Passo 4 – Desejar o Céu, com o Francisco
Visitando
a narrativa que Lúcia faz da aparição de maio, descobriremos quanto Deus
respeita a liberdade do homem e qual o processo que escolhe para se lhe dar a
conhecer. Hoje, experimenta o desejo do céu, com o Francisco.
Neste maio,
Fátima convida-te a
seres peregrino pelo
coração. Hoje, experimenta o
desejo do céu, com o Francisco.
Meu
Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem,
não adoram, não esperam e não Vos amam.
Fátima
continua, este maio, a lançar-te o desafio de uma peregrinação interior.
Convida-te a fazeres-te peregrino pelo coração. Só se percorreres o caminho do
teu próprio coração em atitude de peregrino, isto é, se te puseres
silenciosamente à escuta, poderás ouvir nele o mais humano dos anseios: a
eternidade. Se não o fizeres, o teu coração hipoteca-te ao tempo que passa e
dificilmente escapas a viveres como seu escravo. Recolhe-te ao teu coração.
No
silêncio, escuta esta interrogação: esgotas-te sofregamente nas ocupações e
preocupações do quotidiano como se valesses o que resulta das tuas ocupações e
preocupações? Ou cultivas no teu coração o desejo de outra vida além desta
vida?
Vales
muito mais, infinitamente mais do que tudo o que consigas realizar, alcançar ou
conquistar.
Mas
só se te fizeres peregrino pelo coração, atravessando-o com a liberdade crítica
que te consinta identificares as vozes que nele se chocam, poderás chegar a
descobrir essa voz mais íntima, mais serena, mais suave, que te murmura que
vives atravessando a terra mas que o teu destino é o céu.
Pensas
no céu? Desejas o céu? Tens vontade do céu? Ou nem pões a questão porque evitas
de tal modo pensar na morte que não consegues pensar no que se lhe segue?
Recorda
o início do diálogo entre a Senhora mais brilhante que o sol e os pastorinhos,
como conta a Lúcia nas suas Memórias:
Nossa
Senhora disse-nos:
– Não
tenhais medo! Eu não vos faço mal!
– De
onde é Vossemecê? – lhe perguntei.
– Sou
do Céu.
– E eu
também vou para o Céu? – perguntou a Lúcia.
– Sim,
vais.
– E a
Jacinta?
– Também.
– E o
Francisco?
– Também,
mas tem que rezar muitos terços.»
Ao
pequeno Francisco, é dito que para ir para o céu, tem que rezar muitos terços.
Não é porque é rapaz, nem se trata de uma penitência. Antes, é a indicação de
qual o caminho a seguir para crescer na intimidade com Deus, de acordo com o
seu modo de ser silencioso e contemplativo, até atingir no céu a realização
plena da sua humanidade, na visão do rosto de Deus. É o primeiro passo para
cumprir o seu modo próprio de ser santo. Não há santos iguais, modos iguais de
chegar ao céu. Cada um é santo segundo si mesmo. Ouve o que diz a Lúcia:
Contámos
ao Francisco, que não ouvia, tudo quanto Nossa Senhora tinha dito. E ele,
manifestando o contentamento que sentia, na promessa de ir para o Céu, cruzando
as mãos sobre o peito, dizia:
– Ó minha Nossa Senhora, terços, rezo todos quantos Vós quiserdes.
– Ó minha Nossa Senhora, terços, rezo todos quantos Vós quiserdes.
E,
desde aí, tomou o costume de se afastar de nós, como que passeando; e se
chamava por ele e lhe perguntava que andava a fazer, levantava o braço e
mostrava-me o terço.»
Crescendo
na intimidade de Deus, o Francisco progride no seu modo de oração: é uma vida
em crescimento para o céu. Voltemos às Memórias de Lúcia:
Não
poucas vezes o íamos surpreender, de trás duma parede ou dum silvado, de
joelhos, a rezar ou a pensar, como ele dizia, em Nosso Senhor triste por causa
de tantos pecados. Se lhe perguntava:
– Francisco,
por que não me dizes para rezar contigo e mais a Jacinta?
– Gosto
mais – respondia – de rezar sozinho, para pensar e consolar a Nosso Senhor que
está tão triste.»
Escuta
o que conta a Lúcia sobre os últimos dias de Francisco, animado pela certeza de
ir para o céu:
Nas
vésperas de morrer, disse-me:
Olha:
estou muito mal; já me falta pouco para ir para o Céu. Decerto, no Céu, vou ter
muitas saudades tuas! Quem dera que Nossa Senhora te levasse também para lá breve!
