sábado, 9 de maio de 2020

Proposta do Santuário de Fátima - Peregrino pelo Coração - Passo 6


Passo 6 – Participar na redenção


Visitando a narrativa que Lúcia faz da aparição de maio, descobriremos quanto Deus respeita a liberdade do homem e qual o processo que escolhe para se lhe dar a conhecer. Hoje, és chamado a descobrir o mais radical da vocação cristã: participar na redenção.

Neste maio, Fátima convida-te a seres peregrino pelo coração. Hoje, és chamado a descobrir o mais radical da vocação cristã: participar na redenção.

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Já levas seis dias de peregrinação pelo coração, neste maio singular. Hoje, vais escutar a interrogação que habita no coração da mensagem de Fátima. Sendo assim, justifica e precisa que desças ao teu coração e procures dispô-lo para responder; procura o silêncio, o mais profundamente que puderes.
Desde que preparaste o coração para partir, há seis dias, já escutaste, da parte de Deus: «Não tenhais medo»; e ouviste uma voz de criança a colocar a suprema pergunta da liberdade humana: «Vossemecê que me quer?», isto é: que queres de mim, ó Deus? O céu prometeu-se, por voz de mãe – «Sim vais!» –, às crianças que o desejaram para si e para o alargar a todos.
Todos estes passos, da peregrinação pelo coração em que vais, é necessário lembrá-los para o passo que daremos hoje, maior que os anteriores. Precisarás, por isso, de um pouco mais de tempo para o encontro. Hoje é sábado.

Escuta, então, um breve momento do diálogo da aparição de maio, apenas uma pergunta e uma resposta, tão relevantes para o tempo de pandemia que o mundo atravessa, quando nos interrogamos sobre o sofrimento do homem e o lugar de Deus. Descobrirás que apela à inteira história da salvação, a toda a luz da Páscoa de Cristo que ilumina as mais profundas interrogações da existência humana no mundo. Escuta:

Nossa Senhora perguntou-nos:
    – Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?
     – Sim, queremos.»

«36Entretanto, Jesus com os seus discípulos chegou a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: “Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar”. 37E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. 38Disse-lhes, então: “A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo”. 39E, adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por  terra, orando e dizendo: “Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres”.»

A Senhora pergunta se querem o que propõe a três crianças, uma das quais lhe havia perguntado em nome de todas: «Vossemecê que me quer?» Fátima é este diálogo de quereres, entre o querer humano e o querer divino, um diálogo de liberdades, entre vontades livres, que enraíza no diálogo entre Jesus e o Pai na noite do jardim das oliveiras. Quem é esta que interroga a Lúcia, o Francisco e a Jacinta?
É a Mãe do Deus-homem angustiado do combate noturno de Getsémani, a mesma Mãe que no dia seguinte estará de pé junto à cruz sob o sol do Gólgota, participante na paixão, ouvindo seu Filho exclamar, como se desesperado, «Meu Deus, porque me abandonaste?»; ouvindo-o perdoar aos que o matavam, prometer o paraíso ao arrependido e manifestar a sua sede de sede; ouvindo-o confiar-se confiante, filho: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!»; e ouvindo-o declarar, no fim, «Tudo está consumado!» Antes, ouvira-o ainda dar-no-la como mãe. A Senhora que pergunta aos pastorinhos «Quereis…?» é esta Mãe, que bebeu todas estas palavras da boca de seu filho inocente agonizante.
Todas estas palavras do alto da cruz vibram no íntimo da pergunta da Senhora às crianças. As palavras do drama da Cruz sintetizam os movimentos íntimos do coração humano a braços com o drama da existência; são um único drama, de resto: o drama da redenção, o resgate do coração humano da escuridão do pecado e da morte, realizado pelo coração de Deus, cheio da luz da misericórdia.

