Mensagem de Natal 2021: A
Coragem da Esperança
O tempo do Advento e Natal
convida-nos a voltar o nosso olhar para a humilde gruta de Belém, onde nasceu
Jesus. À luz da fé, somos chamados a contemplá-Lo e a celebrá-Lo juntos, cheios
de alegria, como Deus connosco. Tal como os pastores que ouviram o primeiro
anúncio do seu nascimento.
O espírito consumista atrai-nos e
distrai-nos com a tentação de buscar a alegria na exterioridade das compras,
das prendas, dos adornos das ruas e da diversão. Todavia, a gruta de Belém, com
a sua simplicidade e pobreza, ensina-nos a viver o essencial, de maneira
sóbria. O Natal cristão não pode ser reduzido a uma festa social. Há de ser
vivido como a festa do Filho de Deus, que veio trazer aos homens a ternura e a
paz de Deus, a fraternidade e a alegria para todos. É, por isso, também festa
dos homens!
Celebramos este Natal ainda em
tempo difícil. Quando julgávamos estar a sair do túnel da pandemia, ei-la de
volta a apoquentar-nos com a sua sombra. Contudo, a estrela de Belém — do Natal
de Jesus — irradia luzes de amor e confiança que continuam a resplandecer nas
noites do mundo.
É, pois, ocasião para redescobrir
a esperança cristã a partir da dura experiência da pandemia. Esperança que ajude a construir uma vida nova e
melhor. Focarei três aspetos.
Esperança que nos leve ao
encontro e cuidado uns dos outros
O primeiro aspeto procede da
experiência que nos fez sentir a todos mais frágeis, indefesos, cheios de
dúvidas e incertezas. Leva-nos a aprender uma maior humildade. É um aspeto
importante e precioso. Não significa apenas ter uma ideia clara dos próprios
limites e fragilidades. Implica também compreender que precisamos uns dos
outros. O Natal lembra-nos que o Filho de Deus veio ao mundo, assumindo
uma condição de grande fragilidade. Necessita de José e Maria para ser
cuidado, protegido, acompanhado no seu crescimento. Também hoje, Deus
vem a nós e pede-nos que cuidemos uns dos outros.
A esperança é audaz, sabe olhar
para além do próprio conforto para se abrir ao encontro dos outros. Neste
sentido, esperança quer dizer cuidar uns dos outros, levar
carinho, calor e consolo a tantas solidões dos que sofrem. Quer dizer ainda, refazer
a qualidade das relações pessoais afetadas pelos confinamentos e
restrições sanitárias bem como o sentido de pertença à comunidade.
Também aqui entra a responsabilidade da vacinação, como diz o Papa Francisco:
“Vacinar-se é um modo simples, mas profundo, de promover o bem comum e de
cuidar uns dos outros, especialmente dos mais vulneráveis”.
A esperança cristã abre caminho
onde um ser humano se faz próximo gratuitamente num gesto de amor, ternura e
compaixão, alimentando assim a cultura do cuidado. Deste modo, o Natal não será vão.
Esperança que nos abre à
confiança em Deus que vem ao nosso encontro
A crise provocada pela pandemia
despertou em muitos a interrogação sobre o sentido da vida, a busca de
espiritualidade e a abertura ou mesmo a necessidade de Deus. Não de um Deus
“tapa buracos” que resolve tudo com golpe de magia. Mas antes, a necessidade
de nos colocarmos nas mãos do Deus digno de confiança. O Deus cujo rosto
Jesus nos revela e o Natal nos leva a redescobrir: próximo, compassivo e terno,
que abraça a todos com a sua paternidade e misericórdia, o Deus connosco que
nunca abandona os seus filhos. A quem O invoca com fé, dá a ajuda necessária
para viver com dignidade e amor a própria vida e enfrentar com esperança a
doença e a morte. Quem tem fé, nunca está só nem na vida, nem na morte.
Esperar quer dizer fazer
exercícios de fé e de oração confiante, colocar-nos a nós, os que nos são caros
e a humanidade inteira nos braços amorosos de Deus Pai com infinita confidência, recebendo a graça inesgotável
dos sacramentos que nos oferece na sua Igreja.
Esperança que leva ao compromisso
social e político
Por fim, a pandemia aumentou
muito as pobrezas e desigualdades sociais. A necessidade de ajuda alimentar e a
urgência de apoio face às graves perdas sofridas desafiam-nos a não ficarmos
fechados no egoísmo e na indiferença. Ninguém pode salvar-se sozinho. A todos é
pedida a coragem de sair das lógicas dos interesses próprios, do mercado e do
lucro a todo o custo, para nos abrirmos a uma solidariedade mais vasta. Cristo
nasceu e veio para todos. Não permite que deixemos alguém para trás,
marginalizado, abandonado, descartado.
Cada um de nós pode praticar a
solidariedade para ajudar quem se encontra em dificuldade e vive o peso da
solidão ou a redução dramática das possibilidades de uma vida saudável, digna e
ativa. Esperar quer dizer, hoje mais que nunca, realizar gestos de
caridade fraterna, atenta e concreta, de proximidade e partilha, pondo à
disposição o que temos para o bem dos outros.
A pandemia, com os desafios que
comporta, pede-nos, como disse o Papa Francisco, “organizar a
esperança, isto é, traduzi-la em vida concreta cada dia, nas relações humanas,
no compromisso social e político” (Dia Mundial dos Pobres). É urgente
promover a fraternidade e a amizade social como caminhos para sair da crise
atual.
A nossa Cáritas realiza um
trabalho notável em prol dos pobres. Ela pode indicar a maneira de contribuir
para o bem de quem está em provação.
Neste sentido, apelo
vivamente à participação na campanha de solidariedade de Natal “10 Milhões de
Estrelas” — um Gesto pela Paz”, promovida pela Cáritas Nacional e
concretizada pela nossa Cáritas Diocesana. Além da consciencialização de que a
paz depende de nós e exige gestos concretos para a construir nas múltiplas
relações humanas, as verbas angariadas são canalizadas para dois objetivos de
caráter nacional e internacional. Em 2021 serão um contributo para as
ações de dimensão social, da rede nacional da Cáritas (65%), e serão, também
aplicadas em projetos de resposta ao impacto das alterações climáticas no
bem-estar e sobrevivência das populações mais vulneráveis, nos países lusófonos
(35%).
Quem se prepara para celebrar o
Natal de Jesus, não se pode limitar a uma devoção sentimental com algumas
orações. A vivência autêntica do
Natal requer gestos concretos. Todos e cada um devemos interrogar-nos: sou
capaz de partilhar com quem tem menos? De parar e olhar a necessidade do outro,
esteja ele perto ou longe? De superar as barreiras que se erguem à minha volta
ou dentro de mim? O que posso fazer concretamente?
Nossa Senhora e S. José nos
ajudem a viver o Natal como festa da confiança e esperança, porque Deus está
connosco e nos chama a cuidar dos irmãos mais frágeis e necessitados.
A todos os diocesanos, desejo
Santo e Alegre Natal e Abençoado Ano de 2022!
Leiria, 13 de dezembro de
2021.
† Cardeal António Marto, Bispo de
Leiria-Fátima
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