Ano A - 2022
Advento passo
a passo
Semana 3
18º dia – Quarta-feira - 14/12/2022
Lc 7, 19-23
«És Tu Aquele que
havia de vir ou devemos esperar outro?»
A intenção do evangelista consiste em fazer-nos entrar mais profundamente no mistério de Jesus, para compreender a sua bondade e a sua misericórdia. O episódio é o seguinte: João Batista manda os seus discípulos ao encontro de Jesus — João estava na prisão — para lhe dirigir uma pergunta muito clara: «És Tu aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?». Era precisamente o momento da escuridão... João Batista esperava ansiosamente o Messias e, na sua pregação, já o descrevera com expressões fortes, como um juiz que finalmente teria instaurado o reino de Deus e purificado o seu povo, recompensando os bons e castigando os maus. E pregava assim: «O machado já está posto à raiz das árvores: toda a árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo» (Mt 3, 10). Agora Jesus dá início à sua missão pública com um estilo diferente; João sofre porque se encontra numa dupla obscuridade: na escuridão do cárcere e de uma cela, e naquela do coração. Não entende o estilo de Jesus e quer saber se é precisamente Ele o Messias, ou então se deve esperar por outro.
Papa Francisco
(Audiência Geral 7 de setembro de 2016)
“Naquele tempo, João Batista chamou dois dos seus discípulos e enviou-os ao Senhor com esta mensagem: «És Tu Aquele que havia de vir ou devemos esperar outro?» Ao chegarem junto de Jesus, os homens disseram-Lhe: «João Batista mandou-nos perguntar-Te: "És Tu Aquele que havia de vir ou devemos esperar outro?"» Nessa altura Jesus curou muitas pessoas de doenças, padecimentos e espíritos malignos, e deu a vista a muitos cegos. Então respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho; e feliz daquele que não encontrar em Mim ocasião de queda».”
E à primeira vista a resposta de Jesus não parece corresponder à interrogação
de João Batista. Com efeito, Jesus diz: «Ide e contai a João o que ouvistes e o
que vistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos
ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres...
Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de escândalo!». Aqui a
intenção do Senhor Jesus torna-se clara: Ele responde que é o instrumento
concreto da misericórdia do Pai, que vai ao encontro de todos, levando a
consolação e a salvação, e deste modo manifesta o juízo de Deus. Os cegos, os
coxos, os leprosos e os surdos recuperam a sua dignidade e já não vivem
excluídos por causa da sua enfermidade, os mortos voltam a viver, enquanto aos
pobres é anunciada a Boa Notícia. E esta torna-se a síntese do agir de Jesus,
que desta forma torna visível e tangível a ação do próprio Deus.
A mensagem que a Igreja recebe desta narração da vida de Cristo é muito
clara. Deus não mandou o seu Filho ao mundo para punir os pecadores, nem para
aniquilar os malvados. Pelo contrário, é-lhes dirigido o convite à conversão, a
fim de que, vendo os sinais da bondade divina, possam encontrar o caminho de
volta. (…)
A justiça que João Batista punha no centro da sua pregação, em Jesus
manifesta-se em primeiro lugar como misericórdia. E as dúvidas do Precursor
simplesmente antecipam a perplexidade que Jesus suscitará em seguida com os
seus gestos e com as suas palavras. Então compreende-se a conclusão da resposta
de Jesus. Ele diz: «Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de
escândalo!». Escândalo significa «obstáculo». Por isso, Jesus chama a atenção
para um perigo particular: se os obstáculos à crença são sobretudo as suas
ações de misericórdia, isto significa que temos uma imagem falsa do Messias. Ao
contrário, bem-aventurados aqueles que, diante dos gestos e das palavras de Jesus,
dão glória ao Pai que está no Céu.
A admoestação de Jesus é sempre atual: ainda hoje o homem constrói imagens
de Deus que lhe impedem de sentir a sua presença real. Alguns modelam uma fé
«particular» que reduz Deus ao espaço limitado dos próprios desejos e das
próprias convicções. Mas esta fé não é conversão ao Senhor que se revela; ao
contrário, impede-lhe de estimular a nossa vida e a nossa consciência. Outros
reduzem Deus a um ídolo falso; usam o seu nome santo para justificar os seus
interesses ou até o ódio e a violência. Para outros ainda, Deus é somente um
refúgio psicológico no qual se sentir seguro nos momentos difíceis: trata-se de
uma fé fechada em si mesma, impermeável à força do amor misericordioso de Jesus
que impele rumo aos irmãos. E outros ainda consideram Cristo apenas um bom
mestre de ensinamentos éticos, um dos tantos da história. Há finalmente aqueles
que sufocam a fé numa relação puramente intimista com Jesus, anulando o seu
impulso missionário, capaz de transformar o mundo e a história. Nós cristãos
acreditamos no Deus de Jesus Cristo, e o nosso desejo consiste em crescer na
experiência viva do seu mistério de amor.
Por conseguinte, comprometamo-nos a não opor obstáculo algum à ação misericordiosa do Pai, mas peçamos o dom de uma fé grande para nos tornarmos, também nós, sinais e instrumentos de misericórdia.
Papa Francisco
(Audiência Geral 7 de setembro de 2016)
Glória
ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e
sempre. Ámen.
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