DOMINGO VI DO TEMPO COMUM
Neste domingo, a liturgia reporta-nos
para os mandamentos da lei de Deus, tema
este, que, entre nós portugueses, tem particular pertinência pois, na ordem do
dia, dos média e não só, tem estado, e provavelmente continuará a estar na próxima
semana, a discussão (de novo), no parlamento, da despenalização da eutanásia,
que vai contra o 5º mandamento, não matar. Claro que também me interrogo se
alguma vez, por circunstâncias que nem me passam hoje pela cabeça, nem pelo coração, poderá
haver uma situação em que alguém pode, ou deve, ajudar outro a matar-se, porque
está em sofrimento?!
Se há situação, pela qual já
passei e que foi, sem dúvida alguma, a mais difícil que vivi até hoje, esta aconteceu quando não consegui aliviar o sofrimento de alguém que me era muito querido.
Foi pior ainda do que quando fiz o luto por essa pessoa. É brutal. Para mim,
não há nada pior na vida, pelo menos até hoje. No entanto, os anos pelos quais
a doença se prolongou, foram de comunhão silenciosa, de aprofundamento de
relação entre todos os que cuidámos dessa pessoa e o nosso ente querido. Foi
verdadeiramente um tempo de graça, que Deus nos deu a todos. E, acreditem, ou
não, essa pessoa agarrou-se sempre à vida, mesmo em profundo sofrimento.
Será que alguém que dedicou a sua vida
a cuidar dos filhos, da família, a dar-se a tudo e todos, não tem o direito a
sentir que ainda é muito amado e querido, quando está doente, dependente e a
precisar de nós? Não lhe antecipemos a morte, deixemos que esta
venha quando for a sua hora, e, enquanto a pessoa viver, façamos tudo o que estiver
ao nosso alcance para que sinta o quanto o (a) amamos e o quanto é amado por
Deus.
Na 1ªleitura Sir 15, 16-21 (15-20) o autor sagrado dá-nos uma forma de lermos os preceitos da lei, que vai para além
do cumprimento obrigatório de um ritual, mas que passa antes por uma adesão
pessoal, por uma escolha consciente e não imposta. O resultado dessa opção virá
depois, porque o Senhor é fonte de alegria e de esperança e a ninguém deu
licença para pecar.
“Se quiseres, guardarás os
mandamentos: ser fiel depende da tua vontade. Deus pôs diante de ti o fogo e a
água: estenderás a mão para o que desejares. Diante do homem estão a vida e a
morte: o que ele escolher, isso lhe será dado. Porque é grande a sabedoria do
Senhor, Ele é forte e poderoso e vê todas as coisas. Seus olhos estão sobre aqueles
que O temem, Ele conhece todas as coisas do homem. Não mandou a ninguém fazer o
mal, nem deu licença a ninguém de cometer o pecado.”
Na 2ª leitura (1 Cor 2, 6-10) S. Paulo fala-nos do que verdadeiramente é importante para cada um nós,
Jesus Cristo. Só em Jesus tudo ganha sentido e, pela ação do Espírito Santo vai-nos
sendo revelado o plano de salvação que Deus tem para o mundo, o Amor infinito
de Deus por todos e por cada um de nós, individualmente.
“Irmãos: Nós falamos de sabedoria
entre os perfeitos, mas de uma sabedoria que não é deste mundo, nem dos
príncipes deste mundo, que vão ser destruídos. Falamos da sabedoria de Deus,
misteriosa e oculta, que já antes dos séculos Deus tinha destinado para a nossa
glória. Nenhum dos príncipes deste mundo a conheceu; porque se a tivessem
conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas, como está escrito,
«nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo
pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam». Mas a nós
Deus o revelou por meio do Espírito Santo, porque o Espírito Santo penetra
todas as coisas, até o que há de mais profundo em Deus.”
No Evangelho (Mt 5, 17-37) abre-se perante nós a
cartilha do Amor de Deus, que são os mandamentos. Mais uma vez, recorro à minha
experiência pessoal, pois quem lida com jovens e adolescentes, hoje, dá-se
conta da dificuldade imensa que têm em “digerir” um não, quanto mais dez. Pois
é, se nos meus tempos era difícil viver com estes nãos todos, imaginem hoje! Para
lá de todas as legislações, que impedem as crianças e jovens, deste país, de aprender
e crescer com valores de disciplina e ordem, na sua formação, a verdade é que a
batalha que temos à nossa frente, enquanto educadores, passa por conseguir transmitir às novas
gerações, quer de crianças, quer de pais, que um não é sempre um degrau a subir
no processo de crescimento, enquanto pessoas, e que esta escada tem que ser
subida, para bem de toda a sociedade. O futuro há de encarregar-se de julgar e
pedir contas aos legisladores da educação deste país, de há cerca de 30 anos
para cá! Por outro lado, é preciso ir mais longe e fazer como Jesus nos ensinou,
quando nos levou a perceber que as leis, os mandamentos, afinal não são uma
série de nãos, mas um sim total ao Amor, ao nosso Deus e também ao próximo. É
por aqui, pelo Amor, que é Deus, pela positiva, que conseguiremos chegar aos
nossos alunos nas escolas, pois, ainda que tudo falhe, nós educadores não
podemos desistir das nossas crianças e jovens. Eles também precisam de
descobrir o quanto Deus ama cada um deles e que, pelo Amor, pela ação de Deus
em nós, até conseguimos amar os que nos fazem mal, ou aqueles de quem não
gostamos nem um pouquinho, nadinha mesmo.
"Naquele tempo, disse Jesus aos
seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim
revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra,
não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo
se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais
pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus.
Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu
vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não
entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás;
quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que
se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a
seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à
geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta ao altar e ali te
recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta
diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois
apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com
ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas
metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o
último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém,
digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos já cometeu
adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de
pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor perder-se um só dos
teus olhos do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é
para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor
que se perca um só dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena.
Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe certidão de repúdio’. Eu,
porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher, salvo em caso de união
ilegítima, expõe-na ao adultério. E quem se casar com uma repudiada comete
adultério. Ouvistes ainda que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que
tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’. Eu, porém,
digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem
pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do
grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou
preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que
passa disto vem do Maligno»."
Semana difícil a que agora termina!
Obrigada Senhor pelo Teu Amor.
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