Direitos Humanos: É preciso coragem para uma economia sem tráfico de pessoas, afirma o Papa
Fev 8, 2021 - 16:54 - Ecclesia
Francisco associou-se a vozes e
testemunhos que promovem a dignidade humana contra o tráfico de pessoas
num evento online global
Cidade do Vaticano, 08 fev 2021 (Ecclesia)
– O Papa afirmou hoje que uma ‘economia sem tráfico de pessoas’ “é uma economia
corajosa”, onde “é preciso coragem”, de cuidado e “com regras de mercado que
promovem a justiça”, na maratona mundial online da rede ‘Talitha Kum’.
“É a audácia de uma construção paciente,
de programação que nem sempre e só procura a vantagem de frutos de curtíssimo
prazo, mas de médio e longo prazo e, principalmente, para pessoas”, disse
Francisco na mensagem em vídeo
Segundo o Papa, uma economia sem tráfico
de pessoas tem a “coragem de combinar o lucro legítimo com a promoção do
emprego e condições dignas de trabalhos” e em tempos de crise severa, como a
atual, “essa coragem é ainda mais necessária”.
“É preciso fortalecer uma economia que
responda à crise de forma não míope, de forma duradoura, sólida”, acrescentou,
sublinhando que “na crise o tráfico prolifera”, como se vê “todos os dias”.
No evento online mundial que assinala o
Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Seres Humanos, promovido
pela rede internacional ‘Talitha Kum’, Francisco explicou também que uma
economia sem tráfico de pessoas “é uma economia com regras de mercado” que
promovem a justiça “e não interesses especiais exclusivos”.
“O tráfico de pessoas encontra terreno
fértil no cenário do capitalismo neoliberal, na desregulamentação dos mercados
que visa maximizar lucros sem limites éticos, sem limites sociais, sem limites
ambientais; As escolhas não são feitas com base em critérios éticos, mas
favorecendo os interesses dominantes, muitas vezes habilmente vestidos com uma
aparência humanitária ou ecológica”, alertou, acrescentando que “as pessoas são
números, também a serem explorados”.
O Papa começou por assinalar que uma
economia sem tráfico é de “cuidado”, isto é, “cuidar das pessoas e da
natureza”, oferecendo produtos e serviços para o crescimento do bem-comum, e
essa economia que cuida do trabalho cria “oportunidades de emprego que não
exploram o trabalhador para horários degradantes e exaustivos”.
“A pandemia de Covid exacerbou e agravou
as condições de exploração do trabalho; a perda de empregos penalizou muitas
vítimas do tráfico em processo de reabilitação e reinserção social,
desenvolveu, salientando que uma “economia do cuidado” trabalha por “uma
solidez que combina com solidariedade”.
Na divulgação do evento online que tem a
duração de sete horas e passa pelos cinco continentes, a rede ‘Talitha Kum’,
Rede Internacional da Vida Consagrada para a Erradicação do Tráfico de Pessoas,
explicou que “uma economia sem tráfico é uma economia que valoriza e zela pelo
ser humano e pela natureza, que incluem e não explora os mais vulneráveis”.
O Dia Mundial de Oração e Reflexão Contra
o Tráfico de Pessoas celebra-se a 8 de fevereiro, memória litúrgica
da Santa sudanesa Josefina Bakhita que foi vendida
como escrava.
“Este dia é importante, ajuda-nos a lembrar este drama, e encoraja-nos a não parar de orar e lutar juntos. Que reflexão e consciência sejam sempre acompanhadas de gestos concretos, que também abrem caminhos de emancipação social. O objetivo é que cada pessoa volte a ser o protagonista livre da sua vida e parte ativa na construção do bem comum”, desenvolveu Francisco.
O encontro começou com o acolhimento da
irmã Patricia Murray, da coordenação do Comité internacional, que lembrou que a
irmã Bakhita “com a sua simplicidade tocou a vida de muitas pessoas” e
pediu oração pela irmã Cecília, uma religiosa colombiana das Franciscana de
Maria Imaculada, que foi raptada no Mali há quatro anos.
Da Oceânia, Austrália e Nova Zelândia
assinalaram que estão “nesta luta contra o tráfico humano para dar dignidade e
justiça a qualquer pessoa”, e a partir da pergunta ‘Você pode-me ver?’,
partilharam testemunhos de exploração sexual – “na escuridão onde o meu corpo é
vendido em minutos, em horas. Podes imaginar o sofrimento na sexualidade” – e
laboral de alguém que trabalhou “24 horas por dia”.
Na Ásia, um continente reconhecido por
“etnias diferentes e diversidades religiosas partilham a prevenção na luta
contra o tráfico” procurando uma dinâmica de “uma economia sem tráfico” e
rezaram pelas vítimas e sobreviventes.
O bispo salesiano Mario Yamanouchi alertou que “esta problemática continua a expandir-se criando problemas em todo o continente” e afirmou que era “muito bom” este encontro “num modo global que ajuda”.
Rezaram por Mianmar e pelas crianças que
nasceram num mundo em conflitos, pela cura das crianças do Vietname e pelas
vítimas de tráfico em ‘chin’, uma língua étnica de Mianmar, e a partilha ficou
marcada também por uma oração budista.
“Fico feliz em saber que este ano são
vários momentos de oração inter-religioso, um desses também na Ásia”, destacou
o Papa Francisco na sua mensagem.
A Cáritas na Índia alertou para a
exploração laboral e sexual, e que com o confinamento “aumentou o tráfico
humano e as agências não conseguiam salvar vidas”, enquanto o testemunho de
África, “berço de Santa Faustina”, com os contributos da Nigéria, Gana e Quénia
chegou o alerta para “casamentos por interesses económicos, exploração sexual,
trabalho de migrantes, exploração do trabalho infantil e venda de órgãos e
seres humanos”.
Na Europa “as maiores vítimas são mulheres
e raparigas” e o tráfico e a exploração “permanecem elevados”, e com a pandemia
Covid-19 o tráfico humano passou a ser “mais criativo e fonte de maiores
lucros”, com alerta para “exploração a partir da internet”.
Os países que partilharam foram a Albânia,
Espanha, Reino Unido e Itália, e um dos exemplos de “escravatura moderna” é a
lavagem de carros “associada à exploração” onde fazem “muito dinheiro”.
Até às 17h00 (hora de Lisboa), do programa
constam ainda a partilha de experiências, testemunhos e apelos à oração de
países da América Latina – Brasil, Peru, Colômbia, Equador, El salvador,
Nicarágua, México e Uruguai – e o encontro termina na América do Norte –
Estados Unidos da América e o Canadá -, seguindo-se uma oração final.
A primeira edição do
Dia Mundial de Oração e Reflexão Contra o Tráfico de Pessoas foi assinalada em
2015, a pedido do Papa Francisco, que no ano anterior encarregou a União
Internacional das Superioras e dos Superiores Gerais (UISG/USG) de promover
este evento.
A Rede Internacional
da Vida Consagrada para a erradicação do Trafico de Pessoas ‘Talitha Kum’
coordena o grupo de organizações-parceiras que preparam esta jornada a nível
internacional: Dicastério para a Vida Consagrada, os Conselhos Pontifícios da
Justiça e da Paz e dos Migrantes e Povos Itinerantes, a Academia das Ciências,
Cáritas Internationalis (CI), a União Internacional das Associações Femininas
Católicas (WUCWO) e o grupo de trabalho contra o tráfico da Comissão Justiça e
Paz da UISG/USG (ATWG).
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