terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Ano C - 01/01/2025 

SOLENIDADE DE SANTA MARIA MÃE DE DEUS

A Liturgia de hoje comemora várias realidades:

celebra-se a solenidade da MÃE DE DEUS "Theotokos" - título atribuído no Concílio de Éfeso, em 431, que sublinha a natureza humana e divina de Cristo. A Virgem Maria é mãe de Deus feito homem;

celebra-se o DIA MUNDIAL DA PAZ - Em 1968, o papa Paulo VI quis que, neste dia, os cristãos rezassem pela paz;

celebra-se o PRIMEIRO DIA DO ANO CIVIL - é o início de uma caminhada que desejamos percorrer com a Bênção de Deus.

Na 1ªleitura (Num 6, 22-27) o autor sagrado sublinha a presença contínua de Deus na nossa caminhada. Trata-se de uma linda oração de Bênção do Antigo Testamento em que pedimos a proteção de Deus, para hoje, primeiro dia do ano, mas também para todos os outros dias do ano. 

“O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».” 

Na 2ªleitura (Gl 4,4-7) S.Paulo afirma que Cristo vem ao mundo, nascido de uma Mulher, mas sendo “Filho de Deus”, Ele é o Único que pode, por direito de nascimento, chamar a Deus "Abá" (paizinho). A Sua missão é libertar os homens do jugo da Lei e de os tornar, n’Ele, "filhos" adotivos do Pai. Por isso, Maria é chamada verdadeiramente "Mãe de Deus", como o celebramos na festa de hoje. 

“Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.” 

No evangelho (Lc 2,16-21), em que Maria nos parece plenamente feliz, recebendo a visita dos pastores, S.Lucas apresenta Jesus como o Libertador, que veio ao mundo com uma mensagem de salvação para todos, especialmente para os pobres e marginalizados.

“Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.

A exemplo de MARIA, Mãe de Deus e Rainha da Paz, que eu aprenda a SEMEAR PAZ, ao redor de mim.

Estimados irmãos e irmãs, feliz Ano Novo!

Neste dia, em que celebramos Maria Santíssima Mãe de Deus, coloquemos sob o seu olhar atento o novo tempo que nos é dado. Que Ela nos ampare neste ano!

Hoje, o Evangelho revela-nos que a grandeza de Maria não consiste em realizar alguma ação extraordinária; pelo contrário, enquanto os pastores, tendo recebido o anúncio dos anjos, se apressam em direção a Belém (cf. Lc 2, 15-16), Ela permanece em silêncio. O silêncio da Mãe é uma caraterística bela. Não é uma simples ausência de palavras, mas um silêncio cheio de admiração e adoração pelas maravilhas que Deus está a realizar. «Maria - observa São Lucas - guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração» (2, 19). Deste modo, ela abre espaço dentro de si para Aquele que nasceu; no silêncio e na adoração, coloca Jesus no centro e testemunha-O como Salvador. Maria, a Mãe do silêncio; Maria, a Mãe da adoração.

Assim, é Mãe não só porque carregou Jesus no seu seio e o deu à luz, mas porque o traz à luz, sem ocupar o seu lugar. Ela permanecerá em silêncio também sob a cruz, na hora mais escura, e continuará a dar-lhe lugar e a gerá-lo para nós. Um religioso e poeta do século XX escreveu: «Virgem, catedral do silêncio / [...] fazes entrar a nossa carne no paraíso / e Deus na carne» (D.M. TUROLDO, Laudario alla Vergine. «Via pulchritudinis», Bolonha 1980, 35). Catedral do silêncio: é uma bela imagem. Com o seu silêncio e a sua humildade, Maria é a primeira “catedral” de Deus, o lugar onde Ele e o homem se podem encontrar.

Mas também as nossas mães, com o seu cuidado escondido, com o seu carinho, são muitas vezes magníficas catedrais de silêncio. Elas trazem-nos ao mundo e depois continuam a seguir-nos, muitas vezes inobservadas, para podermos crescer. Lembremo-nos disto: o amor nunca sufoca, o amor abre espaço ao outro. O amor faz-nos crescer.

