Leitura faseada da carta pastoral, para o próximo biénio, do Bispo de Leiria Fátima (IV)
Carta Pastoral 2015-2017 – No Centenário das Aparições
Maria, Mãe de Ternura e de Misericórdia
† António Marto
Leria, 15 de setembro de 2015,
Memória de Nossa Senhora das Dores
LINHAS DE ORIENTAÇÃO PASTORAL
Após
toda a reflexão anterior, quero agora apresentar algumas linhas-chave de
orientação pastoral para o próximo biénio.
26. O nosso amor filial a Maria é uma
expansão do amor de Cristo
A
verdadeira devoção a Nossa Senhora nasceu no seio da comunidade cristã como
consequência da crescente compreensão do mistério da Encarnação do Filho de
Deus. Já aflora na saudação de Isabel a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres
e bendito é o fruto do teu ventre... Feliz de ti que acreditaste, porque se vai
cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor” (Lc 1, 42.45).
O
Papa Paulo VI explicita esta realidade de uma maneira simples e profunda:
“Cristo veio a nós por Maria, recebemo-lo dela; se queremos pois ser
verdadeiros cristãos, devemos reconhecer a relação essencial e vital que une
Nossa Senhora a Jesus e que nos abre o caminho que a Ele conduz. Nem podemos
desviar o olhar daquela que é a criatura mais semelhante a Cristo e é “a
figura” da Igreja e é, como afirma o Concílio, ‘o modelo perfeito na fé e na
caridade’ (LG 53.61.65)” (Discurso ao Congresso Mariológico de 1975).
É
nesta base doutrinal que se fundamentam as nossas relações de amor, de louvor e
de veneração a Maria, às quais chamamos devoção, piedade ou culto mariano.
Podemos dizer que a nossa devoção a Maria
é a expansão do amor a Cristo que no-la deixou como mãe, mãe dos discípulos,
mãe da Igreja. A nossa relação com ela reveste a forma de um amor filial
que nos ajuda a viver unidos a Cristo pela fé e o mistério da nossa filiação
divina.
A oração do Rosário, com a meditação dos
mistérios da vida de Cristo e da Virgem Maria, permite-nos exprimir em
simultâneo o amor a Cristo e a Maria, a relação com ambos e ainda orientar tudo
para a glória da Santíssima Trindade. Façamos, pelo menos algumas vezes,
pessoalmente, em família e em grupo, a experiência desta oração de forma
meditada e contemplativa, saboreando no coração as palavras que a boca
pronuncia.
27. Critérios para uma autêntica devoção
mariana
Maria é pura referência a Cristo e à Trindade Santíssima; é mãe e mestra
no seguimento de Jesus, na adoração de Deus e no amor aos irmãos. Fora deste
enquadramento não há verdadeira devoção mariana correspondente à verdade do
Evangelho.
Deste
modo, “a piedade para com a Mãe de Cristo torna-se para o fiel ocasião de crescimento
na graça divina, que é a finalidade última de toda a ação pastoral. De facto, é
impossível honrar a ‘Cheia de Graça’ sem honrar em si mesmos o estado de graça,
isto é, a amizade com Deus, a comunhão com Ele e a inabitação do Espírito
Santo” (MC 57).
Vale,
assim, para toda a devoção mariana o critério apresentado pelo Papa João Paulo
II em relação à devoção do Rosário: Contemplar Cristo com Maria em cinco
momentos: recordar Cristo com Maria; aprender Cristo de Maria; configurar-se a
Cristo com Maria; suplicar a Cristo com Maria e anunciar Cristo com Maria (Cf.
RVM 12-17).
O Curso de Mariologia e o Curso sobre a
Mensagem de Fátima no Centro de Cultura e Formação Cristã (CCFC), os encontros
vicariais e os retiros da Quaresma ajudarão a uma visão renovada da figura de
Maria e de uma autêntica devoção e espiritualidade marianas.
28. Maria, figura e modelo da Igreja
Como
figura e modelo da Igreja, de que ela é “membro eminente e exemplar”, Maria
leva-nos a descobrir a vida interior da Igreja, a sua alma mística, a vivência
e o testemunho da vida em Cristo, e estimula-nos a viver nesta família de Deus
para nos deixarmos transformar pelo Espírito Santo.
