domingo, 15 de dezembro de 2024

Ano C - 2024

Advento passo a passo 

16ºdia - 16/12/2024

Mateus 21,23-27

«Com que autoridade fazes tudo isto? Quem Te deu tal direito?» 

Neste Natal, o Menino Jesus deseja limpar o templo do nosso coração. O que encontrará Ele no mais íntimo do nosso ser? 

Nas leituras de hoje, previne-nos de que aquilo que sai da boca provém do nosso coração. Podemos enganar as pessoas sobre o que se passa no mais íntimo de nós próprios seja a respeito delas ou em relação a outros irmãos, mas não a Deus, que tudo vê dentro de nós. Como canta o salmista: “Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto”. Sl 138 (139). Por isso, o Senhor nos diz: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6,45)

Naquele tempo, Jesus foi ao templo e, enquanto ensinava, aproximaram-se d’Ele os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, que Lhe perguntaram: «Com que autoridade fazes tudo isto? Quem Te deu tal direito?» Jesus respondeu-lhes: «Vou fazer-vos também uma pergunta e, se Me responderdes a ela, dir-vos-ei com que autoridade faço isto. Donde era o batismo de João? Do Céu ou dos homens?» Mas eles começaram a deliberar, dizendo entre si: «Se respondermos que é do Céu, vai dizer-nos: ‘Porque não lhe destes crédito?’ E se respondermos que é dos homens, ficamos com receio da multidão, pois todos consideram João como profeta». E responderam a Jesus: «Não sabemos». Ele por sua vez disse-lhes: «Então não vos digo com que autoridade faço isto». 

A tua palavra, Senhor, quer rasgar caminhos e abrir horizontes de plenitude e eternidade. Desejas que o meu coração seja livre, tão livre como o Teu. Pretendes arrancar-me da minha condição terrena e tornar-me divino. E eu, Senhor, só penso nas coisas imediatas e nem percebo que fico pobre, cada vez mais pobre, mais terra à terra, rastejando cada vez mais. Não me criaste para comer o pó da terra, como a serpente de Génesis, nem para ser escravo que se deita no chão para o seu senhor passar. Criaste-me para ser filho, herdeiro, cidadão de plenos direitos. 

Abre, com toda a Tua força, o meu coração para que saboreie a alegria da Boa Nova que Tu és para mim. Concede-me o dom da sinceridade de coração.

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(...)

«Na primeira leitura — realçou imediatamente o Papa — ouvimos um trecho do livro dos Números» (24, 2-7.15-17) sobre a «história de Balaão: era um profeta, mas era também um homem e tinha os seus defeitos, assim como pecados». Porque, frisou Francisco, «todos temos pecados, todos, todos somos pecadores». Mas «não vos assusteis – tranquilizou Francisco — Deus é maior do que os nossos pecados».

«Balaão — explicou — foi «alugado» por um certo Balaque, general e rei, que queria destruir o povo de Deus. E convidou-o a profetizar contra o povo de Deus». Porém, «no caminho Balaão encontra o anjo do Senhor e transforma o seu coração e vê a verdade». Mas «não muda de partido: hoje sou deste partido político e depois passo para o outro, não. Passa do erro para a verdade e diz o que vê».

«É bonito — acrescentou Francisco — que o livro dos Números narre esta história: “Oráculo de Balaão, oráculo do homem de olhar penetrante”». Com efeito, explicou, «quando ele muda o coração, converte-se, tem o olhar penetrante e vê longe, vê a verdade, com o coração aberto, com o coração — com boa vontade sempre se vê a verdade — e diz a verdade».

E «é uma verdade que dá esperança, porque ele está diante do deserto, está precisamente diante do deserto, e vê a tribo de Israel: “Quão formosas tuas tendas, Jacob, tuas moradas, Israel! Elas se estendem como vales, como jardins à beira do rio, como aloés plantados pelo Senhor, como cedros junto das águas”». Portanto, «além do deserto vê a fecundidade, a beleza, a vitória».

Mas «o que aconteceu no coração de Balaão?». O facto, disse Francisco, é que «ele abriu o coração e o Senhor lhe deu a virtude da esperança». E «a esperança é esta virtude cristã que nós temos como um grande dom do Senhor e que nos faz olhar longe, além dos problemas, das dores, das dificuldades, além dos nossos pecados». Faz-nos «ver a beleza de Deus».

