QUARESMA PASSO A PASSO - 2023
Semana I da Quaresma
Domingo I – 26/02/2023
Evangelho: Mt 4, 1-11
«Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’»
As leituras, deste primeiro domingo da Quaresma,
ajudam-nos a entrar neste tempo especial de graça, de conversão, que iniciámos,
quarta feira passada, com a imposição das Cinzas. Ao situarem-nos numa das
problemáticas normais da vida, que é a escolha entre o bem e o mal, num constante
exercício da nossa liberdade, centram-nos na única razão pela qual vale a pena
optar pelo bem: Jesus Cristo. Se nos apoiarmos e radicarmos n’Ele
conseguiremos, passo a passo, com Ele, chegar à vitória final. O caminho é
difícil, mas o timoneiro nunca nos deixa sós e abandonados. Jesus, como vemos
no evangelho, é o primeiro a dar o exemplo, a guiar-nos a nós, caminhantes na
estrada da vida, para Deus Amor, o único que nos ama infinitamente, tal qual
somos, mas espera que, no Filho, nos deixemos abraçar, amar totalmente por Ele.
Na 1ªleitura (Gen 2, 7-9; 3, 1-7) o autor sagrado insere-nos num dos problemas principais da nossa existência, enquanto seres pensantes, autónomos, no pleno uso das nossas capacidades, seja em vivência individual, ou coletiva, que é a opção entre o bem e o mal, seja qual for a situação com que nos defrontemos. Por que critério nos regemos, quais são os valores que pautam as nossas escolhas, quem é que nos inspira nos momentos de dúvida e é o suporte da nossa opção e decisão? Jesus, pela forma como viveu, pelo testemunho que nos deixou, demonstrou-nos que nunca estamos sós e que podemos confiar sempre no PAI, isto é, em Deus Amor. Deixemo-nos cativar e habitar por Jesus, para que n’Ele, sob a ação do Espírito Santo, façamos as escolhas que Deus espera de nós.
“O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. Fez nascer na terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: «É verdade que Deus vos disse: ‘Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do jardim’?». A mulher respondeu: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus avisou-nos: ‘Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis’». A serpente replicou à mulher: «De maneira nenhuma! Não morrereis. Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal». A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência. Colheu fruto da árvore e comeu; depois deu-o ao marido, que comeu juntamente com ela. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas.”
Na 2ªleitura (Rom 5, 12-19) é S.Paulo quem nos aponta o único caminho que leva ao encontro com Deus Amor: Jesus Cristo. Do que conhecemos da história de vida de S.Paulo, percebemos que a sua opinião é fruto do que viveu e experimentou ao longo da sua caminhada na fé, por isso, fica-nos a certeza de que, em e por Jesus, todos podemos, se assim o quisermos, ser amados pelo Amor.
“Irmãos: Assim como por um só homem entrou o
pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os
homens, porque todos pecaram. De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo.
Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei. Entretanto, a morte
reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma
transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir. Mas
o dom gratuito não é como a falta. Se pelo pecado de um só todos pereceram, com
muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus
Cristo, se concedeu com abundância a todos os homens. E esse dom não é como o
pecado de um só: o julgamento que resultou desse único pecado levou à
condenação, ao passo que o dom gratuito, que veio depois de muitas faltas, leva
à justificação. Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais
razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão
na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Porque, assim como pelo pecado de um
só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça
de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. De facto, como pela
desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim também, pela
obediência de um só, todos se tornarão justos.”
No evangelho (Mt 4, 1-11) S.Mateus, nesta sua catequese, ajuda-nos a
contemplar Jesus, que ao mesmo tempo que é de condição divina, é também homem.
É investindo na condição humana de Jesus que o diabo joga a sua cartada. Dá
para perceber que o diabo conhece muito bem a condição humana, pois vai tentar
Jesus naquilo que é o mais importante para o ser humano: a riqueza, o poder e o
prestígio. Jesus, que tinha feito um tempo muito longo de oração, de
aprofundamento da Sua comunhão filial com o Pai, estando em união total com
Deus, dá-nos o exemplo do quão é importante a oração para nos livrarmos das
tentações. Ensina-nos a rezar, a entrar, por Ti, em comunhão com o Pai.
“Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo
Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Diabo. Jejuou quarenta dias e
quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se
és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». Jesus
respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de Deus’». Então o Diabo conduziu-O à cidade santa,
levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, lança-Te daqui
abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas
mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Respondeu-lhe Jesus: «Também
está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». De novo o Diabo O levou
consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua
glória, e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares».
Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor
teu Deus e só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo deixou-O e aproximaram-se
os Anjos e serviram-n'O.”
Jesus, Filho de Deus Vivo, tem compaixão de mim,
que sou pecadora.
Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação,mas livrai-nos do mal. Ámen.
Como se responde à tentação
Na debilidade das tentações, que mais
cedo ou mais tarde todos temos — é suficiente pensar na tragédia da corrupção
que começa sempre com as pequenas cedências — não se deve cometer a ingenuidade
de se enredar no diálogo: ao contrário, é preciso ter a coragem da oração e de
pedir perdão para se reerguer e ir em frente, com a certeza de que a graça nos
ajuda a não nos escondermos do Senhor. O que o Papa Francisco sugeriu na missa
foi um “manual” prático essencial contra as tentações.
