Passo 8 – Vê-te na luz que é Deus
Visitando a narrativa
que Lúcia faz da aparição de maio, descobriremos quanto Deus respeita a
liberdade do homem e qual o processo que escolhe para se lhe dar a conhecer.
Hoje, és chamado a ver-te na luz que é Deus.
Neste maio, Fátima convida-te a seres peregrino pelo coração.
Aproxima- te de Maria, a Mãe de Jesus, e vê-te na luz que é Deus, que nas suas
mãos se reflete.
Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão
para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.
Oitavo dia de peregrinação pelo coração, neste maio
desconcertante. Queres continuar a caminhar como peregrino pelo coração?
Desce então ao fundo de ti, ao íntimo mais íntimo de ti
mesmo, além das tuas inquietações e das distrações, além também dos teus
sofrimentos, que no passo de ontem, se calhar magoado, visitaste. Procura ouvir
a fonte que brota da nascente escondida da graça, o Espírito Santo, que se faz
um rio que corre ao longo dos teus dias, até à eternidade. Da nascente da
graça, brota luz. Tens sede de luz? Dispõe-te para beber a luz. Desce ao teu
coração pelo combate do silêncio. Procura silenciar, silenciar tudo, à tua
volta, dentro de ti. Desperta o ouvido do teu coração para escutar. Convoca o
teu olhar interior... Se ajudar, fecha os olhos ao que te rodeia, para
conseguires concentrar-te mais profundamente e ver o que só ao olhar do coração
é visível. Recolhe-te... recolhe-te em ti. Prepara-te para a luz. Nessa luz, à
sua luz, descobrirás a verdade mais verdade da tua verdade: descobrir-te-ás
filho muito amado de Deus.
És filho, também, da Senhora, «vestida toda de branco, mais
brilhante que o Sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de
cristal, cheio d’água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente»,
como conta Lúcia nas suas Memórias; e continua: «Estávamos tão perto, que
ficávamos dentro da luz que A cercava ou que Ela espargia, talvez a metro e
meio de distância, mais ou menos».
A Senhora mais brilhante do que o sol, que na Cova da Iria
apareceu aos três pastorinhos, abre para ti as suas mãos. São as mãos da cheia
de graça, mãos cheias de luz que recebe de Deus. Abre-te à luz. E abre-te à
palavra. Numa palavra, abre o teu silêncio a Deus. Escuta outra vez a última
parte do diálogo da aparição de maio e fica a saber – e não esqueças, porque é
muito importante –o que aconteceu depois:
– Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os
sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com
que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?
– Sim, queremos!
– Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será
o vosso conforto.
Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus,
etc.) que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa,
como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais
íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais
claramente que nos vemos no melhor dos espelhos.»
Quanta beleza na experiência de si mesmo que Deus oferece,
pelas mãos de Maria, aos pastorinhos! É a Mãe que comunica a luz, uma luz que
não procede dela, mas nas suas mãos se reflete e se comunica intensamente. A
luz é o próprio Deus, que pelas mãos de Maria penetra no peito e no mais íntimo
da alma da Lúcia, do Francisco e da Jacinta, quase como, um dia, pelo seu
ventre entrou na história da humanidade.
Escuta, do Evangelho de Lucas | Lc 1,28.30-31.35:
28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: “Salve, ó cheia de graça, o
Senhor está contigo. 30Maria, não
tenhas medo, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás de conceber no teu seio e dar à
luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do
Altíssimo. 35O Espírito Santo virá sobre ti e a
força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai
nascer é Santo e será chamado Filho de Deus”.»
Imagina o imenso e profundo silêncio em que a Virgem se viu a
si mesma em Deus e dele recebeu a sua verdade. Procura viver o mesmo silêncio.
Nesse silêncio, Maria ouviu, escutou quem era e ao que era chamada, qual o seu
lugar no projeto da salvação. Deus comunicou-se-lhe e ela comunicou Deus ao
mundo. Por ela veio a luz ao mundo, deu à luz a luz do mundo.
Os pastorinhos viram-se a si mesmos em Deus que é essa luz:
ver-se em Deus, ver-se a si mesmo em Deus, ver-se a si mesmo em Deus mais
claramente que no melhor dos espelhos. Que Deus este! Que Deus este que por
Maria se deu ao mundo, que pela Mãe se comunicou às três crianças, frágeis,
pobres e ignorantes pastores de uma aldeia perdida na Serra d’Aire! Haverá
alguém a quem não se queira Deus comunicar como experiência de luz que permita
ao iluminado ver-se a si mesmo n’Ele? Excluirá Deus alguém da sua luz? Não. Tu,
por mais pequeno que sejas, és um desejado a quem Deus quer inundar da sua luz.
