QUARESMA PASSO A PASSO - 2025
Evangelho – Jo 8,1-11
«Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?».
Neste domingo,
a liturgia fala-nos (outra vez) de um Deus que ama e cujo amor nos desafia
a ultrapassar as nossas escravidões para chegar à vida nova, à
ressurreição. As leituras centram-nos na misericórdia infinita de Deus
para com cada um de nós e, simultaneamente, na necessidade da conversão
sincera, de coração, no mais íntimo de nós próprios.
Na 1ªleitura (Is 43, 16-21) é
Isaías quem nos convida a não olhar para o passado, mas a colocar os
olhos, aliás, todo o nosso ser, nas maravilhas que Deus fez, e continua a
fazer, em nosso favor. Radicados na história de salvação do povo escolhido,
centremo-nos na história de Amor que Deus continua a realizar em cada dia da
nossa vida. Deixemo-nos inundar pelo Seu Santo Espírito e testemunhemos como
Ele ama infinitamente cada ser vivente. Sejamos veículos de transmissão da Sua
misericórdia onde quer que vivamos, ou nos desloquemos, junto dos que o Senhor
põe nos nossos caminhos.
“O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as
torrentes das águas. Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes
guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um
pavio que se apaga. Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos
acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou
realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um
caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais selvagens –
chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no
deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo
que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».”
Na 2ªleitura (Filip 3, 8-14) S.Paulo
conta-nos o seu segredo, a razão de ser da sua vida: Jesus Cristo. Depois daquele encontro com Jesus, no caminho para Damasco, todo se Lhe entregou e nunca mais deixou de “correr”
para, após a sua ressurreição, com Ele se encontrar face a face. Recorramos à
intercessão deste santo, para que nos ajude a sermos perseverantes na nossa
caminhada para Deus. Façamos como S.Paulo, entreguemo-nos de alma e coração a
Jesus. Que Ele seja o nosso único Deus, em quem tudo podemos.
“Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem
supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as
coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar,
não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em
Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé. Assim poderei conhecer
Cristo, o poder da Sua ressurreição e a participação nos Seus sofrimentos,
configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos
mortos. Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição.
Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado
por Cristo Jesus. Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só penso numa coisa:
esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr
para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo
Jesus.”
No evangelho (Jo 8, 1-11) , temos
a hipótese de nos colocarmos no lugar das diferentes pessoas que S.João nos
apresenta: Jesus, os fariseus, a mulher adúltera, os discípulos, ou a multidão
que acompanha a cena. Não escolhendo ninguém em especial, é possível percecionar
os sentimentos de alguns deles. O que mais me impressiona é a forma como Jesus,
depois de confundir os fariseus, de uma forma tão inteligente, se volta para a
mulher e lhe diz «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar». Estas palavras
fazem-me pensar no que mais gosto na confissão, que é quando o padre diz «Vai
em paz, os teus pecados estão perdoados». Só o Senhor, que nos conhece no mais
íntimo de nós próprios, nos pode dar a verdadeira paz, seja qual for a situação
em que nos encontremos. Só Jesus, no Seu Amor infinito, podia ter deixado entre
nós, este meio de com Ele nos encontrarmos. Meu Deus, bendito e louvado sejas
por amares infinitamente todos os humanos, incluindo os pecadores.
“Naquele tempo, Jesus foi para o monte das Oliveiras. Mas de manhã cedo,
apareceu outra vez no templo e todo o povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se
e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher
surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a
Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei,
Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Falavam assim para
Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e
começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-l’O,
ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira
pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. Eles, porém,
quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais
velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e
disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu:
«Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a
pecar».”
Senhor, tem compaixão de mim, que sou pecadora.
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Neste quinto domingo de Quaresma, a liturgia
apresenta-nos o episódio da mulher adúltera (cf. Jo 8, 1-11).
