As leituras
de hoje centram-nos na vida e focam, especialmente, um dos seus mistérios mais
difíceis de entender: o sofrimento. Como é costume dizer-se, não é por
acreditarmos em Deus que Ele nos tira o sofrimento, mas n’Ele assume outro
significado. Sabemos que Ele está sempre connosco e, quando é possível, torna-se
ainda mais presente nos momentos difíceis e duros da vida. Nestes tempos, em
que a doença e a morte se tornaram um drama, uma tragédia, devido às guerras que
assolam o mundo, os textos de hoje são uma ajuda preciosa para nos encontrarmos
com o Senhor, Amor sem fim por cada um de nós e por toda a humanidade. Com
Jesus aprendemos que o Amor de Deus nunca, mas nunca mesmo, nos abandona. É
como diz no texto “Pegadas na Areia”, quando mais precisamos, Deus pega-nos ao
colo e leva-nos aconchegados junto ao Seu peito, qual mãe que nos alivia o
sofrimento e connosco caminha. Entreguemo-nos a Ele, deixemo-nos amar por Ele
sempre, em todas as situações.
Na 1ªleitura (Job 7, 1-4.6-7) Job,
sem nunca perder a sua confiança em Deus questiona-O sobre a desgraça, o
sofrimento de que é alvo. E é do diálogo, mais suave, ou mais violento, mas
sempre bem aceso e dinâmico, apresentado ao longo do livro de Job, que
percebemos o quão profunda e inabalável pode ser a fé em Deus, mesmo quando tudo
parece perdido. Isto, sim, é ter fé!
“Job tomou a palavra, dizendo: «Não vive o homem sobre a terra como um soldado? Não são os seus dias como os de um mercenário? Como o escravo que suspira pela sombra e o trabalhador que espera pelo seu salário, assim eu recebi em herança meses de desilusão e couberam-me em sorte noites de amargura. Se me deito, digo: ‘Quando é que me levanto?’. Se me levanto: ‘Quando chegará a noite?’; e agito-me angustiado até ao crepúsculo. Os meus dias passam mais velozes que uma lançadeira de tear e desvanecem-se sem esperança. – Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade».”
Na 2ªleitura (1 Cor 9, 16-19.22-23) somos confrontados com a
atitude de fé de S.Paulo, com o seu testemunho. Ao mesmo tempo sentimo-nos
interpelados a ser, também nós, hoje, testemunhas do Amor de Deus, em todo e
qualquer momento, ou situação das nossas vidas.
“Irmãos: Anunciar o Evangelho não é para mim um
título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar
o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa, teria direito a recompensa.
Mas, como não o faço por minha iniciativa, desempenho apenas um cargo que me
está confiado. Em que consiste, então, a minha recompensa? Em anunciar
gratuitamente o Evangelho, sem fazer valer os direitos que o Evangelho me
confere. Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para
ganhar o maior número possível. Com os fracos tornei-me fraco, a fim de ganhar
os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E
tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens.”
No
Evangelho (Mc 1, 29-39) Jesus
vai ao encontro dos que sofrem, dos que andam tristes, angustiados,
desesperados, dos que se sentem subjugados por tantos problemas provocados por todas
estas guerras e, ao mesmo tempo, se
abeiram dele e pedem que os salve, que os cure, que os ajude. Não deixa ninguém
sozinho, vai procurá-los em todos os lugares, sejam mais próximo, ou mais
longínquos. A todos os que O procuram pega na mão e levanto-os. Falemos com Jesus, demos-Lhe conta de tudo o que
passa connosco, das nossas angústias, dores, preocupações, alegrias,… e
deixemos que nos tome pela mão e nos levante, como fez com a sogra de Pedro.
“Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de
Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram
dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela
começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe
todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta.
Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e
expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque
sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para
um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura
d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele
respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar
aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia,
pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.”
Senhor eu creio em Ti,
mas aumenta a minha fé.
