sábado, 2 de dezembro de 2023

 Ano B - 2023

Advento passo a passo -1

1º dia - 03/12/2023

Mt 13,33-37  

Que o Senhor nos ajude a estarmos sempre vigilantes!

Mais uma novo ano litúrgico que se inicia – o Ano B. É o início de uma nova etapa do caminho da fé, que o Senhor hoje nos propõe. Ainda que estejamos mais velhos, Deus concede-nos a Graça de rejuvenescermos, de novo, no Seu nascimento. Para isso desafia-nos a, neste tempos de guerras sem sentido, estarmos vigilantes e a prepararmos o nosso coração, todo o nosso ser, para O recebermos numa disponibilidade total. Aproveitemos este tempo favorável do Advento, para vivermos o tempo de preparação até ao Natal, num clima de conversão e de confiança no Seu infinito Amor, por cada um de nós. 

Na 1ªleitura (Is 63, 16b-17.19b; 64, 2b-7) o profeta usa uma imagem muito feliz e apropriada, para nos ajudar a perceber que só se nos deixarmos moldar por Jesus, como o barro se deixa trabalhar nas mãos do oleiro é que estaremos prontos para O receber, quando o Senhor vier. No meio medos, angústias e sofrimento, temos a certeza, na fé, na esperança e na caridade, de que Deus virá. Deixemo-nos moldar pelo nosso Deus de forma a sermos, também nós, obra das Suas mãos.

“Vós, Senhor, sois nosso Pai e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome. Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema? Voltai, por amor dos vossos servos e das tribos da vossa herança. Oh se rasgásseis os céus e descêsseis! Ante a vossa face estremeceriam os montes! Mas vós descestes e perante a vossa face estremeceram os montes. Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam. Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os vossos caminhos. Estais indignado contra nós, porque pecámos e há muito que somos rebeldes, mas seremos salvos. Éramos todos como um ser impuro, as nossas ações justas eram todas como veste imunda. Todos nós caímos como folhas secas, as nossas faltas nos levavam como o vento. Ninguém invocava o vosso nome, ninguém se levantava para se apoiar em Vós, porque nos tínheis escondido o vosso rosto e nos deixáveis à mercê das nossas faltas. Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro; somos todos obra das vossas mãos.

Na 2ªleitura (1Cor 1, 3-9) S.Paulo desafia-nos a confiar em Jesus, na certeza de que só Deus é fiel, só n'Ele encontraremos a felicidade que buscamos, pois só Ele nos ama infinitamente, tal qual somos. Deixemo-nos habitar pela Graça Divina que nos foi dada em Jesus e assim seremos suas testemunhas no dia a dia da vida.

“Irmãos: A graça e a paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito, pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus. Porque fostes enriquecidos em tudo: em toda a palavra e em todo o conhecimento; e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo. De facto, já não vos falta nenhum dom da graça, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele vos tornará firmes até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.”

No evangelho (Mc 13, 33-37) Jesus desafia-nos a estarmos vigilantes, a convertermos o nosso coração e a preparamo-nos para a vinda do Senhor, cuja hora desconhecemos. O segredo é fazermos a nossa parte e estarmos sempre prontos a recebê-l’O e a abrir-Lhe a porta do nosso coração. Vem, vem Senhor Jesus, vem, vem que Te esperamos.

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!».”

Senhor que eu me deixe moldar por Ti, hoje sempre. Concede-me Senhor a graça da conversão.


 À escuta do Evangelho : vigiar com amor

«Vigiai!», proclama Jesus. Sim, «permanecei acordados e despertos: porque não sabeis quando chegará o momento». Neste início do novo ano litúrgico, o Céu dirige-se aos habitantes da Terra e faz-lhes um apelo urgente: o que estais fazendo das vossas vidas? …

No entanto, embora Jesus chame os homens à vigilância, não toma uma postura ameaçadora. Convi­dando a Humanidade – por três vezes! – a estar vigilante, o Filho de Deus exprime, antes, o seu dese­jo ardente de ser recebido a quando do seu regresso. Os homens dispor-se-ão a recebê-Lo? O regresso do «dono da casa» far-se-á talvez daqui a vinte anos ou mesmo hoje… mas é inútil especular sobre a data mais ou menos próxima desse regresso, tal como é inútil deixar-nos levar pela ansiedade.

