DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS
"Portanto
estabeleço que o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração,
reflexão e divulgação da Palavra de Deus. Este Domingo da Palavra de
Deus colocar-se-á, assim, num momento propício daquele período do ano
em que somos convidados a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela
unidade dos cristãos. Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração
do Domingo da Palavra de Deus expressa uma valência ecuménica,
porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho
a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida."
Papa Francisco in nº3, da Carta Apostólica “Aperuit illis”
Domingo da
Palavra de Deus: 15 ideias para 365 dias
Por decisão do papa Francisco, a 26 de janeiro será celebrado em toda a
Igreja o primeiro Domingo da Palavra de Deus. Trata-se de uma decisão esperada,
que tinha sido anunciada na conclusão do Jubileu extraordinário da
misericórdia. A data tem uma vertente ecuménica, dado que entre 18 e 25 de
janeiro assinala-se, no hemisfério norte, a Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos.
A decisão de Francisco é particularmente apreciada pelos muitos cristãos
conscientes da exigência de colocar no centro da sua vida de fé a Bíblia,
Primeiro e Segundo Testamento, na convicção de que a leitura atenta, séria,
crítica das Sagradas Escrituras está estreitamente ligada às suas vidas,
oferece estímulos e suscita questionamentos, oferece clarões de luz e sacode
surpreendentemente a rotina.
Eis como um destes crentes leu os quinze parágrafos da carta apostólica
“Aperuit illis” (30/9/2019), com a qual o papa Francisco instituiu, a partir de
2020, o Domingo da Palavra de Deus.
1. Para conhecer Cristo e compreender a missão da Igreja
A relação entre Cristo ressuscitado, a Igreja e a Sagrada Escritura é vital
para a nossa identidade de cristãos. Sem o Senhor que nos abre a mente à
compreensão das Escrituras é impossível compreendê-las em profundidade, mas o
contrário é igualmente verdadeiro: sem a Sagrada Escritura permanecem
indecifráveis os acontecimentos da missão de Jesus e da sua Igreja no mundo. A
ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo.
2. Uma riqueza inesgotável a colocar à disposição de todos
A riqueza da Palavra de Deus é inesgotável. É muito mais aquilo que nos escapa
dela do que o quanto conseguimos compreender, e as belezas que a coloram são de
tal maneira múltiplas, que aqueles que perscrutam podem contemplar o que mais
preferem. O seu grande valor dever ser percecionado pelos cristãos na sua
existência diária. Em cada comunidade sejam asseguradas iniciativas úteis para
que na vida do povo cristão nunca falte a relação viva com a Palavra do Senhor,
e todo o crente beneficie de um dom tão grande e empenhe-se a vivê-lo no
quotidiano, testemunhando-o com coerência.
3. “Lectio, meditatio, oratio”
O Domingo da Palavra de Deus tem o objetivo, também através de ações
emblemáticas, de fazer emergir a importância que, na vida de todo o crente,
reveste a leitura diária dos textos sagrados, que se torna reflexão e se
transforma em oração. A quem proclama a Palavra na liturgia seja fornecida uma
preparação adequada.
4. A Bíblia pertence ao povo
A Bíblia não é só património de alguns, ou uma recolha de textos para
poucos privilegiados. Ela pertence, antes de tudo, ao povo, convocado para a
escutar com atenção e reconhecer-se nela com viva participação. A Palavra de
Deus une os crentes e torna-os um só povo.
5. Acessibilidade para todos
Os pastores, tendo a grande responsabilidade de permitir a todos a
compreensão da Sagrada Escritura, devem sentir fortemente a exigência de a
tornar acessível à sua comunidade, também graças às homilias caracterizadas por
uma linguagem simples e adaptada a chegar ao coração de quem a escuta, e a
aquecê-lo. Para acolher a Sagrada Escritura não como palavra humana, mas, como
o é verdadeiramente, Palavra de Deus, deve-se-lhe dedicar tempo e oração. Quem,
na comunidade, desempenha o ministério de ajudar os fiéis a crescer na fé,
sinta a urgência de se renovar através da familiaridade e o estudo das Sagradas
Escrituras.