Já escutaste bem as palavras da pergunta da Senhora? São tão belas, as primeiras: que crente diria que não? «Quereis oferecer-vos a Deus?» Quem, ao menos em intenção, não quer isto, oferecer-se a Deus? É o sentido e o programa de vida de qualquer cristão que o queira ser de verdade: querer – é a liberdade –; oferecer-se – é o amor (e a liberdade para que é senão para o amor?) –; a Deus – é a fonte do amor, é o próprio amor; Deus é misericórdia e bondade.
«Para suportar todos os sofrimentos que ele quiser enviar-vos», continua a pergunta. Deus é misericórdia e bondade? E envia sofrimentos? Mais do que isso, quer enviar sofrimentos? E a crianças? Oferecer-se a este Deus?
As palavras, mesmo as ditas sobre Deus e até as ditas da parte de Deus, são cativas do tempo, cativas do homem sujeito ao tempo que as diz, em cada tempo, em todos os tempos. E o homem daquele tempo – aliás, o homem de todos os tempos – diz de Deus estas coisas e até coloca estas coisas na boca de quem fala da parte de Deus.
Desde a noite mais noite dos tempos, o homem associou o sofrimento à vontade de Deus: confrontado com o sofrimento sem sentido, procurou encontrar na vontade de Deus um sentido para o sofrimento a que pudesse resignar-se. Desde sempre procurou no próprio coração do sofrimento um princípio de redenção do sofrimento, uma razão que o libertasse do absurdo, atribuindo a sua origem a Deus e a sua finalidade aos misteriosos desígnios da sua vontade que tudo conhece. Mas pode Deus, o Deus que toma como seu o sofrimento humano e o expressa no combate da noite de Getsémani e na paixão da tarde do Gólgota, o Deus das palavras do crucificado, pode o Deus de Jesus Cristo ser um Deus que inflige sofrimento? Não se apresenta ele, precisamente aí, pelo contrário, como o Deus que aceita voluntariamente o sofrimento que lhe é infligido, até à morte?
O sofrimento do Filho é sofrimento do Pai, são um só Deus. Não é sofrimento enviado pelo Pai ao Filho; é o sofrimento natural da criação, o nosso sofrimento de criaturas, o sofrimento próprio da existência, naturalmente sujeita a desequilíbrios, por força de si mesma. É este sofrimento que o Pai e o Filho, cada um a seu modo, assumem e sofrem, porque o amor até a liberdade de Deus obriga. E assim inscreve Deus, no coração do sofrimento, no coração da morte, o princípio da sua redenção: livremente, transformar o sofrimento em ato de amor. O ato maior do amor? Dar a vida até à morte. E este excesso de amor que livremente se oferece: é isso a reparação que Fátima pede.
Que palavras, estas da pergunta dirigida pela Senhora às três crianças com palavras cativas do homem sujeito ao tempo: «para suportar todos os sofrimentos que ele quiser enviar-vos»! Esta Senhora é a Mãe do crucificado, que lhe bebeu as palavras do alto da cruz, palavras que lhe encheram a alma, as palavras do encontro no limite da morte entre o sofrimento do homem e o sofrimento de Deus. A pergunta da Senhora formula-se assim para dizer o drama profundo do homem diante das imensas interrogações que o sofrimento ergue como lâminas de fogo que lhe consomem as entranhas. As palavras da Senhora não dizem Deus, não são sobre o Deus da eterna bondade e misericórdia; dizem o homem, são sobre o homem sujeito ao tempo padecendo a sua fragilidade radical, que o faz sofrer e conhecer a morte. Estas palavras da Senhora são da mesma natureza das de seu filho no combate do Getsémani e na cruz do Gólgota, são palavras que escandalizam e interrogam; nelas mora a ânsia do coração humano por uma fonte de luz que se abra na escuridão. E quando na escuridão, sempre o homem se voltou para Deus à procura de luz. É esta procura de luz em Deus para alumiar a escuridão do sofrimento que vive no interior das palavras escandalosas, paradoxais do segundo termo da pergunta da Mãe dos discípulos do crucificado: «para suportar todos os sofrimentos que ele quiser enviar-vos».

