DOMINGO DE
PÁSCOA - 2025
RESSURREIÇÃO DO SENHOR
A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e garante-nos que a vida, em plenitude, resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto. As leituras, deste Domingo de Páscoa, introduzem-nos no mistério maior da nossa fé, a ressurreição de Jesus. Mergulhados no imenso Amor de Deus, que Seu Filho nos revela, percebemos que, a partir da ressurreição de Jesus, tudo passa a ser diferente, a vida ganha outro sentido. Agora podemos branquear a nossa alma no Filho muito amado de Deus, que de braços abertos nos acolhe e estreita contra o Seu peito. Deixemo-nos habitar por este Amor sem fim, para que também os que connosco convivem, ou se cruzam nas estradas da vida, possam sentir-se totalmente amados por Deus.
S.Lucas, na 1ªleitura de hoje, (At 10,34.37-43) apresenta a
Palavra de Jesus, transmitida pelos apóstolos sob o impulso do Espírito Santo:
é essa Palavra que contém a proposta libertadora de Deus para os homens. Nos
Atos, em especial, S.Lucas mostra como a Igreja nasce da Palavra de Jesus,
fielmente anunciada pelos apóstolos; será esta Igreja, animada pelo Espírito,
fiel à doutrina transmitida pelos apóstolos, que tornará presente o plano
salvador do Pai e o fará chegar a todos os homens. Nesta primeira
leitura, Pedro fala do exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem”
e que, por amor, Se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os
discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos
os homens.
"Naqueles dias, Pedro
tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de
Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos Judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte
testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados»."
Na segunda
leitura (Col 3, 1-4) S.Paulo convida os cristãos,
revestidos de Cristo pelo Batismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova,
até à transformação plena que acontecerá quando, pela morte, tivermos
ultrapassado a última fronteira da nossa finitude.
"Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes, e a vossa vida está
escondida com Cristo em Deus. Quando
Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos haveis de manifestar
com Ele na glória."
O Evangelho de hoje (Jo 20, 1-9) coloca-nos diante de três
atitudes face à ressurreição: a da mulher, Madalena, interrogativa, aflita e
preocupada, mas pronta a acreditar; a do discípulo obstinado, que se recusa a
aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida não podem
nunca ser geradores de vida nova; e o discípulo ideal, que ama Jesus e que, por
isso, entende o Seu caminho e a Sua proposta – a esse não o escandaliza nem o
espanta que da Cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira.
"No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o discípulo predileto de Jesus e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos."
Senhor, eu te
louvo e bendigo por nos amares tão infinitamente. A ti o louvor a glória a
honra e o poder pelos séculos sem fim.
Queridos
irmãos e irmãs, Feliz Páscoa!
Hoje ressoa em todo o mundo o
anúncio que partiu de Jerusalém há dois mil anos: "Jesus de Nazaré, o
crucificado, ressuscitou!" (cf. Mc 16, 6).
A Igreja revive o espanto das
mulheres que foram ao sepulcro na madrugada do primeiro dia da semana. O túmulo
de Jesus tinha sido fechado com uma grande pedra; e assim, ainda hoje, pedras
pesadas, demasiadamente pesadas, fecham as esperanças da humanidade: a pedra da
guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos
humanos, a pedra do tráfico de pessoas e outras. Nós também, como as mulheres
discípulas de Jesus, perguntamo-nos uns aos outros: "Quem irá remover
estas pedras para nós?" (cf. Mc 16, 3).
E eis a sua descoberta na manhã
de Páscoa: a pedra, aquela grande pedra, já havia sido removida. O espanto das
mulheres é o nosso espanto: o túmulo de Jesus está aberto e vazio! É aqui que
tudo começa. Através desse túmulo vazio passa o novo caminho, o caminho que
nenhum de nós, mas somente Deus, poderia abrir: o caminho da vida em meio à
morte, o caminho da paz em meio à guerra, o caminho da reconciliação em meio ao
ódio, o caminho da fraternidade em meio à inimizade.
Irmãos e irmãs, Jesus Cristo
ressuscitou, e somente Ele é capaz de remover as pedras que fecham o caminho
para a vida. De facto, Ele mesmo, o Vivente, é o Caminho: o Caminho da vida, da
paz, da reconciliação, da fraternidade. Ele abre-nos a passagem, algo
humanamente impossível, porque somente Ele tira o pecado do mundo e perdoa os
nossos pecados. E sem o perdão de Deus, essa pedra não pode ser removida. Sem o
perdão dos pecados, não se consegue sair dos fechamentos, dos preconceitos, das
suspeitas mútuas e das presunções, que sempre levam a absolver a si mesmo e a acusar os outros. Somente Cristo Ressuscitado, ao dar-nos o perdão dos
pecados, abre o caminho para um mundo renovado.
Somente Ele nos abre as portas
da vida, aquelas portas que fechamos continuamente com as guerras que se
alastram pelo mundo. Hoje voltamos o nosso olhar, em primeiro lugar, para a
Cidade Santa de Jerusalém, testemunha do mistério da paixão, morte e ressurreição
de Jesus, e para todas as comunidades cristãs da Terra Santa.
