A um português
italiano, e a um italiano português, celebra hoje Itália e Portugal. Portugal a
Santo António de Lisboa, Itália a Santo António de Pádua. De Lisboa, porque lhe
deu o nascimento; de Pádua, porque lhe deu a sepultura… Reparai, diz o
evangelista, que António foi luz do mundo. Foi luz do mundo? Não tem logo que
se queixar Portugal. Se António não nascera para o Sol, tivera a sepultura onde
teve o nascimento; mas como Deus o criou para luz do mundo, nascer numa parte e
sepultar-se noutra é obrigação do Sol. Profetizando Malaquias o nascimento de
Cristo, diz que nasceria como sol de justiça. E que fez Cristo como
sol, e como justo? Como sol mudou os horizontes, como justo deu a cada um o
seu. Como sol mudou os horizontes, porque nasceu num lugar e morreu noutro:
como justo deu a cada um o seu, porque a Belém honrou com o berço, a Jerusalém
com o sepulcro. Assim também Santo António. Se Lisboa foi a aurora do seu
oriente, seja Pádua a sepultura do seu ocaso”. (Sermões de Roma, ed. Difel, 2009, p. 189-190).
Padre António Vieira, "Sermões de Roma"
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