Assim,
podemos ver Maria como espelho e paradigma da vocação e missão da Igreja nas
múltiplas relações que a unem a Maria: modelo
da Igreja discípula crente, que acolhe com fé e põe em prática a Palavra de
Deus; da Igreja mãe, cuja missão é
tornar Cristo vivo nos corações dos fiéis; da
Igreja virgem na fidelidade de todo o coração ao Senhor; da Igreja orante no louvor e ação de
graças como Maria no Magnificat e no cenáculo; da Igreja profeta anunciadora da Palavra e da justiça; da Igreja oferente, que faz da própria
vida e missão uma entrega a Deus e caminho de santificação como Maria na
apresentação de Jesus no templo e junto à cruz; da Igreja peregrina no meio das tribulações a caminho da Pátria da
bem-aventurança; da Igreja do Espírito do
Pentecostes, animada, unida e guiada por Ele na sua comunhão e missão; da Igreja missionária, em saída, como na
Visitação a Isabel, para levar a ternura e a misericórdia de Deus a todos,
sobretudo aos pobres e aos aflitos lembrados no Magnificat (Cf. MC
16-22).
Esta dimensão mariana é o mais forte
antídoto contra uma concepção de Igreja puramente organizativa e burocrática.
Em consequência, os fiéis e os ministros da Igreja, pela sua relação pessoal e
identificação com Maria, viverão a sua relação e zelo apostólico e pastoral com
amor e espírito de serviço e não de domínio, atentos à situação das pessoas
para ter iniciativas e intervenções oportunas e criativas.
29. A Igreja, Mãe misericordiosa
Neste
Ano Santo da Misericórdia, a Igreja deve empenhar-se com toda a dedicação a
tornar visível o rosto misericordioso de Deus. Neste campo tem uma tríplice
missão: anunciar, celebrar e praticar a misericórdia na própria praxis
pastoral.
Antes
de mais, há de apresentar-se como mãe misericordiosa, com a casa sempre aberta
aos seus filhos, Igreja de portas abertas e não com os ferrolhos fechados. Só
uma Igreja maternalmente misericordiosa curará as feridas e libertará os homens
da solidão e do desespero, porque todos saberão que podem bater à sua porta sem
medo de serem rejeitados ou excluídos.
Neste
sentido, o Santo Padre pede que as
comunidades cristãs sejam um “oásis de misericórdia”, isto é, “o lugar da
misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados
e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho” (EG 114).
Celebraremos a abertura do Ano Santo da
Misericórdia no Santuário de Fátima e na Catedral de Leiria, nos dias 8 e 13 de
dezembro, respetivamente. Haverá um
guião para acompanhar o rito de atravessar a Porta Santa ou Porta da
Misericórdia, para que seja feito com fé e como sinal de conversão e de
encontro com a misericórdia de Deus.
30. As obras de misericórdia e a sua
relevância social e cultural
A
misericórdia é um dom divino, mas também tarefa de todos os cristãos, chamados
a praticá-la e testemunhá-la em palavras, atitudes e obras. A tradição cristã,
fazendo eco do Evangelho de Mateus (Mt 25, 34-36), especificou esta tarefa nas
chamadas obras de misericórdia: sete corporais e sete espirituais. Como muitos
porventura já as esqueceram, ou nunca as aprenderam, citamo-las aqui na sua
formulação tradicional.
As obras de misericórdia corporais são: dar de comer a quem tem fome; dar de
beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; assistir os
enfermos; visitar os presos e enterrar os mortos. E as espirituais são:
dar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os
tristes; perdoar as injúrias; suportar com paciência os defeitos do nosso
próximo; rezar a Deus pelos vivos e defuntos.
Aplicadas
ao contexto e às situações de hoje, elas adquirem particular relevância social
e cultural. Trata-se de prestar atenção e dar resposta às necessidades
materiais e espirituais de quem precisa. Para além da ajuda material, também é
necessário que nos tratemos misericordiosamente uns aos outros.
Podemos
dizer, com o cardeal W. Kasper, que as
obras de misericórdia respondem a quatro dimensões da pobreza individual ou
estrutural. Em primeiro lugar, a pobreza
física ou económica que afeta milhares de pessoas que não têm o necessário
para a alimentação, que carecem de roupa ou de teto e abrigo, os desempregados,
os refugiados à busca de acolhimento, os portadores de deficiência ou doentes
para quem não bastam as técnicas médicas, os presos que necessitam de
humanização das suas condições de vida. A segunda forma é a pobreza cultural que se manifesta no analfabetismo, na falta de oportunidades
de formação, na exclusão social e cultural. Acresce a pobreza relacional, isto é, a pobreza de comunicação de quem está
na solidão, no isolamento, particularmente os sós e os idosos, os que sofrem o
luto. Por fim, também existe a pobreza
espiritual, que hoje representa um grave problema: o vazio interior, a
confusão moral e espiritual, a perda de orientação na vida, a violência e a
vingança como lei do mais forte, a perda da esperança... Neste sentido, as
obras de misericórdia espirituais adquirem nova atualidade e urgência.
