TEMPO COMUM - 2022
Hoje, as leitura levam-nos a questionarmo-nos sobre a nossa relação com
Jesus. Afinal, quem é Jesus para mim, para ti? Ao responder sinceramente a esta pergunta, direta e pessoal,
encontraremos, cada um de nós, a qualidade, a profundidade da nossa fé.
Deixemos que Jesus fixe em nós o Seu olhar de amor misericordioso e demos-Lhe a
nossa resposta.
Na 1ªleitura (Zac 12, 10-11; 13, 1) o profeta anuncia a libertação e renovação de Jerusalém, mas a que preço! O seu Coração aberto tornou-se nascente de amor, a jorrar sobre todos os que para Ele olharmos com fé e confiança, purificando-nos dos nossos pecados.
“Eis o que diz o Senhor: «Sobre a casa de
David e os habitantes de Jerusalém derramarei um espírito de piedade e de
súplica. Ao olhar para Mim, a quem trespassaram, lamentar-se-ão como se lamenta
um filho único, chorarão como se chora o primogénito. Naquele dia, haverá
grande pranto em Jerusalém, como houve em Hadad-Rimon, na planície de Megido.
Naquele dia, jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de
Jerusalém, a fim de lavar o pecado e a impureza».”
Na 2ªleitura (Gal 3, 26-29) é S.Paulo quem nos garante que somos
herdeiros de Abraão, nosso pai na fé e,
por isso mesmo, herdeiros das promessas que Deus lhe fez. Mais do que isso, todos
nós, pelo batismo, fomos revestidos de Cristo, logo n’Ele tornámo-nos filhos de
Deus, objeto do Seu Amor infinito. Entreguemo-nos de coração, deixemo-nos amar
por Ele.
“Irmãos: Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque
todos vós, que fostes batizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não há
judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; todos vós
sois um só em Cristo Jesus. Mas, se pertenceis a Cristo, sois então
descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.”
No evangelho (Lc 9, 18-24) é o próprio Jesus quem nos coloca a questão: - E, vós, quem dizeis que eu sou? À semelhança de Pedro abramo-nos à ação do Espírito Santo e deixemo-nos encontrar por Jesus. Abramos o nosso coração ao Messias, ao Filho de Deus feito homem, que nos habita, por inteiro. É Ele, o Amor, que move montanhas e nos faz elos de transmissão do Amor de Deus, aí, no lugar , no tempo em que nos movemos e existimos, junto de quem connosco partilha a vida. Sejamos instrumentos ao serviço de Deus Amor.
“Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Eles responderam: «Uns, dizem que és João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus». Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia». Depois, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».”
No trecho
evangélico de hoje, reapresenta-se a
pergunta que atravessa todo o Evangelho(...): quem é Jesus? Mas
desta vez é o próprio Jesus que a faz aos discípulos, ajudando-os gradualmente
a enfrentar a questão da identidade. Antes de interpelar diretamente os Doze,
Jesus quer ouvir deles o que pensam as pessoas sobre Ele — e sabe bem que os
discípulos são muito sensíveis à popularidade do Mestre! Portanto, pergunta:
«Quem dizem os homens que eu sou?». Sobressai que Jesus é considerado
pelo povo um grande profeta. Mas, na realidade, não lhe interessam as sondagens
e as bisbilhotices do povo. Ele não aceita sequer que os seus discípulos
respondam às suas perguntas com fórmulas já preparadas, citando personagens
famosos da Sagrada Escritura, porque uma fé que se reduz às fórmulas é uma fé
míope.
O Senhor quer
que os seus discípulos de ontem e de hoje estabeleçam com Ele uma relação
pessoal, e assim o acolham no centro da sua vida. Por esta razão, incentiva-os
a colocar-se em toda a verdade diante de si mesmos, e pergunta: «E vós, quem
dizeis que eu sou?». Jesus, hoje, faz este pedido tão direto e
confidencial a cada um de nós: “Tu, quem dizes que eu sou? Vós, quem dizeis que
eu sou? Quem sou eu para ti?”. Cada um é chamado a responder, no próprio
coração, deixando-se iluminar pela luz que o Pai nos dá a fim de conhecer o seu
Filho Jesus. E pode acontecer também que nós, assim como Pedro, afirmemos com
entusiasmo: «Tu és o Cristo». Contudo, quando Jesus nos comunica claramente o
que disse aos discípulos, ou seja, que a sua missão se cumpre não no amplo
caminho do sucesso, mas na senda árdua do Servo sofredor, humilhado, rejeitado
e crucificado, então pode acontecer também a nós como a Pedro, protestar e
rebelar-nos porque isto contrasta com as nossas expectativas, com as
expectativas mundanas. (...)
Irmãos e
irmãs, a profissão de fé em Jesus Cristo não pode limitar-se às palavras, mas
exige ser autenticada com escolhas e gestos concretos, com uma vida
caraterizada pelo amor de Deus, com uma vida grande, com uma vida cheia de amor
pelo próximo.
Jesus diz-nos
que para o seguir, para sermos seus discípulos, é preciso renegar-se a si
mesmos, isto é, renegar as pretensões do próprio orgulho egoísta, e
carregar a própria cruz. Depois dá a todos uma regra fundamental. E qual é esta
regra? «Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á». Muitas vezes na vida, por
vários motivos, erramos o caminho, procurando a felicidade só nas coisas ou nas
pessoas que tratamos como coisas. Mas a felicidade encontramo-la somente quando
o amor, aquele verdadeiro, nos encontra, nos surpreende, nos muda. O amor
transforma tudo! E o amor pode mudar-nos também a nós, a cada um de nós.
Demonstram-no os testemunhos dos santos.
A Virgem
Maria, que viveu a sua fé seguindo fielmente o seu Filho Jesus, nos ajude
também a caminhar pela sua estrada, dedicando generosamente a nossa vida a Ele
e aos irmãos.
Angelus, 16 de setembro de 2018
Papa Francisco
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