sábado, 21 de dezembro de 2024

  IV DOMINGO DO ADVENTO 

Ano C - 2024

Eis-nos chegados ao último domingo do Advento. Na liturgia, as leituras preparam-nos para o mistério que estamos prestes a celebrar: a vinda de Deus ao mundo, no Menino que está prestes a nascer, a fazer-Se um de nós, um connosco. Contudo, a figura central deste domingo é Maria, e o seu “Sim” a Deus e ao Seu projeto de Amor, de salvação da humanidade. Que Ela nos ensine a ter a mesma atitude: de confiança e entrega a Deus, em todas as situações da nossa vida; de acolhimento aos que fazem parte da nossa vida e de construtores da paz.

Na 1ªleitura (I Miq 5, 1-4a) o profeta projeta-nos para o ambiente de humildade em que nascerá o Salvador, o Menino Deus, o Príncipe da Paz. Peçamos ao Senhor um coração pobre e humilde, pronto a receber o “Menino”.

“Eis o que diz o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel. As suas origens remontam aos tempos de outrora, aos dias mais antigos. Por isso Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».” 

Na 2ªleitura (Hebr 10, 5-10) há duas expressões que nos situam no essencial das leituras de hoje: “Eis-me aqui”; “Faça-se a Tua vontade”. Só, na medida em que nos deixarmos habitar por Jesus, aprenderemos d’Ele a entregarmo-nos assim a Deus.

“Irmãos: Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’». Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado». E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei. Depois acrescenta: «Eis-Me aqui: Eu venho para fazer a tua vontade». Assim aboliu o primeiro culto para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre.”

No evangelho (Lc 1, 39-45) S.Lucas dá-nos conta da forma como duas almas, totalmente entregues a Deus, se sentem em sintonia, se reconhecem no amor de Deus e cantam as maravilhas do Senhor. Louvemos nós também a Deus, pelas maravilhas que Ele operou em favor do Seu povo e continua a operar em favor da humanidade de hoje, como um todo, e de cada um de nós individualmente.

“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».” 

Senhor, que o meu coração se abra sempre a Ti e deixe habitar por Ti. Vem, vem Senhor Jesus.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da Liturgia de hoje, quarto Domingo do Advento, narra a visita de Maria a Isabel (cf. Lc 1, 39-45). Tendo recebido o anúncio do anjo, a Virgem não fica em casa, a pensar no que aconteceu e considerando os problemas e imprevistos, que certamente não faltavam: porque, pobrezinha, não sabia o que fazer com aquela notícia, com a cultura da época... não compreendia... Ao contrário, pensa antes de mais nos necessitados; em vez de se concentrar nos seus problemas, pensa nos necessitados, pensa em Isabel, sua prima, de idade avançada e estava grávida: uma coisa estranha, milagrosa. Maria parte com generosidade, sem se deixar intimidar pelos desconfortos da viagem, respondendo a um impulso interior que a chama a estar perto e a ajudar. Uma longa estrada, quilómetros e quilómetros, e não havia autocarro: teve que ir a pé. Ela sai para ajudar, partilhando a sua alegria. Maria doa a Isabel a alegria de Jesus, a alegria que trazia no coração e no seio. Vai ter com ela e proclama os seus sentimentos, e esta proclamação dos sentimentos depois tornou- se uma oração, o Magnificat, que todos nós conhecemos. E o texto diz que Nossa Senhora «se levantou e foi à pressa» (v. 39).

Levantou-se e foi. No último trecho do caminho de Advento deixemo-nos guiar por estes dois verbos. Levantar e caminhar depressa: são os dois movimentos que Maria fez e que nos convida a fazer tendo em vista o Natal. Antes de mais, levantar-se. Após o anúncio do anjo, para a Virgem inicia um período difícil: a sua gravidez inesperada expunha-a a incompreensões e até a severas penas, inclusive o apedrejamento, na cultura da época. Imaginemos quantos pensamentos e turbamentos tinha! No entanto, não desanimou, não se abateu, mas levantou-se. Não olhou para baixo, para os problemas, mas para o alto, para Deus. E não pensou em pedir ajuda a alguém, mas a quem levar ajuda. Pensou sempre nos outros: assim é Maria, sempre a pensar nas necessidades dos outros. Fará o mesmo, depois, nas bodas de Caná, quando se dá conta de que não há vinho. É um problema de outras pessoas, mas ela pensa nisto e procura encontrar uma solução. Maria pensa sempre nos outros. Pensa também em nós.

Aprendamos de Nossa Senhora este modo de reagir: levantarmo-nos, sobretudo quando as dificuldades ameaçam esmagar-nos. Levantarmo-nos, para não ficarmos reféns dos problemas, afundando na autopiedade ou caindo numa tristeza que nos paralisa. Mas porquê levantar-se? Porque Deus é grande e está pronto para nos reerguer se lhe estendermos a mão. Portanto, lancemos n’Ele os pensamentos negativos, os receios que bloqueiam cada impulso e que nos impedem de seguir em frente. E depois façamos como Maria: olhemos para a nossa volta e procuremos alguém a quem possamos ser úteis! Há algum idoso que eu conheço a quem posso oferecer ajuda, companhia? Todos pensem nisto. Ou fazer um serviço para uma pessoa, uma gentileza, um telefonema? Mas a quem posso dar ajuda? Levanto-me e ofereço ajuda. Ao ajudarmos os outros, ajudamo-nos a nós mesmos a reerguermo-nos das dificuldades.

O segundo movimento é caminhar depressa. Não significa proceder com agitação, de forma afanada, não, não significa isso. Trata-se, ao contrário, de conduzir os nossos dias com um ritmo feliz, olhando em frente com confiança, sem nos arrastarmos, escravos de lamentações – as queixas arruínam tantas vidas, pois começamos a queixar-nos, a queixar-nos, e a vida desce a pique. Reclamar leva a estar sempre à procura de alguém a quem culpar. Indo em direção da casa de Isabel, Maria prossegue com o passo rápido de alguém cujo coração e vida estão cheios de Deus, cheios da sua alegria. Então perguntemo-nos, para nosso benefício: como é o meu “passo”? Sou proativo ou permaneço melancólico, na tristeza? Avanço com esperança ou fico parado e sinto pena de mim mesmo? Se prosseguirmos com o passo cansado dos resmungos e das tagarelices, não levaremos Deus a ninguém, levaremos apenas amarguras, coisas obscuras. Ao contrário, é tão bom cultivar um humor saudável, como faziam, por exemplo, São Tomás More ou São Filipe Néri. Podemos pedir também esta graça, a graça do humor saudável: faz muito bem. Não esqueçamos que o primeiro ato de caridade que podemos fazer ao próximo é oferecer-lhe um rosto sereno e sorridente. É levar-lhe a alegria de Jesus, como fez Maria com Isabel.

Que a Mãe de Deus nos pegue pela mão, nos ajude a levantarmo-nos e a caminhar depressa rumo ao Natal!

Papa Francisco
(Angelus, 19 de dezembro de 2021)

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