FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
JESUS, MARIA E JOSÉ
Ainda estamos em plena época natalícia, apesar de já se pensar quase só nos festejos do final/entrada do ano, o certo é que, nesta altura, de uma maneira geral, se procuram mais os valores da família. Talvez,
também por isso, a Igreja, neste domingo, celebra a Festa da Sagrada Família. É
uma ajuda preciosa, para nos centrarmos nos valores essenciais da família
cristã, podermos “escutar”, “mergulhar”, um pouco, na vivência da “Família de
Nazaré”, no seio da qual Jesus ia crescendo.
Na
1ªleitura (Sir 3, 3-7.14-17 a (gr. 2-6.12-14)) o profeta vai-nos fazendo
perceber, através do cumprimento da Lei, que tal como Deus nos ama, também, em família,
somos chamados a amar os pais e estes os seus filhos. No fundo, se tudo for
como deve ser, trata-se de uma relação de amor vivencial entre todos os
elementos da família, cada um na sua função. Somos desafiados a apontar, na
vida familiar, para a medida alta do Amor de Deus por cada um de nós seus
filhos, no Filho. A meta é esta: amar os outros perdidamente, infinitamente, em
Jesus. É assim o amor de Deus por cada um de nós, logo é também assim que somos
chamados a viver em família.
“Deus quis
honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra
seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe.
Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua
oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto
de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua
vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes,
tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca
será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.”
Na 2ªleitura (Col 3, 12-21) S.Paulo também recorre à Lei
do Amor de Deus, para enumerar uma série de conselhos que devemos seguir nas
relações familiares.
“Irmãos: Como
eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de
misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos
outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro.
Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo,
revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações
a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em
ação de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos
instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos,
hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão.
E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor
Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos
maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as
trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto
agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em
desânimo.”
No evangelho (Lc 2, 41-52) Jesus estende, tudo o que escutámos
nas leituras anteriores, para lá da família mais restrita, de forma a
relacionarmo-nos com todos aqueles com quem vivemos, convivemos, nos cruzamos,
ou coexistimos, na mesma dimensão total e infinita do amor cristão: amar o
próximo como Deus nos amou. A casa do Pai vai para além da família nuclear, ou
alargada, do templo, do bairro, da cidade, do país, abrange todos. Deus ama a
todos infinitamente e quer que todos saibam disto, quer chegar a ti, a mim, a
toda a humanidade. Abramos o nosso coração de par em par, deixemo-nos amar por
Deus.
“Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela
festa da Páscoa. Quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume
nessa festa. Quando eles regressavam, passados os dias festivos, o Menino Jesus
ficou em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Julgando que Ele vinha na
caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-l’O entre os parentes
e conhecidos. Não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Passados
três dias, encontraram-n’O no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los
e a fazer-lhes perguntas. Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com
a sua inteligência e as suas respostas. Quando viram Jesus, seus pais ficaram
admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu
pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me
procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não
entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para
Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu
coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de
Deus e dos homens.”
Senhor, ensina-me a amar, ama em mim aqueles que pões no meu caminho.
Prezados
irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje celebramos a Sagrada
Família de Nazaré. Deus escolheu uma família humilde e simples para vir entre
nós. Contemplemos a beleza deste mistério, ressaltando também dois aspetos
concretos para as nossas famílias.
O primeiro: a família é
a história da qual provimos. Cada um de nós tem a própria história, ninguém
nasceu por magia, com a varinha mágica; cada um de nós tem uma história e a
família é a história de onde provimos. O Evangelho da liturgia de hoje
recorda-nos que também Jesus é filho de uma história familiar. Vemo-lo ir a
Jerusalém com Maria e José para a Páscoa; depois, faz preocupar a mãe e o pai,
que não o encontram; quando o encontram, volta para casa com eles (cf. Lc 2, 41-52).
