Para mim hoje
a Igreja celebra, mais festivamente, a festa do AMOR. Solenemente festeja Deus
na sua totalidade e individualidade, Deus todo, que na totalidade da sua Pessoa
todo se dá a cada um de nós e ao mundo inteiro.
“Eis o que diz a Sabedoria de Deus: «O Senhor me criou
como primícias da sua atividade, antes das suas obras mais antigas. Desde a
eternidade fui formada, desde o princípio, antes das origens da terra. Antes de
existirem os abismos e de brotarem as fontes das águas, já eu tinha sido
concebida. Antes de se implantarem as montanhas e as colinas, já eu tinha
nascido; ainda o Senhor não tinha feito a terra e os campos, nem os primeiros
elementos do mundo. Quando Ele consolidava os céus, eu estava presente; quando
traçava sobre o abismo a linha do horizonte, quando condensava as nuvens nas
alturas, quando fortalecia as fontes dos abismos, quando impunha ao mar os seus
limites para que as águas não ultrapassassem o seu termo, quando lançava os
fundamentos da terra, eu estava a seu lado como arquiteto, cheia de júbilo, dia
após dia, deleitando-me continuamente na sua presença. Deleitava-me sobre a
face da terra e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens».”
Na 2ªleitura (Rom 5, 1-5) S.Paulo projeta-nos para a vida em comunidade e para a forma como o amor de Deus, derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo, há de ser, o que dá sentido às nossas vidas, e, ao mesmo tempo, transforma as nossas relações com todos aqueles que o Senhor colocou nos nossos caminhos.
“Irmãos: Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz
com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos acesso, na fé, a esta
graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da glória de
Deus. Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações, porque sabemos que a
tribulação produz a constância, a constância a virtude sólida, a virtude sólida
a esperança. Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”
No evangelho (Jo 16, 12-15) Jesus insere-nos na dinâmica trinitária de Deus Amor diz-nos que se nos deixarmos habitar por Ele e pelo Pai, o Amor virá a nós, habitar-nos-á, e o Espírito Santo guiar-nos-á para a verdade plena.
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».”
Neste momento Senhor entrego-te todos aqueles que te desconhecem assim,
Amor infinito, por cada ser criado, mas que te procuram de coração sincero,
para que Te encontrem, a Ti, se abram e descansem as suas cabeças no teu peito,
no teu coração. Nestes tempos de hoje, que são os nossos, as
dificuldades são tantas que, sem Ti, a vida parece um beco sem saída. Mas, é
também nestes dias, que é bom escutarmos-Te e deixarmo-nos repassar, na
totalidade do nosso ser, até ao mais recôndito de nós mesmos, por Ti, Amor Uno
e Trino. Quando os nossos corações se abrirem, na totalidade, a este Amor
assim, então seremos nestes dias, em que vivemos, verdadeiras testemunhas do
Amor, porque é Ele que se dá e comunica através de todo aquele que n'Ele
acredita realmente.
Hoje, domingo
depois de Pentecostes, celebramos a festa da Santíssima Trindade. Uma festa
para contemplar e louvar o mistério do Deus de Jesus Cristo, que é Uno na
comunhão de três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, a fim de celebrar com
admiração sempre renovada Deus-Amor, que nos oferece gratuitamente a sua vida e
nos pede para a difundir no mundo.
As leituras
bíblicas de hoje fazem-nos compreender que o que Deus quer não é tanto
revelar-nos que Ele existe, mas, ao contrário, que é o “Deus connosco”, próximo
de nós, que nos ama, que caminha connosco, se interessa pela nossa história
pessoal e cuida de cada um de nós, a partir dos mais pequeninos e necessitados.
Ele «é Deus em cima no céu» mas também «embaixo na terra». Portanto, não acreditemos numa entidade distante, não! Numa entidade
indiferente, não! Mas, ao contrário, no Amor que criou o universo e gerou um
povo, se fez carne, morreu e ressuscitou por nós, e como Espírito Santo tudo
transforma e leva à plenitude.
São Paulo, que experimentou pessoalmente
esta transformação realizada por Deus-Amor, comunica-nos o seu desejo de ser
chamado Pai, aliás “Pai” — Deus é “nosso Pai” —, com a total confiança de uma
criança que se abandona nos braços de quem lhe deu a vida. O Espírito Santo —
recorda ainda o Apóstolo — agindo em nós faz com que Jesus Cristo não se reduza
a um personagem do passado, não, mas que o sintamos próximo, nosso
contemporâneo, e experimentemos a alegria de sermos filhos amados por Deus. Por
fim, no Evangelho, o Senhor ressuscitado promete ficar connosco para sempre. E
precisamente graças a esta sua presença e à força do seu Espírito podemos
realizar com serenidade a missão que Ele nos confia. Qual é a missão? Anunciar
e testemunhar a todos o seu Evangelho e deste modo dilatar a comunhão com Ele e
a alegria que dela deriva. Deus, caminhando connosco, enche-nos de alegria e a
alegria é um pouco a primeira linguagem do cristão.
Por
conseguinte, a festa da Santíssima Trindade faz-nos contemplar o mistério de Deus
que incessantemente cria, redime e santifica, sempre com amor e por amor, e a
cada criatura que o acolhe dá a possibilidade de refletir um raio da sua
beleza, bondade e verdade. Ele desde sempre escolheu caminhar com a humanidade
e formar um povo que seja bênção para todas as nações e para cada pessoa, sem
excluir ninguém. O cristão não é uma pessoa isolada, pertence a um povo: este
povo que Deus forma. Não se pode ser cristão sem esta pertença e comunhão. Nós
somos povo: o povo de Deus. A Virgem Maria nos ajude a cumprir com alegria a
missão de testemunhar ao mundo, sedento de amor, que o sentido da vida é
precisamente o amor infinito, o amor concreto do Pai, do Filho e do Espírito
Santo.
Angelus, 27 de maio de 2018
Papa Francisco
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