sexta-feira, 8 de maio de 2020

Proposta do Santuário de Fátima - Peregrino pelo Coração - Passo 5


Passo 5 – Alargar o Céu, com a Jacinta


Visitando a narrativa que Lúcia faz da aparição de maio, descobriremos quanto Deus respeita a liberdade do homem e qual o processo que escolhe para se lhe dar a conhecer. Hoje, alarga o coração ao desejo do céu para todos, com a Jacinta.

Neste  maio,  Fátima  convida-te  a  seres  peregrino  pelo  coração.  Hoje, alarga o coração ao desejo do céu para todos, com a Jacinta.

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Fátima continua, este maio, a lançar-te o desafio de uma peregrinação interior, convida-te a fazeres-te peregrino pelo coração. Como ontem te foi dito, só se percorreres o caminho do teu próprio coração em atitude de peregrino, isto é, silenciosamente à escuta, poderás ouvir nele o mais humano dos anseios: a eternidade. E, aliado a este, o anseio do reencontro com todos os que vais perdendo ao longo da vida. Recolhe-te ao teu coração.
No silêncio, escuta outra vez a interrogação de ontem: cultivas no teu coração o desejo de outra vida além desta vida?
E anseias reencontrar os que te vão morrendo antes de ti?
A possibilidade desse reencontro está nas tuas mãos, tu podes ajudar os outros a salvarem-se. Podes colaborar com a vontade em que Deus arde de que nem um só dos seus filhos se perca.
Desce ao teu coração e busca o silêncio interior. Aquele que em ti habita comunicar-te-á a sua vontade de salvação, de que ninguém é excluído. E poderás descobrir a tua responsabilidade nesse desígnio divino.

Recorda de novo o início do diálogo entre a Senhora mais brilhante que o sol e os pastorinhos, como conta a Lúcia nas suas Memórias:

Nossa Senhora disse-nos:
     – Não tenhais medo! Eu não vos faço mal!
     – De onde é Vossemecê? – lhe perguntei.
     – Sou do Céu.
     – E eu também vou para o Céu? – perguntou a Lúcia.
     – Sim, vais.
     – E a Jacinta?
     – Também.
     – E o Francisco?
     – Também, mas tem que rezar muitos terços.
Lembrei-me então de perguntar por duas raparigas que tinham morrido há pouco. Eram minhas amigas e estavam em minha casa a aprender a tecedeiras com minha irmã mais velha.
     – A Maria das Neves já está no Céu?
     – Sim, está.
Parece-me que devia ter uns 16 anos.
     – E a Amélia?
     – Estará no purgatório até ao fim do mundo.»

A Jacinta era uma apaixonada pelo céu. O seu olhar sobre o céu é contudo muito condicionado pela visão do inferno, na aparição de julho, que a impressionou vivamente. A visão não teve como intenção provocar o medo dos pastorinhos, mas fazer crescer neles um intenso compromisso com a salvação dos outros. Escuta o que conta a Lúcia:

A vista do inferno tinha horrorizado a tal ponto a Jacinta, que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, para conseguir livrar de lá algumas almas. Com frequência se sentava no chão ou em alguma pedra e, pensativa, começava a dizer:
     – O inferno! que pena eu tenho das almas que vão para o inferno!
E meio trémula ajoelhava, de mãos postas, a rezar a oração que Nossa Senhora nos tinha ensinado:

     – Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.
Para a tranquilizar dizia-lhe:
     – Não tenhas medo; tu vais para o Céu.
   – Pois vou – dizia com paz –, mas eu queria que toda aquela gente para lá fosse também.»

