TEMPO COMUM - 2022
Na 1ªleitura (1 Reis 19, 16b.19-21) depois de conduzidos, por Elias, ao chamamento e consagração de Eliseu,
sentimos que este aderiu totalmente à
escolha e eleição do Senhor, a seu respeito. É verdade que pediu para se
despedir primeiro dos seus, o que, em abono da verdade, parece um pedido perfeitamente natural e
humano, mas depois da festa de despedida “levantou-se e seguiu Elias”, ficando
completamente disponível e entregue a Deus, na sua nova missão. Senhor, que, no
dia a dia da vida, seja também esta a nossa atitude: estarmos totalmente entregues
a Ti em tudo o que fazemos e somos!
“Naqueles dias, disse o Senhor a Elias: «Ungirás
Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola, como profeta em teu lugar». Elias pôs-se
a caminho e encontrou Eliseu, filho de Safat, que andava a lavrar com doze
juntas de bois e guiava a décima segunda. Elias passou junto dele e lançou
sobre ele a sua capa. Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e
disse-lhe: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo».
Elias respondeu: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». Eliseu
afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a
carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando
ao seu serviço.”
Na 2ªleitura (Gal 5, 1.13-18) S.Paulo parece um homem dos nossos dias, pela
forma como nos fala da liberdade. No entanto, há uma centralidade única, que o
distancia imenso dos discursos de hoje, pois S.Paulo radica a verdadeira
liberdade no Amor, em Jesus vivo e ressuscitado. E esta é a força das palavras
de Paulo, Jesus, o Filho de Deus, o Amor infinito feito homem, que por nós todo
se entregou num Amor Único. É n’Ele, e só n’Ele, que somos verdadeiramente livres,
se nos deixarmos conduzir pelo Seu Santo Espírito.
“Irmãos: Foi para a verdadeira
liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não torneis a
sujeitar-vos ao jugo da escravidão. Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade.
Contudo, não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne;
mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se
resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Se vós, porém,
vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por
destruir-vos uns aos outros. Por isso vos digo: Deixai-vos conduzir pelo
Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Na verdade, a carne tem desejos
contrários aos do Espírito e o Espírito desejos contrários aos da carne. São
dois princípios antagónicos e por isso não fazeis o que quereis. Mas se vos
deixais guiar pelo Espírito, não estais sujeitos à Lei de Moisés.”
No evangelho (Lc 9, 51-62) percebemos como Jesus tem uma paciência infinita e uma pedagogia
sublime, para nos ensinar o que é essencial: descobrir e viver em Deus Amor, em
todos os momentos da vida. O que Jesus fez com Tiago e João é o mesmo que vai
fazendo com cada um de nós, ao longo da vida, sim, porque na atitude que eles
tiveram, podemos dizer que nos vemos ao espelho, tantas vezes, nas relações que
temos com os outros, fundamentalmente quando nos contrariam. Mas, é bom
não esquecermos, que Tiago, João e todos os outros discípulos, seguiram o
Senhor e se Lhe entregaram de alma e coração, aprendendo d’Ele a serem livres
no Amor. Aprendamos nós também! Quanto aos três chamamentos que
Lucas seleciona e, sobretudo, às respostas que cada um dos chamados apresenta a
Jesus, aí, fiquemos em alerta vigilante. Também nós, ao longo da vida, perante
as diferentes situações em que somos impelidos a tomar decisões, que nos
envolvem por inteiro, ou nos transformam todas as rotinas e formas de viver,
passamos pelos mesmos sentimentos apresentados e, quem sabe, talvez tenhamos
dado respostas semelhantes à dos escolhidos, como exemplo, no evangelho de hoje.
Entreguemo-nos ao Senhor, para que nos ilumine e guie sempre na nossa vida,
mas, mais ainda, nos momentos decisivos, marcantes e transformadores da nossa
existência.
“Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a
decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente. Estes
puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe
prepararem hospedagem. Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho
de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor,
queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?». Mas Jesus voltou-Se e
repreendeu-os. E seguiram para outra povoação. Pelo caminho, alguém disse a
Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhe: «As
raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem
não tem onde reclinar a cabeça». Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele
respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Disse-lhe Jesus:
«Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de
Deus». Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro
despedir-me da minha família». Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as mãos
ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».”
