A humanidade
precisa que o Espírito a sacuda
Quando vier o Espírito, orientar-vos-á
para toda a verdade (cf. João 15,26-27; 16,12-15). É a humildade de Jesus, que
não pretende dizer tudo, de ter a última palavra sobre tudo, mas fala da nossa
história com Deus com verbos conjugados no futuro: o Espírito virá, anunciará,
guiará, falará. Um sentido de vitalidade, de energia, de espaços abertos!
O Espírito como uma corrente que arrasta a
História para o futuro, abre veredas, faz avançar. Rezar-lhe é como assomar à
varanda do futuro. Que é a terra fértil e por cultivar da esperança.
O Espírito provoca como um curto-circuito
na História e no tempo: restitui-nos ao coração, acende em nós, como uma
pederneira que cria centelhas, a beleza de então, de gestos e palavras daqueles
três anos de Galileia.
Enamorados da beleza espiritual,
tornamo-nos «buscadores verdadeiros de Deus, que tropeçam numa estrela e,
tentando caminhos novos, se perdem na poeira mágica do deserto» (D.M.
Montagna).
Somos como peregrinos sem estrada, mas
tenazmente a caminho (João da Cruz), ou no meio de um mar plano, sobre uma
casca de nós, onde tudo é maior que nós. Nesse momento, é preciso saber a todo
o custo/ fazer levantar uma vela/ sobre o vazio do mar (Julian Gracq).
Uma vela, e o mar muda, já não é um vazio
no qual nos perdemos ou afundamos; basta que se levante uma vela e nos deixemos
investir pelo sopro vigoroso do Espírito (eu a vela, Deus o vento) para iniciar
uma aventura apaixonante, esquecendo o vazio, seguindo uma rota.
O que é o Espírito Santo? É Deus em
liberdade. Que inventa, abre, sacode, faz coisas que não esperas. Que dá a
Maria um filho fora-da-lei e a Isabel um filho profeta, e que em nós cumpre
incansavelmente a mesma obra de então: torna-nos ventres do Espírito, que dão
carne e sangue e história à Palavra.
Deus em liberdade, um vento nómada, que
leva pólenes aonde quer, leva primaveras e dispersa as neblinas, e a todos nos
faz vento no seu Vento. Deus em liberdade, que não suporta estatísticas.
Os estudiosos procuram recorrências e
esquemas constantes; dizem: na Bíblia Deus age assim. Não acredites. Na vida e
na Bíblia, Deus nunca segue esquemas.
Precisamos do Espírito, dele precisa o
nosso mundo estagnado, sem impulsos. Para esta Igreja que tem dificuldade em
sonhar. O Espírito com os seus dons dá a cada cristão uma genialidade que lhe é
própria. E a humanidade tem necessidade extrema de discípulos geniais.
Precisamos que cada um acredite no seu dom, na sua unicidade, e assim possa manter elevada a vida com a inventiva, a coragem, a criatividade, que são dons do Espírito. Então nunca faltará o vento ao meu veleiro, ou àquela pequena vela que se agita alta no vazio do mar.
Ermes Ronchi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: mexitographer/Bigstock.com
Publicado em 20.05.2021
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