QUARESMA PASSO A PASSO
“ONDE QUERES QUE
PREPAREMOS A REFEIÇÃO DA PÁSCOA?”.
40º Dia –
Domingo de Ramos – 28/03/2021
EVANGELHO Mc 14, 1-15,47
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?»
O relato
da paixão de Jesus, que a liturgia
nos propõe neste domingo,
ao lado do da entrada
festiva de Jesus em
Jerusalém (Mc 11,1-10), ocupa um quinto de todo o Evangelho segundo
Marcos. É o relato mais antigo contido nos Evangelhos, uma longa
narração em que encontramos o eco das testemunhas, acima de tudo de Pedro, cujo
nome retorna frequentemente, e depois dos outros discípulos. Todos, porém, no
momento da prisão, fogem...
O
relato é composto por duas partes: a primeira, que narra os eventos vividos por
Jesus junto dos seus discípulos, com a sua comunidade, até à captura (cf. Mc
14,1-42), e a segunda que apresenta o processo da Paixão nas suas fases: a
execução da condenação, a crucifixão e o sepultamento do corpo de Jesus num
túmulo (cf. Mc 14,43-15,47).
Dada a amplitude desse trecho, não podemos fazer um comentário pontual; portanto, nos limitar-nos-emos a um olhar de conjunto que evidencia a boa notícia, o Evangelho contido no relato da Paixão.
Essa
narrativa põe à prova o nosso olhar de fé sobre Jesus: somos quase forçados a
sofrer o escândalo e a loucura da cruz (cf. 1Co 1,23), somos colocados diante
do resultado de um aparente falhanço total da vida de Jesus. Aquele que: passou
no meio do seu povo fazendo o bem (cf. At 10,38), cuidando dos doentes e às
vezes curando-os, e forçando o diabo
a obedecê-lo (cf. Mc 1,27) e a recuar; como profeta poderoso
em obras e palavras,
“todos procuravam” (cf. Mc 1,37);
atraiu a si as multidões, que o aclamaram
como bem-aventurado e como Aquele
que vem no nome do Senhor (cf. Mc 11,9); conseguiu reunir ao seu redor uma
comunidade itinerante de homens e mulheres que O reconhecia como Profeta e
Messias, esse homem, Jesus de Nazaré, conhece um fim impensável e chega a uma
morte infame cruel e escandalosa.
Cada leitor atento do Evangelho, cada discípulo que seguiu Jesus desde seu batismo até o fim, não pode deixar de ficar profundamente abalado, perturbado com tal resultado...
Onde
foi parar – alguém pode perguntar-se – a força de Jesus, o poder com que ele
libertava da doença e da morte aqueles que por elas estavam marcados? “A outros
salvou, a Si mesmo não pode salvar” (Mc 15,31) – os seus adversários zombam
dele...
Onde foi parar aquele carisma profético
com o qual Ele anunciava
como já muito próximo ou, melhor, presente o Reino de Deus (cf. Mc 1,15)? Por que
é que, na Paixão, Jesus está reduzido ao silêncio e Se deixa humilhar sem abrir
a boca (cf. Is 53,7)?
Onde
está aquela autoridade que lhe foi reconhecida tantas vezes por aqueles que o
chamavam de Mestre, o aclamavam como Profeta, o invocavam como Messias e
Salvador?
Todos
aqueles que pareciam ser seus seguidores e simpatizantes desapareceram, e Jesus
está sozinho, abandonado por todos, inerme e sem qualquer defesa.
Mas o enigma é ainda mais radical: onde está Deus durante a Paixão de Jesus? Aquele Deus que parecia ser tão
próximo d’Ele e a quem chamava confidencialmente de “Abba”, isto é, “Paizinho”; aquele Deus que O havia declarado “Filho amado” no batismo (cf. Mc 1,11) e na transfiguração (cf. Mc 9,7);
aquele Deus por quem Jesus havia colocado em jogo e consumido
toda a Sua vida, onde está agora?
Não
nos esqueçamos: a morte de cruz – como o apóstolo Paulo compreendeu - é a morte
de um amaldiçoado (cf. Dt 21,23; Gl 3,13), julgado como tal pela
legítima autoridade religiosa de Israel, e ao mesmo tempo, é o suplício extremo
infligido a quem é considerado como nocivo à sociedade humana. Jesus
verdadeiramente morreu como um impostor, na ignomínia, pendurado entre céu e
terra, por ter sido rejeitado pelos homens…
in https://www.jesuitasbrasil.org.br/
Glória
ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e
sempre. Ámen.
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