sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Ano A - 2022

Advento passo a passo

Semana 4 

28º dia – Sábado - 24/12/2022

Lc 1, 67-79

«Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo e nos deu um salvador poderoso na casa de David, seu servo.» 

Hoje o evangelho traz-nos o Benedictus, o Cântico entoado pelo pai de João Baptista, Zacarias, quando o nascimento daquele filho tinha mudado a sua vida, afastando a dúvida que o tinha tornado mudo, uma significativa punição pela sua falta de fé e de louvor.

Mas agora, Zacarias pode celebrar Deus que salva e fá-lo com este hino, narrado pelo evangelista Lucas de uma forma que, sem dúvida, reflete o uso litúrgico no âmbito das primeiras comunidades cristãs (cf. Lc 1, 68-79).

O mesmo evangelista define-o como um cântico profético, que se abre através do sopro do Espírito Santo (cf. 1, 67). De facto, encontramo-nos diante de uma bênção que proclama as ações salvíficas e a libertação oferecida pelo Senhor ao seu povo. Por conseguinte, a leitura "profética" da história, isto é, a descoberta do sentido íntimo e profundo de toda a vicissitude humana, orientada pela mão escondida mas laboriosa do Senhor, que se entrelaça com a mais frágil e incerta do homem.

Papa João Paulo II

(Audiência Geral,1 de outubro de 2003)

“Naquele tempo, Zacarias, pai de João Baptista, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou dizendo: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo e nos deu um salvador poderoso na casa de David, seu servo. Assim prometera desde os tempos antigos, pela boca dos seus santos Profetas, que nos libertaria dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam; que teria compaixão dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai: que nos concederia a graça de O servirmos um dia sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, para dar a conhecer ao seu povo a salvação, pela remissão dos pecados; graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz».”

O texto é solene e, no original grego, compõe-se unicamente por duas frases (cf. vv. 68-75; 76-79). Depois da introdução, marcada pela bênção de louvor, podemos identificar no corpo do Cântico quase três estrofes, que exaltam igual número de temas, destinados a marcar toda a história da salvação:  a aliança davídica (cf. vv. 68-71), a aliança abraâmica (cf. vv. 72-75), e o Baptista que  nos  introduz  na  nova  aliança  em Cristo  (cf.  vv.  76-79).  De  facto,  toda a  oração  tende  para  aquela  meta  que David  e  Abraão  indicam  com  a  sua presença.

O vértice encontra-se precisamente numa frase quase conclusiva:  "Visitar-nos-á a luz do alto" (cf. v. 78). A expressão, à primeira vista paradoxal com o facto de unir "o alto" e o "surgir", na realidade é significativa.

Com efeito, no original grego o "sol que surge" é anatolè, uma palavra que em si significa tanto a luz solar que brilha no nosso planeta, como o rebento que nasce. As duas imagens na tradição bíblica têm um valor messiânico.

Por um lado, Isaías recorda-nos, falando do Emanuel, que "o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou" (9, 1). Por outro lado, referindo-se ainda ao rei Emanuel, representa-o como "um rebento que brotou do tronco de Jessé", isto é, da dinastia davídica, um rebento envolvido pelo Espírito de Deus (cf. Is 11, 1-2).
Por conseguinte, com Cristo surge a luz  que  ilumina  todas  as  criaturas (cf. Jo 1, 9)  e  floresce  a  vida,  como  dirá o  evangelista  João  unindo  precisamente  estas  duas  realidades:   "N'Ele  estava  a  Vida  e  a  Vida  era  a  luz  dos homens" (1, 4).

A humanidade que está envolvida "nas trevas e na sombra da morte" é iluminada por este esplendor de revelação (cf. Lc 1, 79). Como anunciara o profeta Malaquias, "para vós que temeis o Meu nome brilhará o sol de justiça" (3, 20). Este sol "guiará os nossos passos no caminho da paz" (Lc 1, 79).

Movamo-nos então, tendo como ponto de referência aquela luz; e os nossos passos incertos, que durante o dia muitas vezes se desviam por caminhos obscuros e perigosos, são amparados pela luz da verdade que Cristo difunde no mundo e na história.

A este ponto, queremos citar as palavras de um mestre da Igreja, um dos seus Doutores, o britânico Beda, o Venerável ( séc. VII-VIII ) que na sua Homilia para o nascimento de São João Baptista, comentava assim o Cântico de Zacarias:  "O Senhor... visitou-nos como um médico visita os doentes, porque para curar a enfermidade arreigada da nossa soberba, ofereceu-nos o novo exemplo da sua humildade; redimiu o seu povo, porque nos libertou com o preço do nosso sangue a nós que nos tínhamos tornado servos do pecado e escravos do antigo inimigo... Cristo encontrou-nos quando jazíamos "nas trevas e na sombra da morte", ou seja, oprimidos pela longa cegueira do pecado e da ignorância... Trouxe-nos a luz verdadeira do seu conhecimento e, afastou as trevas do erro, mostrou-nos o caminho seguro para a pátria celeste. Dirigiu os passos das nossas obras para fazer com que andássemos pelo caminho da verdade, que nos mostrou, e para nos fazer entrar na casa da paz eterna, que nos prometeu".

Por fim, inspirando-se noutros textos bíblicos, o Venerável Beda concluía da seguinte forma, dando graças pelos dons recebidos:  "Dado que possuímos estes dons da bondade eterna, irmãos caríssimos..., bendizemos também nós o Senhor em todos os tempos (cf. Sl 33, 2), porque "visitou e redimiu o seu povo". Esteja sempre nos nossos lábios o seu louvor, conservemos a sua recordação e, por nosso lado, proclamamos a virtude daquele que "nos chamou das trevas para a Sua luz admirável" (1 Pd 2, 9). Pedimos continuamente a sua ajuda, para que conserve em nós a luz do conhecimento que nos trouxe, e nos conduza até ao dia da perfeição" (Homilias sobre o Evangelho, Roma 1990, págs. 464-465).

Papa João Paulo II

(Audiência Geral,1 de outubro de 2003)

Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.

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