sábado, 19 de março de 2022

 QUARESMA PASSO A PASSO - 2022

Domingo III da Quaresma - dia 19- 20/03/2022

EVANGELHO Lc 13, 1-9 

«E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante.»

Neste terceiro domingo da quaresma continuamos a caminhada de conversão, que encetámos na quarta feira de cinzas. Hoje as leituras, por um lado são um forte apelo à conversão sincera, de coração, mas por outro lado revelam-nos o imenso amor de Deus para com o pecador, que se arrepende e se deixar amar por “Aquele que é”.

Na 1ªleitura (Ex 3, 1-8a.13-15)  Moisés vai-nos revelando Deus, atento ao sofrimento do Seu povo, ou seja, às nossas súplicas e angústias. Do meio da sarça que arde, mas não se consome, Deus dá-nos a garantia de que  todo o que n’Ele confia e, se lhe entrega de verdade, será por Ele libertado da “escravidão”, seja esta de que natureza for. Só em Deus seremos realmente livres. Deixemos que Deus nos ame e Se manifeste no concreto da nossa existência, como - “Aquele que é” - Amor sem limites por cada um de nós. 

“Naqueles dias, Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Ao levar o rebanho para além do deserto, chegou ao monte de Deus, o Horeb. Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor numa chama ardente, do meio de uma sarça. Moisés olhou para a sarça, que estava a arder, e viu que a sarça não se consumia. Então disse Moisés: «Vou aproximar-me, para ver tão assombroso espetáculo: por que motivo não se consome a sarça?». O Senhor viu que ele se aproximava para ver. Então Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés, Moisés!». Ele respondeu: «Aqui estou!» Continuou o Senhor: «Não te aproximes. Tira as sandálias dos pés, porque o lugar que pisas é terra sagrada». E acrescentou: «Eu sou o Deus de teus pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob». Então Moisés cobriu o rosto, com receio de olhar para Deus. Disse-lhe o Senhor: «Eu vi a situação miserável do meu povo no Egipto; escutei o seu clamor provocado pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias. Desci para o libertar das mãos dos egípcios e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel». Moisés disse a Deus: «Vou procurar os filhos de Israel e dizer-lhes: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas se me perguntarem qual é o seu nome, que hei de responder-lhes?». Disse Deus a Moisés: «Eu sou ‘Aquele que sou’». E prosseguiu: «Assim falarás aos filhos de Israel: O que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós». Deus disse ainda a Moisés: «Assim falarás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, Deus de vossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, enviou-me a vós. Este é o meu nome para sempre, assim Me invocareis de geração em geração’».”

Na 2ªleitura (1 Cor 10, 1-6.10-12) é S. Paulo quem nos conduz aos caminhos do deserto e connosco faz memória do que por lá se passou. Ao refletirmos com ele, sobre todos os acontecimentos da caminhada, fica muito claro que somos todos pecadores e que ninguém é melhor do que o outro. No entanto, S.Paulo dá-nos a solução para todos os problemas: em Jesus Cristo , que é o rochedo da nossa salvação, que nos acompanha sempre, pois habita-nos, vive em nós, é possível vencer a morte, o pecado. Entreguemo-nos, na totalidade do nosso ser a Jesus, deixemo-nos guiar, conduzir por Ele, que  é o Único que nos pode dar a verdadeira Vida e arrisquemos tudo n’Ele: afinal, Deus é todo Amor e não sabe senão dar-se continuamente, por isso,  de que é que temos medo, o que é temos a perder?  

“Irmãos: Não quero que ignoreis que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, passaram todos através do mar e na nuvem e no mar, receberam todos o batismo de Moisés. Todos comeram o mesmo alimento espiritual e todos beberam a mesma bebida espiritual. Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava: esse rochedo era Cristo. Mas a maioria deles não agradou a Deus, pois caíram mortos no deserto. Esses factos aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos o mal, como eles cobiçaram. Não murmureis, como alguns deles murmuraram, tendo perecido às mãos do Anjo exterminador. Tudo isto lhes sucedia para servir de exemplo e foi escrito para nos advertir, a nós que chegámos ao fim dos tempos. Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.”

