sábado, 3 de fevereiro de 2024

V DOMINGO DO TEMPO COMUM

As leituras de hoje centram-nos na vida e focam, especialmente, um dos seus mistérios mais difíceis de entender: o sofrimento. Como é costume dizer-se, não é por acreditarmos em Deus que Ele nos tira o sofrimento, mas n’Ele assume outro significado. Sabemos que Ele está sempre connosco e, quando é possível, torna-se ainda mais presente nos momentos difíceis e duros da vida. Nestes tempos, em que a doença e a morte se tornaram um drama, uma tragédia, devido às guerras que assolam o mundo, os textos de hoje são uma ajuda preciosa para nos encontrarmos com o Senhor, Amor sem fim por cada um de nós e por toda a humanidade. Com Jesus aprendemos que o Amor de Deus nunca, mas nunca mesmo, nos abandona. É como diz no texto “Pegadas na Areia”, quando mais precisamos, Deus pega-nos ao colo e leva-nos aconchegados junto ao Seu peito, qual mãe que nos alivia o sofrimento e connosco caminha. Entreguemo-nos a Ele, deixemo-nos amar por Ele sempre, em todas as situações.

Na 1ªleitura (Job 7, 1-4.6-7) Job, sem nunca perder a sua confiança em Deus questiona-O sobre a desgraça, o sofrimento de que é alvo. E é do diálogo, mais suave, ou mais violento, mas sempre bem aceso e dinâmico, apresentado ao longo do livro de Job, que percebemos o quão profunda e inabalável pode ser a fé em Deus, mesmo quando tudo parece perdido. Isto, sim, é ter fé!

Job tomou a palavra, dizendo: «Não vive o homem sobre a terra como um soldado? Não são os seus dias como os de um mercenário? Como o escravo que suspira pela sombra e o trabalhador que espera pelo seu salário, assim eu recebi em herança meses de desilusão e couberam-me em sorte noites de amargura. Se me deito, digo: ‘Quando é que me levanto?’. Se me levanto: ‘Quando chegará a noite?’; e agito-me angustiado até ao crepúsculo. Os meus dias passam mais velozes que uma lançadeira de tear e desvanecem-se sem esperança. – Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade».”

Na 2ªleitura (1 Cor 9, 16-19.22-23) somos confrontados com a atitude de fé de S.Paulo, com o seu testemunho. Ao mesmo tempo sentimo-nos interpelados a ser, também nós, hoje, testemunhas do Amor de Deus, em todo e qualquer momento, ou situação das nossas vidas.

“Irmãos: Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa, teria direito a recompensa. Mas, como não o faço por minha iniciativa, desempenho apenas um cargo que me está confiado. Em que consiste, então, a minha recompensa? Em anunciar gratuitamente o Evangelho, sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere. Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível. Com os fracos tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens.”

No Evangelho (Mc 1, 29-39) Jesus vai ao encontro dos que sofrem, dos que andam tristes, angustiados, desesperados, dos que se sentem subjugados por tantos problemas provocados por todas estas guerras e, ao mesmo tempo, se abeiram dele e pedem que os salve, que os cure, que os ajude. Não deixa ninguém sozinho, vai procurá-los em todos os lugares, sejam mais próximo, ou mais longínquos. A todos os que O procuram pega na mão e levanto-os. Falemos com Jesus, demos-Lhe conta de tudo o que passa connosco, das nossas angústias, dores, preocupações, alegrias,… e deixemos que nos tome pela mão e nos levante, como fez com a sogra de Pedro.

Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.

Senhor eu creio em Ti, mas aumenta a minha fé.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

De novo na praça! O Evangelho de hoje (cf. Mc 1, 29-39) apresenta a cura, por parte de Jesus, da sogra de Pedro e depois de muitos outros doentes e de pessoas que sofrem, que o rodeiam. A da sogra de Pedro é a primeira cura de ordem física narrada por Marcos: a mulher estava de cama com febre; a atitude e o gesto de Jesus em relação a ela são emblemáticos: «Aproximando-se dela, tomou-a pela mão e levantou-a» (v. 31), observa o Evangelista. Há muita docilidade neste gesto simples, que parece quase natural: «A febre deixou-a e ela pôs-se a servi-los» (ibidem). O poder curativo de Jesus não encontra resistência alguma; e a pessoa curada retoma a sua vida normal, pensando imediatamente nos outros e não em si mesma - e isto é significativo, é sinal de verdadeira “saúde”!