O inferno, a possibilidade, o risco que a nossa liberdade supõe, exige mesmo, de alguém radicalmente viver eternamente separado de Deus. Jacinta fazia tudo o que pudesse para que ninguém se perdesse, queria ardentemente que todos fossem para o céu. Ela foi a que mais intensamente se associou a Deus no desígnio de fazer chegar a todos a salvação. Viveu intensamente a compaixão de Cristo pelos pecadores e, como Ele, quis dar a sua vida para os salvar. Descobriu na prática de sacrifícios o modo de o fazer. Conta a Lúcia que, quando estava doente:

Às vezes beijava um crucifixo e, abraçando-o, dizia:
     – Ó meu Jesus, eu Vos amo e quero sofrer muito por Vosso amor.
Outras vezes dizia:
      – Ó Jesus, agora podes converter muitos pecadores, porque este sacrifício é muito grande!»

Certamente também influenciou nesta paixão de Jacinta pela salvação dos outros as referências ao purgatório, àqueles que aguardam, amadurecendo no amor entre as mãos misericordiosas de Deus, a ressurreição final.
Jacinta entregou-se inteiramente à relação que existe entre a nossa vida no tempo e a vida a que somos chamados além da morte, uma relação de continuidade, responsabilidade e consequência. E ela continua no céu a realizar a mesma missão de misericórdia que cumpriu na terra, agora plenamente saciada pela visão daquele em cuja paixão tão intimamente participou.

O Evangelho de João, apresenta-nos Jesus a explicar o mistério da Jacinta, ao dizer o que de Jacinta podemos dizer | Jo 6, 39:

39E a vontade do Pai que me enviou é que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia.»

E Mateus, na parábola cénica do juízo final, estabelece esta ponte entre o tempo e a eternidade | Mt 25, 34.40:

34Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. 40Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.»

Se estás disposto, neste maio, a assumir-te mesmo peregrino pelo coração, escuta no teu íntimo a consciência desta responsabilidade por alargar o céu, como a Jacinta. Torna-te participante na própria compaixão de Cristo, Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas e se enche de compaixão ao ver as multidões cansadas e abatidas. Ele quer que todos se salvem.

Meu Deus, és o habitante íntimo do meu coração
e chamas-me a abrir este maio fechado, a tornar-me peregrino pelo coração
para aí me encontrar contigo.
Contemplo silenciosamente a vida e a morte da pequena Jacinta
que atravessou a terra a desejar o céu e a alargá-lo a todos, para que ninguém se perca.
Que bela e imensa a compaixão com que fez sua a paixão de teu filho!
E que bela a intimidade em que viveu com ele, unida na intenção de a todos salvar!
E que bela a paz, a confiança, a plena humanidade com que morreu!
Escuta a minha voz maravilhada, penitente e, em segredo, sedenta de eternidade.

Perdoa-me por tantas vezes duvidar do céu ou pensar que é só para os meus, ou o querer só para mim,
por tão facilmente cair na tentação de achar que me salvo sozinho, que cada um sabe de si e só por si responde
e ignorar que sou responsável pela salvação dos outros, como a crise presente demonstra.
Acende no meu peito, como no de Santa Jacinta Marto, o desejo de alargar a todos o céu
e a vontade de cuidar dos outros e da sua salvação, como os benditos do juízo final.
Sou peregrino pelo coração, como a Jacinta, desejo alargar a todos o céu.
Quero peregrinar pelo coração
até ao coração da tua mãe, minha mãe, Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
No seu coração, és tu que esperas o meu coração e, neste maio longe da capelinha
faço-me peregrino pelo coração: pelo meu coração irei
e no coração imaculado da Mãe ouvirei o bater misericordioso do teu coração. Ámen.

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.

Mãe do céu, está atenta à voz das súplicas do mundo em tribulação. Atende o grito dos pobres e dos doentes, dá conforto e esperança a todos os que sofrem, dá força e compaixão a todos os que cuidam e trabalham. Dá a paz ao mundo. No teu imaculado coração, sê, para todos os teus filhos, refúgio e caminho para Deus.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós. São Francisco e Santa Jacinta Marto, rogai por nós.

Na tua janela, coloca, também esta noite, uma vela acesa, que seja um sinal de que em tua casa mora um peregrino de Fátima pelo coração. Nossa Senhora vela por ti ao longo do caminho. Ela vem ao teu encontro. Alarga o teu coração ao desejo do céu para todos. Até amanhã.

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