No Evangelho (Lc 13, 1-9) Jesus, depois de nos fazer um forte apelo à conversão, revela-nos a paciência, a misericórdia, o Amor de Deus. Nunca duvidemos do Seu infinito Amor, por cada um de nós, e correspondamos dando “bom fruto”.

“Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano». 

O Evangelho deste terceiro domingo de Quaresma (cf. Lc 13, 1-9) fala-nos da misericórdia de Deus e da nossa conversão. Jesus conta a parábola da figueira estéril. (...) O que representa esta parábola? O que representam as personagens desta parábola?

O dono representa Deus Pai e o vinhateiro é imagem de Jesus, enquanto a figueira é símbolo da humanidade indiferente e árida. Jesus intercede junto do Pai a favor da humanidade — e fá-lo sempre — pedindo-lhe para aguardar e conceder ainda mais tempo, a fim de que ela possa produzir os frutos do amor e da justiça. A figueira que o dono da parábola quer extirpar representa uma existência estéril, incapaz de doar, incapaz de praticar o bem. É símbolo de quem vive para si mesmo, satisfeito e tranquilo, instalado nas próprias comodidades, incapaz de dirigir o olhar e o coração para quantos estão ao seu lado em condições de sofrimento, pobreza e dificuldade. A esta atitude de egoísmo e de esterilidade espiritual, contrapõe-se o grande amor do vinhateiro em relação à figueira: pede ao dono que espere, ele tem paciência, sabe esperar, dedica-lhe o seu tempo e o seu trabalho. Promete ao dono que terá um cuidado especial para com a árvore infeliz.

E esta similitude do vinhateiro manifesta a misericórdia de Deus, que nos concede um tempo para a conversão. Todos temos necessidade de nos converter, de dar um passo em frente, e a paciência de Deus, a Sua misericórdia, acompanha-nos nisto. Não obstante a esterilidade, que às vezes marca a nossa existência, Deus tem paciência e oferece-nos a possibilidade de mudar e fazer progressos no caminho do bem. Mas a dilação implorada e concedida na expetativa de que a árvore finalmente frutifique indica também a urgência da conversão. O vinhateiro diz ao dono: «Senhor, deixa-a mais este ano» (v. 8). A possibilidade da conversão não é ilimitada; por conseguinte é necessário colhê-la imediatamente; caso contrário perder-se-ia para sempre. Podemos pensar nesta Quaresma: o que devo fazer para me aproximar mais do Senhor, para me converter, e “cortar” o que não está bem? “Não, esperarei a próxima Quaresma”. Mas estarei vivo na próxima Quaresma? Pensemos hoje, cada um de nós: o que devo fazer face a esta misericórdia de Deus que me espera e perdoa sempre? O que devo fazer? Podemos confiar infinitamente na misericórdia de Deus, mas sem abusar dela. Não devemos justificar a preguiça espiritual, mas aumentar o nosso esforço para corresponder prontamente a esta misericórdia com sinceridade de coração.

No tempo de Quaresma, o Senhor convida-nos à conversão. Cada um de nós deve sentir-se interpelado por esta chamada, corrigindo algo na própria vida, no modo de pensar, de agir e viver as relações com o próximo. Ao mesmo tempo, devemos imitar a paciência de Deus que confia na capacidade que todos têm de se poderem “reerguer” e retomar o caminho. Deus é Pai e não apaga a chama ténue, mas acompanha e ampara quem é débil para que se fortaleça e ofereça o seu contributo de amor à comunidade. A Virgem Maria nos ajude a viver estes dias de preparação para a Páscoa como um tempo de renovação espiritual e de abertura confiante à graça de Deus e à sua misericórdia.

Papa Francisco

(Angelus  24 de março de 2019)

Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação,mas livrai-nos do mal. Ámen.

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