QUARESMA PASSO A PASSO - 2025
SEMANA SANTA
Segunda-feira da Semana Santa - dia 35 - 14/04/2025
Evangelho Jo 12, 1-11
«Pobres, sempre os tereis convosco; mas a Mim, nem sempre Me tereis»
A cena narrada, por João, situa-se perto da Páscoa,
portanto, antecede imediatamente a morte de Jesus. Passa-se tudo na casa dos
irmãos Marta, Maria e Lázaro. Lázaro é reconhecido como aquele que Jesus
ressuscitou. Estando à mesa com Jesus, não disse nem uma palavra. Ao contrário
do que podíamos esperar, por ele ter sido ressuscitado, o centro das atenções
não é ele, mas Jesus. Em vez de ter conseguido a admiração dos chefes, Lázaro,
com a ressurreição, conseguiu que pretendessem também matá-lo a ele. Além de
Lázaro está Marta que apenas serve à mesa e Maria que enche a casa com o
perfume que deita nos pés de Jesus. Finalmente temos Judas. Não podia aceitar
aquele exagero de Maria porque aparentemente está preocupado com os pobres.
Jesus censura-o e mostra-lhe quanto está errado na sua avaliação.
"Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro,
que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-Lhe lá um jantar: Marta
andava a servir e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus. Então Maria
tomou uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus
e enxugou-Lhos com os cabelos; e a casa encheu-se com o perfume do bálsamo.
Disse então Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que havia de entregar
Jesus: «Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários, para dar aos
pobres?» Disse isto, não porque se importava com os pobres, mas porque era
ladrão e, tendo a bolsa comum, tirava o que nela se lançava. Jesus
respondeu-lhe: «Deixa-a em paz: ela tinha guardado o perfume para o dia da
minha sepultura. Pobres, sempre os tereis convosco; mas a Mim, nem sempre Me
tereis». Soube então grande número de judeus que Jesus Se encontrava ali e
vieram, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha
ressuscitado dos mortos. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes resolveram
matar também Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e
acreditavam em Jesus."
Senhor Jesus, concede-me a graça de viver estes dias
da tua Paixão perto de Ti (...) Dá-me a graça de compreender, tanto quanto é
possível neste mundo, o Teu amor por mim. Então compreenderei também que, tudo
quanto faço por Ti, é pouco, mesmo muito pouco. (...) Quero procurar-Te assídua
e fielmente, colocando-me na Tua presença no começo de cada ação, (...) ao
longo do dia. Ajuda-me, Senhor, e dá-me assiduidade e persistência na oração.
Ámen.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as
mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa
morte. Ámen.
Este excerto termina com uma
observação: «Então os príncipes dos sacerdotes tinham deliberado
matar também a Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, afastavam-se
e acreditavam em Jesus» (Jo 12, 10-11). Há dias, vimos os excertos
da tentação: a sedução inicial, a ilusão, depois cresce - segundo excerto - e o
terceiro, cresce e contagia e justifica-se. Mas há outro passo: vai em frente,
não para. Para estes não bastava matar Jesus, mas agora também a Lázaro, porque
ele era uma testemunha de vida.
Mas hoje gostaria de refletir
sobre uma palavra de Jesus. Seis dias antes da Páscoa - estamos mesmo à porta
da Paixão - Maria faz este gesto de contemplação: Marta servia - como no outro
excerto - e Maria abre a porta à contemplação. E Judas pensa no dinheiro e nos
pobres, mas «não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e,
como tinha a bolsa, tirava o que nela se metia» (Jo 12, 6). Esta
história do administrador infiel é sempre atual, sempre os há, até a um nível
elevado: pensemos nalgumas organizações caritativas ou humanitárias que têm
tantos empregados, tantos, que têm uma estrutura muito rica de pessoas e que no
final chegam aos pobres quarenta por cento, porque sessenta é para pagar o
salário de tantas pessoas. É uma forma de tirar dinheiro aos pobres. Mas a
resposta é Jesus. E aqui quero parar: «Pobres, sempre os tereis convosco» (Jo 12,
8). Esta é uma verdade: «Pobres, sempre os tereis convosco». Os pobres estão
aqui. Há muitos: há os pobres que vemos, mas esta é a mínima parte; o grande
número de pobres são aqueles que não vemos: os pobres escondidos. E não os
vemos porque entramos na cultura da indiferença que é negacionista e negamos:
“Não, não, não são muitos, não se veem; sim, aquele caso...”, diminuindo sempre
a realidade dos pobres. Mas há muitos, muitos.
Ou então, se não entrarmos
nesta cultura da indiferença, há o hábito de ver os pobres como ornamentos de
uma cidade: sim, estão ali, como estátuas; sim, existem, veem-se; sim, aquela
velhinha a pedir esmola, aquela outra... Mas como se fosse uma coisa normal. Os
pobres fazem parte da ornamentação da cidade. Mas a grande maioria são pobres
vítimas das políticas económicas, das políticas financeiras. Algumas
estatísticas recentes resumem isto desta forma: há muito dinheiro nas mãos de
poucos e muita pobreza em muitos, em tantos. E esta é a pobreza de tantas
pessoas que são vítimas da injustiça estrutural da economia mundial. E há
pobres que se envergonham de mostrar que não chegam ao fim do mês; tantos
pobres da classe média, que secretamente vão à Caritas, pedem e sentem
vergonha. Os pobres são muito mais numerosos do que os ricos; muito, muito... E
o que Jesus diz é verdade: “Pobres, sempre os tereis convosco”. Mas eu vejo-os?
Estou consciente desta realidade? Especialmente da realidade oculta, aqueles
que se envergonham de dizer que não conseguem chegar ao fim do mês.
Recordo que em Buenos Aires me disseram que o edifício de uma fábrica abandonada, vazio há anos, era habitado por cerca de quinze famílias que tinham chegado nos últimos meses. Fui lá. Eram famílias com filhos e cada um tinha usado uma parte da fábrica abandonada para viver. E, olhando para eles, vi que cada família tinha mobília boa, móveis da classe média, televisão, mas foram para lá porque não podiam pagar a renda. Os novos pobres que têm de abandonar a casa porque não podem pagar, foram para lá. É essa injustiça da organização económica ou financeira que os leva a isso. E são tantos, tantos, encontrá-los-emos no juízo. A primeira pergunta que Jesus nos fará será: “Como te comportaste com os pobres? Deste-lhes de comer? Quando estavam na prisão, visitaste-os? No hospital, viste-os? Ajudaste a viúva, os órfãos? Porque eu estava neles”. E sobre isso seremos julgados. Não seremos julgados pelo luxo ou pelas viagens que fazemos nem pela importância social que temos. Seremos julgados pela nossa relação com os pobres. Mas se eu hoje ignorar os pobres, os puser de lado, considerando que eles não existem, o Senhor irá ignorar-me no Dia do Juízo. Quando Jesus disser: “Pobres, sempre os tereis convosco” significa “Eu estarei sempre convosco nos pobres. Neles estarei presente”. E isto não é ser comunista, isto é o centro do Evangelho: seremos julgados por isto.
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