Ano C - 2024
Advento passo a passo
16ºdia - 16/12/2024
Mateus 21,23-27
«Com que autoridade fazes tudo isto? Quem Te deu tal direito?»
Neste Natal, o
Menino Jesus deseja limpar o templo do nosso coração. O que encontrará Ele no
mais íntimo do nosso ser?
Nas leituras
de hoje, previne-nos de que aquilo que sai da boca provém do nosso coração.
Podemos enganar as pessoas sobre o que se passa no mais íntimo de nós próprios
seja a respeito delas ou em relação a outros irmãos, mas não a Deus, que tudo
vê dentro de nós. Como canta o salmista: “Senhor, vós me perscrutais e me
conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto”. Sl 138 (139). Por isso, o Senhor nos diz:
“O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração e o homem mau tira
coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está
cheio” (Lc 6,45).
Naquele tempo, Jesus foi ao templo e, enquanto ensinava, aproximaram-se
d’Ele os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, que Lhe perguntaram:
«Com que autoridade fazes tudo isto? Quem Te deu tal direito?» Jesus
respondeu-lhes: «Vou fazer-vos também uma pergunta e, se Me responderdes a ela,
dir-vos-ei com que autoridade faço isto. Donde era o batismo de João? Do Céu ou
dos homens?» Mas eles começaram a deliberar, dizendo entre si: «Se respondermos
que é do Céu, vai dizer-nos: ‘Porque não lhe destes crédito?’ E se respondermos
que é dos homens, ficamos com receio da multidão, pois todos consideram João
como profeta». E responderam a Jesus: «Não sabemos». Ele por sua vez
disse-lhes: «Então não vos digo com que autoridade faço isto».
A tua palavra, Senhor, quer rasgar caminhos e abrir
horizontes de plenitude e eternidade. Desejas que o meu coração seja livre, tão
livre como o Teu. Pretendes arrancar-me da minha condição terrena e tornar-me
divino. E eu, Senhor, só penso nas coisas imediatas e nem percebo que fico
pobre, cada vez mais pobre, mais terra à terra, rastejando cada vez mais. Não
me criaste para comer o pó da terra, como a serpente de Génesis, nem para ser
escravo que se deita no chão para o seu senhor passar. Criaste-me para ser
filho, herdeiro, cidadão de plenos direitos.
Abre, com toda a Tua força, o meu coração para que
saboreie a alegria da Boa Nova que Tu és para mim. Concede-me o dom da
sinceridade de coração.
(...)
«Na primeira leitura — realçou
imediatamente o Papa — ouvimos um trecho do livro dos Números» (24, 2-7.15-17)
sobre a «história de Balaão: era um profeta, mas era também um homem e tinha os
seus defeitos, assim como pecados». Porque, frisou Francisco, «todos temos
pecados, todos, todos somos pecadores». Mas «não vos assusteis – tranquilizou
Francisco — Deus é maior do que os nossos pecados».
«Balaão — explicou — foi
«alugado» por um certo Balaque, general e rei, que queria destruir o povo de
Deus. E convidou-o a profetizar contra o povo de Deus». Porém, «no caminho
Balaão encontra o anjo do Senhor e transforma o seu coração e vê a verdade». Mas
«não muda de partido: hoje sou deste partido político e depois passo para o
outro, não. Passa do erro para a verdade e diz o que vê».
«É bonito — acrescentou
Francisco — que o livro dos Números narre esta história: “Oráculo de Balaão,
oráculo do homem de olhar penetrante”». Com efeito, explicou, «quando ele muda
o coração, converte-se, tem o olhar penetrante e vê longe, vê a verdade, com o
coração aberto, com o coração — com boa vontade sempre se vê a verdade — e diz
a verdade».
E «é uma verdade que dá
esperança, porque ele está diante do deserto, está precisamente diante do
deserto, e vê a tribo de Israel: “Quão formosas tuas tendas, Jacob, tuas
moradas, Israel! Elas se estendem como vales, como jardins à beira do rio, como
aloés plantados pelo Senhor, como cedros junto das águas”». Portanto, «além do
deserto vê a fecundidade, a beleza, a vitória».
