Mensagem
de Natal aos idosos e enfermos
Na companhia do Menino e com a força da Fé
Na proximidade do Natal é para mim um momento grato e
cheio de emoção dirigir uma breve mensagem às minhas irmãs e aos meus irmãos
mais idosos e a todos os que se sentem mais sós ou enfermos (da covid-19 ou
não), que mais experimentam a fragilidade, o isolamento, a solidão, quer
estejam em casa, no hospital ou nos lares.
Quero antes de mais saudar-vos como vosso irmão bispo,
tornar-me próximo de cada um e cada uma de vós com grande afeto fraterno e com
uma palavra de ternura, de conforto e de esperança neste tempo de pandemia que
entristece os nossos corações.
De facto, o tempo que atravessamos tem-nos privado dos
encontros de proximidade. Nesta quadra sentimos de modo especial o peso do
isolamento forçado que nos rouba o calor dos afetos que trazem mais humanidade
ao nosso quotidiano. Sobretudo sentimos a dor da ausência física daqueles que
nos são mais próximos e queridos, filhos, netos, familiares, amigos e até
voluntários que nos trariam mais conforto.
Esta situação, que se prolonga há meses, cria insegurança,
ansiedade, dúvidas e tristeza e até nos priva a alegria de viver e conviver sem
distâncias nem medos.
Felizmente, hoje é possível fazer-se próximo e entrar em
relação e comunicação através de novas e diversas modalidades que nos são
permitidas pelos meios digitais e telemáticos. Com certeza que estes não
substituem a forma presencial com o calor dos nossos sentidos, mas ajudam a
aliviar a solidão.
Porém, hoje mais que nunca, precisamos ainda mais da força interior da fé que nos dá a certeza
de que Deus está próximo de cada um de nós e nos ajuda a vencer a solidão e o
desânimo. Quantas vezes ouço tantas pessoas sofredoras a dizer na mais pura
simplicidade da sua fé “Eu nunca estou só, Deus está sempre comigo”. Sim, quem
tem fé, nunca está só nem na vida nem na morte. Eu mesmo fiz esta experiência,
recentemente, quando estive internado quinze dias no hospital. Não deixemos que
a pandemia nos roube esta confiança. Neste sentido a oração é uma energia
espiritual que nos une a Deus e aos outros em comunhão espiritual, é remédio
que traz conforto e ajuda a vencer os medos. Mesmo que seja uma oração de
desafogo das nossas mágoas com Deus.
A ternura de Deus chega aos que sofrem também através dos
cuidadores, a quem é confiada esta missão tão gratificante mas por vezes
cansativa e quase extenuante, como tive ocasião de presenciar. A eles quero
exprimir aqui uma palavra de apreço e gratidão pelo seu trabalho, mas também de
estímulo a continuarem a cuidar sempre dos idosos, internados ou sós, com amor
de atenção e carinho à pessoa de cada um. Às vezes basta uma palavra, uma
escuta ou um sorriso. Não deixem que ninguém fique para trás, isolado,
esquecido, abandonado.
Nesta quadra do Natal, somos convidados a esperar o Deus que quis partilhar a nossa
condição humana e sofrer connosco as nossas solidões, os nossos confinamentos.
“O Deus do Advento vem para o meio desta pandemia, pega na nossa mão, muda o
nosso coração e envia-nos a mudar a situação” (Mensagem dos bispos
portugueses).
A pandemia em curso impõe-nos necessariamente viver um
Natal de modo diverso, mais sóbrio, sem reuniões familiares tão alargadas,
atendendo às exigências sanitárias. Mas nem por isso deixamos de celebrar o
Natal de modo mais autêntico, no seu significado mais original: o Deus connosco
que nos olha e abraça com a ternura dum menino, o Filho de Deus. Eis um belo
texto que ilumina a vivência deste Natal em tempo de pandemia.
NÃO HAVERÁ NATAL?
Claro
que sim!
Mais
silencioso e com mais profundidade,
Mais
parecido com o primeiro em que Jesus nasceu em solidão.
Sem
muitas luzes na terra,
mas
com a da estrela de Belém
fulgurando
trilhas de vida na sua imensidão.
Sem
cortejos reais colossais,
mas
com a humildade de sentir-nos
pastores
e servos que buscam a Verdade.
Sem
grandes mesas e com amargas ausências,
mas
com a presença de um Deus que tudo preencherá.
Não
haverá natal?
Claro
que sim!
Sem
as ruas a transbordar,
mas
com o coração aquecido
pelo
que está por chegar.
Sem
barulhos nem ruídos,
propagandas
ou foguetes...
mas
vivendo o Mistério, sem medo
do
"covid-herodes" que pretende
tirar-nos
até o sonho da esperança.
Haverá
Natal, porque Deus está ao nosso lado
e
partilha, como Cristo no presépio,
a
nossa pobreza, provação, pranto, angústia e orfandade.
Haverá
Natal porque necessitamos
de
uma luz divina no meio de tanta escuridão.
A
Covid19 nunca poderá chegar ao coração nem à alma
dos
que no céu põem sua esperança e seu maior ideal.
Haverá
Natal!
Cantaremos
os nossos cantos natalícios!
Deus
nascerá e nos trará a liberdade!
Nesta quadra, faço
minhas as vossas dores. Gostaria de estar junto de cada um de vós e poder
abraçar-vos assim como desejaria receber cada um de vós em minha casa para
podermos, nem que fosse, trocarmos dois dedos de conversa, partilharmos o que
nos dói e o que nos alegra.
Este é o tempo em que “as nossas vidas transcorrem no
caminho da gratidão. Hoje é o dia justo para nos aproximarmos do sacrário, do
presépio, da manjedoura, e dizermos obrigado”.
“Querido irmão, querida irmã, se as tuas mãos te parecem
vazias, se vês o teu coração pobre de amor, esta noite é para ti. Manifestou-se
a graça de Deus, para resplandecer na tua vida. Acolhe-a e brilhará em ti a luz
do Natal.” (Papa Francisco, Natal 2019).
Neste Natal, as minhas orações vão especialmente para vós. Confio-vos particularmente a Nossa Senhora, Mãe de Jesus e Mãe nossa, pedindo-lhe que vos abençoe e vos acompanhe e conforte com o seu auxílio materno. Santo e Feliz Natal a todos vós!
Leiria,
17 de dezembro de 2020.
† Cardeal António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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