Aquele dia era um sábado. O povo da aldeia espera o pôr do sol e, depois de cumprir a obrigação do descanso, sai e traz a Jesus todos os doentes e os endemoninhados. E Ele cura-os, mas proíbe que os demónios revelem que Ele é Cristo (cf. vv. 32-34). Portanto, desde o início Jesus mostra a sua predileção pelas pessoas que sofrem no corpo e no espírito: é uma predileção de Jesus, aproximar-se das pessoas que sofrem tanto no corpo como no espírito. É a predileção do Pai, que Ele encarna e manifesta com obras e palavras. Os seus discípulos foram testemunhas oculares disto, viram-no e depois testemunharam-no. Mas Jesus não queria que eles fossem meros espectadores da sua missão: envolveu-os, enviou-os, deu-lhes também o poder de curar os doentes e expulsar os demónios (cf. Mt 10, 1; Mc 6, 7). E isto continuou sem interrupção na vida da Igreja, até hoje. E isto é importante. Para a Igreja, cuidar dos doentes de todos os tipos não é uma “atividade opcional”, não! Não é algo acessório, não! Cuidar dos doentes de todos os tipos é parte integrante da missão da Igreja, tal como o era da missão de Jesus. E esta missão consiste em levar a ternura de Deus à humanidade que sofre. Isto ser-nos-á recordado daqui a poucos dias, a 11 de fevereiro, pelo Dia Mundial do Doente.

A realidade que vivemos no mundo inteiro por causa da pandemia torna particularmente atual esta mensagem, esta missão essencial da Igreja. A voz de Job, que ressoa na Liturgia de hoje, volta a ser a intérprete da nossa condição humana, tão elevada em dignidade - a nossa condição humana, altíssima em dignidade - e, ao mesmo tempo, tão frágil! Diante desta realidade, brota sempre no coração a interrogação: “porquê?”.

E a esta pergunta Jesus, Verbo Encarnado, responde não com uma explicação - a isto, porque somos tão elevados na dignidade e tão frágeis na condição, Jesus não responde com uma explicação - mas com uma presença de amor que se inclina, que toma pela mão e levanta, como fez com a sogra de Pedro (cf. Mc 1, 31). Inclinar-se para levantar o outro. Não esqueçamos que o único modo lícito de olhar para uma pessoa de cima para baixo é quando estendemos a mão para a ajudar a levantar-se. O único! E foi esta a missão que Jesus confiou à Igreja. O Filho de Deus manifesta o seu Senhorio não “de cima para baixo”, não à distância, mas debruçando-se, estendendo a mão; manifesta o seu Senhorio na proximidade, na ternura e na compaixão. Proximidade, ternura e compaixão são o estilo de Deus. Deus faz-se próximo, e fá-lo com ternura e compaixão. Quantas vezes lemos no Evangelho, diante de um problema de saúde ou de qualquer problema: “Teve compaixão”. A compaixão de Jesus, a proximidade de Deus em Jesus é o estilo de Deus. O Evangelho de hoje recorda-nos também que esta compaixão mergulha as raízes na relação íntima com o Pai. Porquê? Antes da aurora e depois do pôr do sol, Jesus afastava-se e ficava a sós para rezar (cf. v. 35). Disto hauria forças para cumprir o seu ministério, pregando e curando.

Que a Santa Virgem nos ajude a deixar-nos curar por Jesus - todos nós precisamos sempre disto - para que, por nossa vez, possamos ser testemunhas da ternura curativa de Deus!

Papa Francisco
Angelus, 7 de fevereiro de 2021

Sem comentários:

Enviar um comentário