O Evangelho deste domingo indica
um episódio muito importante na vida de Cristo: o momento em que — como escreve
são Lucas — «Jesus resolveu pôr-se a caminho rumo a Jerusalém».
Jerusalém é a meta final onde Jesus, na sua Páscoa derradeira, deve morrer e
ressuscitar, e assim levar a cumprimento a sua missão de salvação.
A partir daquele momento, depois da sua «decisão firme», Jesus aponta o
dedo para a meta, e também às pessoas que Ele encontra e que lhe pedem para o
seguir, diz claramente quais são as condições para isto: não dispor de uma
morada estável; saber desapegar-se dos afectos humanos; e não ceder à nostalgia
do passado.
Mas Jesus diz também aos seus discípulos, encarregados de o preceder no
caminho rumo a Jerusalém para anunciar a sua passagem, que nada imponham: se
não encontrarem a disponibilidade para o receber, que se vá além, em frente.
Jesus nunca impõe, Jesus é humilde, Jesus convida. Se quiseres, vem! A
humildade de Jesus é assim: Ele convida sempre, não impõe.
Tudo isto nos faz pensar. Diz-nos, por exemplo, a importância que, também
para Jesus, tinha a consciência: ouvir no seu coração a voz do Pai e segui-la.
Na sua existência terrena Jesus não era, por assim dizer, «telecomandado»: era
o Verbo encarnado, o Filho de Deus que se fez homem, e numa certa altura
resolveu subir a Jerusalém pela última vez; uma decisão tomada na sua
consciência, mas não só: juntamente com o Pai, em plena união com Ele! Decidiu
em obediência ao Pai, em escuta profunda e íntima da sua vontade. E por isso a
decisão era firme, porque foi tomada juntamente com o Pai. E no Pai Jesus
encontrava a força e a luz para o caminho. E Jesus era livre, naquela decisão
Ele era livre. Jesus quer que nós, cristãos, sejamos livres como Ele, com
aquela liberdade que vem deste diálogo com o Pai, deste diálogo com Deus. Jesus
não quer cristãos egoístas, que seguem o próprio eu, que não falam com Deus;
também não quer cristãos tíbios, cristãos sem vontade, cristãos
«telecomandados», incapazes de criatividade, que procuram unir-se sempre à vontade
de outra pessoa e não são livres. Jesus deseja que sejamos livres, mas onde se
realiza esta liberdade? No diálogo com Deus, na própria consciência. Se o
cristão não souber falar com Deus, se não souber sentir Deus na sua
consciência, não será livre, não é livre.
Por isso, temos que aprender a ouvir mais a nossa consciência. Mas,
atenção! Isto não significa seguir o próprio eu, fazer o que me interessa, o
que me convém, o que me agrada... Não é assim! A consciência é o espaço
interior da escuta da verdade, do bem, da escuta de Deus; é o lugar interior da
minha relação com Ele, que fala ao meu coração e me ajuda a discernir, a
compreender qual é o caminho a percorrer, e uma vez tomada a decisão, a ir em
frente, a permanecer fiel.
Nós tivemos um exemplo maravilhoso do modo como se realiza esta relação com
Deus na própria consciência, um recente exemplo maravilhoso. O Papa Bento XVI
deu-nos este grande exemplo quando o Senhor lhe fez compreender, na oração,
qual era o passo que devia dar. E seguiu, com um profundo sentido de
discernimento e coragem, a sua consciência, ou seja, a vontade de Deus que
falava ao seu coração. E este exemplo do nosso Pai faz muito bem a todos nós,
como um exemplo para seguir.
Nossa Senhora, com grande simplicidade, ouvia e meditava no íntimo de si mesma a Palavra de Deus e o que acontecia com Jesus. Seguiu o seu Filho com convicção íntima e com esperança firme. Que Maria nos ajude a tornar-nos cada vez mais homens e mulheres de consciência, livres na consciência, porque é na consciência que se verifica o diálogo com Deus; homens e mulheres, capazes de ouvir a voz de Deus e de a seguir com determinação, capazes de escutar a voz de Deus e de a seguir com decisão.
Angelus, 30 de junho de 2013
Papa Francisco
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