6. Cristo é o primeiro exegeta
A história da salvação, a começar por Moisés e pelos profetas, é única e
encontra em Cristo o seu cumprimento.
7. A fé provém da escuta
O vínculo entre a Sagrada Escritura e a fé dos crentes é profundo. A fé
deriva da escuta, e a escuta centra-se na Palavra de Cristo. Por isso, é
urgente e importante que os crentes reservem escuta atenta à Palavra de Deus
quer na ação litúrgica, quer na oração, quer na reflexão pessoal.
8. Não um, mas 365 dias por ano
A relação entre a Sagrada Escritura e a Eucaristia é incindível. A Igreja
venerou sempre as Sagradas Escrituras, como o fez para a Eucaristia. À Bíblia
seja dedicado não um mas 365 dias por ano, para que tenhamos a urgente
necessidade de nos tornarmos familiares e íntimos da Sagrada Escritura e de
Cristo ressuscitado, que não cessa de partir a Palavra e o Pão na comunidade
dos crentes. Se não entra em confidência constante com a Sagrada Escritura, o
coração do crente permanece frio e os olhos continuam fechados.
9. Evitar interpretações fundamentalistas
A transformar a Sagrada Escritura em Palavra viva de Deus está a ação do
Espírito Santo, graças à qual se evita o risco de toda a interpretação
fundamentalista dos textos escritos, valorizando-se-lhe, antes, o carácter
dinâmico e espiritual. A Bíblia não é uma recolha de livros de história nem de
atualidade noticiosa, mas dirige-se inteiramente à salvação integral da pessoa.
10. Ler e interpretar à luz do Espírito Santo
A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada à luz do Espírito Santo,
mediante o qual foi escrita. Deve-se, consequentemente, ter confiança na ação
do Espírito Santo, que continua a realizar uma forma peculiar de inspiração não
só quando a Igreja ensina a Sagrada Escritura e o magistério a interpreta
autenticamente, mas também quando cada crente faz dela a sua norma espiritual.
11. Sagrada Escritura e Tradição: únicas fontes da revelação de Deus
Antes de se tornar um texto escrito, a Sagrada Escritura foi transmitida
oralmente e mantida viva pela fé de um povo que a reconhecia como sua história
e princípio de identidade no meio de outros povos. A fé bíblica funda-se na
Palavra viva, não num livro.
12. Doçura e amargura
O Antigo e Novo Testamento possuem uma função profética, dizendo respeito
ao hoje de quem se alimenta dessa Palavra, que ao mesmo tempo provoca doçura e
amargura. A doçura impele-nos a participá-la a quantos encontramos na nossa
vida, para exprimir a certeza da esperança que contém. A amargura é muitas
vezes constatada na verificação de quanto é difícil vivê-la com coerência. É
necessário, portanto, não nos acostumarmos rotineiramente à Palavra de Deus,
mas alimentarmo-nos dela para descobrir e viver em profundidade a nossa relação
com Deus e com os irmãos e irmãs.
13. Misericórdia, partilha, solidariedade
A Palavra de Deus apela ao amor misericordiosos do Pai, que pede aos filhos
para viverem na caridade. O grande desafio colocado diante da nossa vida é
colocarmo-nos à escuta das Sagradas Escrituras para praticar a misericórdia. A
Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos para permitir-nos sair do
individualismo que conduz à asfixia e à esterilidade, enquanto escancara a
estrada da partilha e da solidariedade.
14. Transcender a letra
A Sagrada Escritura transcende-se a si mesma quando alimenta a vida dos
crentes. Na compreensão dos diversos sentidos escriturísticos é decisivo colher
a passagem, que não é automática nem espontânea, entre letra e espírito: é
preciso transcender a letra.
15. Familiaridade religiosa e assídua
A partir do exemplo de Maria, reconhecida como «feliz» por ter acreditado
no cumprimento que Deus lhe tinha dito, o Domingo da Palavra de Deus possa
fazer crescer no povo de Deus a religiosa e assídua familiaridade com as
Sagradas Escrituras.
Andrea Lebra
In Settimana News
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Bíblia | D.R.
Publicado em 24.01.2020
In Settimana News
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Bíblia | D.R.
Publicado em 24.01.2020
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