«Desde o início
da criação, e também no início da recriação, como primeiro evento deu-se a
tentação» recordou imediatamente o Papa, fazendo referência à primeira leitura,
tirada do livro do Génesis (3, 1-8): «Adão e Eva estavam no jardim terrestre
com todos os dons que Deus lhes tinha dado, com a tarefa de ser guardas, de
levar por diante a criação, e com amor. Com estas três coisas estavam ali para
levar a sua vida e precisamente no início dá-se a tentação». Do mesmo modo, «a
tentação chega», sempre «no início», quando «Jesus deixa Nazaré, se faz
batizar, vai para o deserto rezar para começar a tarefa que Deus lhe tinha
confiado». Por isso, observou Francisco, «quer na criação quer na recriação há
a tentação».
«Ouvimos —
prosseguiu — este trecho do livro do Génesis, a primeira tentação, a de Adão e
Eva». O texto bíblico «diz-nos» que «“a serpente era muito astuta”: o diabo
aparece em forma de serpente atraente e com a sua astúcia procura enganar: ele
é perito nisto, é o “pai da mentira”, assim lhe chama Jesus». O diabo, explicou
o Papa, «é um mentiroso, sabe como enganar, sabe como burlar as pessoas». E
assim «com a sua astúcia a serpente envolve Eva: faz com que se sinta bem,
faz-lhe — por assim dizer — beber um pouco de água adoçada». A ponto que Eva
«sente-se bem, confia, começa o diálogo e, passo após passo, leva-a onde quer».
O diabo,
prosseguiu o Pontífice, tenta fazer «o mesmo com Jesus no deserto. Faz-lhe três
propostas, mas este diálogo com Jesus acaba mal para o diabo: “Afasta-te de
mim, Satanás!”». Ao contrário «o diabo com Eva, não acaba bem para Eva: ganha
Satanás!».
«Quando o diabo
engana uma pessoa — afirmou o Papa — fá-lo com o diálogo, procura dialogar». É
precisamente o que procura fazer também «com Jesus: “Tens fome, há uma pedra,
tu és Deus, transforma-a em pão! Tu vieste para nos salvar a todos, uma vida de
fadiga, de trabalho, mas anda comigo, vamos ao templo e lança-te sem
paraquedas: farei um lindo espetáculo e todas as pessoas acreditarão em ti, e
tudo se resolve numa meia hora!”». Mas «Jesus não o faz». E assim no final o
diabo «mostra o verdadeiro rosto: “Anda, vem!”». E «mostra-lhe todo o mundo e
propõe-lhe a idolatria: “Adora-me, eu dar-te-ei tudo isto!”».
Francisco
focalizou a atenção sobre a atitude de Jesus que é tentado: não dialoga com o
diabo, ao contrário «ouve o diabo e dá uma resposta, mas que não é sua: tira a
resposta da palavra de Deus». E com efeito «as três respostas de Jesus ao diabo
são tiradas da Bíblia, do Antigo Testamento, da palavra de Deus, porque com o
diabo não se pode dialogar».
Ao contrário, com
Eva, a tentação do diabo aconteceu de outra maneira. Era «ingénua», explicou o
Papa, e no início a situação «parecia-lhe boa». Pensava «que se teria
transformado numa deusa, é o pecado de idolatria»: por isso «foi em frente» com
o diálogo. Mas acabou mal, diz-nos o Génesis: «Ela e o marido nus, sem nada». A
questão, afirmou Francisco, é que «o diabo é um mau pagador, não paga bem: é um
burlão, promete tudo e deixa-te nu». Claro, também «Jesus acabou despojado, mas
na cruz, por obediência ao Pai: outro caminho».
Por conseguinte,
insistiu o Pontífice, «a serpente, o diabo é astuto: não se pode dialogar com o
diabo». Além disso, acrescentou, «todos nós sabemos o que são as tentações,
todos sabemos porque todos as temos: tantas tentações de vaidade, de soberba,
de cupidez, de avareza, tantas!». Mas todas «começam» quando nos dizemos: «mas,
pode-se...».
«Hoje fala-se
tanto de corrupção» recordou Francisco, explicando: «Tantos corruptos, tantos
peixes grandes corruptos que existem no mundo, dos quais conhecemos a vida
através dos jornais, talvez tenham começado com uma pequena coisa, sei lá, não
pôr o peso justo: o que era um quilo, não, façamos novecentos gramas porque
parece um quilo». Porque «a corrupção começa com pouco, com o diálogo»,
precisamente como acontece com Eva que se sente tranquilizar pela serpente:
«Mas não, não é verdade que este fruto te fará mal, come, é bom, é pouca coisa,
ninguém se dá conta, faz, faz!». E assim, «a pouco e pouco, cai-se no pecado,
na corrupção».
«A Igreja hoje,
com esta liturgia da palavra, ensina-nos «explicou o Papa — a não ser ingénuos,
para não dizer parvos, a ter os olhos abertos e a pedir ajuda ao Senhor porque
sozinhos não conseguimos». E depois, no trecho do Génesis, «há também uma
palavra que é triste: Adão e Eva “escondem-se” do Senhor». Porque «a tentação
te leva a esconder-te do Senhor e a ires embora com a tua culpa, com o teu
pecado, com a tua corrupção, para longe do Senhor». Àquele ponto «é necessária
a graça de Jesus para voltar e pedir perdão, como fez o filho pródigo». Eis por
que «na tentação não se dialoga, reza-se: “Ajuda-me Senhor, sou frágil, não me
quero esconder de ti”».
«Esta é coragem,
isto é ganhar» concluiu Francisco. Porque «quando começas a dialogar acabas por
ser vencido, derrotado». Eis então os votos de «que o Senhor nos conceda a
graça e nos acompanhe nesta coragem e, se formos enganados pela nossa
debilidade, na tentação nos dê a coragem de nos levantarmos e ir em frente: foi
para isto que Jesus veio, para isto!».
Papa Francisco
(Meditações Matutinas- Capela Santa Marta- 10 de fevereiro de 2017)
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