O meu pensamento dirige-se,
sobretudo, às vítimas dos muitos conflitos em andamento no mundo, a começar
pelos que ocorrem em Israel, na Palestina e na Ucrânia. Que Cristo
Ressuscitado abra um caminho de paz para as populações atormentadas dessas
regiões. Ao mesmo tempo que convido a que sejam respeitados os princípios do
direito internacional, espero que haja uma troca geral de todos os prisioneiros
entre a Rússia e a Ucrânia: todos por todos!
Além disso, faço novamente um
apelo para que seja garantido o acesso da ajuda humanitária a Gaza e insisto,
uma vez mais, na pronta libertação dos reféns sequestrados em 7 de outubro e num cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
Não permitamos que as
hostilidades em andamento continuem a afetar seriamente a população civil, já
exausta, especialmente as crianças. Quanto sofrimento vemos nos olhos das
crianças! Aquelas crianças, nas terras onde há guerras, já se esqueceram de como
se sorri. Com o seu olhar perguntam-nos: Por quê? Por que tanta morte? Por que
tanta destruição? A guerra é sempre um absurdo, a guerra é sempre uma derrota!
Não permitamos que ventos de guerra cada vez mais fortes soprem sobre a Europa
e o Mediterrâneo. Não nos rendamos à lógica das armas e do rearmamento. A paz
nunca é construída com armas, mas estendendo as nossas mãos e abrindo os nossos
corações.
Irmãos e irmãs, não nos
esqueçamos da Síria, que vem sofrendo as consequências de uma guerra longa e
devastadora há treze anos. Tantos mortos, pessoas desaparecidas, tanta pobreza
e destruição estão à espera por respostas de todos, inclusive da comunidade
internacional.
O meu olhar, hoje, dirige-se de, modo especial, para o Líbano, que há muito tempo vem sendo afetado por um bloqueio
institucional e por uma profunda crise económica e social, agora agravada pelas
hostilidades na fronteira com Israel. Que o Senhor Ressuscitado conforte o
amado povo libanês e sustente todo o país na sua vocação de ser uma terra de
encontro, coexistência e pluralismo.
Dirijo um pensamento especial à
região dos Bálcãs Ocidentais, onde estão a ser dados passos significativos para
a integração no projeto europeu: que as diferenças étnicas, culturais e
confessionais não sejam uma causa de divisão, mas se tornem uma fonte de
enriquecimento para toda a Europa e para o mundo inteiro.
Da mesma forma, encorajo as
conversações entre a Arménia e o Azerbaijão, para que, com o apoio da
comunidade internacional, se possa continuar o diálogo, ajudar os deslocados,
respeitar os locais de culto das diferentes denominações religiosas e chegar a
um acordo de paz definitivo o mais rápido possível.
Que o Cristo Ressuscitado abra
um caminho de esperança às pessoas que, noutras partes do mundo, sofrem com a
violência, os conflitos, a insegurança alimentar e os efeitos das mudanças
climáticas. Que o Senhor conceda conforto às vítimas de todas as formas de
terrorismo. Oremos pelos que perderam as suas vidas e imploremos arrependimento e
conversão para os autores de tais crimes.
Que o Senhor Ressuscitado ajude
o povo haitiano, para que a violência, que derrama sangue e dilacera o País,
possa cessar o mais rápido possível e que se possa progredir no caminho da
democracia e da fraternidade.
Que Ele dê conforto aos
Roingas, afligidos por uma grave crise humanitária, e abra o caminho da
reconciliação em Mianmar, dilacerado por anos de conflito interno, a fim de que
toda a lógica de violência seja definitivamente abandonada.
Que o Senhor abra caminhos de
paz no continente africano, especialmente para as populações provadas no Sudão
e em toda a região do Sahel, no Chifre da África, na região de Kivu, na
República Democrática do Congo, e na província de Cabo Delgado, em Moçambique,
e ponha fim à prolongada situação de seca que afeta vastas áreas e causa fome e
carestia.
Que o Ressuscitado faça
resplandecer a sua luz sobre os migrantes e aqueles que estão a passar por
dificuldades económicas, oferecendo-lhes conforto e esperança nos seus momentos
de necessidade. Que Cristo guie todas as pessoas de boa vontade a se unirem em
solidariedade, para enfrentarem juntas os muitos desafios que as famílias mais
pobres enfrentam na sua busca por uma vida melhor e pela felicidade.
Neste dia em que celebramos a
vida que nos foi dada na ressurreição do Filho, lembremo-nos do amor infinito
de Deus por cada um de nós: um amor que supera todos os limites e todas as
fraquezas. No entanto, quão frequentemente a preciosa dádiva da vida é desprezada!
Quantas crianças não conseguem sequer ver a luz? Quantas morrem de fome, ou são
privadas de cuidados essenciais, ou são vítimas de abuso e violência? Quantas
vidas são mercantilizadas pelo crescente comércio de seres humanos?
Irmãos e irmãs, no dia em que
Cristo nos libertou da escravidão da morte, exorto aqueles com responsabilidade
política a não pouparem esforços no combate ao flagelo do tráfico humano,
trabalhando incansavelmente para desmantelar as suas redes de exploração e trazer
liberdade àqueles que são as suas vítimas. Que o Senhor console as suas famílias,
especialmente aquelas que aguardam ansiosamente notícias dos seus entes
queridos, assegurando-lhes conforto e esperança.
Que a luz da ressurreição
ilumine as nossas mentes e converta os nossos corações, conscientizando-nos do valor
de toda a vida humana, que deve ser acolhida, protegida e amada.
Feliz Páscoa a todos!
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