A vigilância a que Cristo nos chama é a vigilância do amor que vela sobre o próximo e sobre si mesmo. Ela difere, portanto, de uma vigília noturna, em que se guarda uma empresa ou um domicílio rico. Para o vigilante tudo corre bem… quando não se passa nada. Ora, um acon­tecimento único e determinante vai verdadeiramente acontecer: o nosso dono da casa está mesmo a regressar.

Na expetativa desse acontecimento, cada pessoa deve vigiar, estar atenta a amar. Que vele, seja qual for o seu trabalho, vivendo o amor aos seus na sua casa, que é a Terra. Uma fé desperta e uma fé cheia de amor. E o amor dá sentido à vida, o amor torna-nos felizes, o amor faz dos homens filhos de Deus.

Um homem que se entrega ao pecado, pelo contrário, é uma pessoa que não se mantém à soleira da porta, acordado, para acolher o mestre no seu regresso. Fecha os olhosao sentido da sua vida e ao resultado final da sua conduta. A vinda do seu Senhor tornar-se-á «um imprevisto»

O primeiro a vigiar não é senão o próprio Jesus.

O Verbo, tomando carne para tomar sobre si todos os pecados da natureza humana, permaneceu vigilante «até ao fim» [Jo 13,1]. No madeiro da Cruz, Ele vigiou para continuar a amar cada um, sem nada renegar do Seu Amor louco, apesar de todos os pecados de que foi carregado. A Sua misericórdia tudo assumiu, das nossas existências, por vezes tão humilhadas. «Deus é Amor» [1Jo 4,16], e a sua natureza é amar. Foi assim que Jesus vigiou para amar até ao fim a Pedro e ao próprio Judas, Maria, a Santíssima Virgem, Caifás, o leitor que lê estas linhas, eu…

Na escola de Teresa dos Andes : « Jesus pede-me que seja santa »

Esse apelo a uma vigilância amorosa transformou a vida de Juanita. No decorrer de um retiro, quan­do tinha 17 anos, lançou um olhar para trás e confiou ao seu Diário íntimo: «Oh! Como estimo o meu crescimento desde que vi a minha origem – toda de Deus! – e o meu fim: um Deus infinito! Mas há um tempo entre a origem e o fim: a vida» (Diário, Retiro de 1917). Aquela a que por vezes se chama a Teresinha do Chile soube corresponder ao chamamento de Cristo. No que lhe diz respeito, o momento do regresso do dono da casa não tardou, «visto que o Senhor a veio buscar antes de fazer vinte anos.

Estaremos nós, por nossa vez, também determinados a vigiar sobre nós próprios e os nossos próxi­mos? Estaríamos prontos a acolher Nosso Senhor se Ele chegasse hoje mesmo? É grande a tenta­ção de pensar que a santidade diz respeito aos outros e que o nosso caminhar sobre a terra deve prosseguir mais modestamente..

O exemplo de Juanita contraria essa forma bastante habitual de ver as coisas. Ela – como muitos entre nós – não era uma criança excecional. Ela não era uma pessoa particularmente predisposta à santidade.

Era uma criança como as outras, com suas qualidades e seus defeitos. Claro que a fé cristã a animava de uma maneira precoce, mas havia aspetos inteiros da sua vida que ainda não estavam evangeli­zados. Assim, « desde a minha infância, testemunha Juanita aos 19 anos, amei muito a Santíssima Virgem, a quem confiava todas as minhas coisas. Ela respondia com afeição. Protegia-me e escu­tava sempre o que eu lhe pedia. Foi ela que me ensinou a amar Nosso Senhor». Até aqui, tudo bem. E, no entanto, a pequena santa do Chile acrescenta: « sem compreender a graça que ela me concedia e sem nem mesmo me preocupar, deixava-me cortejar e divertia-me o mais possível» (Carta 73). Assim, como acontece com muitos de nós, Juanita estava vigilante sobre certos aspetos da sua vida enquanto, ao mesmo tempo, “se deixava levar um pouquinho” noutros. Também nós estamos atentos a viver cristãmente muitos pontos e, noutros, estamos cegos: os olhos do coração não estão vigilantes, mantêm-se fechados.