Mas «o que aconteceu no coração
de Balaão?». O facto, disse Francisco, é que «ele abriu o coração e o Senhor
lhe deu a virtude da esperança». E «a esperança é esta virtude cristã que nós
temos como um grande dom do Senhor e que nos faz olhar longe, além dos
problemas, das dores, das dificuldades, além dos nossos pecados». Faz-nos «ver
a beleza de Deus».
Por conseguinte, «esperança» é
a palavra-chave. E «quando me encontro com uma pessoa que tem esta virtude da
esperança e está a passar por um mau momento da sua vida — quer seja uma
doença, quer a preocupação por um filho ou uma filha ou alguém da família,
qualquer coisa — mas tem esta virtude, no meio da dor tem o olhar penetrante,
tem a liberdade de ver além, sempre além». E precisamente «esta é a esperança,
é a profecia que hoje a Igreja nos doa: deseja que sejamos mulheres e homens de
esperança, não obstante os problemas». Porque «a esperança abre horizontes, a
esperança é livre, não é escrava, encontra sempre o modo para resolver uma
situação».
No trecho do Evangelho de
Mateus (21, 23-27) proposto pela liturgia, prosseguiu, «vemos, ao contrário,
homens que não têm esta liberdade, não têm horizontes, homens fechados nos seus
cálculos». A ponto que os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo perguntam
ao Senhor: «Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade?». À
pergunta sucessiva de Jesus, antes de responder «não sabemos», fazem os seus
cálculos: «Mas se respondermos isto corremos este perigo, e se dissermos outra
coisa...». Contudo, frisou o Papa, «os cálculos humanos fecham o coração,
fecham a liberdade». É «a esperança» que «nos torna ligeiros». Eis que «esta
hipocrisia dos doutores da lei, que está no Evangelho e que fecha o coração,
nos torna escravos: eles eram escravos».
Por sua vez, «Balaão teve a
liberdade de dizer àquele que o tinha “alugado”: “eu vejo isto, se não
gostares, é um problema teu; mas digo-te o que vejo”». Ao contrário, «eles não
têm a liberdade, são escravos da própria rigidez» E «podemos dizer — afirmou
Francisco — que ambos, não tecnicamente, estão próximos da Igreja, são homens
de Igreja: Balaão, profeta; e aqueles, doutores da lei».
Como é bela a liberdade, a
magnanimidade, a esperança de um homem e de uma mulher de Igreja», garantiu o
Papa. E «ao contrário, como é feia e quanto faz mal a rigidez de uma mulher e
de um homem de Igreja: a rigidez clerical, que não tem esperança».
«Neste ano (...) —
disse o Pontífice — há estes dois caminhos». Por um lado, há «quem tem
esperança na misericórdia de Deus e sabe que Deus é Pai», que «Deus perdoa
sempre e tudo», e que «além do deserto existe o abraço do Pai, o perdão». Mas, por
outro, «há também aqueles que se refugiam na sua escravidão, na própria
rigidez, e não sabem nada da misericórdia de Deus». Aqueles sobre os quais fala
o Evangelho de Mateus «eram doutores, tinham estudado, mas a sua ciência não os
salvou».
«Gostaria de terminar — narrou
na conclusão — com uma anedota que aconteceu comigo, no ano de 1992. Chegara à
diocese a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Durante uma solene missa para os
doentes — mas grande, num campo enorme, com muita gente — eu fui ali confessar.
E ouvi confissões a partir de quase meio-dia até às seis, quando terminou a
missa. Havia muitos confessores».
Precisamente «no momento em que
me levantava para ir celebrar uma crisma noutro lugar — recordou — aproximou-se
uma idosa, de oitenta anos, com os olhos que viam além, com olhos cheios de
esperança». E eu disse-lhe: “Avó, a senhora vem para se confessar? Mas não tem
pecados!”». À resposta da senhora — «Padre, todos temos!» — Bergoglio
retorquiu: «Mas talvez o Senhor não os perdoe?». E a senhora, forte na sua
esperança: «Deus perdoa tudo, porque se Deus não perdoasse tudo, o mundo não
existiria!».
E assim «diante destas duas
pessoas» — o «livre» com a sua «esperança, aquele que te traz a misericórdia de
Deus; e «o fechado, o legalista, precisamente o egoísta, o escravo da própria
rigidez» — Francisco sugeriu que façamos nossa «a lição que esta idosa de
oitenta anos — era portuguesa — me deu: Deus perdoa tudo, espera só que te
aproximes».
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