Irmãos e irmãs, no início do novo ano, olhemos para Maria e, com o coração grato, pensemos e olhemos também para as mães, para aprender aquele amor que se cultiva sobretudo no silêncio, que sabe dar espaço ao outro, respeitando a sua dignidade, deixando a liberdade de se exprimir, rejeitando todas as formas de posse, de opressão e de violência. Há tanta necessidade disto hoje, tanta! Tanta necessidade de silêncio para nos ouvirmos uns aos outros. Como recorda a Mensagem para o Dia Mundial da Paz de hoje: «A liberdade e a convivência pacífica são ameaçadas quando os seres humanos cedem à tentação do egoísmo, do interesse próprio, da ânsia de lucro e da sede de poder». O amor, ao contrário, é feito de respeito e gentileza: assim, derruba barreiras e ajuda a viver relações fraternas, a construir sociedades mais justas, mais humanas e mais pacíficas.

Rezemos hoje à Santa Mãe de Deus e nossa Mãe, para que no novo ano possamos crescer neste amor suave, silencioso e discreto que gera vida, e abrir caminhos de paz e reconciliação no mundo.

Papa Francisco
(Angelus, 1 de janeiro de 2024)

Feliz Ano Novo 2025

sábado, 28 de dezembro de 2024

 FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

JESUS, MARIA E JOSÉ

Ainda estamos em plena época natalícia, apesar de já se pensar quase só nos  festejos do final/entrada do ano, o certo é que, nesta altura, de uma maneira geral, se procuram mais os valores da família. Talvez, também por isso, a Igreja, neste domingo, celebra a Festa da Sagrada Família. É uma ajuda preciosa, para nos centrarmos nos valores essenciais da família cristã, podermos “escutar”, “mergulhar”, um pouco, na vivência da “Família de Nazaré”, no seio da qual Jesus ia crescendo.

Na 1ªleitura (Sir 3, 3-7.14-17 a (gr. 2-6.12-14)) o profeta vai-nos fazendo perceber, através do cumprimento da Lei, que tal como Deus nos ama, também, em família, somos chamados a amar os pais e estes os seus filhos. No fundo, se tudo for como deve ser, trata-se de uma relação de amor vivencial entre todos os elementos da família, cada um na sua função. Somos desafiados a apontar, na vida familiar, para a medida alta do Amor de Deus por cada um de nós seus filhos, no Filho. A meta é esta: amar os outros perdidamente, infinitamente, em Jesus. É assim o amor de Deus por cada um de nós, logo é também assim que somos chamados a viver em família. 

“Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.” 

Na 2ªleitura (Col 3, 12-21) S.Paulo também recorre à Lei do Amor de Deus, para enumerar uma série de conselhos que devemos seguir nas relações familiares.

“Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em ação de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.”

No evangelho (Lc 2, 41-52) Jesus estende, tudo o que escutámos nas leituras anteriores, para lá da família mais restrita, de forma a relacionarmo-nos com todos aqueles com quem vivemos, convivemos, nos cruzamos, ou coexistimos, na mesma dimensão total e infinita do amor cristão: amar o próximo como Deus nos amou. A casa do Pai vai para além da família nuclear, ou alargada, do templo, do bairro, da cidade, do país, abrange todos. Deus ama a todos infinitamente e quer que todos saibam disto, quer chegar a ti, a mim, a toda a humanidade. Abramos o nosso coração de par em par, deixemo-nos amar por Deus.
“Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume nessa festa. Quando eles regressavam, passados os dias festivos, o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Julgando que Ele vinha na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos. Não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Passados três dias, encontraram-n’O no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas. Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.”

Senhor, ensina-me a amar, ama em mim aqueles que pões no meu caminho.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje celebramos a Sagrada Família de Nazaré. Deus escolheu uma família humilde e simples para vir entre nós. Contemplemos a beleza deste mistério, ressaltando também dois aspetos concretos para as nossas famílias.