Assim aconteceu com Juanita até à sua adolescência. Era uma jovem muito bonita, alta, elegante, com o cabelo castanho acobreado e os olhos azuis. Chamava a atenção. Na idade de 13 e 14 anos, consciente da sua beleza física, ela ia para a varanda da casa de sua família para se deixar olhar pelos jovens que passavam e tornavam a passar sob a sua janela, tentando flertar com ela. Esse jogo de sedução é normal no Chile. Juanita acabará por dar-se conta de que sua beleza física lhe alimentava o orgulho: «Desde a minha infância diziam-me que eu era a mais bonita dos meus irmãos e irmãs, e eu não percebia isso. Mas mo repetiam à medida que eu crescia, às escondidas da mamãe, que não gostava nada de ouvir isso. Só Deus sabe o que me custou arrancar esse orgulho ou vaidade que tomou conta do meu coração quando me tornei mais crescida.» (Diário § 2). 

Por outro lado, Juanita tinha de lutar contra os seus acessos de cólera e a sua sensibilidade exces­siva…

Mas Jesus vigiava… Em dezembro de 1914, caiu doente e, na sua oração silenciosa, pressentiu, por fim, este chamamento que Cristo lança a cada um de nós: « Nosso Senhor mostrou-me a santidade como objetivo último. Eu devia atingir a santidade fazendo tudo do melhor modo que podia.» (Diário §7). Como está o nosso desejo de santidade? Juanita concebe-o como um mandamento de Deus, e é exatamente isso. «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai do Céu» [Mt 5,48]. Recusar-se a caminhar em direção à santidade pelo fato de sermos demasiado fracos, ou por outro motivo, é um verdadeiro orgulho dissimulado ! … « A santidade como objetivo» não é uma exigência feita em particular a tal pessoa ou a tal outra. É uma exigência universal, dirigida a cada um em particular. Esse «dever» de santidade é-nos dirigido, sejamos nós quem formos: homem, mulher, idoso(a), etc..

O dever de santidade começa pelo dever de estado. O dever da mãe de família, o dever da criança que está a aprender, o dever do empregado no seu trabalho, o dever de servir os outros segundo as nossas capacidades. «Jesus pede-me que seja santa, escreve Juanita no seu Diário íntimo. Que faça o meu dever com perfeição. Porque o dever – disse-me Ele – é a cruz. E na cruz está Jesus. Quero ser crucificada.» (Diário §34).

O nosso itinerário para a santidade dependerá da consciência que temos do dever de estado; fazendo de cada pequeno dever um ato de amor, segundo os exemplos ilustrados na His­tória de uma Alma, sobre os quais Juanita se apoia. A vigilância  torna-se maior e o sopro do Espírito Santo torna-se mais forte. A pequena santa do Chile convida-nos a fazer resoluções determinadas. Encontram-se muitas no seu diário íntimo! Exercitar-se em tomar decisões e depois avaliá-las per­mite que permaneçamos vigilantes. E há tantas ocasiões em que ainda não amamos e tantas ocasiões em que ainda não fugimos dos perigos …

Concretamente : 4 resoluções

Aqui estão algumas das resoluções que Juanita tomou. Qual delas poderíamos decidir seguir para nos prepararmos para a vinda de Jesus no Natal?

1) Desapegar-nos do olhar dos outros

O homem tem em si uma inquietação, uma necessidade de ser apreciado, enquanto o seu coração não se voltar para o seu Senhor. «Fizeste-nos para Ti, Senhor, escreveu Santo Agostinho nas suas “Confissões”, e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em Ti». Entregues a nós mes­mos, procuramos no olhar dos outros uma confirmação da nossa identidade. Mesmo depois de convertida, a pessoa continua a ser sempre inclinada a procurar elogios e outras recompensas, com o objetivo de se sentir apreciada. Mas só Deus nunca desilude no amor.

