terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Ano C - 01/01/2025 

SOLENIDADE DE SANTA MARIA MÃE DE DEUS

A Liturgia de hoje comemora várias realidades:

celebra-se a solenidade da MÃE DE DEUS "Theotokos" - título atribuído no Concílio de Éfeso, em 431, que sublinha a natureza humana e divina de Cristo. A Virgem Maria é mãe de Deus feito homem;

celebra-se o DIA MUNDIAL DA PAZ - Em 1968, o papa Paulo VI quis que, neste dia, os cristãos rezassem pela paz;

celebra-se o PRIMEIRO DIA DO ANO CIVIL - é o início de uma caminhada que desejamos percorrer com a Bênção de Deus.

Na 1ªleitura (Num 6, 22-27) o autor sagrado sublinha a presença contínua de Deus na nossa caminhada. Trata-se de uma linda oração de Bênção do Antigo Testamento em que pedimos a proteção de Deus, para hoje, primeiro dia do ano, mas também para todos os outros dias do ano. 

“O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».” 

Na 2ªleitura (Gl 4,4-7) S.Paulo afirma que Cristo vem ao mundo, nascido de uma Mulher, mas sendo “Filho de Deus”, Ele é o Único que pode, por direito de nascimento, chamar a Deus "Abá" (paizinho). A Sua missão é libertar os homens do jugo da Lei e de os tornar, n’Ele, "filhos" adotivos do Pai. Por isso, Maria é chamada verdadeiramente "Mãe de Deus", como o celebramos na festa de hoje. 

“Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.” 

No evangelho (Lc 2,16-21), em que Maria nos parece plenamente feliz, recebendo a visita dos pastores, S.Lucas apresenta Jesus como o Libertador, que veio ao mundo com uma mensagem de salvação para todos, especialmente para os pobres e marginalizados.

“Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.

A exemplo de MARIA, Mãe de Deus e Rainha da Paz, que eu aprenda a SEMEAR PAZ, ao redor de mim.

Estimados irmãos e irmãs, feliz Ano Novo!

Neste dia, em que celebramos Maria Santíssima Mãe de Deus, coloquemos sob o seu olhar atento o novo tempo que nos é dado. Que Ela nos ampare neste ano!

Hoje, o Evangelho revela-nos que a grandeza de Maria não consiste em realizar alguma ação extraordinária; pelo contrário, enquanto os pastores, tendo recebido o anúncio dos anjos, se apressam em direção a Belém (cf. Lc 2, 15-16), Ela permanece em silêncio. O silêncio da Mãe é uma caraterística bela. Não é uma simples ausência de palavras, mas um silêncio cheio de admiração e adoração pelas maravilhas que Deus está a realizar. «Maria - observa São Lucas - guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração» (2, 19). Deste modo, ela abre espaço dentro de si para Aquele que nasceu; no silêncio e na adoração, coloca Jesus no centro e testemunha-O como Salvador. Maria, a Mãe do silêncio; Maria, a Mãe da adoração.

Assim, é Mãe não só porque carregou Jesus no seu seio e o deu à luz, mas porque o traz à luz, sem ocupar o seu lugar. Ela permanecerá em silêncio também sob a cruz, na hora mais escura, e continuará a dar-lhe lugar e a gerá-lo para nós. Um religioso e poeta do século XX escreveu: «Virgem, catedral do silêncio / [...] fazes entrar a nossa carne no paraíso / e Deus na carne» (D.M. TUROLDO, Laudario alla Vergine. «Via pulchritudinis», Bolonha 1980, 35). Catedral do silêncio: é uma bela imagem. Com o seu silêncio e a sua humildade, Maria é a primeira “catedral” de Deus, o lugar onde Ele e o homem se podem encontrar.

Mas também as nossas mães, com o seu cuidado escondido, com o seu carinho, são muitas vezes magníficas catedrais de silêncio. Elas trazem-nos ao mundo e depois continuam a seguir-nos, muitas vezes inobservadas, para podermos crescer. Lembremo-nos disto: o amor nunca sufoca, o amor abre espaço ao outro. O amor faz-nos crescer.

Irmãos e irmãs, no início do novo ano, olhemos para Maria e, com o coração grato, pensemos e olhemos também para as mães, para aprender aquele amor que se cultiva sobretudo no silêncio, que sabe dar espaço ao outro, respeitando a sua dignidade, deixando a liberdade de se exprimir, rejeitando todas as formas de posse, de opressão e de violência. Há tanta necessidade disto hoje, tanta! Tanta necessidade de silêncio para nos ouvirmos uns aos outros. Como recorda a Mensagem para o Dia Mundial da Paz de hoje: «A liberdade e a convivência pacífica são ameaçadas quando os seres humanos cedem à tentação do egoísmo, do interesse próprio, da ânsia de lucro e da sede de poder». O amor, ao contrário, é feito de respeito e gentileza: assim, derruba barreiras e ajuda a viver relações fraternas, a construir sociedades mais justas, mais humanas e mais pacíficas.

Rezemos hoje à Santa Mãe de Deus e nossa Mãe, para que no novo ano possamos crescer neste amor suave, silencioso e discreto que gera vida, e abrir caminhos de paz e reconciliação no mundo.

Papa Francisco
(Angelus, 1 de janeiro de 2024)

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