sábado, 11 de fevereiro de 2023

 Domingo VI do Tempo Comum - 2023 

Neste domingo, a liturgia reporta-nos para os mandamentos da lei de Deus, mas numa perspetiva vivencial, de relação e amor incondicional a Deus e aos homens que connosco lidam diariamente, no concreto da vida. Jesus veio a este mundo e não desfez a Lei antiga, mas levou-a à perfeição, ensinando o seu sentido profundo e a observá-la no íntimo do coração, no espírito e não na letra. Por isso, o cristianismo, que tem as suas leis, como todas as comunidades humanas, coloca a exigência profunda no Amor, do qual as  regras de vida são uma exigência concreta e visível. O cristianismo tem uma moral, mas não se reduz à moral, antes propõe uma vivência de entrega real e relacional na vida, fundamentada, enraizada e experimentada no Amor infinito por todos e cada um, que é Deus.

Na 1ªleitura Sir 15, 16-21 (15-20) o autor sagrado dá-nos uma leitura dos preceitos da lei que vai para além do cumprimento obrigatório de um ritual, mas que passa antes por uma adesão pessoal, por uma escolha consciente e não imposta. O resultado dessa opção virá depois, porque o Senhor é fonte de alegria e de esperança e a ninguém deu licença para pecar.

“Se quiseres, guardarás os mandamentos: ser fiel depende da tua vontade. Deus pôs diante de ti o fogo e a água: estenderás a mão para o que desejares. Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado. Porque é grande a sabedoria do Senhor, Ele é forte e poderoso e vê todas as coisas. Seus olhos estão sobre aqueles que O temem, Ele conhece todas as coisas do homem. Não mandou a ninguém fazer o mal, nem deu licença a ninguém de cometer o pecado.”

 

Na 2ª leitura (1 Cor 2, 6-10) S. Paulo fala-nos do que verdadeiramente é importante para cada um nós, Jesus Cristo. Só em Jesus tudo ganha sentido e, pela ação do Espírito Santo vai-nos sendo revelado o plano de salvação que Deus tem para o mundo, o Amor infinito de Deus por todos e por cada um de nós, individualmente.

“Irmãos: Nós falamos de sabedoria entre os perfeitos, mas de uma sabedoria que não é deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que vão ser destruídos. Falamos da sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que já antes dos séculos Deus tinha destinado para a nossa glória. Nenhum dos príncipes deste mundo a conheceu; porque se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas, como está escrito, «nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam». Mas a nós Deus o revelou por meio do Espírito Santo, porque o Espírito Santo penetra todas as coisas, até o que há de mais profundo em Deus.”

 

No Evangelho (Mt 5, 17-37) abre-se perante nós a cartilha do Amor de Deus, que são os mandamentos. Mais uma vez, recorro à minha experiência pessoal, pois quem lida com jovens e adolescentes, hoje, dá-se conta da dificuldade imensa que têm em “digerir” um não, quanto mais dez. Pois é, se nos meu tempos era difícil viver com estes nãos todos, imaginem hoje! Para lá de todas as legislações, que impedem as crianças e jovens, deste país, de aprender e crescer com valores de disciplina e ordem, na sua formação, a verdade é que a batalha que temos à nossa frente, enquanto educadores,  passa por conseguir transmitir às novas gerações, quer de crianças, quer de pais, que um não é sempre um degrau a subir no processo de crescimento, enquanto pessoas, e que esta escada tem que ser subida, para bem de toda a sociedade. O futuro há de encarregar-se de julgar e pedir contas aos legisladores da educação deste país, de há cerca de 30 anos para cá! Por outro lado, é preciso ir mais longe e fazer como Jesus nos ensinou, quando nos levou a perceber que as leis, os mandamentos, afinal não são uma série de nãos, mas um sim total ao Amor, ao nosso Deus e também ao próximo. É por aqui, pelo Amor, que é Deus, pela positiva, que conseguiremos chegar aos nossos alunos nas escolas, pois, ainda que tudo falhe, nós educadores não podemos desistir das nossas crianças e jovens. Eles também precisam de descobrir o quanto Deus ama cada um deles e que, pelo Amor, pela ação de Deus em nós, até conseguimos amar os que nos fazem mal, ou aqueles de que não gostamos nem um pouquinho, nadinha mesmo.

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta ao altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor perder-se um só dos teus olhos do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que se perca um só dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe certidão de repúdio’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher, salvo em caso de união ilegítima, expõe-na ao adultério. E quem se casar com uma repudiada comete adultério. Ouvistes ainda que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’. Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno».”

“Abri, Senhor, os meus olhos para ver as maravilhas da vossa lei”, “ensinai-me, Senhor”, “dai-me entendimento”, para viver de Ti na minha vivência com todos os que puseres no meu caminho.

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