Como as ouves? Que ouves nelas? Melhor: quem ouves nelas? Podes ouvir-te a ti quando sofres. A Deus, o que ouvirás é o verbo querer de Jesus no jardim das oliveiras, o mesmo verbo, o mesmo querer das três crianças da Cova da Iria. Querer o querer de Deus. E o que Deus quis foi sujeitar-se ao teu sofrimento, à tua morte. Dentro deste verbo cabem todas as palavras do alto da cruz; e essas, as do crucificado, essas é que são as palavras que Deus te diz como luz quando te vês na escuridão por sofrer e morrer: ele junta-se a ti na tua solidão, promete-te o paraíso, perdoa as tuas agressões mortais, confessa a sede que tem da tua sede, dá-te filho à sua Mãe e consuma no mistério – que sempre será mistério – do teu sofrimento e da tua morte o mistério – que sempre o será, também – da sua paixão. É a redenção. E tu participas nela, tornas-te participante na redenção quando, como Maria ao pé da cruz, como a Lúcia e o Francisco e a Jacinta diante da azinheira, és capaz de dizer o verbo da liberdade que se rende ao amor: sim, quero.
É este o sentido da vida cristã. Oferecer-se voluntariamente a Deus, como Deus voluntariamente se ofereceu. É-te dirigido, a ti como a todos os batizados, o chamamento a, sem medo, livremente comprometido, peregrino da porta do céu pelo coração, participar na redenção: «em ato de reparação pelos pecados com Deus é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores». Esta é a verdade mais radical da vocação cristã: participar na redenção. Amanhã aprofundá-la-emos. Fátima é uma porta do céu que te pergunta: queres oferecer-te a Deus, como os pastorinhos e com eles, para participar na redenção?

Meu Deus, és o habitante íntimo do meu coração
e chamas-me a abrir este maio fechado, a tornar-me peregrino pelo coração
para aí me encontrar contigo.
Escuta a minha voz, a voz de todos os suplicantes pela luz. O sofrimento ata-me ao chão, sou pó da terra.
Somos pó da terra, todos os filhos de Eva
que bebemos na noite o sofrimento e conhecemos a escuridão da morte.
Mas tornaste-nos filhos de Maria, em Cristo, o novo Adão.
Somos os filhos da redenção, chamados à liberdade para o amor
que nos desata do chão e nos constitui peregrinos do céu,
a tua casa que fazes nossa casa, que queres que seja casa de todos os povos. 
Livremente, quero oferecer-me a ti para reparar o amor – tu és o Amor! –
e suplicar pelos meus irmãos que não conhecem o amor, desconhecem a liberdade.
Sim, quero. Como o Francisco e a Jacinta e a Lúcia, transformarei o meu sofrimento – oferecendo-me livre – no ato
de amor que o redime.
O Espírito Santo, íntima voz da liberdade e do amor, soe no silêncio do meu coração que te procura.
Sou peregrino pelo coração; livre para o amor, quero participar na redenção.
Quero peregrinar pelo coração
até ao coração da tua mãe, minha mãe, Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
No seu coração, és tu que esperas o meu coração e, neste maio longe da capelinha,
faço-me peregrino pelo coração: pelo meu coração irei
e no coração imaculado da Mãe ouvirei o bater misericordioso do teu coração. Ámen.

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.

Mãe do céu, está atenta à voz das súplicas do mundo em tribulação. Atende o grito dos pobres e dos doentes, dá conforto e esperança a todos os que sofrem, dá força e compaixão a todos os que cuidam e trabalham. Dá a paz ao mundo. No teu imaculado coração, sê, para todos os teus filhos, refúgio e caminho para Deus.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós. 
São Francisco e Santa Jacinta Marto, rogai por nós.

Na tua janela, esta noite, coloca de novo uma vela acesa, que seja um sinal de que em tua casa mora um peregrino de Fátima pelo coração. Nossa Senhora vela por ti ao longo do caminho e ajuda-te a viver esta peregrinação pelo coração como participação na redenção. Até amanhã.

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