sábado, 5 de março de 2022

   QUARESMA PASSO A PASSO - 2022

Entrámos nesta Quaresma sob o espetro da guerra. Aquilo que pensávamos que se passava só nalgumas partes do globo, longe de nós, está a acontecer no nosso continente, à nossa porta, a envolver povos e pessoas próximas de nós. Vivemos esta guerra em direto. É um horror, uma tragédia sem limites... Como é que isto pode ter acontecido? É a pergunta que fazemos sem, contudo, encontrar respostas... Que Deus a todos proteja proteja e ilumine os senhores da guerra... Rainha da Paz, dai-nos a Paz.

Domingo I da Quaresma - dia 5- 06/03/2022

No Primeiro Domingo da Quaresma, somos convidados a fazer um tempo de deserto e conversão (ao longo de 40 dias). É o tempo favorável para uma maior comunhão, para uma intimidade profunda com o Senhor, pois só n’Ele conseguiremos resistir às diversas tentações (poder, ambição, materialismo, hedonismo, consumo desenfreado e imediato, individualismo, indiferença, egoísmo, orgulho,...) com que nos confrontamos no dia a dia da vida. Que o Espírito Santo nos ilumine com a Sua luz e nos oriente nas nossas escolhas e decisões.

Na 1ª leitura (Deut 26, 4-10) é-nos feito, por Moisés, o desafio de colocarmos tudo na mãos de Deus, a começar pelos primeiros frutos.  Ao reconhecermos como o Senhor tem estado sempre connosco, ao refletirmos sobre a forma como Ele tem conduzido a história da nossa vida, só podemos prostrarmo-nos e adorá-l’O como o Verdadeiro, o Único Senhor, O que nos ama infinitamente. Louvado sejas Senhor, hoje, sempre e por toda a eternidade. 

Moisés falou ao povo, dizendo: «O sacerdote receberá da tua mão as primícias dos frutos da terra e colocá-las-á diante do altar do Senhor teu Deus. E diante do Senhor teu Deus, dirás as seguintes palavras: ‘Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egipto com poucas pessoas, e aí viveu como estrangeiro até se tornar uma nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos e sujeitaram-nos a dura escravidão. Então invocámos o Senhor Deus dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel. E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra que me destes, Senhor’. Então colocarás diante do Senhor teu Deus as primícias dos frutos da terra e te prostrarás diante do Senhor teu Deus».”

 

Na 2ªleitura (Rom 10, 8-13)  S. Paulo ajuda-nos a iniciar este caminho quaresmal ao centrar-nos no essencial da nossa fé: crer em Jesus Cristo, o filho de Deus humanado, que ressuscitou dos mortos. Deixemos que Jesus nos conduza durante este tempo favorável de graça, de conversão e arrependimento, até à noite das noites, em que celebraremos a vitória de Jesus sobre a morte, a Sua ressurreição. 

“Irmãos: Que diz a Escritura? «A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração». Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a Escritura diz: «Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido». Não há diferença entre judeu e grego: todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que O invocam. Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.”

No Evangelho (Lc 4, 1-13) damo-nos conta de que Jesus, sendo Deus, mas simultaneamente também homem, se retirou para o deserto, para  orar e aí Se encontrar e permanecer em maior intimidade com o Pai. É neste contexto que escutamos a forma como Jesus é tentado pelo Diabo e lhe resiste. 

“Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.” 

Jesus, filho de David, tem compaixão de mim que sou pecadora.

1. Se és o Filho de Deus, que esta pedra se converta em pão

— Jesus, Ele próprio, ao fazer-se um de nós, também teve que ultrapassar muitas dificuldades (tentações). Ele era o “Filho amado” (assim foi proclamado no episódio do Batismo) mas isso não lhe deu vantagem quando assume completamente a condição humana…

— A primeira tentação tem como horizonte o acumular do pão, dos bens materiais, da riqueza acumulada…

— A diferença principal em relação a nós, está no facto de Jesus superar as tentações enquanto nós, muitas vezes, cedemos… Para Jesus, a vida vem de “toda a palavra que sai da boca de Deus”, palavra que subsiste sempre: quando há pão e quando não há…

— Fazendo a experiência de não ter para comer, Jesus converte-se no irmão universal de todos os pobres deste mundo e abre-nos outros horizontes de vida que ultrapassam o possuir, o ter…

2. Dar-te-ei poder e glória se te prostrares diante de mim

— Num lugar alto, a tentação do poder é sempre muito grande. Para levar a bom termo a missão que o Pai lhe confia parece que seria necessário pactuar com este modo de influenciar: a partir de cima, do alto do poder…  

— Mas Jesus escolheu estar ao lado das pessoas, conviver com elas, fazer a experiência da pobreza e não da riqueza e do poder; ficar com os últimos….

— A tentação do diabo pode traduzir-se assim: pensas que por este caminho vais conseguir alguma coisa? É assim que realizas a missão que o Pai te confiou? Para teres eficácia aceita o poder e impõe-te pela riqueza… Mas não foi por aqui que Jesus seguiu…

3. Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo

— Mais uma vez, a proposta do diabo parece aliciante: queres que as pessoas te escutem e vão atrás de ti? Queres ter sucesso rápido sem ser preciso andares de um lado para o outro e sofrer a incompreensão? Realiza uma coisa extraordinária, faz um prodígio atirando-te do templo porque os anjos seguram-te e todos ficarão a saber que és o Messias esperado…

— Jesus rejeita esta proposta que traria prestígio e criaria uma imagem de sucesso… Pode-se confiar em Deus mas, com humildade… O anúncio do Reino deixa liberdade às pessoas e não é nenhum espetáculo de circo…

4. Pecado e graça

— Jesus não cedeu às tentações, ao caminho fácil de ter os bens materiais assegurados, do poder e do prestígio…

— É certo que as tentações fazem parte da nossa humanidade mas, não resistir por fragilidade ou ambição não nos torna mais humanos… Uma coisa é experimentar as tentações, outra é abdicar perante elas…

— Jesus de Nazaré foi homem em tudo: conduziu a nossa humanidade à sua realização total e, uma expressão eloquente deste itinerário foi não ter cedido às tentações. O pecado, resultado da nossa desistência na luta contra as tentações, ao contrário do que às vezes se diz, já não é humano… Até desumaniza porque depois dele, só nos resta implorar a misericórdia e o perdão para recompor, a partir de Deus, a nossa humanidade que fica afetada…

— Quando cedemos às tentações que brotam do nosso interior ou de forças exteriores, por vezes disfarçadas, torna-se perigoso porque sempre temos dificuldade em reconhecer a culpa, racionalizamos demasiado e procuramos justificações para tudo…

— Por isso, é necessário uma atitude constante de discernimento para não confundir as consequências do pecado, que nos tornam menos humanos, com a humanidade das tentações… As nossas justificações não podem ser sempre apelar para uma “hipotética humanidade do pecado”… Somos chamados a não pecar, apesar das tentações…

— Embora reconheçamos a nossa fragilidade e vulnerabilidade, há que lutar contra o mal e, se algumas vezes não fomos capazes de o evitar, aceitemos a graça e a misericórdia que o nosso Deus dispensa a todos os que querem caminhar com Ele…

— Como diz S. Paulo, “todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”… O grande obstáculo é sempre o querermos ser nós os protagonistas… Olhemos para Jesus que, antes de começar a sua atividade, fez silêncio no deserto, calou-se e rezou: fez a “sua quarentena”… Façamos nós também a nossa…

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