terça-feira, 8 de abril de 2025

 QUARESMA PASSO A PASSO - 2025

Quarta-feira V da Quaresma – dia 31 - 09/04/2022

Evangelho Jo 8, 31-42

«Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas procurais matar-Me, a Mim que vos disse a verdade que ouvi de Deus.»;

«Se Deus fosse o vosso Pai, amar-Me-íeis, porque saí de Deus e d’Ele venho. Eu não vim de Mim próprio; foi Ele que Me enviou.»

É interessante esta parte do evangelho de João. Começa por dizer que Jesus fala com os que tinham acreditado n'Ele e depois apresenta um diálogo difícil que vai acabar mal, como veremos nos dias seguintes. O grupo dos que acreditam transforma-se em grupo opositor. Tinham acreditado, mas já não acreditam. Desiludiram-se com alguma coisa que Jesus fez ou talvez porque não fez, com algo que ele disse ou não disse. No diálogo Jesus fala-lhes da liberdade e da escravatura. O pecado escraviza e a verdade liberta. Liberta-se aquele que acolhe a Sua palavra, conhece a verdade e torna-se Seu discípulo. Conhecer a verdade é pertencer a Deus, experimentar a obediência e a fidelidade. Os que não pertencem a Deus querem matar Jesus.

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"Naquele tempo, dizia Jesus aos judeus que tinham acreditado n’Ele: «Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará». Eles responderam-Lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como é que Tu dizes: ‘Ficareis livres’?» Respondeu Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: Todo aquele que comete o pecado é escravo. Ora o escravo não fica para sempre em casa; o filho é que fica para sempre. Mas se o Filho vos libertar, sereis realmente homens livres. Bem sei que sois descendentes de Abraão; mas procurais matar-Me, porque a minha palavra não entra em vós. Eu digo o que vi junto de meu Pai e vós fazeis o que ouvistes ao vosso pai». Eles disseram: «O nosso pai é Abraão». Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas procurais matar-Me, a Mim que vos disse a verdade que ouvi de Deus. Abraão não procedeu assim. Vós fazeis as obras do vosso pai». Disseram-Lhe eles: «Nós não somos filhos ilegítimos; só temos um pai, que é Deus». Respondeu-lhes Jesus: «Se Deus fosse o vosso Pai, amar-Me-íeis, porque saí de Deus e d’Ele venho. Eu não vim de Mim próprio; foi Ele que Me enviou».

A liberdade é um valor de que todos desejamos usufruir. Mas nem sempre a procuramos onde a podemos encontrar. Os três jovens, de que nos fala a primeira leitura, são um maravilhoso exemplo de liberdade. Recusam corajosamente adorar o poder real, mesmo sendo condenados à fornalha ardente. Nabucodonosor pergunta: «Qual o deus que poderá libertar-vos da minha mão?». Os jovens respondem: «Não vale a pena responder-te a propósito disto. Se isso assim for, o Deus que nós servimos pode livrar-nos da fornalha incandescente, e até mesmo, ó rei, da tua mão». Este gesto de liberdade condenou-os ao suplício. Aparentemente perderam a liberdade: foram amarrados e lançados ao fogo. Mas o Deus, em Quem confiam, intervém para os libertar. O rei verifica o facto. E converte-se à fé. (Leitura I - Dn 3, 14-20.91-92.95 )

Quando Deus deixa de ser apenas uma ideia mais ou menos abstrata, quando a fé em Jesus Cristo se torna vida, podemos experimentar a liberdade cristã. Não é que a vida se torne mais fácil. A verdadeira fé em Deus, e uma relação pessoal com Jesus, Seu Filho, na fé e no amor, revelam exigências até aí desconhecidas. Estas exigências estabelecem novos laços, que não escravizam, mas dilatam os corações e fazem avançar os crentes pela via dos mandamentos divinos.

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Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ámen.

Nestes dias, a Igreja faz-nos ouvir o capítulo oito de João: há uma discussão acalorada entre Jesus e os doutores da Lei. E sobretudo, há uma tentativa de mostrar a própria identidade: João procura aproximar-nos daquela luta para esclarecer a própria identidade, tanto a de Jesus como a dos doutores. Jesus coloca-os num canto, mostrando-lhes as suas contradições. E eles, no final, não encontram outra saída senão o insulto: é uma das páginas mais tristes, é uma blasfémia. Eles insultam Nossa Senhora.

Mas, falando de identidade, Jesus disse aos judeus que tinham acreditado: «Se permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos» (Jo 8, 31). Ele volta a esta palavra tão querida ao Senhor que a repetirá muitas vezes, e também na ceia: permanecer. «Permanecei em mim». Permanecei no Senhor. Ele não diz: «Estudai bem, aprendei bem as argumentações»: Ele considera isto como garantido. Mas focaliza o  mais importante, que é mais perigoso para a vida, se não for feito: permanecer. «Permanecei na minha palavra» (Jo 8, 31). E aqueles que permanecerem na palavra de Jesus têm a  mesma identidade cristã. E qual é? «Sois verdadeiramente meus discípulos» (Jo 8, 31). A identidade cristã não é um documento que diz «eu sou cristão», um bilhete de identidade: não. É um discipulado. Tu, se permaneceres no Senhor, na Palavra do Senhor, na vida do Senhor, serás um discípulo. Se não permaneceres, serás alguém que simpatiza com a doutrina, que segue Jesus como um homem que pratica tanta caridade, tão bom, com valores certos, mas é o discipulado a verdadeira identidade do cristão.

E será o discipulado que nos dará liberdade: o discípulo é um homem livre porque permanece no Senhor. E o que significa «permanecer no Senhor»? Deixar-se guiar pelo Espírito Santo. O discípulo deixa-se guiar pelo Espírito, por isso o discípulo é sempre um homem da tradição e da novidade, é um homem livre. Livre. Nunca sujeito a ideologias, a doutrinas dentro da vida cristã, doutrinas que podem ser discutidas... permanece no Senhor, é o Espírito que inspira. Quando cantamos ao Espírito, dizemos-lhe que ele é hóspede da alma (cf. Hino Veni, Sancte Spiritus), que habita em nós. Mas isto, só se permanecermos no Senhor.

Peço ao Senhor que nos faça conhecer a sabedoria de permanecer n'Ele e a familiaridade com o Espírito: o Espírito Santo concede-nos liberdade. E esta é a unção. Quem permanece no Senhor é discípulo, e o discípulo é um ungido, um ungido pelo Espírito, que recebeu a unção do Espírito e a leva por diante. Este é o caminho que Jesus nos mostra para a liberdade e também para a vida. E o discipulado é a unção que recebem aqueles que permanecem no Senhor.

O Senhor nos faça compreender que isto não é fácil: porque os doutores não o compreenderam, não é compreendido apenas com a inteligência; compreende-se com a inteligência e com o coração, esta sabedoria da unção do Espírito Santo que nos faz discípulos.

Papa Francisco 
(Homilia em Santa Marta1 de abril de 2020)

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