É bonito ver Jesus inserido nas vicissitudes dos afetos familiares, que nasce e
cresce no abraço e nas preocupações dos seus. Isto é importante também para
nós: provimos de uma história tecida com vínculos de amor e a pessoa que hoje
somos não nasce tanto dos bens materiais que desfrutamos, quanto do amor que
recebemos, do amor no seio da família. Talvez não nasçamos numa família
extraordinária e sem problemas, mas é a nossa história – cada um deve pensar: é
a minha história - são as nossas raízes: se as cortarmos, a vida torna-se
árida! Deus não nos criou para sermos líderes solitários, mas para caminharmos
juntos. Agradeçamos-lhe e rezemos pelas nossas famílias. Deus pensa em nós e
quer que estejamos juntos: gratos, unidos, capazes de preservar as raízes. E
devemos pensar sobre isto, sobre a nossa história.
O segundo aspeto: aprende-se
a ser família todos os dias. No Evangelho vemos que até na Sagrada Família
nem tudo corre bem: há problemas inesperados, angústias, sofrimentos. Não
existe a Sagrada Família dos santinhos. Maria e José perdem Jesus, procuram-no
ansiosamente, e encontram-no depois de três dias. E quando, sentado entre os
mestres no Templo, responde que deve cuidar das coisas do seu Pai, não o
compreendem. Precisam de tempo para aprender a conhecer o seu filho. Assim
também para nós: todos os dias, em família, é preciso aprender a ouvir-se e a
compreender-se, a caminhar juntos, a enfrentar conflitos e dificuldades. É o
desafio diário, que se vence com a atitude certa, com pequenas atenções, com
gestos simples, cuidando dos detalhes das nossas relações. E também isto nos
ajuda muito a falar em família, falar à mesa, o diálogo entre os pais e os
filhos, o diálogo entre os irmãos ajuda-nos a viver esta raiz familiar que vem
dos avós. O diálogo com os avós!
E como se faz isto? Olhemos
para Maria, que no Evangelho de hoje diz a Jesus: «O teu pai e eu estávamos à
tua procura» (v. 48).
O teu pai e eu, não diz eu e
o teu pai: antes do eu, há o tu! Aprendamos isto: antes do eu
há o tu. Na minha língua há um adjetivo para as pessoas que primeiro dizem eu e
depois tu: “eu, mim, comigo, para mim e em meu benefício”. Para certas pessoas
é assim, primeiro eu, depois tu. Não, na Sagrada Família, primeiro o tu e
depois o eu. Para preservar a harmonia na família, devemos combater a
ditadura do eu, quando o eu se incha. É perigoso quando, em vez de nos
ouvirmos, culpamo-nos uns aos outros pelos erros; quando, em vez de termos
gestos de cuidado pelos outros, nos fixamos nas nossas necessidades; quando, em
vez de dialogar, nos isolamos com o telemóvel - é triste ver uma família
almoçar, cada qual com o seu telemóvel, sem falarem uns com os outros, cada um
a falar com o seu telemóvel; quando nos acusamos uns aos outros, repetindo
sempre as mesmas frases, encenando uma comédia que já vimos, onde cada um quer
ter razão e, no final, instaura-se um silêncio frio. Aquele silêncio frio e
agudo, depois de uma discussão familiar, que é terrível, deveras terrível!
Repito um conselho: à noite, no final de tudo, é bom fazer as pazes, sempre.
Nunca ir dormir sem ter feito as pazes, caso contrário no dia seguinte haverá
uma “guerra fria”! E isto é perigoso, porque começará uma história de
repreensões, uma história de ressentimentos. Quantas vezes, infelizmente,
dentro de casa nascem e crescem conflitos de silêncios demasiado longos e de
egoísmos descuidados! Às vezes chega-se até a violências físicas e morais. Isto
dilacera a harmonia e mata a família. Passemos do eu para o tu. O que deve ser
mais importante na família, é o tu. E todos os dias, por favor, rezai um pouco
juntos, se puderdes fazer o esforço, para pedir a Deus o dom da paz na família.
E comprometamo-nos todos - pais, filhos, Igreja, sociedade civil - a apoiar,
defender e preservar a família, que é o nosso tesouro!
Que a Virgem Maria, esposa de
José e mãe de Jesus, ampare as nossas famílias.
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