QUARESMA PASSO A PASSO - 2025
Quinta-feira V da Quaresma – dia 32 - 09/04/2025
Evangelho Jo 8, 51-59
«Em verdade, em verdade vos digo: Se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte»;
«Antes de Abraão existir, ‘Eu sou’.»
O diálogo continua difícil e vai chegar ao extremo da intolerância. Jesus continua a ser um desconhecido para todos. “Serás Maior…? Quem pretendes ser?” Continua também o esforço de Jesus por se apresentar como Aquele que vem do Pai, o esperado, aquele que é, “eu sou” antes de Abraão existir. As contas não batem certo para aqueles que não guardam a Palavra e decidem passar à ação: “então agarraram em pedras”.
"Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: «Em verdade, em verdade vos digo: Se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte». Responderam-Lhe os judeus: «Agora sabemos que tens o demónio. Abraão morreu, os profetas também, mas Tu dizes: ‘Se alguém guardar a minha palavra, nunca sofrerá a morte’. Serás Tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas também morreram. Quem pretendes ser?» Disse-lhes Jesus: «Se Eu Me glorificar a Mim próprio, a minha glória não vale nada. Quem Me glorifica é meu Pai, Aquele de quem dizeis: ‘É o nosso Deus’. Vós não O conheceis, mas Eu conheço-O; e se dissesse que não O conhecia, seria mentiroso como vós. Mas Eu conheço-O e guardo a Sua palavra. Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia; ele viu-o e exultou de alegria». Disseram-Lhe então os judeus: «Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?!» Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Antes de Abraão existir, ‘Eu sou’». Então agarraram em pedras para apedrejarem Jesus, mas Ele ocultou-Se e saiu do templo."
Nesta leitura encontramos o diálogo-confronto que tem por horizonte a antítese vida-morte, e como ponto de referência Abraão, de quem os judeus se dizem descendentes. Jesus vai respondendo indiretamente às perguntas provocatórias que lhe são feitas. Mas, das suas respostas, emerge a clara afirmação de que Ele é o Filho de Deus, cuja glória procura. É Deus que O leva a falar. Por isso, com verdade, pode dizer: «antes de Abraão existir, Eu sou». Só reconhecendo a Deus, que se manifesta no Seu Filho feito homem, se pode ter a vida.
Há uma perfeita comunhão entre o Pai e o Filho. É para ela que se encaminha a história da salvação, prometida a Abraão que, na fé, entreviu a sua realização. Esta afirmação é um escândalo para os Judeus que, apenas segundo a carne, são filhos de Abraão.
Jesus diz-nos que o segredo da liberdade é a obediência à Sua palavra, uma obediência nascida do mais fundo do coração de quem a souber acolher.
Abraão soube acolher a palavra de Deus e obedecer-lhe. Tornou-se o modelo dos crentes, e exultou de alegria, na esperança de ver o dia de Jesus: «exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz», diz o Senhor. (Leitura I Gn 17, 3-9)
Também nós somos chamados, neste tempo da Paixão e da Páscoa, a ver o dia de Jesus e a permanecer na alegria.
«Nas duas leituras» da liturgia propostas hoje, frisou o Pontífice, «fala-se de tempo, de eternidade, de anos, de futuro e de passado» (Gn 17, 3-9 e Jo 8, 51-59). A ponto que precisamente «o tempo parece ser a realidade mais importante na mensagem litúrgica desta quinta-feira». Mas Francisco preferiu «indicar outra palavra» que, sugeriu, «penso que seja exatamente a mensagem na Igreja hoje». E são as palavras de Jesus citadas pelo evangelista João: «O vosso pai, Abraão, exultou com a ideia de ver o meu dia; viu-o e rejubilou».
Portanto, a mensagem central de hoje é «a alegria da esperança, da confiança na promessa de Deus, a alegria da fecundidade». «Abraão, no tempo do qual fala a primeira leitura tinha noventa e nove anos e o Senhor apareceu-lhe e garantiu a aliança» com estas palavras: «Quanto a mim, a minha aliança é contigo: tornar-te-ás pai».
Abraão, recordou Francisco, «tinha um filho de doze ou treze anos: Ismael». Mas Deus garantiu-lhe que se tornaria «pai de uma multidão de nações». E «deu-lhe o nome». Depois «continuou e pediu-lhe que fosse fiel à aliança», dizendo: «Estabelecerei a minha aliança contigo e com a tua descendência e depois de ti, de geração em geração, como aliança perene». Praticamente, Deus diz a Abraão «dou-te tudo, dou-te o tempo: dou-te tudo, serás pai».