O primeiro: a família é a história da qual provimos. Cada um de nós tem a própria história, ninguém nasceu por magia, com a varinha mágica; cada um de nós tem uma história e a família é a história de onde provimos. O Evangelho da liturgia de hoje recorda-nos que também Jesus é filho de uma história familiar. Vemo-lo ir a Jerusalém com Maria e José para a Páscoa; depois, faz preocupar a mãe e o pai, que não o encontram; quando o encontram, volta para casa com eles (cf. Lc 2, 41-52). É bonito ver Jesus inserido nas vicissitudes dos afetos familiares, que nasce e cresce no abraço e nas preocupações dos seus. Isto é importante também para nós: provimos de uma história tecida com vínculos de amor e a pessoa que hoje somos não nasce tanto dos bens materiais que desfrutamos, quanto do amor que recebemos, do amor no seio da família. Talvez não nasçamos numa família extraordinária e sem problemas, mas é a nossa história – cada um deve pensar: é a minha história - são as nossas raízes: se as cortarmos, a vida torna-se árida! Deus não nos criou para sermos líderes solitários, mas para caminharmos juntos. Agradeçamos-lhe e rezemos pelas nossas famílias. Deus pensa em nós e quer que estejamos juntos: gratos, unidos, capazes de preservar as raízes. E devemos pensar sobre isto, sobre a nossa história.

O segundo aspeto: aprende-se a ser família todos os dias. No Evangelho vemos que até na Sagrada Família nem tudo corre bem: há problemas inesperados, angústias, sofrimentos. Não existe a Sagrada Família dos santinhos. Maria e José perdem Jesus, procuram-no ansiosamente, e encontram-no depois de três dias. E quando, sentado entre os mestres no Templo, responde que deve cuidar das coisas do seu Pai, não o compreendem. Precisam de tempo para aprender a conhecer o seu filho. Assim também para nós: todos os dias, em família, é preciso aprender a ouvir-se e a compreender-se, a caminhar juntos, a enfrentar conflitos e dificuldades. É o desafio diário, que se vence com a atitude certa, com pequenas atenções, com gestos simples, cuidando dos detalhes das nossas relações. E também isto nos ajuda muito a falar em família, falar à mesa, o diálogo entre os pais e os filhos, o diálogo entre os irmãos ajuda-nos a viver esta raiz familiar que vem dos avós. O diálogo com os avós!

E como se faz isto? Olhemos para Maria, que no Evangelho de hoje diz a Jesus: «O teu pai e eu estávamos à tua procura» (v. 48). O teu pai e eu, não diz eu e o teu pai: antes do eu, há o tu! Aprendamos isto: antes do eu há o tu. Na minha língua há um adjetivo para as pessoas que primeiro dizem eu e depois tu: “eu, mim, comigo, para mim e em meu benefício”. Para certas pessoas é assim, primeiro eu, depois tu. Não, na Sagrada Família, primeiro o tu e depois o eu. Para preservar a harmonia na família, devemos combater a ditadura do eu, quando o eu se incha. É perigoso quando, em vez de nos ouvirmos, culpamo-nos uns aos outros pelos erros; quando, em vez de termos gestos de cuidado pelos outros, nos fixamos nas nossas necessidades; quando, em vez de dialogar, nos isolamos com o telemóvel - é triste ver uma família almoçar, cada qual com o seu telemóvel, sem falarem uns com os outros, cada um a falar com o seu telemóvel; quando nos acusamos uns aos outros, repetindo sempre as mesmas frases, encenando uma comédia que já vimos, onde cada um quer ter razão e, no final, instaura-se um silêncio frio. Aquele silêncio frio e agudo, depois de uma discussão familiar, que é terrível, deveras terrível! Repito um conselho: à noite, no final de tudo, é bom fazer as pazes, sempre. Nunca ir dormir sem ter feito as pazes, caso contrário no dia seguinte haverá uma “guerra fria”! E isto é perigoso, porque começará uma história de repreensões, uma história de ressentimentos. Quantas vezes, infelizmente, dentro de casa nascem e crescem conflitos de silêncios demasiado longos e de egoísmos descuidados! Às vezes chega-se até a violências físicas e morais. Isto dilacera a harmonia e mata a família. Passemos do eu para o tu. O que deve ser mais importante na família, é o tu. E todos os dias, por favor, rezai um pouco juntos, se puderdes fazer o esforço, para pedir a Deus o dom da paz na família. E comprometamo-nos todos - pais, filhos, Igreja, sociedade civil - a apoiar, defender e preservar a família, que é o nosso tesouro!

