Ano C - 2022
DOMINGO II DA PÁSCOA
OU DA DIVINA MISERICÓRDIA
Na segunda semana da Páscoa, a liturgia desafia-nos a dar testemunho, na
nossa vida, em toda e qualquer situação, de que acreditamos verdadeiramente que
Jesus está vivo e ressuscitado no meio de nós.
Na 1ªleitura (Actos 5, 12-16) damo-nos conta da forma como cresciam as primeiras comunidades, graças à ação do Espírito Santo, que agia nos apóstolos e, através deles, no coração de quem os escutava de coração sincero.
“Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se
muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos,
reuniam-se todos no Pórtico de Salomão; nenhum dos outros se atrevia a
juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os. Uma multidão cada vez maior de
homens e mulheres aderia ao Senhor pela fé, de tal maneira que traziam os
doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à
passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades
vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e
atormentados por espíritos impuros e todos eram curados.”
Na 2ªleitura (Ap 1, 9-11a.12-13.17-19) S.João dá-nos força e confiança, apontando-nos como único caminho Jesus Cristo, que está vivo e ressuscitado no meio de nós. Se Ele e só Ele for a única força em que nos apoiemos, nada, nem ninguém, poderá separar-nos do Amor de Deus.
“Eu, João,
vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na perseverança em
Jesus, estava na ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho
de Jesus. No dia do Senhor fui movido pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz
forte, semelhante à da trombeta, que dizia: «Escreve num livro o que vês e
envia-o às sete Igrejas». Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava;
ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém
semelhante a um filho do homem, vestido com uma longa túnica e cingido no peito
com um cinto de ouro. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele poisou a
mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o
que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as
chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste,
tanto as presentes como as que hão de acontecer depois destas».”
Hoje é o oitavo dia depois da Páscoa, e o Evangelho de João documenta-nos as duas aparições de Jesus Ressuscitado aos Apóstolos reunidos no Cenáculo: na tarde de Páscoa, quando Tomé estava ausente, e oito dias mais tarde, na presença de Tomé. Na primeira vez, o Senhor mostrou aos discípulos as feridas do seu corpo, fez o sinal de soprar sobre eles e disse: «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio». Transmite-lhes a Sua própria missão, com a força do Espírito Santo.
Mas naquela tarde não estava presente Tomé, que não queria acreditar no testemunho dos outros. «Se eu não vir nem tocar as suas chagas — disse — não acreditarei». Oito dias depois — ou seja, precisamente como hoje — Jesus volta a apresentar-se no meio dos seus e dirige-se imediatamente a Tomé, convidando-o a tocar as feridas das suas mãos e do seu lado. Ele vai ao encontro da sua incredulidade para que, através dos sinais da paixão, ele possa alcançar a plenitude da fé pascal, isto é, a fé na Ressurreição de Jesus.
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.”
Tomé é alguém
que não se contenta e procura, tenciona averiguar pessoalmente, realizar uma
sua experiência pessoal. Após as resistências e inquietações iniciais, no final
também ele consegue crer; não obstante proceda com dificuldade, alcança a fé.
Jesus espera-o pacientemente e oferece-Se às dificuldades e às inseguranças
daquele que chegou por último. O Senhor proclama «bem-aventurados» aqueles que
crêem sem ver — e a primeira é Maria, sua Mãe — mas vai também ao
encontro da exigência do discípulo incrédulo: «Introduz aqui o teu dedo, e vê
as minhas mãos...». Ao contacto salvífico com as chagas do
Ressuscitado, Tomé mostra as suas feridas, as suas chagas, as suas
dilacerações, a sua humilhação; no sinal dos pregos encontra a prova decisiva
de que era amado, esperado e entendido. Encontra-se diante de um Messias cheio
de docilidade, de misericórdia e de ternura. Era aquele o Senhor que ele
procurava, Ele, nas profundidades secretas do próprio ser, porque sempre
soubera que era assim. E quantos de nós procuram, no profundo do coração,
encontrar Jesus como Ele é: dócil, misericordioso e terno! Pois no íntimo nós
sabemos que Ele é assim! Tendo recuperado o contacto pessoal com a amabilidade
e a paciência misericordiosa de Cristo, Tomé compreende o significado profundo
da Sua Ressurreição e, intimamente transformado, declara a sua fé completa e
total n’Ele, exclamando: «Meu Senhor e meu Deus!». Como é bonita esta
expressão de Tomé!
Ele conseguiu tocar» o Mistério pascal que manifesta plenamente o amor salvífico de Deus, rico de misericórdia. E como Tomé, também todos nós: neste segundo Domingo de Páscoa, somos convidados a contemplar nas feridas do Ressuscitado a Misericórdia Divina, que ultrapassa qualquer limite humano e resplandece sobre a obscuridade do mal e do pecado.
Celebrámos um tempo intenso e prolongado para receber as imensas riquezas do amor misericordioso de Deus no Jubileu Extraordinário da Misericórdia, cuja Bula de proclamação promulguei a 11 de abril de 2015, na Basílica de São Pedro. A Bula começa com as palavras «Misericordiae vultus»: o Rosto da Misericórdia é Jesus Cristo. Mantenhamos o nosso olhar voltado para Ele, que sempre nos procura, espera e perdoa; Ele é deveras misericordioso e não se assusta com as nossas misérias. Nas suas chagas, Ele cura-nos e perdoa todos os nossos pecados. Que a Virgem Mãe nos ajude a ser misericordiosos com o próximo, como Jesus é com cada um de nós.
Regina Caeli de 12 de abril de 2015
Papa Francisco
Senhor eu creio que estás vivo, que ressuscitaste. Aleluia!
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