Certamente Abraão, disse o Papa, «estava feliz por isto, rejubilou» ouvindo a promessa do Senhor: «Daqui a um ano terás outro filho». Certamente, com essas palavras «Abraão riu, diz a Bíblia em seguida: mas como, com cem anos um filho?». Sim, «gerou Ismael com oitenta e sete anos, mas com cem anos um filho é demasiado, não se pode compreender!». E «riu». Mas «aquele sorriso, aquele riso foi o início da alegria de Abraão». Portanto, eis o sentido das palavras de Jesus repropostas hoje pelo Papa como mensagem central: «Abraão, vosso pai, exultou na esperança». De facto, «não ousava crer e disse ao Senhor: “Mas se pelo menos Ismael vivesse na tua presença?”». Recebendo esta resposta: «Não, não será Ismael. Será outro».
Por conseguinte, para Abraão «a alegria era plena» afirmou o Papa. Mas «também a sua esposa Sara, depois riu: estava meio escondida atrás das cortinas da entrada, ouvindo o que diziam os homens». E «quando estes enviados de Deus deram a Abraão a notícia do filho, também ela riu». Isto mesmo, afirmou Francisco, «o início da grande alegria de Abraão». Sim «a grande alegria: exultou na esperança de ver este dia; viu-o e rejubilou». E o Papa convidou a olhar para «este bonito ícone: Abraão diante de Deus, que se prostra com a face no chão: ouviu a promessa e abriu o coração à esperança e rejubilou».
Precisamente isto «não entendiam os doutores da lei», frisou Francisco. «Não entendiam a alegria da promessa; a alegria da esperança; a alegria da aliança. Não compreendiam». «Não sabiam alegrar-se porque tinham perdido o sentido da alegria que vem só com a fé». Ao contrário, explicou o Papa, «o nosso pai Abraão foi capaz de se alegrar porque tinha fé: tornou-se justo pela fé». Os doutores da lei «tinham perdido a fé: eram doutores da lei, mas sem fé!». E ainda mais: «tinham perdido a lei! Porque o centro da lei é o amor a Deus e ao próximo». Contudo, eles «possuíam só um sistema de doutrinas exatas que aperfeiçoavam cada dia mais para que ninguém as tocasse».
Eram «homens sem fé, sem lei, apegados a doutrinas que se tornavam também uma atitude casuísta». Depois Francisco citou exemplos concretos: «Pode-se pagar os impostos a César, não? A mulher que se casou sete vezes, quando for para o céu será esposa daqueles sete?». E «esta casuística era: o seu mundo abstrato, sem amor, sem fé, sem esperança, sem confiança, sem Deus». E por isso mesmo «não podiam alegrar-se».
E não se alegravam nem sequer quando faziam festas para se divertir: a ponto que, afirmou o Papa, certamente «abriram algumas garrafas quando Jesus foi condenado». Mas sempre «sem alegria», aliás, «com medo porque um deles, talvez enquanto bebiam», terá lembrado a promessa «de que Jesus teria ressuscitado». E então «imediatamente, com medo, foram ter com o procurador para dizer “por favor, providenciai isto, que não haja um engano”». Tudo isto porque «tinham medo».
Mas «esta é a vida sem fé em Deus, sem confiança em Deus, sem esperança em Deus» afirmou o Papa. «A vida deles — acrescentou — que só depois de entenderam que não tinham razão», pensaram que a única saída era pegar em pedras para lapidar Jesus. O seu coração estava petrificado». Com efeito, «é triste ser crente sem alegria — explicou Francisco — e não há alegria se não houver fé, esperança, lei, mas só prescrições, doutrina fria». Em contraposição, o Papa apresentou de novo a «alegria de Abraão, o lindo gesto do sorriso de Abraão» quando ouviu a promessa de ter «um filho com cem anos». E «também o sorriso de Sara, um sorriso de esperança». Porque «a alegria da fé, do Evangelho é o termo de comparação da fé de uma pessoa: sem alegria essa pessoa não é um crente verdadeiro».
Na conclusão, Francisco convidou a fazer próprias as palavras de Jesus: «O vosso pai, Abraão, exultou com a ideia de ver o meu dia; viu-o e rejubilou». E pediu «ao Senhor a graça de exultar na esperança, a graça de poder ver o dia de Jesus quando nos encontrarmos com Ele e a graça do júbilo».
Sem comentários:
Enviar um comentário