SOLENIDADE DE PENTECOSTES - 2022
Na 1ªleitura (Atos 2, 1-11) S.Lucas, que coloca este dia a acontecer
50 dias após a Ressurreição de Jesus, dá-nos conta da transformação dos apóstolos
sob a ação do Espírito Santo e de como, os que os ouviam, os entendiam nos seus
diferentes idiomas. Para o Espírito Santo não há barreiras de qualquer espécie,
nem de idioma! Deixemo-nos, também nós, à semelhança dos primeiros apóstolos,
habitar e transformar pelo Espírito Santo e proclamemos as maravilhas de Deus.
“Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».”
Na 2ªleitura (1 Cor 12,
3b-7.12-13) S. Paulo centra-nos na ação do Espírito
Santo e na unidade da Igreja em Jesus Cristo, Nosso Senhor. Na verdade há um só
Senhor, um só Espírito, que atua em todos e, como somos diferentes uns dos
outros, a sua ação manifesta-se numa imensa diversidade de dons, que se
complementam e estão ao serviço de uma só Igreja, a de Jesus Cristo. Assim, nos
abramos à Sua ação em cada um de nós!
“Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.”
No evangelho (Jo 20, 19-23) S. João coloca todos os acontecimentos, do tempo pascal, a acontecer
no mesmo dia. Independentemente da localização histórico-espacial, os
acontecimentos trazem-nos a certeza de que Jesus está vivo, presente no meio de
nós e de que nunca nos abandonou, ou abandonará. “Eu ficarei sempre convosco”
esta é a promessa que Jesus fez e na qual podemos pôr toda a nossa confiança.
E, com esta certeza, abramo-nos à ação do Espírito Santo, deixemo-nos habitar
por Ele, hoje e sempre, enquanto vivermos.
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».”
SEQUÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO
Vinde, ó santo Espírito,
vinde, Amor
ardente,
acendei na
terra
vossa luz
fulgente.
Vinde, Pai
dos pobres:
na dor e
aflições,
vinde
encher de gozo
nossos
corações.
Benfeitor
supremo
em todo o momento,
habitando
em nós
sois o
nosso alento.
Descanso na
luta
e na paz
encanto,
no calor
sois brisa,
conforto no
pranto.
Luz de
santidade,
que no Céu
ardeis,
abrasai as
almas
dos vossos
fiéis.
Sem a vossa
força
e favor
clemente,
nada há no
homem
que seja
inocente.
Lavai
nossas manchas,
a aridez
regai,
sarai os
enfermos
e a todos
salvai.
Abrandai
durezas
para os
caminhantes,
animai os
tristes,
guiai os
errantes.
Vossos sete
dons
concedei à
alma
do que em
Vós confia:
Virtude na
vida,
amparo na
morte,
no Céu
alegria.
A festa de Pentecostes comemora a
efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo. E a Páscoa, é
um acontecimento que teve lugar durante a preexistente festa judaica, e que
traz um cumprimento surpreendente. O livro dos Atos dos Apóstolos descreve os
sinais e os frutos daquela extraordinária efusão: o vento forte e as chamas de
fogo; o medo desaparece e deixa o lugar à coragem; as línguas soltam-se e todos
compreendem o anúncio. Onde chega o Espírito de Deus, tudo renasce e se
transfigura. O evento do Pentecostes marca o nascimento da Igreja e a sua
manifestação pública; e chamam a nossa atenção duas características: é uma
Igreja que surpreende e perturba.
Um elemento fundamental do Pentecostes é a surpresa. O
nosso Deus é o Deus das surpresas, sabemo-lo. Ninguém esperava mais nada dos
discípulos: depois da morte de Jesus eram um pequeno grupo insignificante, órfãos
do seu Mestre, derrotados. Ao contrário, verifica-se um acontecimento
inesperado que suscita admiração; o povo permanece perturbado porque cada um
ouvia os discípulos falar a própria língua, contando as grandes obras de Deus.
A Igreja que nasce no Pentecostes é uma comunidade que suscita admiração
porque, com a força que lhe vem de Deus, anuncia uma mensagem nova — a
Ressurreição de Cristo — com uma linguagem nova — a universal, do amor. Um
anúncio novo: Cristo está vivo, ressuscitou; uma linguagem nova: a linguagem do
amor. Os discípulos estão revestidos de poder do alto e falam com coragem —
poucos minutos antes todos eram cobardes, mas agora falam com coragem e
franqueza, com a liberdade do Espírito Santo.
Assim a Igreja está chamada a ser sempre: capaz de surpreender
anunciando a todos que Jesus Cristo venceu a morte, que os braços de Deus estão
sempre abertos, que a sua paciência está sempre ali à nossa espera para nos
curar, e para nos perdoar. Jesus ressuscitou e doou o seu Espírito à Igreja
precisamente para esta missão.
Atenção: se a Igreja está viva, deve surpreender sempre. É
característico da Igreja viva surpreender. Uma Igreja que não tenha a
capacidade de surpreender é uma Igreja frágil, doente, moribunda e deve ser internada
na unidade de terapia intensiva, quanto antes!
Em Jerusalém, havia quem preferisse que os discípulos de Jesus,
impedidos pelo medo, permanecessem fechados em casa para não criar confusão. Também
hoje muitos querem isto dos cristãos. Ao contrário, o Senhor ressuscitado
estimula-os a ir pelo mundo: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a
vós». A Igreja do Pentecostes é uma Igreja que não se resigna a ser inócua,
demasiado «destilada». Não, não se resigna a isto! Não quer ser um elemento
decorativo. É uma Igreja que não hesita em sair, em ir ao encontro das pessoas,
para anunciar a mensagem que lhe foi confiada, mesmo se aquela mensagem
perturba ou desassossega as consciências, mesmo se aquela mensagem talvez traga
problemas e também, por vezes, nos leve ao martírio. Ela nasce una e universal,
com uma identidade determinada, mas aberta, uma Igreja que abraça o mundo mas
não o captura; deixa-o livre, mas abraça-o como a colunata desta praça: dois
braços que se abrem para acolher, mas não se fecham para reter. Nós, cristãos,
somos livres, e a Igreja quer-nos livres!
Dirijamo-nos à Virgem Maria, que naquela manhã de Pentecostes estava no Cenáculo, e a Mãe estava com os filhos. Nela a força do Espírito Santo fez deveras «coisas grandiosas». Ela mesma o tinha dito. Ela, Mãe do Redentor e Mãe da Igreja, obtenha pela sua intercessão uma renovada efusão do Espírito de Deus sobre a Igreja e sobre o mundo.
Regina Caeli, 8 de junho de 2014
Papa Francisco
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