– Não
tens, não. Imagine-se! Ao pé de Nosso Senhor e de Nossa Senhora que são tão
bons!
– Pois
é! Se calhar, nem me lembro. Já de noite, despedi-me dele.
– Francisco,
adeus! Se fores para o Céu esta noite, não te esqueças lá de mim, ouviste?
– Não te
esqueço, não; fica descansada.
E
agarrando-me a mão direita, apertou-ma com força, por um bom bocado, olhando
para mim com as lágrimas nos olhos.
– Queres
mais alguma coisa? – lhe perguntei, com as lágrimas a correr-me também já pelas
faces.
– Não –
me respondeu com voz sumida.
Como
a cena se estava a tornar demasiado comovedora, minha tia mandou-me sair do
quarto.
– Então
adeus, Francisco! Até ao Céu!
– Adeus,
até ao Céu!...
E
o Céu aproximava-se. Para lá voou no dia seguinte, nos braços da Mãe celeste.»
Em
vários momentos ao longo dos Evangelhos, aparecem pessoas que se abeiram de
Jesus para darem voz ao desejo de eternidade que vive no coração do homem. São
vários os que lhe perguntam: “que hei de fazer para alcançar a vida eterna?” A
resposta mais marcante, que deu forma a dois mil anos de civilização, é a que
dá a um doutor da lei: para além de lhe recomendar o cumprimento dos
mandamentos, conta-lhe a parábola do bom samaritano, que torna cada homem o
próximo do cada outro homem.
São
Mateus transmite-nos a advertência de Jesus sobre o risco de fazermos a opção
de absolutizarmos a vida terrena | Mt 6,19-21:
19Não
acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões
arrombam os muros, a fim de os roubar. 20Acumulai tesouros no Céu, onde a traça
e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. 21Pois,
onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.»
Se
estás disposto, neste maio, a assumir-te mesmo peregrino pelo coração,
descobrirás no fundo de ti o desejo do céu, de ver o rosto de Deus no dia além
dos dias. Confirmarás a certeza de que a casa do Pai é o horizonte último da
tua peregrinação sobre a terra e compreenderás a justa proporção e o
significado das coisas da terra. E até a morte te mostrará uma outra face,
luminosa e pacificante.
Meu
Deus, és o habitante íntimo do meu coração
e
chamas-me a abrir este maio fechado, a tornar-me peregrino pelo coração
para
aí me encontrar contigo.
Contemplo
silenciosamente a vida e a morte do pequeno Francisco
que
atravessou a terra a desejar o céu para ver o teu rosto e consolar o teu
coração.
Que
bela a liberdade e a retidão sem apegos com que viveu na terra!
E
que bela a intimidade em que cresceu contigo para a vida eterna!
E
que bela a paz, a confiança, a plena humanidade com que morreu!
Escuta
a minha voz maravilhada, penitente e, em segredo, sedenta de eternidade.
Perdoa-me
por me enganar e colocar o meu coração nos tesouros do mundo
por
inverter as prioridades da vida, como a crise presente denuncia:
submeto-me
ao que é efémero e não reconheço valor ao que é eterno.
Acende
no meu peito, como no de São Francisco Marto, o desejo do céu
e
a vontade de o escrever sobre a terra, como o bom samaritano da parábola.
Sou
peregrino pelo coração, como o Francisco, desejo chegar a ver o teu rosto no
céu.
Quero
peregrinar pelo coração
até
ao coração da tua mãe, minha mãe, Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
No
seu coração, és tu que esperas o meu coração e, neste maio longe da capelinha
faço-me
peregrino pelo coração: pelo meu coração irei
e
no coração imaculado da Mãe ouvirei o bater misericordioso do teu coração.
Ámen.
Ave
Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa
Maria, Mãe de Deus,
rogai
por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.
Mãe
do céu, está atenta à voz das súplicas do mundo em tribulação. Atende o grito
dos pobres e dos doentes, dá conforto e esperança a todos os que sofrem, dá
força e compaixão a todos os que cuidam e trabalham. Dá a paz ao mundo. No teu
imaculado coração, sê, para todos os teus filhos, refúgio e caminho para Deus.
Nossa
Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós.
São
Francisco e Santa Jacinta Marto, rogai por nós
Na
tua janela, esta noite, coloca de novo uma vela acesa, que seja um sinal de que
em tua casa mora um peregrino de Fátima pelo coração. Nossa Senhora vela por ti
ao longo do caminho. Guarda no teu coração o desejo do céu. Até amanhã.
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