«Que Deus está disposto a
morrer pelos seres humanos? Somos o termo de um amor que não encontra igual na
Terra», afirma papa
«Que Deus está disposto a morrer pelos
seres humanos? Que Deus ama sempre e pacientemente, sem a pretensão de ser
amado em troca? Que Deus aceita a tremenda falta de reconhecimento de um filho
que lhe pede antecipadamente a herança e sai de casa depauperando tudo?»
Estas foram algumas das interrogações que
o papa proferiu hoje, na audiência geral, dois dias antes da histórica e arriscada
viagem ao Iraque, durante a qual sublinhou «o escândalo» do amor de Deus que se
manifesta «na parábola do pai misericordioso, ou na do pastor que vai em busca
da ovelha perdida».
«Um Deus que ama o ser humano, nós nunca
teríamos a coragem de o acreditar, se não tivéssemos conhecido Jesus», declarou
o papa, acrescentando: «Sobretudo estava longe de nós acreditar que este amor
divino se dilataria, aportando à nossa margem humana: somos o termo de um amor
que não encontra igual na Terra».
Porque deveria cada pessoa ser amada por
Deus?, insistiu Francisco: «Não há razões evidentes, não há proporção. E isto é
de tal maneira verdadeiro, que em boa parte das mitologias não é contemplado o
caso de um deus que se preocupe com os acontecimentos humanos; pelo contrário,
são cansativos e aborrecidos, totalmente negligenciáveis».
Na revelação que Jesus faz do «coração de Deus», manifesta que «ninguém é Pai como Ele», através da «proximidade, compaixão e ternura», três palavras que, realçou o papa, nunca devem ser esquecidas.
Na audiência, transmitida pela internet a
partir da biblioteca do palácio apostólico, Francisco também frisou que «nem
todas as orações são iguais, nem todas são convenientes».
«A própria Bíblia atesta-nos o mau
resultado de muitas orações, que são rejeitadas. Talvez Deus, por vezes, não
fique contente com as nossas orações, e nós tão-pouco nos damos conta. Deus
olha para as mãos de quem ora: para as tornar puras não é preciso lavá-las,
antes, é preciso abster-se de más ações», assinalou.
Para Francisco, «o reconhecimento mais
comovente da pobreza» da oração humana está na prece do centurião romano,
pagão, que é evocada em todas as missas, imediatamente antes da Comunhão:
«Senhor, eu não sou digno que entres sob o meu teto, mas diz apenas uma palavra
e o meu servo será curado».
«Dialogar com Deus é uma graça: nós não
somos dignos dela, não temos direito algum a alegar, “coxeamos” com cada
palavra e cada pensamento. Mas Jesus é uma porta que se abre», afirmou.
A concluir a audiência, Francisco referiu-se à viagem que começa na próxima sexta-feira: «Depois de amanhã, se Deus quiser, dirigir-me-ei ao Iraque, para uma peregrinação de três dias. Desde há tempo desejo encontrar aquele povo que tanto sofreu; encontrar aquela Igreja mártir na terra de Abraão».
«Juntamente com os outros líderes
religiosos, daremos também outro passo em frente na fraternidade entre os
crentes. Peço-vos para acompanhardes com a oração esta viagem apostólica, para
que possa realizar-se da melhor das maneiras e traga os frutos esperados»,
pediu, na saudação em língua italiana».
«O povo iraquiano espera-nos; esperava S.
João Paulo II, que foi impedido de ir. Não se pode desiludir um povo pela
segunda vez. Rezemos para que esta viagem se possa fazer bem», pediu Francisco,
depois de apelar às autoridades de Myanmar para que o diálogo prevaleça «sobre
a repressão» e cessem as «tristes notícias de recontros sangrentos».
Na intervenção em língua portuguesa, o
papa lançou o convite a venerar S. José, por ocasião do ano que a Igreja lhe
está a dedicar, até 8 de dezembro, e de quem se assinala a solenidade litúrgica
no dia 19 de março.
O pai adotivo de Jesus, proclamado há 150 anos padroeiro da Igreja, é «o homem da presença quotidiana discreta e escondida», a quem os cristãos podem recorrer «tomando-o como intercessor, amparo e guia nos momentos de dificuldade», para que «nunca se acabe o óleo da fé e da alegria, que brota da vida em comunhão com Deus».
Rui Jorge Martins
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Imagem: "Crucifixo" (det.) | Cimabue | 1287-88
Publicado em 03.03.2021
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