domingo, 10 de maio de 2020

Proposta do Santuário de Fátima - Peregrino pelo Coração - Passo 7


Passo 7 – Com o conforto da Graça de Deus

Visitando a narrativa que Lúcia faz da aparição de maio, descobriremos quanto Deus respeita a liberdade do homem e qual o processo que escolhe  para  se  lhe  dar  a  conhecer.  Hoje,  diante  do  mistério  dos sofrimentos, és chamado a abrir-te à graça de Deus. Neste maio, Fátima convida-te a seres peregrino pelo coração. Abre-te à graça de Deus.

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Ao sétimo dia desta peregrinação pelo coração, neste maio único, és convidado a tomar consciência da graça de Deus que age no teu íntimo, conforta-te.
Importa, por isso, hoje, uma luta mais intensa para chegares ao silêncio interior a que, em cada dia desta peregrinação pelo coração, és chamado, porque o trabalho interior da graça é silencioso, delicado e subtil, até transparente, e só no silêncio poderás escutar a sua transparência e perceber a sua presença e o seu agir.
Combate contigo pelo silêncio. A verdade é essa: é necessário um combate contigo mesmo para alcançares o silêncio interior. Porque o murmúrio  secreto  da  graça,  que  é  prometido  como  conforto  aos  que sofrem, encontra-se além do ruído confuso dos muitos gritos que emergem no fundo de ti, ou que convergem, vindos de fora, no fundo de ti. São os gritos do crescer das raízes do teu sofrimento, dos teus sofrimentos, que se cruzam e confundem, porventura estridentemente. O que te faz sofrer?

Ontem, conduzidos pelas belas e paradoxais palavras da Senhora do Céu, atrevemo-nos a aproximar-nos dos umbrais do mistério do sofrimento. Hoje, advertidos sobre a inevitabilidade do sofrimento, mas confiantes na promessa pronunciada pela boca da mulher que bebeu as palavras do Filho crucificado, queres pronunciar os nomes dos teus sofrimentos, nomear diante de ti mesmo e diante de Deus, em silêncio iluminado pelo transparente trabalho interior da graça, os sofrimentos de que se faz o teu sofrimento?
Também hoje o passo é mais largo, como o de ontem, porque hoje é Domingo e o tempo é mais longo e lento no Dia do Senhor – ou não fosse o dia mais próximo daquilo que será a eternidade, totalmente do Senhor. O Domingo é o grande dia da graça, o dia da Páscoa semanal, para que, bebendo nele a graça que vem da Ressurreição de Cristo, cada dia da semana seja movido pela graça pascal. Hoje, continuaremos pelo diálogo da aparição de maio além, até ao aviso e à promessa que a Senhora fez à Lúcia, ao Francisco e à Jacinta, após a sua pronta resposta à pergunta que lhes dirigira, resposta confiante, confiante com aquela confiança das crianças – as únicas aptas para o reino de Deus, diz o Senhor – que se entregam antes mesmo de saberem a que se entregam.

Torna a escutar as Memórias de Lúcia:

Nossa Senhora perguntou-nos:
    – Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?
     – Sim, queremos.
   – Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.»

A resposta decidida que deram ao convite para participarem na redenção foi, para os pastorinhos, fonte de muitos sofrimentos, como a Senhora os avisara. Sofreram por causa da missão que voluntariamente assumiram, conheceram incompreensões da família e da aldeia, foram acusados de mentir, perseguidos, presos e ameaçados de morte; e Lúcia, que chegou a temer serem as aparições coisa do diabo, depois, foi mesmo despojada de tudo e de todos, quando foi escondida, exilada no Porto, sem direito sequer ao próprio nome. E sofreram, principalmente os dois irmãozinhos Marto, por graves problemas de saúde: uma pandemia como a que hoje nos faz sofrer, a gripe espanhola vitimou Francisco logo em 1919 e a Jacinta em 1920 – estamos no centenário da sua morte. Mas não desfaleceram, porque a graça de Deus foi sempre o seu conforto. Confiaram. «A graça de Deus será o vosso conforto».
Escuta um passo da narrativa do encontro de Jesus com a Samaritana  no Evangelho de João | 4,5-7.9-18.28-29:

5Jesus chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar. 6Então, cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia.
7Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: “Dá-me de beber”. 9Disse-lhe então a samaritana: “Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?” É que os judeus não se dão bem com os samaritanos.
10Respondeu-lhe Jesus: “Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!” 11Disse- lhe a mulher: “Senhor, não tens sequer um balde e o poço é fundo... 12Onde consegues, então, a água viva?” 13Replicou-lhe Jesus: “Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede; 14mas quem beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der há de tornar-se nele em fonte de água que jorra para a vida eterna”. 15Disse-lhe a mulher: “Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter sede, nem ter de vir cá tirá-la”. 16Respondeu-lhe Jesus: “Vai, chama o teu marido e volta cá”. 17A mulher retorquiu-lhe: “Eu não tenho marido”. Declarou-lhe Jesus: “Disseste bem: ‘não tenho marido’, 18pois tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste verdade”. 28Então a mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àquela gente: 29“Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Não será Ele o Messias?”»

Ouviste as palavras de Jesus, um homem cansado e com sede pelo calor e o esforço do caminho, como tu tantas vezes, que pede de beber a uma mulher com uma história de sofrimento intenso, porventura como tu; uma história de encontros e desencontros, significada na sucessão dos cinco homens a quem havia pertencido e o atual nem sequer era o seu. Jesus oferece-lhe a experiência de ser olhada a partir de dentro, um olhar misericordioso que a olhou misericordiosamente a partir de dentro das suas próprias feridas, as suas mágoas e as suas máculas; ele promete-lhe a graça, que lhe dará muito mais do que o fim das suas sedes e da fadiga de ter que se deslocar até ao poço. «A graça de Deus será o vosso conforto».
A graça jorra de uma fonte no fundo de ti, e um rio cresce dessa fonte, um rio interior de água límpida e transparente, muito interior e escondido, mas nele, surpreendentemente, se espelha o céu e a luz do sol, durante o dia, da lua e das estrelas, durante a noite. Sim, essa fonte jorra ininterruptamente, esse rio interior da graça nunca se detém, a não ser que tu o detenhas, às vezes nem mesmo se tu o deténs, ou tentas deter, porque a nascente está em ti, confunde-se contigo, com a pessoa que tu és, mas não és tu. A nascente é o próprio Deus, o Espírito Santo, dom do Pai e do Filho, dito o Espírito da verdade e também o paráclito, isto é, o consolador, que anima, vivifica e consola, que habita no segredo secreto do teu íntimo. «A graça de Deus será o vosso conforto».
Peregrino pelo coração, permanece no silêncio; e permanece nele, para ouvires brotar e correr essa água que é a graça de Deus que o Espírito faz jorrar. Ainda que não sintas, por falta de prática do silêncio, o teu coração tem saudades da fonte, que é a fonte de toda a beleza e de toda a bondade, a fonte da graça que brota dessa nascente; o teu coração tem sede da fecundidade das águas desse rio transparente e oculto que reflete a luz. «A graça de Deus será o vosso conforto».
Peregrino pelo coração, permanece no silêncio para ouvires o trabalho interior da graça de Deus em ti e chegares à gratidão que conhecerás quando livremente decidires participar na redenção: oferece-te, na transformação dos teus sofrimentos no ato de amor que os redime e repara o coração de Deus e o mundo. «A graça de Deus será o vosso conforto».
A verdade é que o teu coração necessita tanto de silêncio quanto resiste a fazê-lo. O silêncio é a nudez da alma e olhar-se intimamente nu permite, melhor, obriga a ver o que porventura preferes ignorar de ti mesmo, da tua história e das mágoas e máculas que a assinalam. Peregrino pelo coração, inclina-te sobre o sofrimento, os sofrimentos do teu coração.