O Bispo realizará um sinal eclesial das
obras de misericórdia com a visita aos presos, aos utentes do Centro de
Acolhimento de Leiria e da comunidade “Vida e Paz” em Fátima.
Este biénio é um tempo propício para a
organização do serviço de apoio aos doentes e do acolhimento aos mais
fragilizados nas comunidades.
Sem a misericórdia, a nossa sociedade
corre o risco de se transformar num deserto interior, árido, frio, inóspito,
inumano.
31. A Penitência: o sacramento da misericórdia
A
mensagem de Fátima contém um apelo forte e urgente à penitência, isto é, ao
arrependimento do pecado, ao perdão e à conversão, acolhendo o dom da
misericórdia. Sabemos que todos os sacramentos são sinais da misericórdia de
Deus. No entanto, a Igreja sempre reconheceu que a Penitência é o verdadeiro
sacramento da misericórdia de Deus que sempre nos perdoa e sempre nos concede a
possibilidade de um novo começo.
Hoje,
este sacramento atravessa uma crise de abandono e esquecimento nas nossas
comunidades. Muitos vêm-no como um fardo, um peso, e não como um dom do Senhor
ressuscitado (Cf. Jo 20, 22ss), um sacramento onde fazemos a experiência da
compaixão de Deus de forma personalizada e imediata, quando nos é dito em nome
de Jesus: “Os teus pecados estão perdoados”. O perdão – como diz o Papa Francisco – é uma carícia de Deus, que nos
traz a liberdade interior, a paz espiritual e a alegria. É necessário
redescobrir este sacramento, mesmo por parte dos sacerdotes. Para todo o
sacerdote, além de obrigação, é uma obra de misericórdia estar disponível para
administrar o sacramento do perdão. Neste
sentido, peço que se reveja em cada paróquia e vigararia, nas comunidades
religiosas e no Santuário de Fátima o modo como se está a proporcionar e a
realizar o sacramento da Penitência, procurando melhorar a sua oferta e a
celebração pessoal e comunitária, tanto nos tempos como nas formas.
Recomendamos que em cada paróquia se
realize a iniciativa “24 horas para o Senhor”, na sexta-feira e no sábado da III semana da Quaresma,
dedicadas à oração, adoração eucarística e celebração do sacramento da
Penitência ou Reconciliação.
32. Acolher Nossa Senhora peregrina e a
sua mensagem
Por
ocasião do Centenário das Aparições, a imagem da Virgem Peregrina está a
percorrer todas as dioceses do País, permanecendo quinze dias em cada uma. É um
belo símbolo da Mãe da Ternura e da Misericórdia que vai visitar os filhos onde
eles vivem e trabalham, para lhes levar a sua mensagem e para lhes fazer sentir
a sua proximidade e o seu conforto.
Também nós receberemos esta visita de 1
a 12 de maio de 2016. Espero que a nossa diocese se mostre à altura e a acolha
de todo o coração, exprimindo com entusiasmo a gratidão e o louvor por ter sido
agraciada com o dom das Aparições em Fátima. Faço votos de que seja uma grande bênção para todos e um momento
forte de evangelização.
Neste
sentido, deveremos ter presentes três
aspetos particulares: acolher a mãe que ajuda a contemplar a ternura e a
misericórdia de Deus; a mãe que reúne os seus filhos em família para que cada
um se sinta membro afetivo e efetivo desta família que é a Igreja; aquela mãe
que convida os filhos a serem, como ela, Igreja em saída que vai levar a
ternura, o calor e a alegria do Evangelho a todas as periferias.
Deste acolhimento faz parte também a
nossa Peregrinação Diocesana a Fátima, que em 2016 será sob o lema da misericórdia e, assim,
nos evoca que a misericórdia é uma meta a alcançar e um longo caminho a percorrer.
No segundo ano do biénio, cada vigararia fará a sua peregrinação a Fátima, para
retribuir a visita da Senhora Peregrina.
Os Pastorinhos, como primeiros
testemunhas e mensageiros, foram um exemplo concreto do acolhimento da
mensagem da Senhora de Fátima. Por isso, far-se-á a divulgação da história
e da experiência espiritual dos Pastorinhos, como incentivo à vocação universal
à santidade. Em cada paróquia, celebre-se anualmente, com especial empenho, a
Festa dos Beatos Pastorinhos, a 20 de fevereiro.
Ao Movimento Diocesano da Mensagem de
Fátima confiamos a implementação deste movimento nas paróquias da Diocese, recomendando aos párocos e aos fiéis o acolhimento, a
adesão e o apoio a este válido instrumento apostólico.
