comigo buscar qualquer coisa para comer»

3) Permanecer humildemente firme

Teresa dos Andes experimentou uma humildade cheia de firmeza. Escreve a uma amiga desmoralizada para lhe dar força: «Peço-lhe que não se deixe levar pelo desencorajamento. Chorar muito pelas faltas que cometemos não é humildade; menos ainda se são involuntárias. Deve, imediatamente depois da queda, pedir perdão a Jesus e depois – como uma criança com a sua mãe – apoiar-se sobre o Seu Coração. Somos filhos que ainda não sabem andar. Como é que Jesus se poderá zangar das quedas que damos pela nossa ignorância ou por fraqueza? Evite sempre qualquer falta voluntária. Peça a Jesus que a liberte disso.» (CT 144).

Uma firmeza humilde é uma vantagem em sociedade. Escreve Juanita a uma amiga: «Faz-te respeitar dando um bom exemplo. Esforça-te em sociedade por vencer sempre os respeitos humanos. Forma a tua opinião e não cedas quando os outros não julgam com retidão». (CT 121). Os últimos conselhos de Teresa dos Andes ilustram bem a coragem serena da verdadeira humildade, consciente de que uma pessoa humilde atrai sobre si o respeito. Também sabe manter uma prudente distância face a opiniões precipitadas.

4) Exercitar-se para se levantar audaciosamente depois das quedas

A humildade é uma verdadeira mola para nos levantarmos depois de uma queda. Quando caímos, facilmente somos tentados pelo desânimo. Juanita pelo contrário, sabe mostrar-se cheia de audácia. Escreve à sua prima: «Quando cais, diz simplesmente ao Coração de Jesus: «Senhor, não te esqueceste que eu não consigo fazer nada por mim mesma? Tu não me agarraste. Senhor, tu és o responsável por eu ser miserável porque não me socorreste». Assim, responsabilizamo-Lo e essas relações de confiança n’Ele e de desconfiança de si encantam-n’O» (CT 109).

5) Evitar falar (demais)

Uma outra prática que a Juanita utilizava com sucesso, era abster-se de falar durante uma conversa, quando espontaneamente gostaríamos de nos antecipar e brilhar nas respostas. «Humildade. Não falando de si mesmo, não dando a sua opinião se ninguém no-la pede, não chamar a atenção de ninguém.» (CT 137).

6) Ousar pedir perdão

Uma outra resolução é ousar pedir perdão, sempre que for necessário. Nem sempre é fácil… mas é libertador! «No outro dia pedi perdão às empregadas de casa para me humilhar», escreve Juanita (Diário § 22). Recebeu delas o perdão imediato. Mas não foi assim noutra ocasião. Juanita quando tinha 14 anos e, numa altura em que foi tomar um banho na praia fez uma birra inútil contra a mãe e umas amigas. Depois testemunha: «Não sei quantas vezes pedi perdão» (Diário §9). O perdão demorou a chegar… E se não lhe fosse dado? Teresa teria cumprido o seu dever e respeitado a liberdade do outro, ainda que uma tal situação fosse motivo de grande sofrimento.

7) Meditar sobre a humilhação de Cristo

Enfim, é sempre bom meditar sobre o abaixamento do Senhor que se humilhou por cada ser humano até parecer louco de amor. Teresa meditava regularmente neste tema. Costumamos meditar sobre os sofrimentos e humilhação que Jesus quis suportar para nos salvar? É impossível permanecer arrogante ao considerar o quanto Jesus nos amou e Se entregou por nós… «Se, por fraqueza, eu cair, querido Jesus, olharei para ti na colina do Calvário e, ajudada por Ti, levantar-me-ei […] antes mil mortes que causar-Te a mais pequena dor.» (Diário do retiro, 1916).

Retiro do Advento 2023 com Santa Teresa dos Andes (1900-1920) - Enraizados da Alegria Divina 

©Ordem dos Carmelitas Descalços  

Frei Cyril ROBERT,

ocd (convento de Paris)

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