Que a Virgem Maria, esposa de José e mãe de Jesus, ampare as nossas famílias.


Papa Francisco
(Angelus, 26 de dezembro de 2021)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Jubileu 2025 - Ecclesia

Neste Jubileu de 2025 o Santo Padre convida todos os cristãos a serem peregrinos de esperança, transformados em sinais de esperança para o nosso tempo. 






Mensagem de Natal - Pe. Manuel Armindo Janeiro (Facebook)

A esperança que nos faz viver!

São Paulo lembrava aos cristãos de Éfeso que, antes do seu encontro com Cristo, estavam «sem esperança e sem Deus no mundo» (Ef 2,12). Não é que não prestassem culto aos deuses, mas estes tinham-se revelado incapazes de atender aos seus seguidores e, dos seus mitos contraditórios, não brotava qualquer esperança. Apesar de terem deuses, eles estavam sem Deus e, consequentemente, achavam-se num mundo tenebroso e com um futuro obscuro.

Nestes tempos de grandes desilusões, fruto de promessas não cumpridas – deslumbrados que andamos a projetar e a consumir felicidade “à la carte” –, somos confrontados por lógicas perturbadoras, feitas de jogos de poder e interesses dissimulados, onde violência e guerra se tornaram espetáculo, servidas diariamente em doses maciças, capazes de nos anestesiar e roubar a esperança de um mundo novo!

Celebrar o Natal de Jesus é deixar-se atrair e orientar por um outro princípio que ilumina e alimenta a esperança de fazermos caminho juntos, na construção de um mundo mais justo e fraterno.

Para o efeito, sigamos os pastores e os magos que, na sua visita à gruta de Belém, nos apontam o essencial da quadra natalícia – o encontro com Jesus – e deixemo-nos entusiasmar pelos gestos de boa vontade de todos os homens e mulheres que, mesmo sem o saberem, fazem parte daquela multidão que, com os Anjos, dão glória a Deus e pedem a paz para o Mundo.

Que o Menino, nascido para nós, ilumine as nossas trevas e confirme a nossa esperança de um futuro diferente! Porque a felicidade desejada, sem Ele, é ilusão; o bem desejado, sem Ele, é ausência; a paz desejada, sem Ele, é uma quimera; o amor desejado, sem Ele, é manipulação; a harmonia desejada, sem Ele, é dominação; a vida desejada, sem Ele, é morte; a plenitude desejada, sem Ele, é nada!

Que o encontro com o Deus Menino neste Natal nos faça disponíveis para percorrermos sempre caminhos de serviço a Deus e aos irmãos, certos de que o futuro será, não segundo os nossos limites, fragilidades e pecados que nos humilham, mas segundo o projeto do Filho de Deus que nos amou, Se fez um de nós para partilhar connosco a Sua vida e nos oferecer a íntima comunhão com Deus, Seu e nosso Pai, na alegria e no amor do Espírito Santo.

Santas Festas Natalícias!

P. Armindo Janeiro


terça-feira, 24 de dezembro de 2024

 

Missa da Noite de Natal

Uma luz brilha em Belém

Descem anjos do céu, ouvem-se cânticos dando glória. Vêm pastores em busca da luz e com eles os humildes da terra. Dissipam-se as trevas na região da noite e surge um novo dia. Levantam-se os homens humilhados, caídos, esquecidos, abandonados. Deus vem ao nosso encontro envolvido nuns panos e deitado numa manjedoura.