Nele contrapõem-se duas atitudes: por um lado, a dos escribas e dos fariseus e,
por outro, a de Jesus. Os primeiros querem condenar a mulher,
porque se sentem os tutores da Lei e da sua aplicação fiel. Ao contrário, Jesus
quer salvá-la, porque Ele personaliza a misericórdia de Deus, que
perdoando redime, e reconciliando renova.
Portanto, analisemos o acontecimento. Enquanto Jesus
ensina no templo, os escribas e os fariseus levam-lhe uma mulher surpreendida
em adultério; põem-na no meio e perguntam a Jesus se se deve lapidá-la, como
prescreve a Lei de Moisés. O Evangelista especifica que eles levantaram a
questão «para o porem à prova e para terem de que o acusar» (v. 6). Pode-se
supor que o propósito deles era este — vede a malvadez daquelas pessoas: o
“não” à lapidação teria sido um motivo para acusar Jesus de desobediência à Lei;
ao contrário, o “sim” para o denunciar à autoridade romana, que tinha reservado
para si as sentenças, e não admitia a linchagem popular. E Jesus deve
responder.
Os interlocutores de Jesus estão fechados nos
restringimentos do legalismo e querem fechar o Filho de Deus na sua perspetiva
de juízo e de condenação. Mas Ele não veio ao mundo para julgar nem condenar,
mas para salvar e oferecer às pessoas uma nova vida. E como reage Jesus diante
desta prova? Antes de tudo, permanece por alguns instantes em silêncio, e
inclina-se para escrever com o dedo na terra, como que para recordar que o
único Legislador e Juiz é Deus, que tinha escrito a Lei na pedra. E depois diz:
«Quem de vós estiver sem pecado, atire-lhe a primeira pedra!» (v. 7). Deste
modo Jesus apela à consciência daqueles homens: eles sentiam-se “paladinos
da justiça”, mas Ele chama-os à consciência da sua condição de homens
pecadores, pela qual não podem arrogar-se o direito de vida ou de morte sobre
um dos seus semelhantes. Naquele ponto, um após o outro, a começar pelos mais
idosos — ou seja, aqueles que estão mais conscientes das próprias misérias —
foram-se embora todos, renunciando a lapidar a mulher. Esta cena convida também
cada um de nós a ter consciência de que somos pecadores, e a deixar cair das
nossas mãos as pedras da difamação e da condenação, da bisbilhotice, que às
vezes gostaríamos de atirar contra o próximo. Quando falamos mal dos outros, lançamos
pedras, somos como eles.
No fim, lá no meio só permanecem Jesus e a mulher: «A
mísera e a misericórdia», diz Santo Agostinho (In Joh 33, 5). Jesus
é o único sem culpa, o único que poderia lançar a pedra contra ela, mas não o
faz, porque Deus “não deseja a morte do pecador, mas que ele se converta e
viva” (cf. Ez 33, 11). E Jesus despede a mulher com estas
palavras maravilhosas: «Vai e de agora em diante não tornes a pecar» (v. 11). E
assim Jesus abre diante dela um caminho novo, criado pela misericórdia, uma
vereda que exige o seu compromisso de não voltar a pecar. Trata-se de um
convite válido para cada um de nós: quando nos perdoa, Jesus abre-nos sempre um
caminho novo para irmos em frente. Neste tempo de Quaresma, somos chamados a
reconhecer-nos pecadores e a pedir perdão a Deus. E o perdão, por sua vez,
enquanto nos reconcilia e nos concede a paz, leva-nos a recomeçar uma história
renovada. Toda a verdadeira conversão visa um futuro novo, um caminho novo, uma
vida boa, uma vida livre do pecado, uma vida generosa. Não tenhamos medo de
pedir perdão a Jesus, porque Ele nos abre a porta para esta vida nova. A Virgem
Maria nos ajude a testemunhar a todos o amor misericordioso de Deus que, em
Jesus, nos perdoa e renova a nossa existência, oferecendo-nos sempre renovadas
possibilidades.
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