Por conseguinte, «esperança» é a palavra-chave. E «quando me encontro com uma pessoa que tem esta virtude da esperança e está a passar por um mau momento da sua vida — quer seja uma doença, quer a preocupação por um filho ou uma filha ou alguém da família, qualquer coisa — mas tem esta virtude, no meio da dor tem o olhar penetrante, tem a liberdade de ver além, sempre além». E precisamente «esta é a esperança, é a profecia que hoje a Igreja nos doa: deseja que sejamos mulheres e homens de esperança, não obstante os problemas». Porque «a esperança abre horizontes, a esperança é livre, não é escrava, encontra sempre o modo para resolver uma situação».

No trecho do Evangelho de Mateus (21, 23-27) proposto pela liturgia, prosseguiu, «vemos, ao contrário, homens que não têm esta liberdade, não têm horizontes, homens fechados nos seus cálculos». A ponto que os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo perguntam ao Senhor: «Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade?». À pergunta sucessiva de Jesus, antes de responder «não sabemos», fazem os seus cálculos: «Mas se respondermos isto corremos este perigo, e se dissermos outra coisa...». Contudo, frisou o Papa, «os cálculos humanos fecham o coração, fecham a liberdade». É «a esperança» que «nos torna ligeiros». Eis que «esta hipocrisia dos doutores da lei, que está no Evangelho e que fecha o coração, nos torna escravos: eles eram escravos».

Por sua vez, «Balaão teve a liberdade de dizer àquele que o tinha “alugado”: “eu vejo isto, se não gostares, é um problema teu; mas digo-te o que vejo”». Ao contrário, «eles não têm a liberdade, são escravos da própria rigidez» E «podemos dizer — afirmou Francisco — que ambos, não tecnicamente, estão próximos da Igreja, são homens de Igreja: Balaão, profeta; e aqueles, doutores da lei».

Como é bela a liberdade, a magnanimidade, a esperança de um homem e de uma mulher de Igreja», garantiu o Papa. E «ao contrário, como é feia e quanto faz mal a rigidez de uma mulher e de um homem de Igreja: a rigidez clerical, que não tem esperança».

«Neste ano (...) — disse o Pontífice — há estes dois caminhos». Por um lado, há «quem tem esperança na misericórdia de Deus e sabe que Deus é Pai», que «Deus perdoa sempre e tudo», e que «além do deserto existe o abraço do Pai, o perdão». Mas, por outro, «há também aqueles que se refugiam na sua escravidão, na própria rigidez, e não sabem nada da misericórdia de Deus». Aqueles sobre os quais fala o Evangelho de Mateus «eram doutores, tinham estudado, mas a sua ciência não os salvou».

«Gostaria de terminar — narrou na conclusão — com uma anedota que aconteceu comigo, no ano de 1992. Chegara à diocese a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Durante uma solene missa para os doentes — mas grande, num campo enorme, com muita gente — eu fui ali confessar. E ouvi confissões a partir de quase meio-dia até às seis, quando terminou a missa. Havia muitos confessores».

Precisamente «no momento em que me levantava para ir celebrar uma crisma noutro lugar — recordou — aproximou-se uma idosa, de oitenta anos, com os olhos que viam além, com olhos cheios de esperança». E eu disse-lhe: “Avó, a senhora vem para se confessar? Mas não tem pecados!”». À resposta da senhora — «Padre, todos temos!» — Bergoglio retorquiu: «Mas talvez o Senhor não os perdoe?». E a senhora, forte na sua esperança: «Deus perdoa tudo, porque se Deus não perdoasse tudo, o mundo não existiria!».

E assim «diante destas duas pessoas» — o «livre» com a sua «esperança, aquele que te traz a misericórdia de Deus; e «o fechado, o legalista, precisamente o egoísta, o escravo da própria rigidez» — Francisco sugeriu que façamos nossa «a lição que esta idosa de oitenta anos — era portuguesa — me deu: Deus perdoa tudo, espera só que te aproximes».

Papa Francisco
(Meditações na Santa Missa celebrada na Capela de Santa Marta, 14 de dezembro de 2015)

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