Na 1ª leitura (Is 9, 2-27) o profeta Isaías ajuda-nos a ter mais presente que é  Deus quem faz brilhar a luz nas trevas e aumentar a alegria nos que ali habitam. Esta luz, diz o profeta, é como a de Madian quando Gedeão pôs em fuga os inimigos. E a alegria é como aquela se vive depois de uma vitória no campo de batalha. Termina a guerra, termina a opressão e recomeça a vida, um menino nasceu.

O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor. Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. Assim o fará o Senhor do Universo.

Na 2ªleitura (Tito 2, 11-14) Paulo fala a Tito sobre a encarnação de Jesus, a grande manifestação de Deus em favor do seu povo, através da qual faz todos os homens participantes da sua bem-aventurança. De facto, em Cristo Deus manifesta toda a Sua glória, desde a Sua encarnação até ao mistério da Cruz onde somos purificados.

Caríssimo: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.

No evangelho (Lc 2, 1-14) S.Lucas projeta-nos para junto dos pastores, naquela noite santa,  a fim de também nós podermos ouvir os anjos do céu, que vêm anunciar que o Salvador já nasceu. Contam que é um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. Lucas convida-nos a reconhecer também hoje a presença de Jesus salvador no meio de nós.

Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este primeiro recenseamento efetuou-se quando Quirino era governador da Síria. Todos se foram recensear, cada um à sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». Imediatamente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».

O nascimento de Jesus é o início do cumprimento de todas as promessas feitas pelo Senhor através dos profetas. Nem sempre as promessas se realizam como os homens imaginam. O mais habitual é Deus ultrapassar a imaginação humana e chegar a realizar prodígios maiores do que poderemos alguma vez imaginar. (...)

A notícia do nascimento de Jesus é a manifestação da graça de Deus que nos abre aos mais nobres sentimentos de paz, de justiça e de piedade. Como para os pastores a notícia é para nós oportunidade de encontro com Deus, porque em Jesus o céu desce à terra. Fazendo-se homem no menino envolto em panos, Deus assume a humanidade elevando-a à condição divina. Esta graça enche-nos de alegria porque se trata da salvação gratuita e dada a todos sem exceção.

Receber a notícia transforma-nos em mensageiros. O leitor do evangelho de Lucas, aprende com os pastores a escutar a palavra que vem do céu, a encher-se de alegria e a procurar o encontro com aquele que é o centro do evangelho, Jesus Cristo. E decide-se a ir comunicar a todos, com alegria e gratidão, louvando a Deus, a alegre notícia que mudou as suas vidas.

Nesta noite de Natal compreendemos que Deus se revela àqueles que não dão garantias de credibilidade, como os habitantes da região de Zabulão e Neftali, como os pobres de Belém que enchem a hospedaria, como os pastores daquele tempo.

A notícia do nascimento de Jesus, que interessa a todos os homens, interessa primeiramente aos que andam nas trevas, nas sombras da morte, aos humilhados, que vivem nas periferias das grandes cidades e à margem das oportunidades que garantem uma vida estável. Que hoje, ao sair, sejamos conduzidos com alegria ao encontro daqueles que se julgam indignos de receber o salvador e não acreditam que Jesus veio precisamente para eles.

www.aliturgia.com

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

O olhar e o coração dos cristãos de todo o mundo estão voltados para Belém; lá, onde nestes dias reinam a dor e o silêncio, ressoou o anúncio esperado há séculos: «Nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lc 2, 11). Trata-se das palavras do anjo no céu de Belém, que são dirigidas também a nós. Enche-nos de confiança e esperança saber que o Senhor nasceu para nós; que a Palavra eterna do Pai, o Deus infinito, fixou a sua morada entre nós. Fez-Se carne, veio «habitar connosco» (Jo 1, 14): esta é a notícia que muda o curso da história!

