QUARESMA PASSO A PASSO
18º Dia – sábado II – 07/03/2021
" Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores. Pôs-se a caminho e foi ter com o Pai."
EVANGELHO Lc 15,1-3.11-32
” Naquele tempo, os publicanos e os pecadores
aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas
murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles».
Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Certo homem tinha dois filhos. O
mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai
repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando
todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto
possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela
região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos
habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem
desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém
lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm
pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu
pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus
trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava
longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar- se-lhe ao
pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e
contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos:
‘Trazei depressa a túnica mais bela e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e
sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos,
porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi
reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo.
Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou
um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu
irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque chegou são e salvo’.
Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com
ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, sem nunca
transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com
os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus
bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai:
‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer
uma festa e alegrar-nos, porque o teu irmão estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado’».”
O Evangelho apresenta-nos a parábola do pai
misericordioso, que tem por protagonista um pai com os seus dois filhos. A
narração faz-nos compreender algumas caraterísticas deste pai: é um homem
sempre disposto a perdoar e que espera contra qualquer esperança. Antes de tudo
faz admirar a sua tolerância face à decisão do filho mais jovem de ir embora de
casa: teria podido opor-se, sabendo que era muito imaturo, um jovem, ou
procurar algum advogado para não lhe dar a herança, estando ainda vivo. Ao
contrário, permite que ele parta, mesmo prevendo os riscos possíveis. Assim age
Deus connosco: deixa-nos livres, até de errar, porque ao criar-nos concedeu-nos
o grande dom da liberdade. Compete-nos, a nós, fazer dela um bom uso. Este dom
da liberdade que Deus nos concede surpreende-me sempre.
Mas o afastamento daquele filho é só físico; o pai
leva-o sempre no coração; espera confiante o seu regresso; perscruta a estrada
na esperança de o ver. E um dia vê-o comparecer, ao longe (cf. v. 20). Mas isto
significa que este pai, todos os dias, subia ao terraço para ver se o filho
voltava! Então comove-se ao vê-lo, corre ao seu encontro, abraça-o e beija-o.
Quanta ternura! E este filho tinha-se comportado muito mal. Mas o pai recebe-o
assim.
O pai tem para com o filho maior, que ficou sempre em
casa, a mesma atitude. Este, agora está indignado e contesta, porque não
compreende e não partilha toda aquela bondade em relação ao irmão que tinha
errado. O pai vai ao encontro também deste filho e recorda-lhe que eles
estiveram sempre juntos, têm tudo em comum (v. 31), mas é preciso receber com
alegria o irmão que finalmente voltou para casa. E isto faz-me pensar numa
coisa: quando alguém se sente pecador, se sente deveras insignificante, ou como
ouvi alguém dizer — tantos: «Padre, eu sou uma imundície!», então chegou o
momento de ir ter com o Pai. Ao contrário, quando alguém se sente justo — «Eu
fiz sempre tudo bem...» —, o Pai vem de igual modo procurar-nos, porque aquela
atitude de se sentir justo não é boa: é a soberba! Vem do diabo. O Pai espera
aqueles que se reconhecem pecadores e vai procurar os que se sentem justos. É
assim o nosso Pai!
Pode-se divisar nesta parábola também um terceiro
filho. Um terceiro filho? E onde? Está escondido! É aquele que «não considera
privilégio ser igual a Deus... aniquilou-se a si mesmo, tomando a condição de
servo» (Fl 2, 6-7). Este Filho-Servo é Jesus! É a extensão dos
braços e do coração do Pai: Ele acolheu o pródigo e lavou os seus pés sujos;
Ele preparou o banquete para a festa do perdão. Ele, Jesus, ensina-nos a ser
«misericordiosos como o Pai».
A figura do pai da parábola revela o coração de Deus.
Ele é o Pai misericordioso que em Jesus nos ama além de qualquer medida, espera
sempre a nossa conversão todas as vezes que erramos; aguarda a nossa volta
quando nos afastamos d’Ele pensando que O podemos dispensar; está sempre pronto
a abrir-nos os seus braços independentemente do que tiver acontecido. Como o
pai do Evangelho, também Deus continua a considerar-nos seus filhos quando nos
perdemos, e vem ao nosso encontro com ternura quando voltamos para Ele. E
fala-nos com tanta bondade quando nós pensamos que somos justos. Os erros que
cometemos, mesmo se forem grandes, não afetam a fidelidade do seu amor. Que no
sacramento da Reconciliação possamos voltar a partir sempre de novo: Ele
acolhe-nos, restitui-nos a dignidade de seus filhos e diz-nos: «Vai em frente!
Fica em paz! Levanta-te, vai em frente!».
Neste espaço de Quaresma que ainda nos separa da
Páscoa, somos chamados a intensificar o caminho interior de conversão.
Deixemo-nos alcançar pelo olhar cheio de amor do nosso Pai, e voltemos para Ele
com todo o coração, rejeitando qualquer compromisso com o pecado. A Virgem
Maria nos acompanhe até ao abraço regenerador com a Misericórdia Divina.
in, Angelus, 6 de março de 2016, Papa Francisco
Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.
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