Passo 5 – Alargar o Céu, com a Jacinta
Visitando a narrativa que Lúcia faz da aparição de maio,
descobriremos quanto Deus respeita a liberdade do homem e qual o processo que
escolhe para se lhe dar a conhecer. Hoje, alarga o coração ao desejo do céu
para todos, com a Jacinta.
Neste maio, Fátima
convida-te a seres
peregrino pelo coração.
Hoje, alarga o coração ao desejo do céu para todos, com a Jacinta.
Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão
para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.
Fátima continua, este maio, a lançar-te o desafio de uma
peregrinação interior, convida-te a fazeres-te peregrino pelo coração. Como
ontem te foi dito, só se percorreres o caminho do teu próprio coração em
atitude de peregrino, isto é, silenciosamente à escuta, poderás ouvir nele o
mais humano dos anseios: a eternidade. E, aliado a este, o anseio do reencontro
com todos os que vais perdendo ao longo da vida. Recolhe-te ao teu coração.
No silêncio, escuta outra vez a interrogação de ontem:
cultivas no teu coração o desejo de outra vida além desta vida?
E anseias reencontrar os que te vão morrendo antes de ti?
A possibilidade desse reencontro está nas tuas mãos, tu podes
ajudar os outros a salvarem-se. Podes colaborar com a vontade em que Deus arde
de que nem um só dos seus filhos se perca.
Desce ao teu coração e busca o silêncio interior. Aquele que
em ti habita comunicar-te-á a sua vontade de salvação, de que ninguém é
excluído. E poderás descobrir a tua responsabilidade nesse desígnio divino.
Recorda de novo o início do diálogo entre a Senhora mais
brilhante que o sol e os pastorinhos, como conta a Lúcia nas suas Memórias:
Nossa Senhora disse-nos:
– Não tenhais
medo! Eu não vos faço mal!
– De onde é
Vossemecê? – lhe perguntei.
– Sou do Céu.
– E eu também vou
para o Céu? – perguntou a Lúcia.
– Sim, vais.
– E a Jacinta?
– Também.
– E o Francisco?
– Também, mas tem
que rezar muitos terços.
Lembrei-me então de perguntar por duas raparigas que tinham
morrido há pouco. Eram minhas amigas e estavam em minha casa a aprender a
tecedeiras com minha irmã mais velha.
– A Maria das
Neves já está no Céu?
– Sim, está.
Parece-me que devia ter uns 16 anos.
– E a Amélia?
– Estará no
purgatório até ao fim do mundo.»
A Jacinta era uma apaixonada pelo céu. O seu olhar sobre o
céu é contudo muito condicionado pela visão do inferno, na aparição de julho,
que a impressionou vivamente. A visão não teve como intenção provocar o medo
dos pastorinhos, mas fazer crescer neles um intenso compromisso com a salvação
dos outros. Escuta o que conta a Lúcia:
A vista do inferno tinha horrorizado a tal ponto a Jacinta,
que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, para conseguir
livrar de lá algumas almas. Com frequência se sentava no chão ou em alguma
pedra e, pensativa, começava a dizer:
– O inferno! que
pena eu tenho das almas que vão para o inferno!
E meio trémula ajoelhava, de mãos postas, a rezar a oração
que Nossa Senhora nos tinha ensinado:
– Ó meu Jesus,
perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu,
principalmente as que mais precisarem.
Para a tranquilizar dizia-lhe:
– Não tenhas medo; tu vais para o Céu.
– Pois vou – dizia
com paz –, mas eu queria que toda aquela gente para lá fosse também.»
O inferno, a possibilidade, o risco que a nossa liberdade
supõe, exige mesmo, de alguém radicalmente viver eternamente separado de Deus.
Jacinta fazia tudo o que pudesse para que ninguém se perdesse, queria
ardentemente que todos fossem para o céu. Ela foi a que mais intensamente se
associou a Deus no desígnio de fazer chegar a todos a salvação. Viveu
intensamente a compaixão de Cristo pelos pecadores e, como Ele, quis dar a sua
vida para os salvar. Descobriu na prática de sacrifícios o modo de o fazer.