33. A presença de Nossa Senhora nas
famílias, nos jovens e nas vocações
Maria
é mestra de uma fé maternal, acolhedora, terna, misericordiosa, sensível às
necessidades dos outros, samaritana e missionaria. Esta é também a fé dos
autênticos pais e educadores cristãos, que anima muitas famílias e a pastoral
juvenil e vocacional.
Maria está presente nas famílias cristãs, nos seus lares, nos cuidados de cada dia, nas
relações de amor, mesmo nas dificuldades, na saúde e na doença. Muitas famílias
conservam a sua imagem como sinal da sua presença permanente. Este biénio
pastoral é ocasião para incentivar a oração a Nossa Senhora em família, todos
os dias, como por exemplo o Terço ou algum mistério do mesmo. Se não for
possível diariamente, ao menos uma vez por semana.
A força educativa da devoção mariana é
especialmente eficaz e necessária na formação humana e cristã da juventude. O amor à Virgem une-nos mais afetivamente a Jesus e
abre sempre caminhos novos de generosidade e fidelidade, de esforço e esperança
na vida espiritual e na vida social das relações humanas, dos ideais e dos
projetos de vida. A pastoral juvenil e vocacional encontra um forte apoio e
impulso na devoção profunda a Maria, na sua resposta pronta a Deus: “eis-me
aqui a favor dos outros”. É neste ambiente de piedade e oração que nascem as
vocações de entrega e consagração.
É pedagógico apostar no serviço do
voluntariado dos jovens, tanto no campo das obras de misericórdia como no das
missões. Maria ensina a sermos discípulos missionários. A propósito, desejo lembrar que a geminação da nossa
diocese com a do Sumbe, em Angola, tendo assumido a nosso cargo a missão do
Gungo, faz dez anos em 2016. Lá no Gungo apalpa-se a grandeza das obras de
misericórdia como resposta aos vários âmbitos da pobreza. Tem sido uma epopeia
da misericórdia! Tem havido sempre jovens e adultos voluntários para uma
experiência de meio ano, de um ano e até de dois anos, e que testemunham depois
quanto foi enriquecedora. Precisamos de mais voluntários! É a hora!
34. O Santuário de Fátima, memória viva do acontecimento e da mensagem
Na
última aparição, em outubro de 1917, a Senhora do Rosário pediu aos Pastorinhos
que fosse construída uma capela em sua honra naquele mesmo lugar.
O
povo começou por construir a Capelinha
das Aparições como memorial do acontecimento fundador. Com o decorrer do
tempo, sentiu-se a necessidade de um recinto e de construir duas basílicas, não
só pelo maior afluxo de peregrinos, mas também para dar expressão a aspetos
essenciais da mensagem. “As duas basílicas refletem o significado mais profundo
do que aconteceu e continua a acontecer na Cova da Iria: num extremo, na zona
mais elevada, ergue-se a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, que estende as
colunatas como braços abertos para acolher e abraçar os que a contemplam; estes
braços apontam em direção à Basílica da Santíssima Trindade que, do fundo e da
profundidade, sustém e dá solidez ao santuário como acontecimento: a Virgem (o
Imaculado Coração de Maria) é a garantia de uma misericórdia que brota do Amor
Trinitário” (Eloy Bueno).
O Santuário, com a sua configuração
arquitetónica, as celebrações da liturgia e a piedade popular dos peregrinos,
fala de um acontecimento que perdura, mostra que não se trata de algo meramente
passado, mas sempre atual. Nunca
esquecerei a exclamação espontânea e extasiada do Papa Bento XVI no
“papamóvel”, ao contemplar a procissão de velas na noite de 12 de maio de 2010:
“Não há nada como Fátima em toda a Igreja Católica no mundo!”. Na sua visita,
referiu-se ainda a Fátima como “o coração espiritual de Portugal”. Também eu já
tive ocasião de afirmar que “não se compreende a Igreja em Portugal sem Fátima,
nem se compreende Fátima sem a Igreja em Portugal”.
Tudo
isto nos ajuda a compreender o carisma
próprio do Santuário: ser memória viva do singular acontecimento das
Aparições, velar pela mensagem atualizando-a e fazê-la chegar ao perto e ao
longe, para que continue a ser fonte de conforto, esperança e paz para as
pessoas e para o mundo.
Para
a celebração do Centenário, o Santuário organizou um programa de sete anos, a
fim de, em cada ano, irmos descobrindo a beleza, a riqueza e a profundidade da
mensagem. Este ano pastoral de 2015-2016 será dedicado à esperança na plenitude
da vida eterna, sob o lema bíblico “Eu vim para que tenham vida”.
