† Cardeal António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Ir à fonte da renovação
Caríssimos Diocesanos,
Com a Quaresma entramos num
grande tempo de renovação da nossa vida espiritual pessoal e comunitária. Estes
quarenta dias são-nos oferecidos para nos aproximarmos mais intimamente de
Deus, escutar mais atentamente a sua Palavra, acolher mais sinceramente o seu
amor, sentir mais profundamente a sua presença, amar mais generosamente o
próximo ao jeito de Jesus. Em síntese, para melhor celebrarmos a festa das
festas, a Páscoa de Cristo, e nos reencontrarmos com o Senhor, fonte da nossa
vida cristã.
Ir à fonte da nossa renovação: contemplar os
braços abertos de Cristo crucificado
O Papa Francisco, na sua
mensagem, propõe-nos ir à fonte permanente da renovação da nossa fé e da vida
com Cristo. Para isso indica-nos a meta, que é simultaneamente caminho a
percorrer, com a exortação de S. Paulo “Em nome de Cristo, suplicamo-vos:
reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5, 20). É um apelo a cada um a fazer, na sua
história pessoal, uma experiência do amor imenso e misericordioso de Deus
manifestado na cruz e na ressurreição de Jesus.
Por isso o Papa convida-nos a
fixar o olhar do coração na contemplação do Crucificado: “Fixa os braços
abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E quando te
aproximares para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua misericórdia
que te liberta de toda a culpa. Contempla o seu sangue derramado pelo grande
amor que te tem e deixa-te purificar por ele. Assim, poderás renascer sempre de
novo» (CV n. 123). É este amor eterno, santo e misericordioso que nos precede,
nos habita, nos acompanha, nos sustenta e nos renova.
Conversão pela escuta da Palavra e pelo diálogo
da oração
Este amor de Cristo por nós
pede ser acolhido e cultivado num diálogo “de coração a coração, de amigo a
amigo” que é a oração. Por isso, o tempo da quaresma é caraterizado pela oração
mais intensa capaz de romper a dureza do nosso coração e criar maior abertura e
disponibilidade à conversão e à sua santa vontade. De igual modo, a leitura
orante da Palavra de Deus em que a escutamos, acolhemos como palavra de vida e
salvação e respondemos cumprindo-a na nossa vida quotidiana.
Para a prática da oração, além
de outras formas ao gosto de cada um e das famílias, propomos e recomendamos
novamente a todo o povo de Deus o retiro
popular, segundo o método da leitura orante da Palavra de Deus, com o
opúsculo “Chamados e enviados pelo
Senhor”.
Além disso, recomendo a iniciativa “24 horas para o Senhor”, a
concretizar nos dias 20 e 21 de março, sexta-feira e sábado, ao cuidado das
paróquias, vigararias e outras comunidades. Aproveitemos esta oportunidade para
organizar momentos de oração e adoração eucarística e para celebrar o sacramento da Reconciliação.
Testemunho de respeito pela vida e de
solidariedade com os necessitados
A vivência da quaresma no
horizonte da celebração da Páscoa de Cristo não nos separa do testemunho no
mundo. Há duas afirmações muito fortes e de premente atualidade na mensagem do
Papa nesta perspetiva. A primeira
refere-se ao amor, respeito e proteção da vida da pessoa humana e da natureza:
“Colocar o Mistério pascal no centro da vida significa sentir compaixão pelas
chagas de Cristo crucificado presentes nas inúmeras vítimas inocentes das
guerras, das prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso,
das variadas formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua
distribuição dos bens da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas
formas e da sede desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria”.
A segunda afirmação refere-se à solidariedade e
partilha com os irmãos mais necessitados;
“Também hoje é importante chamar os homens e mulheres de boa vontade à partilha
dos seus bens com os mais necessitados como forma de participação na edificação
dum mundo mais justo. A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a
acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo”.
Um sinal neste sentido é a chamada renúncia
quaresmal. A coleta desta renúncia na nossa diocese será canalizada para a
Diocese de Tete, em Moçambique, cujo bispo, D. Diamantino Antunes, é
missionário da Consolata e natural de Albergaria dos Doze. A diocese tem uma
superfície de 100.724km2, maior que Portugal, com uma população de 3.764.169
habitantes, dos quais só 23% são católicos. É uma diocese pobre, carente de recursos humanos e materiais para a obra
de evangelização. Demos, pois, um
testemunho forte de generosidade na partilha!
Protagonismo dos Jovens
Todos sabemos que a mais bela
juventude do mundo é a do coração e do espírito. Para essa não conta a idade.
Porém, neste ano pastoral dedicado aos jovens será bom reforçar os laços com
eles, reconhecendo e solicitando o seu protagonismo na caminhada quaresmal.
Podemos pedir-lhes que nos proponham viver um aspeto da quaresma. Se eles
animam um tempo de oração, estejamos presentes; se organizam uma ação de
partilha, apoiemo-los.
Esta atenção aos jovens
exprime a atenção duma Igreja fiel a Cristo que é chamada a ser “casa” em que
crianças, jovens e adultos comungam na mesma vida e no mesmo amor de Cristo
ressuscitado.
Ao encontro de Cristo com Maria e Jacinta Marto
A Quaresma conduz-nos ao
encontro com Cristo Ressuscitado. Nesta perspetiva se insere a peregrinação
diocesana a Fátima, no quinto domingo da quaresma, dia 29 de março. Convido
todos a participarem e, de modo particular, os jovens. Em consonância com o
programa pastoral, peregrinaremos sob o lema “Ao encontro de Cristo com Maria e Jacinta Marto”. Este ano
incluímos a memória desta pastorinha de Fátima, porque comemoramos o centenário
da sua morte. Será um momento particular
de graça para contemplar Cristo com Maria e com o exemplo do pequena Jacinta, que Nossa Senhora conduziu ao
amor para com Jesus presente na Eucaristia e à compaixão e à solidariedade com
os sofredores e com os pecadores mais necessitados da misericórdia de Deus. Ela
também nos ajuda hoje no caminho da conversão para que as nossas comunidades
cresçam numa fé mais viva e num espírito mais missionário, recebendo e
irradiando a alegria do encontro com Cristo na Páscoa da ressurreição e a
consolação da sua misericórdia aos que sofrem!
A todos os diocesanos desejo
uma santa e alegre Quaresma a caminho da Páscoa!
† Cardeal António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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