O anúncio de Belém é o anúncio duma «grande alegria» (Lc 2, 10). Que espécie de alegria? Não a felicidade passageira do mundo, nem a alegria da diversão, mas uma alegria «grande» porque nos faz «grandes». De facto hoje nós, seres humanos, com as nossas limitações, abraçamos a certeza duma esperança inaudita: a esperança de termos nascido para o Céu. Sim, Jesus nosso irmão veio fazer do Seu Pai o nosso Pai: Menino frágil, revela-nos a ternura de Deus e muito mais… Ele, o Unigénito do Pai, dá aos homens o «poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12). Eis a alegria que consola o coração, renova a esperança e dá a paz: é a alegria do Espírito Santo, a alegria de ser filhos amados.

Irmãos e irmãs, hoje em Belém, por entre as trevas da terra, acendeu-se esta chama inextinguível; hoje, sobre as trevas do mundo, prevalece a luz de Deus, que «a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9). Irmãos e irmãs, alegremo-nos por esta graça! Alegra-te, tu que te vês falho de confiança e de certezas, porque não estás sozinho, não estás sozinha: Cristo nasceu para ti! Alegra-te, tu que perdeste a esperança, porque Deus te estende a mão: não aponta o dedo contra ti, mas oferece-te a sua mãozinha de Menino para te libertar dos medos, aliviar-te das canseiras e mostrar-te que, aos olhos d’Ele, vales mais do que qualquer outra coisa. Alegra-te, tu que tens a paz no coração, porque se cumpriu para ti a antiga profecia de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (…) e o seu nome é: (…) Príncipe da paz» (9, 5). A Sagrada Escritura revela que a sua paz, o seu reino «não terá fim» (9, 6).

Na Bíblia, ao Príncipe da paz opõe-se o «príncipe deste mundo» (Jo 12, 31), que, semeando a morte, atua contra o Senhor, «amante da vida» (Sab 11, 26). Vemo-lo atuar em Belém, quando, depois do nascimento do Salvador, se verifica a matança dos inocentes. Quantas matanças de inocentes no mundo! No ventre materno, nas rotas dos desesperados à procura de esperança, nas vidas de muitas crianças cuja infância é devastada pela guerra. São os pequeninos Jesus de hoje, estas crianças cuja infância é devastada pela guerra, pelas guerras.

Deste modo dizer «sim» ao Príncipe da paz significa dizer «não» à guerra. E isto com coragem: dizer «não» à guerra, a toda a guerra, à própria lógica da guerra, que é viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Isto é a guerra: viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Mas, para dizer «não» à guerra, é preciso dizer «não» às armas. Com efeito, se o homem, cujo coração é instável e está ferido, encontrar instrumentos de morte nas mãos, mais cedo ou mais tarde usá-los-á. E como se pode falar de paz, se cresce a produção, a venda e o comércio das armas? Hoje, como no tempo de Herodes, as conspirações do mal, que se opõem à luz divina, movem-se à sombra da hipocrisia e do escondimento. Quantos massacres armados acontecem num silêncio ensurdecedor, ignorados de tantos! O povo, que não quer armas mas pão, que tem dificuldade em acudir às despesas quotidianas, ignora quanto dinheiro público é destinado a armamentos. E, contudo, devia sabê-lo! Fale-se disto, escreva-se sobre isto, para que se conheçam os interesses e os lucros que movem os cordelinhos das guerras.

Isaías, que profetizara o Príncipe da paz, deixou escrito que virá um dia em que «uma nação não levantará a espada contra outra»; um dia em que os homens «não se adestrarão mais para a guerra», mas «transformarão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices» (2, 4). Com a ajuda de Deus, esforcemo-nos para que se aproxime esse dia!

Aproxime-se em Israel e na Palestina, onde a guerra abala a vida daquelas populações. A todas abraço, em particular às comunidades cristãs de Gaza – à paróquia de Gaza – e de toda a Terra Santa. Trago no coração a dor pelas vítimas do execrável atentado de 7 de outubro passado, e renovo um premente apelo pela libertação de quantos se encontram ainda reféns. Suplico que cessem as operações militares, com o seu espaventoso rasto de vítimas civis inocentes, que se ponha remédio à desesperada situação humanitária, possibilitando a entrada das ajudas. Não se continue a alimentar violência e ódio, mas avance-se no sentido duma solução para a questão palestiniana, através dum diálogo sincero e perseverante entre as Partes, sustentado por uma forte vontade política e pelo apoio da comunidade internacional. Irmãos e irmãs, rezemos pela paz na Palestina e em Israel.

