sábado, 30 de abril de 2022

 SEMANA III DO TEMPO PASCAL- 2022

Nas leituras de hoje, sentimo-nos convidados para a mesa do Senhor. É Jesus quem nos convida e, ao mesmo tempo, nos desafia a deixarmo-nos alimentar por Ele mesmo, a confiarmos totalmente em Deus e a entregarmo-nos, de tal forma, que o Senhor seja o nosso único alimento. Só em Jesus poderemos ser transmissores de Deus Amor a todos os que Ele coloca no nosso caminho. Deus é todo Amor, sempre pronto a dar-se a todo o que O procura, de coração sincero, por isso só alimentados d’Ele e n’Ele seremos comunicadores do Amor, onde quer que nos encontremos.  Não é fácil, mas em Jesus a vitória é certa. Ele venceu a morte!

Na 1ªleitura (Atos 5, 27b-32.40b-41) os apóstolos dão-nos um testemunho de fé fortíssimo, pois cheios do Espírito Santo, anunciam Jesus ressuscitado e a sua doutrina, incorrendo em toda a espécie de riscos, incluindo o da própria vida. O que mais espanta, é que de homens cheios de medo, trancados numa sala, tornaram-se anunciadores desassombrados de Jesus ressuscitado, ficando alegres por serem ultrajados por causa do nome de Jesus. A força do Espírito Santo é visível nesta transformação. Vem, Espírito Santo sobre nós, cristãos do séc.XXI e acende, nos nossos corações, o fogo do Teu Amor, para que também nós, hoje, em todas as situações vida, sejamos testemunhas de Jesus ressuscitado e do Amor de Deus por todos e por cada um de nós. 

Naqueles dias, o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem». Pedro e os Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem». Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos, intimando-os a não falarem no nome de Jesus, e depois soltaram-nos. Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus.” 

Na 2ªleitura (Ap 5, 11-14) S. João envolve-nos num clima de louvor e aclamação a Jesus. Prostrados, adoremos o Senhor. Em uníssono com a criação inteira, com todas as criaturas do universo, rompamos em louvores e aclamações ao Cordeiro Imaculado: a Ele a glória, a honra e o poder, pelos séculos dos séculos sem fim. Que o Senhor, um dia, na plenitude dos tempos, seja tudo em todos. Ámen! 

“Eu, João, na visão que tive, ouvi a voz de muitos Anjos, que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos. Eram miríades de miríades e milhares de milhares, que diziam em alta voz: «Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor». E ouvi todas as criaturas que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e o universo inteiro, exclamarem: «Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro o louvor e a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos». Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»; e os Anciãos prostraram-se em adoração.” 


No evangelho (Jo 21, 1-19)  S.João partilha connosco a experiência de mais um encontro com Jesus ressuscitado. Antes deste encontro, parece, à primeira vista, pela atmosfera em que o evangelista enquadra os acontecimentos, que os apóstolos estavam um pouquinho “perdidos” e entregues a si próprios. Projetam-me para o que nos acontece tantas vezes, no dia a dia da vida, em que nos esquecemos que Jesus está connosco, vivo, presente e acabamos por nos sentir sós e abandonados, a lutar sozinhos pelo que nos parece ser o melhor a fazer. Jesus vivo, ressuscitado, presente em cada um de nós, fez a diferença, com os apóstolos e muda tudo também na nossa vida de hoje. Deixemos que o espírito Santo nos inunde a alma, o coração e  que Jesus se manifeste também através de nós, na vida de cada dia. 

“Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?». Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes. O discípulo predileto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar. Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes. Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes. Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros». Voltou a perguntar-lhe segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas». Perguntou-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres». Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus. Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».”

«De cabeça para baixo», precisamente como Pedro pediu para ser crucificado, ciente de que era «o mais pecador dos apóstolos» — a ponto de ter «renegado o Senhor» — mas de ter sido escolhido «para apascentar com amor o povo». Foi um dos ícones que o Papa Francisco delineou durante a missa celebrada na capela Santa Marta, inspirando-se no diálogo entre Jesus e Pedro do modo como foi narrado por João no trecho evangélico (21, 15-19), proposto pela liturgia de hoje.

