QUARESMA PASSO A PASSO - 2023
No início da reflexão a que me proponho no tempo quaresmal, começo por recorrer à mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2023, da qual seleciono o seguinte excerto:
(...)
"O caminho ascético quaresmal e, de
modo semelhante, o sinodal, têm como meta uma transfiguração, pessoal e
eclesial. Uma transformação que, em ambos os casos, encontra o seu modelo na de
Jesus e realiza-se pela graça do seu mistério pascal. Para que, neste ano, se
possa realizar em nós tal transfiguração, quero propor duas «veredas» que é
necessário percorrer para subir juntamente com Jesus e chegar com Ele à meta.
A primeira diz respeito à ordem que
Deus Pai dirige aos discípulos no Tabor, enquanto estão a contemplar Jesus
transfigurado. A voz da nuvem diz: «Escutai-O» (Mt 17, 5). Assim a
primeira indicação é muito clara: escutar Jesus. A Quaresma é tempo de graça na
medida em que nos pusermos à escuta d’Ele, que nos fala. E como nos fala Ele?
Antes de mais nada na Palavra de Deus, que a Igreja nos oferece na Liturgia:
não a deixemos cair em saco roto; se não pudermos participar sempre na Missa,
ao menos leiamos as Leituras bíblicas de cada dia valendo-nos até da ajuda da
internet. Além da Sagrada Escritura, o Senhor fala-nos nos irmãos, sobretudo
nos rostos e vicissitudes daqueles que precisam de ajuda. Mas quero acrescentar
ainda outro aspeto, muito importante no processo sinodal: a escuta de Cristo
passa também através da escuta dos irmãos e irmãs na Igreja; nalgumas fases,
esta escuta recíproca é o objetivo principal, mas permanece sempre
indispensável no método e estilo duma Igreja sinodal.
Ao ouvir a voz do Pai, «os discípulos
caíram com a face por terra, muito assustados. Aproximando-Se deles, Jesus
tocou-lhes dizendo: “Levantai-vos e não tenhais medo”. Erguendo os olhos, os
discípulos apenas viram Jesus e mais ninguém» (Mt 17, 6-8). E aqui
temos a segunda indicação para esta Quaresma: não refugiar-se numa
religiosidade feita de acontecimentos extraordinários, de sugestivas
experiências, levados pelo medo de encarar a realidade com as suas fadigas
diárias, as suas durezas e contradições. A luz que Jesus mostra aos seus
discípulos é uma antecipação da glória pascal, e é rumo a esta que se torna
necessário caminhar seguindo «apenas Jesus e mais ninguém». A Quaresma
orienta-se para a Páscoa: o «retiro» não é um fim em si mesmo, mas prepara-nos
para viver – com fé, esperança e amor – a paixão e a cruz, a fim de chegarmos à
ressurreição. Também o percurso sinodal não nos deve iludir quanto ao termo de
chegada, que não é quando Deus nos dá a graça de algumas experiências fortes de
comunhão, pois aí o Senhor também nos repete: «Levantai-vos e não tenhais
medo». Desçamos à planície e que a graça experimentada nos sustente para sermos
artesãos de sinodalidade na vida ordinária das nossas comunidades.
Queridos irmãos e irmãs, que o Espírito Santo nos anime nesta Quaresma na subida com Jesus, para fazermos experiência do seu esplendor divino e assim, fortalecidos na fé, prosseguirmos o caminho com Ele, glória do seu povo e luz das nações.
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