QUARESMA PASSO A PASSO
2024 - Ano B
6º Dia – Terça-feira da semana I – 20/02/2024
Evangelho Mt 25, 31-46
«Quando orardes, não digais muitas palavras»;
«O vosso Pai bem sabe do que precisais, antes de vós Lho pedirdes.»;
«Orai assim: 'Pai nosso, que estais nos Céus, santificado seja o vosso nome';...»
Jesus fala aos discípulos sobre a oração. Jesus coloca-se diante do Pai com plena confiança e em atitude de acolhimento dos sentimentos e da vontade do Pai. Esta oração é um escutar o coração de Deus e não um desfiar de palavras apaziguadoras da ira da divindade como faziam os pagãos. Jesus, é muito claro, quer nas palavras quer na sua atitude diante de Deus.
"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Quando orardes, não digais muitas palavras, como os pagãos, porque pensam que
serão atendidos por falarem muito. Não sejais como eles, porque o vosso Pai bem
sabe do que precisais, antes de vós Lho pedirdes. Orai assim: ‘Pai nosso, que
estais nos Céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja
feita a vossa vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos
dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos
tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal’.
Porque se perdoardes aos homens as suas faltas, também o vosso Pai celeste vos
perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não vos perdoará
as vossas faltas»."
A minha oração é muitas vezes uma oração
pagã. Começo por pensar que Deus não me ajuda e permite que me aconteçam
desgraças, e depois coloco-me diante dele numa atitude pagã de desfiar palavras para que Ele me escute e atenda. Falta-me esta atitude de confiança e de
escuta. Preciso de aprender com Jesus a escolher as palavras fundamentais que
revelem o meu coração a Deus e me revelem o coração de Deus. Preciso de
aprender o silêncio que permite que Deus venha a mim e me ensine os seus
sentimentos de confiança e de perdão.
Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ámen.
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Os Evangelhos transmitiram-nos alguns retratos muito vivos de Jesus
como homem de oração: Jesus rezava. Não obstante a urgência da
missão e a premência de tantas pessoas que o reivindicavam, Jesus sentia a
necessidade de se afastar na solidão e de orar. O Evangelho de Marcos narra-nos
este pormenor desde a primeira página do ministério público de Jesus (cf. 1, 35). O dia inaugural de Jesus em Cafarnaum concluiu-se de modo triunfal. Ao
anoitecer, uma multidão de doentes chegou à porta onde Jesus estava: o Messias
prega e cura. Realizam-se as antigas profecias e as expetativas de muitos
sofredores: Jesus é o Deus próximo, o Deus que nos liberta. Mas aquela multidão
ainda é pequena se for comparada a muitas outras multidões que se reunirão em
volta do profeta de Nazaré; em certos momentos trata-se de assembleias
oceânicas, e Jesus permanece no centro de tudo, o esperado pelo povo, o êxito
da esperança de Israel.
E no entanto ele afastava-se; não permanecia refém das expetativas de quem
o elegeu líder. Este é um perigo para os líderes: apegar-se
demasiado às pessoas, não manter as distâncias. Jesus dá-se conta disto e não
permanece refém do povo. Desde a primeira noite de Cafarnaum demonstra que é um
Messias original. Na última parte da madrugada, quando já se anunciava a
aurora, os discípulos procuravam-no mas não conseguiam encontrá-lo. Onde está?
Até que Pedro finalmente o encontra num lugar isolado, completamente absorto em
oração. E diz-lhe: «Todos te procuram!» (Mc 1,
37). A exclamação parece ser a cláusula
ligada a um sucesso plebiscitário, a prova do bom êxito de uma missão.
Mas Jesus diz aos seus discípulos que deve ir para outro lugar; que não é o
povo que o procura mas, antes de tudo, é Ele que procura os outros. Por isso
não pode ganhar raízes, mas permanece continuamente peregrino pelas estradas da
Galileia (vv. 38-39). E peregrino também rumo ao Pai, isto é:
rezando. A caminho em oração. Jesus reza. E tudo acontece numa noite de oração.
Nalgumas páginas da Escritura parece que principalmente é a oração de
Jesus, a sua intimidade com o Pai, que governa tudo. Por exemplo, será assim
sobretudo na noite do Getsémani. O último trecho do caminho de Jesus
(absolutamente o mais difícil entre os que tinha percorrido) parece encontrar o
seu sentido na escuta contínua que Jesus oferece ao Pai. Uma oração certamente
não fácil, aliás, uma verdadeira “agonia”, no sentido agonístico dos atletas, e
no entanto uma prece capaz de apoiar o caminho da cruz.
Eis o ponto essencial: ali Jesus rezava.
Jesus orava com intensidade nos momentos públicos, partilhando a liturgia
do seu povo, mas procurava também lugares afastados, separados do turbilhão do
mundo, lugares que permitissem entrar no segredo da sua alma: é o profeta que
conhece as pedras do deserto e sobe aos cimos dos montes. As últimas palavras
de Jesus, antes de expirar na cruz, foram palavras dos salmos, isto é da
oração, da prece dos judeus: rezava com as orações que a mãe lhe ensinara.
Jesus orava como todos os homens do mundo. E no entanto, no seu modo de
rezar, havia também um mistério, algo que certamente não escapava aos olhos dos
seus discípulos, se nos Evangelhos encontramos aquela súplica tão simples e
imediata: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11, 1). Eles viam
Jesus rezar e tinham vontade de aprender a orar: “Senhor, ensina-nos a rezar”.
E Jesus não se recusou, não era ciumento da sua intimidade com o Pai, pois veio
precisamente para nos introduzir nesta relação com o Pai. E assim torna-se
mestre de oração dos seus discípulos, como certamente quer sê-lo para todos
nós. Também nós devemos dizer: “Senhor, ensina-me a rezar. Ensina-me”.
Mesmo se rezamos há muitos anos, devemos aprender sempre! A oração do
homem, este anseio que nasce de maneira tão natural da nossa alma, talvez seja
um dos mistérios mais impenetráveis do universo. E não sabemos sequer se as
preces que dirigimos a Deus são efetivamente aquelas que Ele quer que lhe
dirijamos. A Bíblia dá-nos inclusive testemunho de orações inoportunas, que no
fim são recusadas por Deus: é suficiente recordar a parábola do fariseu e do
publicano. Somente este último, o publicano, volta justificado do templo para
casa, porque o fariseu era orgulhoso e gostava que as pessoas o vissem rezar e
fingia que orava: o coração era frio. E Jesus disse: este não é justificado
«porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Lc 18, 14). O primeiro passo para rezar é ser
humilde, ir ter com o Pai e dizer: “Olha para mim, sou pecador, débil,
malvado”, cada um sabe o que dizer. Mas começa-se sempre com a humildade, e o
Senhor ouve. A prece humilde é ouvida pelo Senhor.
Papa Francisco
in Audiência Geral, 5 dezembro de 2018
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