Advento passo a passo
4ºdia - 04/12/2024
Mateus 15, 29-37
“Veio ter com Ele uma grande multidão”;
“Ele curou-os”;
«Tenho pena desta multidão, porque há três dias que estão comigo e não têm
que comer(…)»;
«Quantos pães tendes?» Eles responderam-Lhe: «Sete, e alguns peixes
pequenos»;
“tomou os sete pães e os peixes e, dando graças, partiu-os”;
“Todos comeram até ficarem saciados.”
A liturgia de
hoje traz-nos dois sinais do Reino. O primeiro é a cura de muitos
enfermos com a qual o evangelista nos quer mostrar que estamos nos tempos do
Messias segundo as profecias de Isaías. O segundo sinal do Reino é o banquete
narrado na primeira leitura e no salmo. Nos dias do Messias, o Senhor brindará
com um banquete todos os povos em Sião. Estamos nesses “últimos dias”.
Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ
"Naquele
tempo, foi Jesus para junto do mar da Galileia e, subindo ao monte,
sentou-Se. Veio ter com Ele uma grande multidão,
trazendo coxos, aleijados, cegos, mudos e muitos outros, que lançavam a seus
pés. Ele curou-os, de modo que a multidão ficou
admirada, ao ver os mudos a falar, os aleijados a ficar sãos, os coxos a
andar e os cegos a ver; e todos davam glória ao Deus de Israel. Então Jesus,
chamando a Si os discípulos, disse-lhes: «Tenho pena desta multidão, porque
há três dias que estão comigo e não têm que comer. Mas não quero despedi-los
em jejum, pois receio que desfaleçam no caminho». Disseram-Lhe os discípulos:
«Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande
multidão?» Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Eles responderam-Lhe:
«Sete, e alguns peixes pequenos». Jesus ordenou então às pessoas que se
sentassem no chão. Depois tomou os sete pães e os peixes e, dando graças,
partiu-os e foi-os entregando aos discípulos e os discípulos distribuíram-nos
pela multidão. Todos comeram até ficarem saciados. E com os pedaços que
sobraram encheram sete cestos." A força do texto de Mateus
convida-me a subir com Jesus ao monte. (…) . O importante é querer ser tocado
por Ele, pelo seu olhar, pelo seu coração. A Palavra chama-me a fazer tudo o
que é necessário e está ao meu alcance para poder sentar-me à mesa com Jesus
e partilhar do seu pão. O Teu pão, Senhor, é o
alimento que sacia a minha alma. Nada me pode saciar como Tu sacias. Nem
sequer é preciso muito pão, basta um pouco. Sete pães chegam e sobram para
uma multidão, porque o pão és Tu mesmo. Dá-me sempre desse pão para que em
mim brote a vida que não se acaba, a Tua vida, Senhor. Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho (…) apresenta-nos
o prodígio da multiplicação dos pães (cf. Mt 14, 13-21). A cena verifica-se num
lugar deserto, onde Jesus se tinha retirado com os seus discípulos. Mas as
pessoas vão procura-l’O-no para O ouvir e serem curadas: de facto as suas
palavras e gestos curam e dão esperança. Ao pôr do sol, as multidões ainda lá
estão, e os discípulos, homens práticos, convidam Jesus a despedi-las para
que possam ir buscar comida. Mas Ele responde: «Dai-lhes vós de comer» (v. 16). Imaginemos os rostos dos
discípulos! Jesus sabe muito bem o que está prestes a fazer, mas quer mudar a
atitude deles: não diz “despedi-os, que se desenrasquem, que encontrem
sozinhos de comer”, não, mas “o que nos oferece a Providência para partilhar?
Duas atitudes contrárias. E Jesus quer levá-los à segunda atitude, porque a
primeira proposta é a proposta de um homem prático, mas não é generosa:
“despedi-os, deixai que vão, que se arranjem”. Jesus pensa de outra forma.
Jesus, através desta situação, quer educar os seus amigos de ontem e de hoje
na lógica de Deus. E qual é a lógica de Deus que vemos aqui? A lógica de
cuidar do próximo. A lógica de não lavar as mãos, a lógica de não olhar para
o outro lado. A lógica de cuidar do outro. “Que se arranjem” não faz parte do
vocabulário cristão. Assim que um dos Doze diz,
com realismo: «Mas não temos aqui senão cinco pães e dois peixes», Jesus
responde: «Trazei-mos cá». (vv. 17-18). Toma essa comida nas suas mãos, levanta os
olhos ao céu, recita a bênção e começa a partir e dá as porções aos
discípulos para distribuir. E esses pães e peixes não se esgotam, são
suficientes para satisfazer milhares de pessoas. Com este gesto Jesus
manifesta o seu poder, não de uma forma espetacular, mas como um sinal da
caridade, da generosidade de Deus Pai para com os seus filhos cansados e
oprimidos. Está imerso na vida do seu povo, compreende o seu cansaço,
compreende os seus limites, mas não deixa que ninguém se perca ou desfaleça:
alimenta com a sua Palavra e dá comida abundante para o sustento. Nesta narração evangélica
percebe-se também a referência à Eucaristia, especialmente quando descreve a
bênção, o partir do pão, a entrega aos discípulos, a distribuição ao povo (v. 19). E deve notar-se quão
estreita é a ligação entre o pão eucarístico, alimento para a vida eterna, e
o pão quotidiano, necessário para a vida terrena. Antes de se oferecer ao Pai
como Pão de salvação, Jesus ocupa-se da comida para aqueles que O seguem e que,
para estar com Ele, se esqueceram de tomar providências. Por vezes o espírito
e a matéria estão em contraste, mas na realidade o espiritualismo, tal como o
materialismo, é alheio à Bíblia. Não é uma linguagem da Bíblia. A compaixão, a ternura que
Jesus mostrou para com as multidões não é sentimentalismo, mas a manifestação
concreta do amor que cuida das necessidades das pessoas. E somos chamados a
aproximar-nos da mesa eucarística com estas mesmas atitudes de Jesus: [antes
de tudo] compaixão pelas necessidades dos outros. Esta palavra é repetida no
Evangelho quando Jesus vê um problema, uma doença ou aquelas pessoas sem
comida. “Compadeceu-se delas”. A compaixão não é um sentimento
puramente material; a verdadeira compaixão é sofrer com, assumir
as dores dos outros. Talvez hoje nos faça bem perguntar a nós mesmos: sinto
compaixão? Quando leio as notícias sobre guerras, fome, pandemias, tantas
coisas, será que sinto compaixão por essas pessoas? Será que tenho pena das
pessoas que estão próximas de mim? Sou capaz de sofrer com elas, ou olho para
o outro lado ou digo “que se arranjem”? Não esquecer esta palavra
“compaixão”, que é confiança no amor providente do Pai e significa partilha
corajosa. Que Maria Santíssima nos
ajude a percorrer o caminho que o Senhor nos mostra no Evangelho de hoje. É o
caminho da fraternidade, que é essencial para enfrentar a pobreza e o
sofrimento deste mundo, especialmente neste momento grave, e que nos projeta
para além do próprio mundo, porque é um caminho que começa com Deus e
regressa a Deus. Papa Francisco (Angelus,2 de agosto de 2020)
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