Depois o meu pensamento volta-se para a população da atribulada Síria, bem como para a do Iémen, mergulhada no sofrimento. Penso no amado povo libanês e rezo para que possa em breve encontrar estabilidade política e social.

Com os olhos fixos no Menino Jesus, imploro a paz para a Ucrânia. Renovemos a nossa proximidade espiritual e humana ao seu martirizado povo, para que, graças ao apoio de cada um de nós, possa sentir o amor concreto de Deus.

Aproxime-se o dia da paz definitiva entre a Arménia e o Azerbaijão. Seja ela favorecida através da prossecução das iniciativas humanitárias, o regresso dos deslocados às suas casas na legalidade e em segurança, e o respeito mútuo pelas tradições religiosas e locais de culto de cada comunidade.

Não esqueçamos as tensões e os conflitos que transtornam a região do Sahel, o Corno de África, o Sudão, bem como os Camarões, a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul.

Aproxime-se o dia em que serão reforçados os laços fraternos na península coreana, abrindo percursos de diálogo e reconciliação que possam criar as condições para uma paz duradoura.

O Filho de Deus, feito humilde Menino, inspire as autoridades políticas e todas as pessoas de boa vontade do continente americano para se encontrarem soluções idóneas a fim de superar os dissídios sociais e políticos, lutar contra as formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, aplanar as desigualdades e enfrentar o doloroso fenómeno das migrações.

Reclinado no presépio, o Menino pede-nos para sermos voz de quem não tem voz: a voz dos inocentes, que morreram por falta de água e pão; voz de quantos não conseguem encontrar emprego ou que o perderam; voz de quem é constrangido a abandonar a sua terra natal à procura dum futuro melhor, arriscando a vida em viagens extenuantes e à mercê de traficantes sem escrúpulos.

Irmãos e irmãs, aproxima-se o tempo de graça e esperança do Jubileu, que está quase a começar (...) Que este período de preparação seja ocasião para converter o coração; para dizer «não» à guerra e «sim» à paz; responder com alegria ao convite do Senhor que nos chama, como profetizou Isaías, «para levar a boa-nova aos pobres, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros» (61, 1).

Estas palavras cumpriram-se em Jesus (cf. Lc 4, 18), hoje nascido em Belém. Acolhamo-Lo, abramos o coração a Ele, o Salvador! Abramos o coração a Ele, o Salvador, que é o Príncipe da paz!

Papa Francisco
(mensagem de Natal Urbi et Orbi, 25 de dezembro de 2023)

Feliz Natal!


segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

   Ano C - 2024 

Advento passo a passo 

24ºdia - 24/12/2024

Lc 1, 67-79

«E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à Sua frente a preparar os Seus caminhos, para dar a conhecer ao Seu povo a salvação, pela remissão dos pecados"»

O texto de Lucas apresenta a oração de louvor conhecida como “benedictus”, feita por Zacarias. Diz-se que Zacarias estava cheio do Espírito Santo, e proclamou as maravilhas realizadas por Deus, como Maria depois de receber a visita do anjo cantou o magnificat. O cântico de Zacarias pode dividir-se em duas partes, a primeira relata a promessa realizada por Deus na história do seu povo. A segunda refere a intervenção de João, seu filho, acabado de nascer, que vem para preparar os caminhos do Senhor e dar a conhecer a salvação que está a chegar, como o sol nascente que ilumina e domina as trevas.

"Naquele tempo, Zacarias, pai de João Batista, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou dizendo: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo e nos deu um salvador poderoso na casa de David, seu servo. Assim prometera desde os tempos antigos, pela boca dos seus santos Profetas, que nos libertaria dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam; que teria compaixão dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai: que nos concederia a graça de O servirmos um dia sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, para dar a conhecer ao seu povo a salvação, pela remissão dos pecados; graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz»."