Juanita tem essa experiência amarga, mas salutar. Aos 18 anos, ela faz uma constatação crucificante: «Custa-me muito [porque daí a uma semana terminará o ano escolar e deixará o colégio]. O que aumenta a minha dor é a indiferença da Madre Izquierdo [uma das religiosas responsáveis pelo colégio] para comigo. Depois de tanto a ter amado como amei, depois de a ter deixado ler na minha alma, é isso que eu recebo. Isso ensina-me que nem as criaturas mais santas sabem amar. Adeus a toda a ternura humana. Só em Jesus encontro esse amor constante, um amor sem limites, um amor infinito.» (Diário).

Peçamos a Deus que nos assegure o seu amor para connosco, que nos confirme que somos dignos de ser amados com um amor sem desilusões…

2) Fugir das mundanidades

Juanita sabe discernir entre os encontros de amigos que são benéficos, estimulantes e aqueles que, ao final, não são muito construtivos. Temos experiência de todo tipo de discussões que, no fim das contas, deixam um vazio, um cansaço, enquanto outras conversas, pelo contrário, são mais positivas e deixam o nosso coração alegre.

Juanita testemunha a uma amiga: «À noite fomos ver a D. Júlia; estavam lá muitos jovens: foi um completo aborrecimento» (Carta 23, tinha ela 17 anos) !

E nós? Fazemos a avaliação das nossas relações pessoais e com os amigos? É tão importante rodear-nos das pessoas certas, mesmo que o nosso envolvimento nunca seja o ideal…

3) Olhar o próximo com apreço, valorizando-o

Eis um ponto no qual Juanita se destacava! «Quando vir um defeito nas pessoas, toma esta reso­lução, que eu pense nas suas qualidades e também que os seus defeitos podem ser permitidos por Deus para humilhar a pessoa que os tem e que, talvez, interiormente seja muito agradável a Deus, enquanto eu tenho defeitos piores e mais numerosos que ela.» (Diário §52). Essa valorização do próximo nos liberta de nós mesmos, libera a imagem que queremos dar de nós aos outros e pela qual muitos despendem uma energia louca! Para tudo há um meio-termo razoável.

Conseguimos deixar que o próximo tenha a última palavra? Acontece-nos fazer um elogio aos outros (elogiar, que é uma palavra de sinceridade, não é lisonjear, que é uma palavra de falsidade)?… No plano espiritual, valorizar o próximo é um ato de caridade.

4) Resoluções para a vida inteira

Por que não fazer várias resoluções ao mesmo tempo? Para os mais audaciosos, os mais desejosos de responder ao apelo de Cristo a tornar-se santos, eis aqui uma lista feita por Juanita e válida para cada um de nós:

« Resoluções para a minha vida inteira: 1) nunca deixar a meditação [na oração], a comunhão e a Missa; 2) farei um exame de consciência detalhado e recitarei de joelhos as minhas orações da manhã e da noite; 3) farei alguma leitura espiritual e conservarei na minha alma um recolhimento que me mantenha unida a Jesus; 4) Terei força de caráter. Nunca me deixarei levar pelo sentimento e pelo coração, mas pela razão e pela minha consciência; 5) cumprirei com alegria a vontade de Deus, tanto nas dores como nas alegrias, sem nunca mostrar na minha cara o que se passa no coração […] ; 6) nunca me deixarei levar pelo respeito humano, nem na minha conduta, nem nas minhas palavras».

Boa caminhada para a santidade e a alegria que dela decorre.

Frère Cyril ROBERT, ocd (convento de Paris)

Retiro de Advento de 2023 com Sta Teresa dos Andes (1900-1920) - Enraizados na Alegria Divina

©Retiro on-line do Carmelo, carmes-paris.org. 

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