sábado, 5 de abril de 2025

QUARESMA PASSO A PASSO - 2025


Domingo V da Quaresma - 6/04/2025

Evangelho – Jo 8,1-11   

«Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?».

Neste domingo, a liturgia fala-nos (outra vez) de um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar as nossas escravidões para chegar à vida nova, à ressurreição. As leituras centram-nos na misericórdia infinita de Deus para com cada um de nós e, simultaneamente, na necessidade da conversão sincera, de coração, no mais íntimo de nós próprios.

Na 1ªleitura (Is 43, 16-21)  é Isaías quem nos convida a não olhar para o passado, mas a colocar os olhos, aliás, todo o nosso ser, nas maravilhas que Deus fez, e continua a fazer, em nosso favor. Radicados na história de salvação do povo escolhido, centremo-nos na história de Amor que Deus continua a realizar em cada dia da nossa vida. Deixemo-nos inundar pelo Seu Santo Espírito e testemunhemos como Ele ama infinitamente cada ser vivente. Sejamos veículos de transmissão da Sua misericórdia onde quer que vivamos, ou nos desloquemos, junto dos que o Senhor põe nos nossos caminhos.

“O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas. Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga. Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».”

Na 2ªleitura (Filip 3, 8-14) S.Paulo conta-nos o seu segredo, a razão de ser da sua vida: Jesus Cristo. Depois daquele encontro com Jesus, no caminho para Damasco, todo se Lhe entregou e nunca mais deixou de “correr” para, após a sua ressurreição, com Ele se encontrar face a face. Recorramos à intercessão deste santo, para que nos ajude a sermos perseverantes na nossa caminhada para Deus. Façamos como S.Paulo, entreguemo-nos de alma e coração a Jesus. Que Ele seja o nosso único Deus, em quem tudo podemos.

“Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé. Assim poderei conhecer Cristo, o poder da Sua ressurreição e a participação nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos. Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus. Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus.”

No evangelho (Jo 8, 1-11) ,  temos a hipótese de nos colocarmos no lugar das diferentes pessoas que S.João nos apresenta: Jesus, os fariseus, a mulher adúltera, os discípulos, ou a multidão que acompanha a cena. Não escolhendo ninguém em especial, é possível percecionar os sentimentos de alguns deles. O que mais me impressiona é a forma como Jesus, depois de confundir os fariseus, de uma forma tão inteligente, se volta para a mulher e lhe diz «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar». Estas palavras fazem-me pensar no que mais gosto na confissão, que é quando o padre diz «Vai em paz, os teus pecados estão perdoados». Só o Senhor, que nos conhece no mais íntimo de nós próprios, nos pode dar a verdadeira paz, seja qual for a situação em que nos encontremos. Só Jesus, no Seu Amor infinito, podia ter deixado entre nós, este meio de com Ele nos encontrarmos. Meu Deus, bendito e louvado sejas por amares infinitamente todos os humanos, incluindo os pecadores.

“Naquele tempo, Jesus foi para o monte das Oliveiras. Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-l’O, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».” 

Senhor, tem compaixão de mim, que sou pecadora.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste quinto domingo de Quaresma, a liturgia apresenta-nos o episódio da mulher adúltera (cf. Jo 8, 1-11). Nele contrapõem-se duas atitudes: por um lado, a dos escribas e dos fariseus e, por outro, a de Jesus. Os primeiros querem condenar a mulher, porque se sentem os tutores da Lei e da sua aplicação fiel. Ao contrário, Jesus quer salvá-la, porque Ele personaliza a misericórdia de Deus, que perdoando redime, e reconciliando renova.

Portanto, analisemos o acontecimento. Enquanto Jesus ensina no templo, os escribas e os fariseus levam-lhe uma mulher surpreendida em adultério; põem-na no meio e perguntam a Jesus se se deve lapidá-la, como prescreve a Lei de Moisés. O Evangelista especifica que eles levantaram a questão «para o porem à prova e para terem de que o acusar» (v. 6). Pode-se supor que o propósito deles era este — vede a malvadez daquelas pessoas: o “não” à lapidação teria sido um motivo para acusar Jesus de desobediência à Lei; ao contrário, o “sim” para o denunciar à autoridade romana, que tinha reservado para si as sentenças, e não admitia a linchagem popular. E Jesus deve responder.

Os interlocutores de Jesus estão fechados nos restringimentos do legalismo e querem fechar o Filho de Deus na sua perspetiva de juízo e de condenação. Mas Ele não veio ao mundo para julgar nem condenar, mas para salvar e oferecer às pessoas uma nova vida. E como reage Jesus diante desta prova? Antes de tudo, permanece por alguns instantes em silêncio, e inclina-se para escrever com o dedo na terra, como que para recordar que o único Legislador e Juiz é Deus, que tinha escrito a Lei na pedra. E depois diz: «Quem de vós estiver sem pecado, atire-lhe a primeira pedra!» (v. 7). Deste modo Jesus apela à consciência daqueles homens: eles sentiam-se “paladinos da justiça”, mas Ele chama-os à consciência da sua condição de homens pecadores, pela qual não podem arrogar-se o direito de vida ou de morte sobre um dos seus semelhantes. Naquele ponto, um após o outro, a começar pelos mais idosos — ou seja, aqueles que estão mais conscientes das próprias misérias — foram-se embora todos, renunciando a lapidar a mulher. Esta cena convida também cada um de nós a ter consciência de que somos pecadores, e a deixar cair das nossas mãos as pedras da difamação e da condenação, da bisbilhotice, que às vezes gostaríamos de atirar contra o próximo. Quando falamos mal dos outros, lançamos pedras, somos como eles.

No fim, lá no meio só permanecem Jesus e a mulher: «A mísera e a misericórdia», diz Santo Agostinho (In Joh 33, 5). Jesus é o único sem culpa, o único que poderia lançar a pedra contra ela, mas não o faz, porque Deus “não deseja a morte do pecador, mas que ele se converta e viva” (cf. Ez 33, 11). E Jesus despede a mulher com estas palavras maravilhosas: «Vai e de agora em diante não tornes a pecar» (v. 11). E assim Jesus abre diante dela um caminho novo, criado pela misericórdia, uma vereda que exige o seu compromisso de não voltar a pecar. Trata-se de um convite válido para cada um de nós: quando nos perdoa, Jesus abre-nos sempre um caminho novo para irmos em frente. Neste tempo de Quaresma, somos chamados a reconhecer-nos pecadores e a pedir perdão a Deus. E o perdão, por sua vez, enquanto nos reconcilia e nos concede a paz, leva-nos a recomeçar uma história renovada. Toda a verdadeira conversão visa um futuro novo, um caminho novo, uma vida boa, uma vida livre do pecado, uma vida generosa. Não tenhamos medo de pedir perdão a Jesus, porque Ele nos abre a porta para esta vida nova. A Virgem Maria nos ajude a testemunhar a todos o amor misericordioso de Deus que, em Jesus, nos perdoa e renova a nossa existência, oferecendo-nos sempre renovadas possibilidades.

Papa Francisco 
(Angelus7 de abril de 2019)

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