Senhor, o Teu Espírito me preenche e domina, me seduz e me revela o misterioso poder do Teu amor. O meu coração exulta e se alegra pela salvação que me ofereces e Te louva porque o fazes na simplicidade do nascimento de uma criança ou no nascer de um novo dia. Levanta, Senhor, os meus olhos porque se aproxima o novo dia.

www.aliturgia.com

O Senhor sempre se lembrou da sua aliança. Repetimo-lo no Salmo responsorial (cf. Sl 105, 8). O Senhor não esquece, Ele nunca esquece. Sim, Ele só esquece num caso, quando perdoa os pecados. Depois que perdoa, perde a memória, não se lembra dos pecados. Noutros casos, Deus não esquece. A sua fidelidade é memória. A sua fidelidade ao seu povo. A sua fidelidade a Abraão é memória das promessas que Ele fez. Deus escolheu Abraão para percorrer um caminho. Abraão é um escolhido, ele foi um escolhido. Deus elegeu-o. Então, nessa eleição prometeu-lhe uma herança e hoje, no trecho do Livro do Génesis, há um passo a mais. «Este é o pacto que faço contigo» (Gn 17, 4). A aliança. Uma aliança que o faz ver de longe a sua fecundidade: «Serás o pai de uma multidão de povos» (Gn 17, 4). A eleição, a promessa e a aliança são as três dimensões da vida de fé, as três dimensões da vida cristã. Cada um de nós é um escolhido, ninguém escolhe ser cristão entre todas as possibilidades que o “mercado” religioso lhe oferece, é um eleito. Somos cristãos porque fomos escolhidos. Nesta eleição há uma promessa, uma promessa de esperança, o sinal é a fecundidade: Abraão, serás pai de uma multidão de nações e... serás fecundo na fé (cf. Gn17, 5-6). A tua fé florescerá em obras, em boas obras, em obras de fecundidade também, uma fé fecunda. Mas deves - o terceiro passo - observar a aliança comigo (cf. Gn 17, 9). A aliança é fidelidade, é ser fiel. Fomos escolhidos, o Senhor fez-nos uma promessa, agora Ele pede-nos uma aliança. Uma aliança de fidelidade. Jesus diz que Abraão exultou de alegria, pensando, vendo o seu dia, o dia da grande fecundidade, que o seu filho - Jesus era filho de Abraão (cf. Jo 8, 56) que veio para refazer a criação, que é mais difícil do que a fazer, diz a liturgia - veio para realizar a redenção dos nossos pecados, a fim de nos libertar. O cristão é cristão não para poder mostrar a fé do batismo: a fé do batismo é um documento. És cristão se disseres sim à eleição que Deus fez de ti, se fores atrás das promessas que o Senhor fez a ti e se viveres uma aliança com o Senhor: esta é a vida cristã. Os pecados do caminho são sempre contrários a estas três dimensões: não aceitar a eleição e “elegermos” tantos ídolos, tantas coisas que não são de Deus. Não aceitar a esperança na promessa, ir, olhar de longe para as promessas, até muitas vezes, como diz a Carta aos Hebreus (cf. Hb 6, 12; 8, 6), saudando-as de longe, e fazendo com que as promessas sejam hoje aos pequenos ídolos que construímos, e esquecer a aliança, viver sem a aliança, como se não tivéssemos uma aliança. A fecundidade é alegria, o júbilo de Abraão que previu o dia de Jesus e ficou cheio de alegria. Esta é a revelação que a palavra de Deus nos dá hoje sobre a nossa existência cristã. Que seja como a do nosso Pai: conscientes de sermos escolhidos, alegres de ir ao encontro de uma promessa e fiéis ao cumprir a aliança.

Papa Francisco
(Meditações na Santa Missa celebrada na Capela de Santa Marta, 2 de abril de 2020)