Preferes não ver? Não saber quem de facto és? Não tomar consciência do que te faz sofrer? Terás medo de sofrer ainda mais por olhar o que te faz sofrer? «A graça de Deus será o vosso conforto».
Como cuidar das feridas que doem e podem infetar se não as conheces? Como modelar o futuro se não metes as mãos na argila frágil e húmida do passado? «A graça de Deus será o vosso conforto».
Entre todos necessário, porque condição indispensável à felicidade, como fazer o trabalho interior do perdão, o perdão a pedir e o perdão a oferecer a alguém próximo, ou, até, a ti mesmo, e, claro, a Deus, se não te deténs silencioso diante das mágoas e das máculas da tua história, de coração e mãos nuas, e os pés descalços porque é sagrado o território íntimo da tua consciência? «A graça de Deus será o vosso conforto».
O silêncio revela-te a teus próprios olhos, dá-te consciência de ti, faz-te reconhecer e conhecer a tua individualidade; és único... e isso pode ser meio passo andado para te veres sozinho, a braços com a tua solidão, por vezes uma tremenda solidão, que dói, de que tens medo porque a sentes como ameaça, que supera as tuas forças e te faz sentir frágil e vulnerável, sem teres onde, ou em quem, repousares, encontrares consolação e conforto. É como se te descobrisses um indigente ferido e solitário. «A graça de Deus será o vosso conforto».
E, no entanto, és muito mais belo do que aquilo que te atreves a crer, a acreditar! Imensamente mais belo, e amável, digno se ser amado. Poderás descobri-lo se atravessares pelo silêncio para lá das tuas feridas e chegares à nascente da graça, que te torna capaz de olhar para elas, as mágoas e as máculas, unindo pela oração do coração o teu olhar interior ao olhar daquele que é o único que olha para as tuas feridas a partir de dentro delas mesmas, como Jesus com a Samaritana – o olhar do próprio Deus –, com o seu olhar imenso e profundo, todo paz, todo luz, a luz e a paz da infinita misericórdia que ele é e te comunica – é isso a graça – quando te decides a este trabalho interior, utilizando, diria o poeta, o instrumento difícil do silêncio. «A graça de Deus será o vosso conforto».

Meu Deus, és o habitante íntimo do meu coração
e chamas-me a abrir este maio fechado, a tornar-me peregrino pelo coração
para aí me encontrar contigo.
São tantos os sofrimentos do meu coração!
A solidão e a incompreensão, angústias e medos, perdas e culpas, ressentimentos.
É tanto o que me faz duvidar de mim, dos outros à minha volta, até de ti.
Mas ouço a promessa que, pela boca da Senhora de Fátima, também Senhora das dores,
dirigiste à Lúcia, ao Francisco e à Jacinta, a quem esperavam muitos sofrimentos:
«A graça de Deus será o vosso conforto».
Tu, ó Espírito Santo, és a nascente da graça no fundo de mim, a fonte que jorra no meu íntimo para a vida eterna, um rio que
corre pelos meus dias.
Confiarei. Acompanhas-me e consolas-me, aliviar-me-ás sempre, vivificar-me-ás
e me acolherás na foz, no termo da jornada, quando o combate cessar.
Sou peregrino pelo coração, confio na tua graça que me conforta.
Quero peregrinar pelo coração
até ao coração da tua mãe, minha mãe, Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
No seu coração, és tu que esperas o meu coração e, neste maio longe da capelinha
faço-me peregrino pelo coração: pelo meu coração irei
e no coração imaculado da Mãe ouvirei o bater misericordioso do teu coração. Ámen.

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.

Mãe do céu, está atenta à voz das súplicas do mundo em tribulação. Atende o grito dos pobres e dos doentes, dá conforto e esperança a todos os que sofrem, dá força e compaixão a todos os que cuidam e trabalham. Dá a paz ao mundo. No teu imaculado coração, sê, para todos os teus filhos, refúgio e caminho para Deus.

Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós.
São Francisco e Santa Jacinta Marto, rogai por nós.

Na tua janela, esta noite, volta a colocar uma vela acesa, que seja um sinal de que em tua casa mora um peregrino de Fátima pelo coração. Nossa Senhora vela por ti ao longo do caminho. Nela se espelha a graça, e, como mãe, te conforta. Até amanhã.

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