«Este diálogo entre o Senhor e Pedro — observou Francisco — é tranquilo, entre amigos, sereno, pudico, às margens do lago onde Pedro tinha sido chamado no início». Animavam este diálogo, explicou o Papa, algumas «palavras» como «amor, apascentar, as minhas ovelhas, segue-me: palavras serenas, daquela atmosfera da ressurreição» que «o Senhor leva em frente».

Assim estamos diante de «um diálogo de amigos e serviço, porque é feito após a refeição que o próprio Jesus tinha preparado». É «um diálogo — insistiu o Pontífice — no qual Jesus, que é o grande pastor, confia as Suas ovelhas a Pedro».

Portanto, «um diálogo entre amigos». De facto, Jesus diz a Pedro: «”Amas-me?”. “Também tu queres ser meu amigo? És meu amigo?”». Exatamente «esta — prosseguiu o Papa — é a atmosfera deste diálogo, desta página do Evangelho tão serena e pudica».

Francisco quis «indicar três aspetos» precisamente em relação a «este diálogo». O primeiro é aquele «segue-me». Sim, explicou, «Jesus escolheu o mais pecador dos apóstolos: os outros fugiram. Ele renegou-o» dizendo «não o conheço». Mas eis que «Jesus lhe pergunta: “Mas tu amas-me mais do que eles?”». Portanto, afirmou o Pontífice, «Jesus escolhe o mais pecador». A tal propósito, confidenciou, «vem-me à mente o diálogo de um santo do século XVII com Jesus, um santo ao qual Jesus tinha concedido muitas graças. Era uma mulher, uma santa: “Mas Senhor a mim que sou tão pequena, tão pecadora”. E o Senhor disse-lhe: “Se eu tivesse encontrado alguém mais pecador do que tu, a ele teria dado isto ˮ». Portanto, prosseguiu Francisco, «o mais pecador foi escolhido para apascentar o povo de Deus, para “cuidar” do povo de Deus: isto faz-nos pensar».

O segundo ponto sugerido pelo Papa foi «a palavra “amor”» que «é recorrente neste diálogo: “apascenta, porque me amas “apascenta”, porque és meu amigo “apascenta”». Sim «apascentar com amor». E «Pedro retoma isto na sua primeira carta: aprendeu». Não é preciso «apascentar com a cabeça erguida, como o grande dominador, não: apascentar com humildade, com amor, como fez Jesus». «Esta é a missão que Jesus confia a Pedro: sim, com os pecados, com os erros». A ponto que «depois deste diálogo, Pedro comete um engano, um erro: é tentado pela curiosidade e diz ao Senhor: “este outro discípulo para onde irá, o que fará?”». Mas «com amor, no meio dos seus erros, dos seus pecados, mas com amor». Porque «”estas ovelhinhas não são as tuas ovelhas, são as minhas”, diz o Senhor». Portanto «“ama”, se és meu amigo, deves ser amigos delas”».

O terceiro aspeto do diálogo entre Jesus e Pedro são «dois ícones». O da «quinta-feira santa — explicou — quando Pedro seguro de si próprio, com a mesma certeza com a qual disse “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, diz à serva do sumo sacerdote: “Não conheço aquele homem, não pertenço ao seu grupo”».

Resumindo, afirmou o Pontífice, «Pedro renegou Jesus e depois cruzaram-se os olhares: quando Jesus sai, olha para ele, e Pedro corajoso, também corajoso na negação, foi capaz de chorar amargamente». «Em seguida, dedicou a vida toda ao serviço do Senhor — acrescentou Francisco — e acabou como o Senhor: na cruz. Mas não se vangloria» dizendo «“Acabo como o meu Senhor!”. Não. Pede “por favor, colocai-me sobre a cruz com a cabeça para baixo, para que se veja pelo menos que não sou o Senhor, sou o servo”».

«É isto que podemos compreender deste diálogo tão bonito, tão sereno e amistoso, tão pudico» concluiu o Pontífice. Fazendo votos «de que o Senhor nos conceda sempre a graça de caminhar na vida com a cabeça para baixo: a cabeça erguida pela dignidade que Deus nos dá, mas de cabeça baixa, sabendo que somos pecadores e que o único Senhor é Jesus: nós somos servos».

Santa Marta, 2 de junho de 2017

Papa Francisco

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