O
último ano, de 2016-2017, será Ano Jubilar. O programa centra-se na
contemplação da beleza da Mãe do Redentor e Mãe da Igreja, sob o lema “O Senhor
fez em mim maravilhas”, para cantarmos as pequenas e grandes maravilhas da
graça que Deus realizou em Maria e, através dela, na história da salvação, no
acontecimento de Fátima e em tantas histórias dos peregrinos devotos. Por isso, durante o Ano Jubilar somos
convidados à participação nos momentos celebrativos do Santuário,
particularmente na peregrinação de 12 e 13 de maio, com a presença do Santo
Padre.
35. Maria, modelo eclesial de
evangelização
Na
mensagem da Senhora em Fátima vemos refletidas as caraterísticas da Igreja e da
sua missão. Creio que podemos apresentar a mensagem como “um modelo eclesial para a evangelização”, com as palavras do Papa
Francisco sobre Maria na Evangelii
Gaudium:
“Há
um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que
olhamos para Maria voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do
afeto. N’Ela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos,
mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir
importantes. Fixando-A, descobrimos que aquela que louvava a Deus porque
«derrubou os poderosos de seus tronos» e «aos ricos despediu de mãos vazias»
(Lc 1, 52.53) é a mesma que assegura o calor maternal à nossa busca de justiça.
E é a mesma também que conserva cuidadosamente «todas estas coisas
ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Maria sabe reconhecer os vestígios do
Espírito de Deus tanto nos grandes acontecimentos como naqueles que parecem
impercetíveis. É contemplativa do mistério de Deus no mundo, na história e na
vida diária de cada um e de todos. É a mulher orante e trabalhadora em Nazaré,
mas é também nossa Senhora da prontidão, a que sai «à pressa» (Lc 1, 39) da sua
povoação para ir ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e ternura, de
contemplação e de caminho para os outros faz d’Ela um modelo eclesial para a
evangelização” (EG 288).
36. Entregamo-nos a Maria
Para
terminar, faço-me eco de uma exortação do Papa Francisco: “Não nos cansemos de aprender de Maria, de admirar e contemplar a sua
beleza, de deixar que ela nos conduza sempre à fonte originária e à plenitude
da infinita beleza, a de Deus, que nos foi revelada em Cristo, Filho do Pai e
Filho de Maria”.
Oh!
Quanto desejo que o Centenário das Aparições seja um verdadeiro momento de
graça e de renovação espiritual para a nossa diocese, em que a fé de Maria nos
preceda e acompanhe como farol luminoso e como modelo de maturidade cristã! Que
ela nos ajude a viver sempre com maior entusiasmo, coragem e coerência a nossa
fé cristã, a nossa vocação de filhos de Deus e membros vivos da Igreja, a nossa
missão de construtores da fraternidade, da justiça e da paz.
À
sua solicitude materna confiamos o bom êxito do nosso percurso pastoral, com a
oração do Papa Francisco perante a imagem de Nossa Senhora de Fátima, da
Capelinha das Aparições, em Roma, no dia 13 de outubro de 2013.
ATO DE ENTREGA A MARIA
Bem-Aventurada
Virgem de Fátima,
com
renovada gratidão pela tua presença materna
unimos
a nossa voz à de todas as gerações
que
te proclamam bem-aventurada.
Em
ti celebramos as grandes obras de Deus,
que
nunca Se cansa de inclinar-Se com misericórdia
sobre
a humanidade, afligida pelo mal e ferida pelo pecado,
para
a curar e salvar.
Acolhe
com benevolência de Mãe
o
ato de entrega que hoje fazemos com confiança,
diante
desta tua imagem que nos é tão querida.
Estamos
certos de que cada um de nós é precioso aos teus olhos
e
que nada do que habita os nossos corações te é estranho.
Deixamo-nos
alcançar pelo teu dulcíssimo olhar
e
recebemos a consoladora carícia do teu sorriso.
Guarda
a nossa vida entre os teus braços:
abençoa
e robustece todo o desejo de bem;
vivifica
e alimenta a fé;
ampara
e ilumina a esperança;
suscita
e anima a caridade;
guia
a todos nós no caminho da santidade.
Ensina-nos
o teu mesmo amor de predileção
pelos
pequenos e pobres, pelos excluídos e sofredores,
pelos
pecadores e os de coração transviado;
reúne
a todos sob a tua proteção
e
a todos entrega ao teu amado Filho,
Jesus
Nosso Senhor.
Ámen!
(Papa Francisco)
Leria,
15 de setembro de 2015,
Memória
de Nossa Senhora das Dores
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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