Conta a Lúcia que, quando estava doente:
Às vezes beijava um crucifixo e, abraçando-o, dizia:
– Ó meu Jesus, eu
Vos amo e quero sofrer muito por Vosso amor.
Outras vezes dizia:
– Ó Jesus, agora
podes converter muitos pecadores, porque este sacrifício é muito grande!»
Certamente também influenciou nesta paixão de Jacinta pela
salvação dos outros as referências ao purgatório, àqueles que aguardam,
amadurecendo no amor entre as mãos misericordiosas de Deus, a ressurreição
final.
Jacinta entregou-se inteiramente à relação que existe entre a
nossa vida no tempo e a vida a que somos chamados além da morte, uma relação de
continuidade, responsabilidade e consequência. E ela continua no céu a realizar
a mesma missão de misericórdia que cumpriu na terra, agora plenamente saciada
pela visão daquele em cuja paixão tão intimamente participou.
O Evangelho de João, apresenta-nos Jesus a explicar o
mistério da Jacinta, ao dizer o que de Jacinta podemos dizer | Jo 6, 39:
39E a vontade do Pai que me enviou é que nenhum de todos aqueles que me deu
se perca, mas que o ressuscite no último dia.»
E Mateus, na parábola cénica do juízo final, estabelece esta
ponte entre o tempo e a eternidade | Mt 25, 34.40:
34Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está
preparado desde a criação do mundo. 40Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim
mesmo o fizestes.»
Se estás disposto, neste maio, a assumir-te mesmo peregrino
pelo coração, escuta no teu íntimo a consciência desta responsabilidade por
alargar o céu, como a Jacinta. Torna-te participante na própria compaixão de
Cristo, Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas e se enche de compaixão ao ver
as multidões cansadas e abatidas. Ele quer que todos se salvem.
Meu Deus, és o habitante íntimo do meu coração
e chamas-me a abrir este maio fechado, a tornar-me peregrino
pelo coração
para aí me encontrar contigo.
Contemplo silenciosamente a vida e a morte da pequena Jacinta
que atravessou a terra a desejar o céu e a alargá-lo a todos,
para que ninguém se perca.
Que bela e imensa a compaixão com que fez sua a paixão de teu
filho!
E que bela a intimidade em que viveu com ele, unida na
intenção de a todos salvar!
E que bela a paz, a confiança, a plena humanidade com que
morreu!
Escuta a minha voz maravilhada, penitente e, em segredo,
sedenta de eternidade.
Perdoa-me por tantas vezes duvidar do céu ou pensar que é só
para os meus, ou o querer só para mim,
por tão facilmente cair na tentação de achar que me salvo
sozinho, que cada um sabe de si e só por si responde
e ignorar que sou responsável pela salvação dos outros, como
a crise presente demonstra.
Acende no meu peito, como no de Santa Jacinta Marto, o desejo
de alargar a todos o céu
e a vontade de cuidar dos outros e da sua salvação, como os
benditos do juízo final.
Sou peregrino pelo coração, como a Jacinta, desejo alargar a
todos o céu.
Quero peregrinar pelo coração
até ao coração da tua mãe, minha mãe, Nossa Senhora do
Rosário de Fátima.
No seu coração, és tu que esperas o meu coração e, neste maio
longe da capelinha
faço-me peregrino pelo coração: pelo meu coração irei
e no coração imaculado da Mãe ouvirei o bater misericordioso
do teu coração. Ámen.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois
vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria,
Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.
Mãe do céu, está atenta à voz das súplicas do mundo em
tribulação. Atende o grito dos pobres e dos doentes, dá conforto e esperança a
todos os que sofrem, dá força e compaixão a todos os que cuidam e trabalham. Dá
a paz ao mundo. No teu imaculado coração, sê, para todos os teus filhos,
refúgio e caminho para Deus.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós. São
Francisco e Santa Jacinta Marto, rogai por nós.
Na tua janela, coloca, também esta noite, uma vela acesa, que
seja um sinal de que em tua casa mora um peregrino de Fátima pelo coração.
Nossa Senhora vela por ti ao longo do caminho. Ela vem ao teu encontro. Alarga
o teu coração ao desejo do céu para todos. Até amanhã.
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