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
De novo na praça! O Evangelho de hoje (cf. Mc 1,
29-39) apresenta a cura, por parte de Jesus, da
sogra de Pedro e depois de muitos outros doentes e de pessoas que sofrem, que o
rodeiam. A da sogra de Pedro é a primeira cura de ordem física narrada por
Marcos: a mulher estava de cama com febre; a atitude e o gesto de Jesus em
relação a ela são emblemáticos: «Aproximando-se dela, tomou-a pela mão e
levantou-a» (v. 31), observa o Evangelista. Há muita
docilidade neste gesto simples, que parece quase natural: «A febre deixou-a e
ela pôs-se a servi-los» (ibidem). O poder curativo de Jesus não encontra
resistência alguma; e a pessoa curada retoma a sua vida normal, pensando
imediatamente nos outros e não em si mesma - e isto é significativo, é sinal de
verdadeira “saúde”!
Aquele dia era um sábado. O povo da aldeia espera o pôr do sol e, depois de
cumprir a obrigação do descanso, sai e traz a Jesus todos os doentes e os
endemoninhados. E Ele cura-os, mas proíbe que os demónios revelem que Ele é
Cristo (cf. vv. 32-34). Portanto, desde o início Jesus mostra a
sua predileção pelas pessoas que sofrem no corpo e no espírito: é uma
predileção de Jesus, aproximar-se das pessoas que sofrem tanto no corpo como no
espírito. É a predileção do Pai, que Ele encarna e manifesta com obras e
palavras. Os seus discípulos foram testemunhas oculares disto, viram-no e
depois testemunharam-no. Mas Jesus não queria que eles fossem meros espectadores
da sua missão: envolveu-os, enviou-os, deu-lhes também o poder de curar os
doentes e expulsar os demónios (cf. Mt 10,
1; Mc 6, 7). E isto
continuou sem interrupção na vida da Igreja, até hoje. E isto é importante.
Para a Igreja, cuidar dos doentes de todos os tipos não é uma “atividade
opcional”, não! Não é algo acessório, não! Cuidar dos doentes de todos os tipos
é parte integrante da missão da Igreja, tal como o era da missão de Jesus. E
esta missão consiste em levar a ternura de Deus à humanidade que sofre. Isto
ser-nos-á recordado daqui a poucos dias, a 11 de fevereiro, pelo Dia Mundial do
Doente.
A realidade que vivemos no mundo inteiro por causa da pandemia torna
particularmente atual esta mensagem, esta missão essencial da Igreja. A voz de
Job, que ressoa na Liturgia de hoje, volta a ser a intérprete da nossa condição
humana, tão elevada em dignidade - a nossa condição humana, altíssima em
dignidade - e, ao mesmo tempo, tão frágil! Diante desta realidade, brota sempre
no coração a interrogação: “porquê?”.
E a esta pergunta Jesus, Verbo Encarnado, responde não com uma explicação -
a isto, porque somos tão elevados na dignidade e tão frágeis na condição, Jesus
não responde com uma explicação - mas com uma presença de amor que se inclina,
que toma pela mão e levanta, como fez com a sogra de Pedro (cf. Mc 1, 31). Inclinar-se para levantar o outro. Não
esqueçamos que o único modo lícito de olhar para uma pessoa de cima para baixo
é quando estendemos a mão para a ajudar a levantar-se. O único! E foi esta a
missão que Jesus confiou à Igreja. O Filho de Deus manifesta o seu Senhorio não
“de cima para baixo”, não à distância, mas debruçando-se, estendendo a mão;
manifesta o seu Senhorio na proximidade, na ternura e na compaixão.
Proximidade, ternura e compaixão são o estilo de Deus. Deus faz-se próximo, e
fá-lo com ternura e compaixão. Quantas vezes lemos no Evangelho, diante de um
problema de saúde ou de qualquer problema: “Teve compaixão”. A compaixão de
Jesus, a proximidade de Deus em Jesus é o estilo de Deus. O Evangelho de hoje
recorda-nos também que esta compaixão mergulha as raízes na relação íntima com
o Pai. Porquê? Antes da aurora e depois do pôr do sol, Jesus afastava-se e
ficava a sós para rezar (cf. v. 35). Disto hauria forças para cumprir o seu
ministério, pregando e curando.
Que a Santa Virgem nos ajude a deixar-nos curar por Jesus - todos nós precisamos sempre disto - para que, por nossa vez, possamos ser testemunhas da ternura curativa de Deus!
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