OITAVA DA PÁSCOA - 2022
Quarta-feira da Oitava da Páscoa - 20.04.2022
Evangelho Lc 24, 13-35
«Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?»
O Evangelho de hoje, ambientado no dia de Páscoa, narra o episódio dos dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35). É uma história que começa e acaba a caminho. Na verdade, há a viagem de ida dos discípulos que, tristes devido ao epílogo da vicissitude de Jesus, deixam Jerusalém e voltam para casa, para Emaús, percorrendo cerca de onze quilómetros. É uma viagem feita de dia, com grande parte do percurso em declive. E há a viagem de regresso: mais onze quilómetros, mas percorrida ao cair da noite, com parte do caminho em subida, após o cansaço da viagem de ida e o dia inteiro. Duas viagens: uma fácil, de dia, e outra cansativa, de noite. E no entanto, a primeira tem lugar na tristeza; a segunda, na alegria. Na primeira, há o Senhor que caminha ao lado deles, mas não o reconhecem; na segunda, já não o veem, mas sentem-no próximo. Na primeira estão desanimados e sem esperança; na segunda, correm a levar aos outros a boa notícia do encontro com Jesus Ressuscitado.
Regina Caeli de 26 de abril de 2020
Papa Francisco
"Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús, que ficava a duas léguas de Jerusalém. Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido. Enquanto falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem. Ele perguntou-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?» Pararam, com ar muito triste, e um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único habitante de Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias». E Ele perguntou: «Que foi?» Responderam-Lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel. Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu. É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram: foram de madrugada ao sepulcro, não encontraram o corpo de Jesus e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos a anunciar que Ele estava vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas a Ele não O viram». Então Jesus disse-lhes: «Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer tudo isso para entrar na Sua glória?» Depois, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de seguir para diante. Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão."
Os dois caminhos diferentes daqueles primeiros discípulos dizem-nos,
a nós discípulos de Jesus hoje, que na vida temos à nossa frente dois
rumos opostos: há o caminho de quem, como aqueles dois na ida, se deixa
paralisar pelas desilusões da vida e vá em frente com tristeza; e há o caminho
de quem não se coloca em primeiro lugar a si próprio e os seus problemas, mas
Jesus que nos visita, e os irmãos que esperam a sua visita, ou seja, os irmãos
que nos esperam para que cuidemos deles. Eis o momento decisivo:
deixar de orbitar em torno de si próprio, das desilusões do passado, dos ideais
não realizados, das muitas coisas negativas que aconteceram na vida. Muitas
vezes somos levados a orbitar, orbitar... Deixemos isto e vamos em frente,
olhando para a maior e mais verdadeira realidade da vida: Jesus está
vivo, Jesus ama-me. Esta é a maior realidade. E eu posso fazer algo pelos
outros. É uma realidade boa, positiva, solar, bela! Eis a inversão de marcha:
passar dos pensamentos sobre o meu eu para a realidade
do meu Deus; passar - com outro jogo de palavras - do “se”
para o “sim”. Do “se” para o “sim”. O que significa? “Se Ele nos tivesse
libertado, se Deus me tivesse ouvido, se a vida tivesse corrido como eu queria,
se eu tivesse isto e aquilo...”, em tom de queixa. Este “se” não ajuda, não é
fecundo, não ajuda nem a nós nem aos outros. Eis os nossos “se”, semelhantes
aos dos dois discípulos. Mas eles passam para o sim: “Sim, o Senhor está vivo,
Ele caminha connosco. Sim, agora, não amanhã, voltamos a percorrer o caminho
para o anunciar”. “Sim, posso fazer isto para que as pessoas sejam mais
felizes, para que as pessoas sejam melhores, para ajudar muitas pessoas. Sim,
sim, eu posso”. Do “se” para o “sim”, da lamentação para a alegria e a paz,
pois quando nos queixamos, não estamos na alegria; estamos na melancolia, na
consternação, no ar cinzento da tristeza. E isto não ajuda, e nem sequer nos
faz crescer bem. Do “se” para o “sim”, da lamentação para a alegria do
serviço.
Como se verificou nos discípulos esta mudança de passo, do eu para Deus, do “se” para o “sim”? Encontrando Jesus: os dois de Emaús primeiro abrem-lhe o coração; em seguida, ouvem-no explicar-lhes as Escrituras; depois, convidam-no para sua casa. São três passos que também nós podemos dar na nossa casa: primeiro, abrir o coração a Jesus, confiando-lhe os pesos, os cansaços, as desilusões da vida, confiando-lhe os “se”; e depois, segundo passo, ouvir Jesus, pegar no Evangelho, ler hoje este trecho, no capítulo vinte e quatro do Evangelho de Lucas; terceiro, rezar a Jesus, com as mesmas palavras daqueles discípulos: «Senhor, fica connosco» (v. 29). Senhor, fica comigo. Senhor, fica com todos nós, pois precisamos de ti para encontrar o caminho.
Prezados irmãos e irmãs, na vida estamos sempre a caminho. E tornamo-nos aquilo rumo ao que caminhamos. Escolhamos a vereda de Deus, não a do eu; o caminho do “sim”, não o do “se”. Descobriremos que não há imprevisto, não há subida, não há noite que não se possa enfrentar com Jesus.
Que Nossa Senhora, Mãe do Caminho que, acolhendo a Palavra, fez de toda a sua vida um “sim” a Deus, nos indique a senda.
Regina Caeli de 26 de abril de 2020
Papa Francisco
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