IV DOMINGO DO ADVENTO
Ano C - 2024
Eis-nos chegados ao último domingo do Advento. Na liturgia, as leituras
preparam-nos para o mistério que estamos prestes a celebrar: a vinda de Deus ao
mundo, no Menino que está prestes a nascer, a fazer-Se um de nós, um connosco.
Contudo, a figura central deste domingo é Maria, e o seu “Sim” a Deus e ao Seu
projeto de Amor, de salvação da humanidade. Que Ela nos ensine a ter a mesma
atitude: de confiança e entrega a Deus, em todas as situações da nossa vida; de
acolhimento aos que fazem parte da nossa vida e de construtores da paz.
Na 1ªleitura (I Miq 5, 1-4a) o profeta projeta-nos para o
ambiente de humildade em que nascerá o Salvador, o Menino Deus, o Príncipe da
Paz. Peçamos ao Senhor um coração pobre e humilde, pronto a receber o “Menino”.
“Eis o que diz
o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá
aquele que há de reinar sobre Israel. As suas origens remontam aos tempos de
outrora, aos dias mais antigos. Por isso Deus os abandonará até à altura em que
der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o
resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo
poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em
segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a
paz».”
Na
2ªleitura (Hebr 10,
5-10) há duas expressões que nos situam no essencial
das leituras de hoje: “Eis-me aqui”; “Faça-se a Tua vontade”. Só, na medida em
que nos deixarmos habitar por Jesus, aprenderemos d’Ele a entregarmo-nos assim
a Deus.
“Irmãos: Ao
entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas
formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado.
Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu
venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’». Primeiro disse: «Não quiseste
sacrifícios nem oblações, não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo
pecado». E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei. Depois acrescenta:
«Eis-Me aqui: Eu venho para fazer a tua vontade». Assim aboliu o primeiro culto
para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós fomos
santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para
sempre.”
No evangelho (Lc 1, 39-45) S.Lucas dá-nos conta da forma
como duas almas, totalmente entregues a Deus, se sentem em sintonia, se
reconhecem no amor de Deus e cantam as maravilhas do Senhor. Louvemos nós
também a Deus, pelas maravilhas que Ele operou em favor do Seu povo e continua
a operar em favor da humanidade de hoje, como um todo, e de cada um de nós
individualmente.
“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».”
Senhor, que o meu coração se abra sempre a Ti e deixe habitar por Ti. Vem,
vem Senhor Jesus.
Estimados
irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de
hoje, quarto Domingo do Advento, narra a visita de Maria a Isabel (cf. Lc 1, 39-45).
Tendo recebido o anúncio do anjo, a Virgem não fica em casa, a pensar no que
aconteceu e considerando os problemas e imprevistos, que certamente não
faltavam: porque, pobrezinha, não sabia o que fazer com aquela notícia, com a
cultura da época... não compreendia... Ao contrário, pensa antes de mais nos
necessitados; em vez de se concentrar nos seus problemas, pensa nos
necessitados, pensa em Isabel, sua prima, de idade avançada e estava grávida:
uma coisa estranha, milagrosa. Maria parte com generosidade, sem se deixar
intimidar pelos desconfortos da viagem, respondendo a um impulso interior que a
chama a estar perto e a ajudar. Uma longa estrada, quilómetros e quilómetros, e
não havia autocarro: teve que ir a pé. Ela sai para ajudar, partilhando a sua alegria.
Maria doa a Isabel a alegria de Jesus, a alegria que trazia no coração e no
seio. Vai ter com ela e proclama os seus sentimentos, e esta proclamação dos
sentimentos depois tornou- se uma oração, o Magnificat, que todos
nós conhecemos. E o texto diz que Nossa Senhora «se levantou e foi à pressa» (v. 39).
Levantou-se
e foi. No último trecho do caminho de Advento deixemo-nos guiar por estes dois
verbos. Levantar e caminhar depressa: são os dois movimentos que
Maria fez e que nos convida a fazer tendo em vista o Natal. Antes de
mais, levantar-se. Após o anúncio do anjo, para a Virgem inicia um
período difícil: a sua gravidez inesperada expunha-a a incompreensões e até a
severas penas, inclusive o apedrejamento, na cultura da época. Imaginemos
quantos pensamentos e turbamentos tinha! No entanto, não desanimou, não se
abateu, mas levantou-se. Não olhou para baixo, para os problemas,
mas para o alto, para Deus. E não pensou em pedir ajuda a alguém, mas a quem
levar ajuda. Pensou sempre nos outros: assim é Maria, sempre a pensar nas
necessidades dos outros. Fará o mesmo, depois, nas bodas de Caná, quando se dá
conta de que não há vinho. É um problema de outras pessoas, mas ela pensa nisto
e procura encontrar uma solução. Maria pensa sempre nos outros. Pensa também em
nós.
Aprendamos de Nossa Senhora
este modo de reagir: levantarmo-nos, sobretudo quando as
dificuldades ameaçam esmagar-nos. Levantarmo-nos, para não ficarmos reféns dos
problemas, afundando na autopiedade ou caindo numa tristeza que nos paralisa.
Mas porquê levantar-se? Porque Deus é grande e está pronto para nos reerguer se
lhe estendermos a mão. Portanto, lancemos n’Ele os pensamentos negativos, os
receios que bloqueiam cada impulso e que nos impedem de seguir em frente. E
depois façamos como Maria: olhemos para a nossa volta e procuremos alguém a
quem possamos ser úteis! Há algum idoso que eu conheço a quem posso oferecer
ajuda, companhia? Todos pensem nisto. Ou fazer um serviço para uma pessoa, uma
gentileza, um telefonema? Mas a quem posso dar ajuda? Levanto-me e ofereço
ajuda. Ao ajudarmos os outros, ajudamo-nos a nós mesmos a reerguermo-nos das
dificuldades.
O segundo movimento é caminhar
depressa. Não significa proceder com agitação, de forma afanada, não, não
significa isso. Trata-se, ao contrário, de conduzir os nossos dias com um ritmo
feliz, olhando em frente com confiança, sem nos arrastarmos, escravos de
lamentações – as queixas arruínam tantas vidas, pois começamos a queixar-nos, a
queixar-nos, e a vida desce a pique. Reclamar leva a estar sempre à procura de
alguém a quem culpar. Indo em direção da casa de Isabel, Maria prossegue com o
passo rápido de alguém cujo coração e vida estão cheios de Deus, cheios da sua
alegria. Então perguntemo-nos, para nosso benefício: como é o meu “passo”? Sou
proativo ou permaneço melancólico, na tristeza? Avanço com esperança ou fico
parado e sinto pena de mim mesmo? Se prosseguirmos com o passo cansado dos
resmungos e das tagarelices, não levaremos Deus a ninguém, levaremos apenas
amarguras, coisas obscuras. Ao contrário, é tão bom cultivar um humor saudável,
como faziam, por exemplo, São Tomás More ou São Filipe Néri. Podemos pedir
também esta graça, a graça do humor saudável: faz muito bem. Não esqueçamos que
o primeiro ato de caridade que podemos fazer ao próximo é oferecer-lhe um rosto
sereno e sorridente. É levar-lhe a alegria de Jesus, como fez Maria com Isabel.
Que a Mãe de Deus nos pegue
pela mão, nos ajude a levantarmo-nos e a caminhar
depressa rumo ao Natal!
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