Tu, que te fazes peregrino pelo coração, queres ver-te a ti
mesmo em Deus? Hoje e cada dia, para ti, a luz que é Deus oferece-se-te. Sabes
qual é a experiência da luz que é Deus que está ao teu alcance? Tem vindo a
ser-te pedido que a pratiques todos os dias, ao longo desta peregrinação pelo
coração: a experiência da luz é a experiência do silêncio, de um silêncio
inspirado no silêncio de Maria. Aprende a praticar o silêncio interior, o
silêncio da oração do coração, da oração contemplativa. Não queiras menos que
isso: chegares a ser iluminado pela luz que é Deus... e, se não sabes onde a
encontrar, aproxima-te das mãos da Senhora da luz semelhante à água cristalina
atravessada pelos raios do sol. Aproxima-te da cheia de graça que reflete a luz
que é Deus e bebe a luz das suas mãos. A luz que é Deus nela se reflete e comunica-se-te
intimamente e ilumina- te a partir de dentro, permitindo-te ver-te a ti mesmo
em Deus. Descobrirás quem de facto és e o que és chamado a ser, porque só Deus
te conhece inteiramente e te aceita incondicionalmente como te conhece; e como
te conhece te ama e chama a realizares o que és no seu projeto de salvação para
todos, como os pastorinhos de Aljustrel, que vendo-se em Deus se tornaram nele
os pastorinhos do mundo. Não se trata apenas de dares um lugar à luz de Deus em
ti. Trata-se de descobrires a luz que é Deus como o teu lugar. Aquele que mora
em ti, oferece-te morares nele, que é a luz.
Meu Deus, és o habitante íntimo do meu coração
e chamas-me a abrir este maio fechado, a tornar-me peregrino
pelo coração
para aí me encontrar contigo.
Tenho sede da luz, da luz da graça, da luz que tu és
e que se reflete e se me oferece pelas mãos da cheia de
graça, aquela que se viu na luz que tu és e deu à luz o teu filho, a luz do
mundo.
Peço que o teu Espírito, a nascente da graça no fundo de mim,
me conduza na aprendizagem do caminho do silêncio do
coração,
da oração que nasce do silêncio,
a que me deixa ouvir de ti quem sou e a que me chamas. Nestes
tempos de crise civilizacional provocada pela pandemia, em que a máscara
obrigatória nos desmascara das ilusões do
poder e do individualismo
e nos revela a fragilidade partilhada por todos os homens
e a fraternidade que nos irmana na responsabilidade de uns
pelos outros,
permite que, mascarados paradoxalmente desmascarados, de
rosto desnudado agora pela verdade que a máscara
protetora diz,
nos vejamos a nós mesmos na luz que tu és, mais claramente
que no melhor dos espelhos, e, como São Francisco e Santa Jacinta Marto,
aprendamos a desejar o céu, a desejá-lo largo, para todos,
como a terra, também, um mundo de todos.
Sou peregrino pelo coração, em silêncio anseio por ver-me na
luz que tu és.
Quero peregrinar pelo coração
até ao coração da tua mãe, minha mãe, Nossa Senhora do
Rosário de Fátima.
No seu coração, és tu que esperas o meu coração
e, neste maio longe da capelinha,
faço-me peregrino pelo coração: pelo meu coração irei
e no coração imaculado da Mãe ouvirei o bater misericordioso
do teu coração. Ámen.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois
vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria,
Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.
Mãe do céu, está atenta à voz das súplicas do mundo em
tribulação. Atende o grito dos pobres e dos doentes, dá conforto e esperança a
todos os que sofrem, dá força e compaixão a todos os que cuidam e trabalham. Dá
a paz ao mundo. No teu imaculado coração, sê, para todos os teus filhos,
refúgio e caminho para Deus.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós.
São Francisco e Santa Jacinta Marto, rogai por nós.
Na tua janela, esta noite, coloca uma vela acesa, que seja um
sinal de que em tua casa mora um peregrino de Fátima pelo coração. Nossa
Senhora vela por ti e oferece à tua sede ao longo do caminho a luz que é Deus,
para que a bebas no silêncio e nele te vejas. Até amanhã.
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